A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

fevereiro 1, 2024

A paralisação do Memórias Reveladas e os 60 anos do Golpe Militar

O ano de 2024 marca os 60 anos do golpe de 1964.

Temos certeza de que inúmeros serão os eventos e manifestações para “rememorar” o período da ditadura militar. A efeméride é um momento importante para reforçar as lutas contra as forças autoritárias, responsabilizar autores de mortes e desaparecimentos, denunciar atrocidades, buscar reparações históricas, permitir o direito à memória e à verdade e, sobretudo, relembrar a sociedade o que aconteceu para que não se repita. Afinal, sabemos que o perigo não passou.

 Nesse sentido, é fato que um grande aliado para ajudar na construção de reflexões importantes em relação àquele episódio é o Memórias Reveladas.

 Criado em 2009, pela então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no contexto de implementação de uma política de direito à memória e à verdade promovida pelo Estado brasileiro, o Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985): Memórias Reveladas tem por objetivo disponibilizar os arquivos sobre o regime militar e as lutas políticas durante a Ditadura. Sob a coordenação do Arquivo Nacional, mantém uma base de dados que integra, em rede, acervos e instituições, resultado de acordos de cooperação firmados entre a União, estados e o Distrito Federal, num total de cerca de 160 instituições parceiras.

 Desde sua criação o Memórias Reveladas atuou no sentido de constituir uma política integrada de acervos sobre a resistência à ditadura militar, contemplando sua identificação, tratamento, preservação e difusão. Ademais, o Centro mantém o Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas, concurso monográfico de trabalhos que utilizam fontes documentais do período de 1964-1985, além de promover eventos diversos, como exposições, seminários e publicações sobre a temática.

 Não causa surpresa a ninguém que, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, o Memórias Reveladas foi alvo de inúmeras denúncias públicas sobre a tentativa de esvaziamento de suas atividades como, por exemplo, a desvinculação do Gabinete da direção-geral do Arquivo Nacional e, por conseguinte, seu rebaixamento institucional; o grande atraso no lançamento das obras vencedoras da edição 2017 do Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas – publicadas somente em 2022, após uma série de denúncias dos autores nos meios de comunicação – e a suspensão de novas edições. Como se não bastasse, acompanhamos a paralisação dos trabalhos de organização e disponibilização de acervos das Delegacias de Ordem Política e Social – DOPS junto aos arquivos estaduais, além de censuras e perseguições contra servidores da área no Arquivo Nacional.

 Com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ansiávamos que o Memórias Reveladas tivesse sua situação revista, mas infelizmente isso não aconteceu. Nem o fato dos 60 anos do golpe militar parece impulsionar essa possibilidade. O que nos leva a essa triste constatação são questões como: a) os órgãos colegiados que compõem o Memórias Reveladas, e que possuem um papel fundamental na elaboração de projetos de difusão e de produção de conhecimento sobre o período da ditadura militar do país, não foram compostos ou convocados pela atual gestão do Arquivo Nacional; b) na nova estrutura do Arquivo Nacional, aprovada pelo Decreto nº. 11.874, de 29 de dezembro de 2023, o Memórias Reveladas manteve-se subordinado à área voltada ao tratamento técnico do acervo sob a guarda da instituição arquivística, reforçando o esvaziamento político que o Centro de Referência vem experimentando desde 2016; c) de maneira semelhante, não houve, até o momento, uma nova edição do Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas, cuja periodicidade deveria ser bienal.

Essa morosidade do Arquivo Nacional em recompor o Memórias Reveladas mantém a política de enfraquecimento do Centro de Referência, criado no âmbito das ações de recolhimento, ao Arquivo Nacional, dos acervos dos extintos Conselho de Segurança Nacional, Comissão Geral de Investigações e Serviço Nacional de Informações (SNI). Vale lembrar que tais ações foram iniciadas em 2005 e tiveram por objetivo a garantia do direito da sociedade à memória e à verdade.

Portanto, um dos aspectos mais graves do esvaziamento do Memórias Reveladas é a paralisação da disponibilização de acervos sobre a ditadura e a resistência no Brasil, por meio de um banco de dados alimentado de forma cooperativa por arquivos e instituições públicas e privadas que compõem a Rede Nacional de Cooperação e Informações Arquivísticas.

Cumpre destacar que foi por meio dessa cooperação que foram identificados, tratados e disponibilizados, pelos arquivos estaduais, documentos dos DOPS que serviram para a implementação/execução das ações de reparação às vítimas da ditadura militar, e para a produção acadêmica e científica dedicada à investigação do passado recente do país, aspectos fundamentais para a construção da cidadania e o fortalecimento da democracia.

Pelo andar da carruagem, nem os 60 anos do golpe militar, tampouco os recentes acontecimentos antidemocráticos, são motivos relevantes para a direção do Arquivo Nacional retomar as importantes ações do Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985): Memórias Rev

Replicado do blog da Associação de Arquivistas de São Paulo: A paralisação do Memórias Reveladas e os 60 anos do Golpe Militar (pontodevistaarqsp.wixsite.com)

janeiro 23, 2024

Tiradentes MG, destino turístico imperdível

Tenho a tendência em bater longos papos com pessoas estranhas que encontro pela vida afora. E isso resulta em uma série de conhecidos que preenchem meus dias com conversas agradáveis, conselhos e informações.

Passei 07 dias desse mês em Tiradentes/MG e cidades vizinhas, onde pude apreciar a linda arquitetura colonial, a deliciosa comida mineira, as estradas e paisagens montanhosas. Em uma de minhas caminhadas pelas ruelas de Tiradentes, mais precisamente próximo da rua Jogo de Bola, cruzei com D. Josephina, de 90 anos, elegantemente vestida, dando passos lentos com seu andador de apoio, que ao me ver esboçou um largo sorriso e disse: “boa tarde!”. O que aconteceu em seguida segue no relato abaixo.

D. Josephina

Ela parou e começou a puxar conversa. Disse que saiu de casa logo cedo para sua lenta caminhada. Perguntou de onde eu era e em seguida emendou que era nascida e criada em Tiradentes. Que adora conversar e contar “causos”. Disse: “você conhece Papo Suado (fubá suado)?” Diante de minha negativa, começou a contar que quando era jovem, ao cair da tarde e começo da noite, as pessoas se reuniam nas casas para rezar o terço. Depois de terminada a profissão de fé, sentavam na frente das casas para tomar café e comer papo suado. Em uma panela de ferro, colocavam toucinho para fritar. Depois acrescentavam fubá úmido com um pouco de sal. As vezes também colocavam queijo. Depois de pronto e morno, uma generosa colherada era acondicionada na palma da mão a qual era comprimida como um bolinho e comia-se junto com o café.

Josephina falou que a carne do Natal não deve ser porco, vaca ou galinha. Que tem que ser um pernil de cordeiro bem assado, com temperos e especiarias. E elencou sua receita. E frisou: “você pode fazer essa mesma receita em qualquer outra época do ano. Mas, com o sabor e o aroma quando é feito na noite de Natal, nunca ficará igual.”

Também discorreu sobre receita para curar a ressaca e disse ser infalível. Molhar o fubá, fazer bolinhas e dentro de cada uma delas colocar um pedacinho de pau de canela. Levá-las ao fogo em uma panela com água e deixar ferver. As bolinhas não desmancham. Depois de fervidas, retirar as bolinhas e tomar a água resultante da fervura. É tiro e queda, segundo ela. Você estará pronto para novo porre!

Rua Jogo de Bola

Ela ficou viúva faz 3 anos. Tem 3 filhos e todos tentam agradá-la da melhor forma possível. Gosta da boa comida acompanhada de um bom vinho. E ao final de nossa conversa deu um conselho sobre o melhor cartão de crédito que podemos ter nessa vida: “Eles são três – a amizade, o amor e a caridade”.

Nos despedimos. Ela estava a caminho do Restaurante Padre Toledo onde trabalhou durante 51 anos. Iria comer uma tapioca e tomar uma taça de vinho. Deu seu endereço, e disse sorrindo: quando passar pela rua Jogo de Bola, número tal, a porta está sempre aberta. Pare para tomar um café e papearmos.

Saúde e força para D. Josephina!

outubro 10, 2022

O meu pai glutão

Meu pai era um operário que fazia trabalho pesado, mas antes disso foi agricultor. Acho que posso classificá-lo como um pouco bruto em seu modo de ser. Mas como dizem, “os brutos também amam”. Apesar da dificuldade que tinha em expressar o seu amor, era portador de um coração doce, enorme e aparentemente entre mim e minhas duas irmãs não tinha um filho preferido, como deve ser com todos os pais.

Comia muito mal e em quantidade, mas com gosto. Adorava carnes de panela bem gordas, muita manteiga ou margarina no pão, toras de mortadela, tigelas grandes de doces de abóbora, banana etc., torresmos e um sem-fim de tranqueiras. Mas não foi por conta de doença cardíaca que morreu. Acho que essa fome desmensurada foi por conta da infância e juventude que teve e as dificuldades que passou. Tinha mania de fazer estoque de alimentos não perecíveis. A cozinha era o maior cômodo da casa e em um dos cantos havia um enorme baú de madeira onde ficavam acondicionados dezenas de quilos de arroz, feijão, trigo, açúcar, sal, latas de óleo, margarina… Quando ficava sabendo que em dito supermercado havia um produto em promoção ia até lá e comprava o tanto que o dinheiro que tinha no bolso dava para comprar.

Meu pai, Antonio Martini, era um ecologista nato

Me lembro claramente da sensação de que eu tinha vendo-o comer. Dava gosto de vê-lo comer com tanto prazer. Minha mãe é quem preparava o prato. Prato fundo. Montanha de arroz com feijão e sobre ele a “mistura do dia”. A comida tinha que estar morna e ao lado do prato sua colher de estimação. Sim, ele comia de colher e tinha que ser a colher dele. Era raro ele aceitar um convite de almoço na casa de parentes ou amigos. Mas, quando ia, a colher o acompanhava, no bolso. Mesmo ainda criança, eu acho que percebia que aquela fome não era só de comida. Se fosse, ele já estaria satisfeito com três sanduíches de pão com mortadela. Mas ele chegava a devorar dez, doze de uma só vez… Dizia: “Maria, hoje não vou jantar. Vou comer pão com mortadela”. Tive que viver algumas décadas ainda para entender os vários tipos de fome das pessoas em suas tentativas de compensações.

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agosto 25, 2022

Edmundo Navarro de Andrade – vida e obra

Edmundo Navarro de Andrade nasceu em São Paulo em 02/01/1881, na antiga Rua do Chá, hoje Barão de Itapetininga. Ele era filho de João de Campos Navarro de Andrade (jornalista e teatrólogo) e Dona Cristina de Afonseca Navarro de Andrade.

Edmundo Navarro de Andrade

Foi batizado por Dona Veridiana Prado e o filho dela, Eduardo Prado. Edmundo Navarro de Andrade, com o apoio do padrinho, em 1896, foi para Coimbra estudar, matriculando-se na Escola Nacional de Agricultura, onde o curso era de 6 anos.

Durante o período de estudo, por ocasião de estar em férias, veio ao Brasil duas vezes, em 1899 e 1902, e numa delas passou todo o tempo na Fazenda Campo Alto, em Araras/SP, de propriedade de sua madrinha. Nesse local colocou em prática os seus conhecimentos sobre arboricultura, podou as árvores frutíferas da fazenda, o que deixou o administrador da fazenda preocupado, mas depois viu que o rapaz sabia o que estava fazendo.

Em1901 faleceu Eduardo Prado, seu padrinho, e D. Veridiana passou a custear os estudos de Edmundo, que voltou ao Brasil em 1903, diplomado, e em São Paulo, passou a morar na casa da Rua Visconde do Rio Branco, em que residira e falecera Eduardo Prado. Mas ia todos os dias fazer suas refeições na chácara de sua madrinha e em companhia dela. Dona Veridiana era extremamente correta e não aceitava falcatruas. E esta convivência  teve grande influência na formação do caráter de Edmundo.

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dezembro 16, 2021

Síndrome do pescoço de texto: causas e sintomas

Fonte:  Equipe eCycle

Também conhecida como “text neck”, a síndrome do pescoço de texto é uma nova doença da coluna vertebral, causada principalmente pelo uso excessivo de celulares e dispositivos móveis.

A má postura com que manuseamos esses aparelhos, em geral com a cabeça flexionada para baixo, na direção do queixo, faz com que uma grande quantidade de peso seja depositada sobre toda a coluna, gerando dor no pescoço, tensão muscular e rigidez.

Ao usar um celular, conforme aumenta a inclinação da cabeça para baixo, cresce também a pressão que ela exerce sobre a coluna cervical. Quando o pescoço fica inclinado para frente e para baixo, o peso da cabeça passa de cinco para 27 kg, sobrecarregando toda a coluna.

A dor no pescoço é o primeiro sintoma da síndrome do pescoço de texto, podendo ser acompanhada por deformações posturais como uma suave porém permanente inclinação do pescoço para baixo (que com o tempo fará as dores piorarem) e até mesmo pela formação de corcundas.

Isso acontece porque a coluna tenta se adaptar ao novo peso constantemente exercido sobre ela e busca posturas que não a sobrecarreguem tanto.

Quando o pescoço fica flexionado por muito tempo, como é comum quando se usa o celular para navegar pelas redes sociais ou assistir vídeos, há um alongamento excessivo dos extensores cervicais, que são os músculos que mantém o pescoço elevado.

Como esses músculos em geral são fracos, o seu alongamento exagerado induz um encurtamento dos flexores cervicais (os músculos que inclinam nosso pescoço para frente), aumentando a tensão muscular na região do pescoço, ombro e toda a coluna, de modo que a cabeça tende a se projetar para a frente.

Em casos mais graves, a síndrome do pescoço de texto pode levar a uma compressão dos discos intervertebrais cervicais, responsáveis por evitar problemas como a hérnia de disco.

É importante tomar cuidado e buscar corrigir sua postura o quanto antes, para evitar que um nervo cervical seja comprimido. Isso pode provocar sintomas neurológicos como formigamento ou dormência nos braços e nas mãos.

Sintomas mais frequentes:

  • Dor no pescoço
  • Dor na região cervical
  • Cefaleia (dor de cabeça)
  • Dor nas costas – pode ser desde uma pequena dor crônica, que incomoda constantemente, até espasmos musculares graves na coluna cervical e torácica (pescoço e região superior das costas)
  • Dor no ombro
  • Rigidez muscular (em geral resultante de um espasmo muscular e ombro dolorido)
  • Formigamento ou dormência de membros superiores (em casos mais graves)

vídeo, em inglês com legendas em português, explica um pouco mais sobre a síndrome do pescoço de texto:

Tratamentos e prevenção

Prevenir casos de síndrome do pescoço de texto consiste basicamente em manter uma boa postura corporal. Esteja atento ao modo como você usa o seu celular.

O ideal é levantar o aparelho na altura dos olhos, ao invés de abaixar o pescoço em direção ao dispositivo. Digitar com ao menos dois polegares também ajuda a prevenir casos de tendinite no dedão.

Ter uma musculatura firme e boa amplitude de movimentos são fatores importantes para que consigamos manter uma postura correta por mais tempo.

Fazer exercícios físicos regulares é outra medida eficiente na prevenção à síndrome do pescoço de texto, uma vez que fortalece os músculos.

Também é recomendável fazer alongamentos específicos para o pescoço ao longo do dia, em especial se você trabalha sentado, em frente ao computador ou faz uso intenso do celular.

Faça rotações circulares do pescoço, primeiro para um lado, depois para o outro. Com uma das mãos, puxe a cabeça para o lado e segure por alguns segundos, invertendo em seguida.

Segure a cabeça para a frente com as duas mãos e, por fim, também com as duas mãos, empurre suavemente o queixo para trás, de modo a flexionar a cabeça. Para complementar, você pode fazer rotações com os ombros e movimentos laterais com as costas, de modo a aliviar a tensão acumulada nessas regiões.

Nos casos em que os sintomas já se manifestaram, além de corrigir a postura, atividades como ioga e pilates, que estimulam o alongamento e relaxamento do corpo, além de fornecerem maior consciência corporal, são boas opções, pois ajudam na recuperação da amplitude motora perdida.

Em casos mais graves pode ser necessário fazer fisioterapia para corrigir e reeducar a postura, de modo a evitar que a síndrome do pescoço de texto se manifeste novamente.

Se você sente dores frequentes no pescoço ou tem algum dos sintomas aqui citados, é bom procurar um médico ortopedista ou fisiatra, que poderá solicitar exames e fornecer um diagnóstico mais preciso sobre o desequilíbrio biomecânico, identificando fatores (além da postura) que podem estar perpetuando a dor.

A dor no pescoço pode não ter sido necessariamente causada pelo celular, mas indicar o começo de uma doença mais grave se manifestando, como hérnia de disco, artrite, meningite ou mesmo câncer. Fique atento!

outubro 14, 2021

Direitos LGBTQIA+

Do Movimento Homossexual Brasileiro ao LGBTQIA+: entenda a evolução do movimento nas últimas três décadas e os debates gerados na sociedade.

Nesta Linha do Tempo, percorremos a evolução do movimento LGBTQIA+ desde a redemocratização. Apresentamos as mudanças internas no movimento e suas demandas por direitos. Abordamos as alianças e os embates entre o grupo, a reação do conservadorismo aos seus avanços e os conflitos resultantes no Legislativo e no Judiciário.

Depois de três décadas de organização do movimento LGBTQIA+ no Brasil, sua relação com o Estado e a sociedade mais ampla ainda é permeada de tensões. O grupo luta desde então por seu reconhecimento como sujeitos de direitos. Internamente, está em constante transformação — a própria evolução do seu nome ao longo do tempo é uma demonstração disso: 

  • MHB: Movimento Homossexual Brasileiro: majoritariamente formado por homens gays, que se atraem por pessoas do mesmo gênero;
  • MGL: L de lésbicas, mulheres que se atraem por pessoas do mesmo gênero; 
  • GLT: T de travestis, pessoas que apresentam uma identidade de gênero distinta daquela que lhes foi designada no nascimento em razão de seu genital;
  • GLBT: B de bissexuais, pessoas que se atraem por pessoas de mais de um gênero e T também passa a incluir transexuais;
  • LGBT: na I Conferência Nacional GLBT (2008), decidiu-se trocar o G e o L de lugar para dar maior visibilidade às lésbicas.

A dança de cadeiras das letrinhas não é mera formalidade. A mudança da sigla esteve atrelada a uma característica singular do movimento: abarcar vários grupos com demandas diferentes. O nome do movimento é uma tentativa de traduzir para o resto da sociedade a identidade do grupo e de seus componentes. Atualmente, o termo continua em disputa. Parte do movimento continua utilizando a sigla LGBT, mas novas siglas estão surgindo:

  • LGBTI+: I de intersexos, pessoas que nascem com o sexo não claramente definido, e + de outras identidades sexuais não-heterossexuais e identidades de gênero transgêneras que não se identificam com a sigla hegemônica;
  • LGBTQIA+: Q de queer, termo guarda-chuva usado para descrever o amplo espectro de identidades sexuais e de gênero, e A de assexual, pessoas que não sentem atração sexual em maior ou menor grau;
  • LGBTQIAP+: P de pansexuais, pessoas que se atraem por outras, independente de gêneros, se masculino, feminino ou outro.

Todas as letras do movimento estão unidas por dois conceitos-chave: orientação sexual — atração sexual, afetiva ou emocional — e identidade de gênero — a experiência de gênero vivenciada por uma pessoa durante a vida. Esses conceitos desafiam a organização tradicional da sociedade, em que somente seria aceitável a heterossexualidade e gênero teria o mesmo significado que o sexo atribuído à pessoa no nascimento (masculino ou feminino). A orientação sexual traz visibilidade a pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo ou de mais de um gênero, e a identidade de gênero a pessoas que não se identificam com o sexo atribuído no nascimento (essas são as chamadas cisgênero) e podem expressar sua identidade de diversas maneiras. Cabe destacar que a orientação sexual e a identidade de gênero não devem ser confundidas — uma pessoa pode ser ao mesmo tempo cisgênero e lésbica, transexual e bissexual, etc. 

O início da articulação política do movimento LGBTQIA+ (no contexto da evolução terminológica da sigla acima mencionada) data de 1969, quando um confronto entre polícia e homossexuais no Stonewall Inn — um bar em Nova York frequentado por gays e lésbicas — produziu as centelhas para alimentar o ativismo. No Brasil, o movimento ganha força dez anos depois, com a formação do grupo Somos em São Paulo, para discutir sexualidade e homossexualidade, e depois do Grupo Gay da Bahia e do grupo Triângulo Rosa no Rio de Janeiro, que surgem em um segundo momento mais engajados com a busca por direitos civis e políticas públicas em um Brasil tomado pela epidemia da aids — que trouxe mortes e também forte preconceito contra gays no país. As primeiras demandas do Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) estiveram ligadas à prevenção à aids, assistência aos portadores de HIV e combate à estigmatização dos gays. 

Com o avanço do tratamento, o movimento se distanciou pouco a pouco dessa pauta para incorporar novas demandas ligadas à efetivação da sua cidadania, pleiteando acesso e participação nas diferentes esferas da vida pública — escola, serviços de saúde, trabalho, política — sem sofrer preconceito ou violência. 

As diferenças entre os grupos definem suas pautas específicas. Para aqueles ligados à orientação sexual (gays, lésbicas e bissexuais), aparecem temas como união civil de pessoas do mesmo sexo, adoção por casais homoafetivos e abolição da chamada “cura gay”. Já para os grupos ligados à identidade de gênero (travestis e transexuais), surgem temas como uso do nome social, acesso seguro a hormônios e cirurgias de mudança de órgão genital, respeito a sua identidade de gênero independente de cirurgias, hormonizações e alteração de registro civil. Já a luta das pessoas intersexo é para que não se realizem cirurgias em bebês intersexo quando não sejam necessárias à sua saúde clínica e pelo reconhecimento da naturalidade (caráter não-patológico) de seus corpos, que não atendem as categorias redutoras do dimorfismo. 

Desde a redemocratização até hoje, as demandas do movimento geraram disputas políticas acirradas no Legislativo. Mesmo tendo gerado muita movimentação — a favor e contra — no Congresso, a maioria das suas conquistas ocorreu por meio da ação do Judiciário, em especial do Supremo Tribunal Federal. São exemplos o direito de pessoas transexuais a terem a cirurgia de adequação corporal à identidade de gênero pelo SUS, por decisão do TRF/4 (2007), a união estável homoafetiva (2011), o casamento civil homoafetivo pelo CNJ (2013), a mudança de (pre)nome e sexo no registro civil de pessoas transgênero independente de cirurgia, laudos e ação judicial (2018), o reconhecimento da homofobia e da transfobia como crimes de racismo (2019), a proibição da “cura gay” (2019) e a inconstitucionalidade da proibição do debate de gênero nas escolas (2020). 

Em termos de políticas públicas, os principais avanços foram no Sistema Único de Saúde, desde as políticas relacionadas ao HIV/aids, até a possibilidade de fazer uso de hormônios e cirurgias de mudança de órgão genital gratuitamente e com acompanhamento médico adequado. Além da saúde, uma relação entre movimento e Estado começou timidamente em 1996, com o Programa Nacional de Direitos Humanos, e avançou com sua participação em Conferências LGBT e elaboração de planos específicos. Mas as ações efetivas foram poucas e, ainda assim, geraram muita reação dos conservadores — como a polêmica do Programa Escola Sem Homofobia, que foi difamado por fake news que o chamaram de “kit gay”, deturpando seu conteúdo e a forma como seria conduzido. 

O tema continua efervescente na sociedade. Vivemos um aumento do conservadorismo e o movimento LGBTQIA+ tenta manter as conquistas pelas quais lutou. Nesta Linha do Tempo, contamos a história traçada por ele nos últimos trinta anos — entenda mais sobre esse grupo que está em constante transformação e o que está em jogo em sua trajetória.

Fonte: Fundação Fernando Henrique Cardoso. Clique aqui e acesse a linha do tempo

setembro 13, 2021

O significado da desordem

Filed under: Atualidades,Coisas que eu gosto,Educação,Uncategorized — Augusto Jeronimo Martini @ 10:52
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Você sabia que o acumulamento de coisas em casa e desordem estão relacionados a diferentes tipos de medos?

Como medo da mudança, medo de ser esquecido ou de esquecer, medo da carência e simbolizam ainda confusão, falta de foco, caos, instabilidade e pode significar incerteza sobre seus objetivos, sua identidade ou o que você quer da vida. Além disso, o lugar da casa em que a desordem ou o acumulamento se encontram reflete que área é problemática na sua vida. Por exemplo, diz-se que o armário, ou camarim, reflete como você se encontra emocionalmente e que assim que organizar seus conflitos internos se acalmarão, ou que uma sobrecama desbotada significa que sua vida amorosa também perdeu brilho.

Você conservou objetos quebrados ou danificados por muito tempo pensando em consertá-los algum dia? Simbolizam promessas e sonhos quebrados e se tratando de eletrodomésticos, eletrônicos móveis ou louças e você tem, por exemplo, na cozinha ou banheiro significam problemas de saúde e riqueza.

Foto por cottonbro em Pexels.com

Se a bagunça o tem no seu quarto significa que você é uma pessoa que deixa as coisas inconclusas e que tem dificuldade em ter um casal ou trabalho estável.
Quartas de crianças geralmente estão bagunçadas porque ainda não passaram pelo processo de saber o que elas querem na vida, mas há estudos que mostram que as crianças que mantêm seus quartos organizados tendem a ser melhores na escola.
❍ Diferentes aulas de acumulação

• Acumulamento novo: Este acumulamento indica que você está tentando fazer muitas coisas de uma só vez e que você não está focando no que deve fazer e que perdeu a direção..

• Acumulamento antigo: Refiro-me a objetos que você não usou há muito tempo e que estão empilhados no sótão, garagem, armários… Papéis de trabalho antigos e documentos no seu computador que você não usa mais, revistas de há mais de 6 Meses ou roupas que você não usa há mais de um ano. Isso é reflexo de que você está vivendo no passado e está deixando suas velhas ideias e emoções tomarem conta do seu presente e isso evita que novas oportunidades e pessoas entrem na sua vida.

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setembro 10, 2021

Jardim Chervezon, em Rio Claro/SP

O “Grande Cervezão” é um complexo formado por mais de uma dezena de bairros, surgidos quase todos de loteamentos clandestinos. Dentre eles, destaca-se o Jardim Chervezon, um bairro que pode ser visto como uma outra cidade, cheia de histórias e controvérsias.

A criação do Distrito Industrial no setor Norte de Rio Claro, em 1970, favoreceu o surgimento de novos loteamentos nas proximidades, forçando uma expansão territorial urbana.

No dia 7 de Janeiro daquele ano, Santo Oliva Chervezon requereu, junto à Divisão de Protocolo e Arquivo da Prefeitura Municipal, o loteamento de uma área de 274.390 metros quadrados, que fazia divisa com a FEPASA, com os loteamentos Parque das Indústrias e Jardim Independência, bem como com terras dos Irmãos Brescansin e de Sílvio Hilsdorf e Filhos. Essa área de terreno era denominada “Chácara Potreiro”; e, nela, seria implantado um futuro bairro: o Jardim Chervezon.

O projeto contava com 35 quadras, 10 áreas institucionais e 5 sistemas de lazer. O acesso se daria pelas ruas 6 (antiga estrada de acesso a Brotas) e M-4 e pela avenida M-21.

O requerimento foi recusado com base nas considerações do Departamento de Engenharia, que dizia que a área compunha-se por terrenos baixos para onde escoavam as águas pluviais e alguns córregos da região Norte de Rio Claro. Eram, portanto, terrenos alagadiços, a princípio impróprios para que ali se assentassem edificações. Afim de se tornarem adequados à utilização urbana, teriam que passar por uma ampla drenagem.

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agosto 29, 2021

Minha infância teve cheiro de capim gordura

“Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo”.

Adélia Prado

Nasci, no final década de 1950, no município de Rio Claro/SP, mas meus pais, tios e avós moravam e trabalhavam na Fazenda e Haras Morro Grande, distrito rural daquela cidade. Sou o terceiro filho de uma família de três irmãos, que era para ser de quatro. Minha mãe perdeu um filho quando estava grávida de 6 meses. Meu pai era o terceiro dos oito irmãos de uma família de filhos de italianos. Só conheci a minha avó paterna, Virgínia Rosin Calore Martini. Ela contava as aventuras da longa travessia do oceano que seus pais fizeram, da Itália até o Brasil, que teria durado seis meses, entre outras histórias.

Meu avô, Primo Martini, com minha avô, Virgínia Calore Martini, em sua primeira foto juntos, na saída da missa da igreja de Santo Antônio, em Morro Grande, quando começaram a namorar.

Depois de algum tempo, meu avô, Primo Martini, comprou um sítio bem próximo da fazenda onde trabalhavam. A casa, bem simples, ficava em uma parte baixa do terreno, com muitas árvores frutíferas ao redor, como laranjeiras e mangueiras. Tinha também um pé de jambo enorme, que ficava do lado esquerdo da casa, no qual eu e meus primos costumávamos subir. Tudo permeado pelas flores da minha avó. Roseiras, cravos, dálias, rainhas margaridas, olgas, primaveras…Tinha duas cozinhas na casa e um corredor comprido onde havia os quartos de dormir. E lá no sítio, não havia separação entre a vida dos adultos e das crianças. As tarefas eram feitas em conjunto, quer sejam as domésticas ou as da roça, cada um com responsabilidades compatíveis com a idade e a força.

Cultiva-se basicamente arroz, feijão e milho. Mas lembro que tinha velhos pés de café, talvez plantados pelo antigo proprietário ou outro qualquer, que ainda produziam. Do lado de fora da janela da sala de jantar tinha um pequeno parreiral, que produzia uvas brancas e escuras e que quando produziam tinham seus cachos vigiados por meu avô. Nas festas de ano novo, sempre tinha vinho tinto de garrafão e lembro que minha avó misturava vinho com água e açúcar cristal. Colocava em canecas e dava para nós, ainda crianças, molhar o pão. Não, ainda não bebíamos vinho puro. Ter o direito de tomar vinho correspondia a um ritual de passagem da vida de criança para a de adulto. Todo o trabalho no sítio era feito manualmente. Cada filho que nascia representava mais uma enxada, um machado, uma foice, um facão… A cada ano e com a parcimônia e sabedoria do meu avô e tios, derrubava-se nova porção de mato para ampliar a área de cultivo. Uma junta de bois ou um cavalo puxava o arado. Por ali, raramente usava-se o dinheiro. O que havia era muito escambo.

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agosto 2, 2021

SERES-RIOS – festival fluvial promovido pelo BDMG Cultural

O Festival Seres-rios acontecerá online, de 02 a 10 de agosto e é promovido pelo BDMG Cultural – o festival propõe reflexões sobre as histórias e as relações culturais dos rios.

Acesse a programação

Há centenas de narrativas de povos que estão vivos, contam histórias, cantam, viajam, conversam e nos ensinam mais do que aprendemos nessa humanidade. Nós não somos as únicas pessoas interessantes no mundo, somos parte do todo. Isso talvez tire um pouco da vaidade dessa humanidade que nós pensamos ser, além de diminuir a falta de reverência que temos o tempo todo com as outras companhias que fazem essa viagem cósmica com a gente.

AILTON KRENAK, IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO

Falar sobre rios é falar sobre seres, matérias, encantamentos, violência, vida e morte. É falar sobre o duo natureza e cultura que tanto tentou se apartar, mas que resiste em manifestos e festas. E pensar em rios no território das Minas e das Gerais é consagrar o maior número de bacias hidrográficas do país, onde abrigam-se nascedouros e grandes rios que seguem Brasil adentro e rumo ao Atlântico, abastecendo aquíferos e, por que não, imaginários de um mundo abundante.

Segundo o Igam – Instituto Mineiro de Gestão das Águas – são 17 bacias hidrográficas no Estado. A questão que se faz presente, entretanto, é como cuidamos dessa abundância, como cuidamos de toda a rede ecológica e cultural que os rios emanam e coletivamente constroem em seu entorno.

SERES-RIOS vem então para compartilhar conhecimentos múltiplos, arte e diálogos de quem vivencia e tem relação com águas fluviais em suas mais diversas formas, cursos e geografias. Um festival virtual criado – e inspirado pelas correntes dos rios Doce, Jequitinhonha e São Francisco – para celebrar a existência e a importância dos rios para a vida e seu importante papel em todas as discussões ambientais, culturais, sociais e econômicas. 

Com realização BDMG Cultural, o SERES-RIOS Festival Fluvial se materializa em uma plataforma online com uma programação fluida como os rios e que contempla músicas para abrir os caminhos e uma mesa de inauguração, 6 diálogos, 4 lives, uma exposição coletiva de 6 artistas que desenvolveram trabalhos especialmente para o projeto, uma mostra de filmes, playlists, cartografia, conteúdo infantil e outras interações digitais para um público diverso.

E, assim, esperamos que nesse navegar, possamos vivenciar a estética, a política, a festa, a imagem, o som e o conhecimento juntos, sempre olhando para o outro. Pela sede de descanso que estamos vivendo e pelo prazer de soltar o corpo na água e lutar para sobrevivermos em coletivo. Pelos seres-rios.

Gabriela Moulin
Diretora-Presidente do BDMG Cultural

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