A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

fevereiro 1, 2024

Governo de São Paulo muda decreto sobre acesso à informação e tira atribuições do APESP

No apagar das luzes de 2023, o Governo de São Paulo decidiu implodir o papel de destaque do Arquivo Público do Estado (APESP) na legislação que regula o direito de acesso à informação em âmbito estadual.

Publicado em 09 de dezembro do ano passado, o Decreto nº 68.155 cria um novo regulamento para o acesso à informação no Estado. O dispositivo amplia o rol de agentes públicos que podem classificar documentos no grau ultrassecreto, mesmo movimento realizado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro – de quem Tarcísio de Freitas, hoje governador de São Paulo, foi um dos principais ministros.

Além de facilitar as possibilidades de sigilo, o novo decreto também empodera a Controladoria Geral do Estado (CGE), hoje chefiada por Wagner Rosário (ex-ministro da Controladoria Geral da União no Governo Bolsonaro). O aumento de poder atribuído à CGE coincide com o desmantelamento das atribuições do APESP. O Decreto 58.052/2012 havia dado ao Arquivo Público do Estado o status de instituição basilar para o estabelecimento da política estadual de arquivos e de gestão de documentos. Conforme o dispositivo, cabia ao APESP, inclusive, a presidência da Comissão Estadual de Acesso à Informação, além do controle do Sic.SP. Ambos foram transferidos para a CGE no novo regulamento.

O decreto mais recente também altera pontos importantes na estrutura das CADA (Comissões de Avaliação de Documentos e Acesso), fundamentais para o estabelecimento da política de gestão e acesso no Estado. Pelo decreto de 2012, as CADA eram vinculadas à autoridade máxima de cada órgão da administração, estavam compostas por servidores de nível superior de diferentes áreas e, dentre suas atribuições, ficavam responsáveis pelas orientações sobre sigilo e acesso. O novo decreto extirpou todos estas importantes características.

Nas disposições finais, o dispositivo promulgado por Tarcísio de Freitas em dezembro passado, revoga também uma disposição de 1984: o inciso XII do artigo 6º do Decreto 22.789, que dá ao APESP a atribuição de “propor a política de acesso aos documentos públicos”.

Cabe lembrar que, há quase 40 anos, o Arquivo Público do Estado de São Paulo se dedica profundamente à regulamentação da gestão de documentos e do acesso à informação em São Paulo. Caracterizado por avanços significativos desde então, o APESP agora se une ao grupo das instituições arquivísticas estaduais esvaziadas – ao menos parcialmente – pela administração pública – grupo infelizmente predominante na realidade arquivística brasileira.

Em uma publicação em seu sítio institucional, o APESP anunciou que “no último dia 12 de dezembro, o Governo do Estado de São Paulo publicou no Diário Oficial do Estado o Decreto Nº 68.155, que estabelece uma nova regulamentação da Lei de Acesso à Informação (LAI) no Estado em conjunto com o programa de proteção a denunciantes de irregularidades contra a administração pública estadual”. Na mesma publicação e em tom resignado, o coordenador da instituição, Thiago Nicodemo (mantido pela gestão de Tarcísio), afirmou que o APESP cumpriu sua missão. “Sei que a Controladoria do Estado fará um trabalho brilhante daqui em diante” – afirmou.

Fonte: girodaarquivo

A paralisação do Memórias Reveladas e os 60 anos do Golpe Militar

O ano de 2024 marca os 60 anos do golpe de 1964.

Temos certeza de que inúmeros serão os eventos e manifestações para “rememorar” o período da ditadura militar. A efeméride é um momento importante para reforçar as lutas contra as forças autoritárias, responsabilizar autores de mortes e desaparecimentos, denunciar atrocidades, buscar reparações históricas, permitir o direito à memória e à verdade e, sobretudo, relembrar a sociedade o que aconteceu para que não se repita. Afinal, sabemos que o perigo não passou.

 Nesse sentido, é fato que um grande aliado para ajudar na construção de reflexões importantes em relação àquele episódio é o Memórias Reveladas.

 Criado em 2009, pela então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no contexto de implementação de uma política de direito à memória e à verdade promovida pelo Estado brasileiro, o Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985): Memórias Reveladas tem por objetivo disponibilizar os arquivos sobre o regime militar e as lutas políticas durante a Ditadura. Sob a coordenação do Arquivo Nacional, mantém uma base de dados que integra, em rede, acervos e instituições, resultado de acordos de cooperação firmados entre a União, estados e o Distrito Federal, num total de cerca de 160 instituições parceiras.

 Desde sua criação o Memórias Reveladas atuou no sentido de constituir uma política integrada de acervos sobre a resistência à ditadura militar, contemplando sua identificação, tratamento, preservação e difusão. Ademais, o Centro mantém o Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas, concurso monográfico de trabalhos que utilizam fontes documentais do período de 1964-1985, além de promover eventos diversos, como exposições, seminários e publicações sobre a temática.

 Não causa surpresa a ninguém que, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, o Memórias Reveladas foi alvo de inúmeras denúncias públicas sobre a tentativa de esvaziamento de suas atividades como, por exemplo, a desvinculação do Gabinete da direção-geral do Arquivo Nacional e, por conseguinte, seu rebaixamento institucional; o grande atraso no lançamento das obras vencedoras da edição 2017 do Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas – publicadas somente em 2022, após uma série de denúncias dos autores nos meios de comunicação – e a suspensão de novas edições. Como se não bastasse, acompanhamos a paralisação dos trabalhos de organização e disponibilização de acervos das Delegacias de Ordem Política e Social – DOPS junto aos arquivos estaduais, além de censuras e perseguições contra servidores da área no Arquivo Nacional.

 Com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ansiávamos que o Memórias Reveladas tivesse sua situação revista, mas infelizmente isso não aconteceu. Nem o fato dos 60 anos do golpe militar parece impulsionar essa possibilidade. O que nos leva a essa triste constatação são questões como: a) os órgãos colegiados que compõem o Memórias Reveladas, e que possuem um papel fundamental na elaboração de projetos de difusão e de produção de conhecimento sobre o período da ditadura militar do país, não foram compostos ou convocados pela atual gestão do Arquivo Nacional; b) na nova estrutura do Arquivo Nacional, aprovada pelo Decreto nº. 11.874, de 29 de dezembro de 2023, o Memórias Reveladas manteve-se subordinado à área voltada ao tratamento técnico do acervo sob a guarda da instituição arquivística, reforçando o esvaziamento político que o Centro de Referência vem experimentando desde 2016; c) de maneira semelhante, não houve, até o momento, uma nova edição do Prêmio de Pesquisa Memórias Reveladas, cuja periodicidade deveria ser bienal.

Essa morosidade do Arquivo Nacional em recompor o Memórias Reveladas mantém a política de enfraquecimento do Centro de Referência, criado no âmbito das ações de recolhimento, ao Arquivo Nacional, dos acervos dos extintos Conselho de Segurança Nacional, Comissão Geral de Investigações e Serviço Nacional de Informações (SNI). Vale lembrar que tais ações foram iniciadas em 2005 e tiveram por objetivo a garantia do direito da sociedade à memória e à verdade.

Portanto, um dos aspectos mais graves do esvaziamento do Memórias Reveladas é a paralisação da disponibilização de acervos sobre a ditadura e a resistência no Brasil, por meio de um banco de dados alimentado de forma cooperativa por arquivos e instituições públicas e privadas que compõem a Rede Nacional de Cooperação e Informações Arquivísticas.

Cumpre destacar que foi por meio dessa cooperação que foram identificados, tratados e disponibilizados, pelos arquivos estaduais, documentos dos DOPS que serviram para a implementação/execução das ações de reparação às vítimas da ditadura militar, e para a produção acadêmica e científica dedicada à investigação do passado recente do país, aspectos fundamentais para a construção da cidadania e o fortalecimento da democracia.

Pelo andar da carruagem, nem os 60 anos do golpe militar, tampouco os recentes acontecimentos antidemocráticos, são motivos relevantes para a direção do Arquivo Nacional retomar as importantes ações do Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985): Memórias Rev

Replicado do blog da Associação de Arquivistas de São Paulo: A paralisação do Memórias Reveladas e os 60 anos do Golpe Militar (pontodevistaarqsp.wixsite.com)

janeiro 23, 2024

Tiradentes MG, destino turístico imperdível

Tenho a tendência em bater longos papos com pessoas estranhas que encontro pela vida afora. E isso resulta em uma série de conhecidos que preenchem meus dias com conversas agradáveis, conselhos e informações.

Passei 07 dias desse mês em Tiradentes/MG e cidades vizinhas, onde pude apreciar a linda arquitetura colonial, a deliciosa comida mineira, as estradas e paisagens montanhosas. Em uma de minhas caminhadas pelas ruelas de Tiradentes, mais precisamente próximo da rua Jogo de Bola, cruzei com D. Josephina, de 90 anos, elegantemente vestida, dando passos lentos com seu andador de apoio, que ao me ver esboçou um largo sorriso e disse: “boa tarde!”. O que aconteceu em seguida segue no relato abaixo.

D. Josephina

Ela parou e começou a puxar conversa. Disse que saiu de casa logo cedo para sua lenta caminhada. Perguntou de onde eu era e em seguida emendou que era nascida e criada em Tiradentes. Que adora conversar e contar “causos”. Disse: “você conhece Papo Suado (fubá suado)?” Diante de minha negativa, começou a contar que quando era jovem, ao cair da tarde e começo da noite, as pessoas se reuniam nas casas para rezar o terço. Depois de terminada a profissão de fé, sentavam na frente das casas para tomar café e comer papo suado. Em uma panela de ferro, colocavam toucinho para fritar. Depois acrescentavam fubá úmido com um pouco de sal. As vezes também colocavam queijo. Depois de pronto e morno, uma generosa colherada era acondicionada na palma da mão a qual era comprimida como um bolinho e comia-se junto com o café.

Josephina falou que a carne do Natal não deve ser porco, vaca ou galinha. Que tem que ser um pernil de cordeiro bem assado, com temperos e especiarias. E elencou sua receita. E frisou: “você pode fazer essa mesma receita em qualquer outra época do ano. Mas, com o sabor e o aroma quando é feito na noite de Natal, nunca ficará igual.”

Também discorreu sobre receita para curar a ressaca e disse ser infalível. Molhar o fubá, fazer bolinhas e dentro de cada uma delas colocar um pedacinho de pau de canela. Levá-las ao fogo em uma panela com água e deixar ferver. As bolinhas não desmancham. Depois de fervidas, retirar as bolinhas e tomar a água resultante da fervura. É tiro e queda, segundo ela. Você estará pronto para novo porre!

Rua Jogo de Bola

Ela ficou viúva faz 3 anos. Tem 3 filhos e todos tentam agradá-la da melhor forma possível. Gosta da boa comida acompanhada de um bom vinho. E ao final de nossa conversa deu um conselho sobre o melhor cartão de crédito que podemos ter nessa vida: “Eles são três – a amizade, o amor e a caridade”.

Nos despedimos. Ela estava a caminho do Restaurante Padre Toledo onde trabalhou durante 51 anos. Iria comer uma tapioca e tomar uma taça de vinho. Deu seu endereço, e disse sorrindo: quando passar pela rua Jogo de Bola, número tal, a porta está sempre aberta. Pare para tomar um café e papearmos.

Saúde e força para D. Josephina!

outubro 10, 2022

O meu pai glutão

Meu pai era um operário que fazia trabalho pesado, mas antes disso foi agricultor. Acho que posso classificá-lo como um pouco bruto em seu modo de ser. Mas como dizem, “os brutos também amam”. Apesar da dificuldade que tinha em expressar o seu amor, era portador de um coração doce, enorme e aparentemente entre mim e minhas duas irmãs não tinha um filho preferido, como deve ser com todos os pais.

Comia muito mal e em quantidade, mas com gosto. Adorava carnes de panela bem gordas, muita manteiga ou margarina no pão, toras de mortadela, tigelas grandes de doces de abóbora, banana etc., torresmos e um sem-fim de tranqueiras. Mas não foi por conta de doença cardíaca que morreu. Acho que essa fome desmensurada foi por conta da infância e juventude que teve e as dificuldades que passou. Tinha mania de fazer estoque de alimentos não perecíveis. A cozinha era o maior cômodo da casa e em um dos cantos havia um enorme baú de madeira onde ficavam acondicionados dezenas de quilos de arroz, feijão, trigo, açúcar, sal, latas de óleo, margarina… Quando ficava sabendo que em dito supermercado havia um produto em promoção ia até lá e comprava o tanto que o dinheiro que tinha no bolso dava para comprar.

Meu pai, Antonio Martini, era um ecologista nato

Me lembro claramente da sensação de que eu tinha vendo-o comer. Dava gosto de vê-lo comer com tanto prazer. Minha mãe é quem preparava o prato. Prato fundo. Montanha de arroz com feijão e sobre ele a “mistura do dia”. A comida tinha que estar morna e ao lado do prato sua colher de estimação. Sim, ele comia de colher e tinha que ser a colher dele. Era raro ele aceitar um convite de almoço na casa de parentes ou amigos. Mas, quando ia, a colher o acompanhava, no bolso. Mesmo ainda criança, eu acho que percebia que aquela fome não era só de comida. Se fosse, ele já estaria satisfeito com três sanduíches de pão com mortadela. Mas ele chegava a devorar dez, doze de uma só vez… Dizia: “Maria, hoje não vou jantar. Vou comer pão com mortadela”. Tive que viver algumas décadas ainda para entender os vários tipos de fome das pessoas em suas tentativas de compensações.

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setembro 14, 2022

Mata Negra, paraíso rural

Filed under: Uncategorized — Augusto Jeronimo Martini @ 19:55

Vale a pena conhecer Mata Negra!

Vivian Guilherme

Reduto de histórias e belezas naturais

Há cerca de 20 quilômetros do centro de Rio Claro, o bairro rural de Mata Negra é um pedacinho do paraíso escondido do município. Belezas naturais, prédios históricos e um cenário típico da roça compõem um dos bairros afastados de Rio Claro.

Mata Negra é constituído por 50 famílias, em sua maior parte de descendência italiana, distribuídas em oito mil hectares, sendo 40 alqueires da área destinados à cultura do café, além de milho e cana-de-açúcar. Na região destaca-se, ainda, a produção de queijo e gado de corte, bem como a cultura de abacate, manga e uva. O bairro conta também com um centro comunitário onde ocorrem as atividades sócio-culturais.

Em entrevista ao JORNAL REGIONAL em agosto do ano passado, o rei da congada e agitador cultural, José Ariovaldo Pereira Bueno, contou uma curiosidade acerca do nome do bairro. O nome Mata Negra não…

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agosto 28, 2022

O Jardim na frente da casa

Não sei… se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo: é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira e pura… enquanto durar. (Saber viver, de Cora Coralina)

Lembro-me dos quintais das casas que vivi minha infância e adolescência e boa parte da vida adulta. Lembro-me daqueles dias e de como eles pareciam ser longos, infindáveis, pareciam que iriam durar para sempre. E hoje os dias parecem tão curtos! Será que conforme crescemos os dias encolhem?

Eu adorava andar pelo quintal, sentir o cheiro das plantas, “roubar” uma laranja ainda por amadurecer, retirar uma cenoura da terra, lavar e comer, observando os pássaros. Ver as rainhas margaridas plantadas por minha avó, as rosas, as cravinas, as dálias…

O amor que tenho pelas plantas em geral é parte da herança que recebi da minha avó paterna, dos meus pais e dos meus tios-sitiantes. Não consigo pensar neles sem associá-los a natureza. Meu pai gostava de pescar, caminhar, andar de bicicleta, plantar árvores, verduras e legumes, ervas e flores, que serviam para alegrar a alma, curar o corpo e levar para longe as dores.

E qual era o lugar preferido de minha avó e de meu pai? Se alguém quisesse encontrá-los, era só procurar no quintal. Lá estavam eles mergulhados numa profusão de cores.  Minha avó valorizava cada flor como se fosse uma joia rara, suas plantas eram o seu maior tesouro. Sempre tinha novas espécies, em mudas que eram trocadas com vizinhos, amigos ou parentes. E ela sempre usava um lenço na cabeça e um avental. Na hora do almoço, as refeições eram servidas com verduras frescas que sempre vinham do quintal – plantadas por ela e por meu pai. Com eles aprendi a ouvir o canto dos pássaros, a contar estrelas, a distinguir de olho fechado o perfume de cada flor e a reconhecer espécies de árvores. Aprendi usar ervas para curar, a tomar chá, a plantar e colher. Há muitos anos ela e meu pai se foram, mas continuam presentes no meu quintal da casa que mantenho em Rio Claro, e nas plantas que tenho nos vasos e floreiras do apartamento.

Comecei a escrever esse texto saudoso por um fato que me deixou emocionado dias atrás e fez-me pensar ainda mais em meus antepassados. Estava em Rio Claro e passei na casa de minha irmã mais velha, a Tereza, (minhas duas irmãs moram no bairro Vila Nova) que me levou para conhecer as plantas de D. Cidinha, uma de suas vizinhas que mora quase em frente de sua casa, que fará 86 anos no próximo outubro.

Ela vive sozinha por opção, com seus bichos (cão, gato, calopsita), em uma casinha simples e aconchegante, que na frete tem um pequeno quintal com o piso todo cimentado. Mas ali é o pequeno paraíso daquela simpática senhora. Suas flores estão plantadas em baldes, velhas caixas d´água, caixotes, pequenos canteiros feitos com tijolos, elevados do chão. Duas vigorosas trepadeiras Jade – uma azul e a outra vermelha, correm sobre um caramanchão feito com canos plásticos, madeira, arames, todos confeccionados e trançados por ela. Uma trama de arame, também feito por ela, serve de tutor para outra trepadeira plantada em uma caixa de água.

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agosto 25, 2022

Edmundo Navarro de Andrade – vida e obra

Edmundo Navarro de Andrade nasceu em São Paulo em 02/01/1881, na antiga Rua do Chá, hoje Barão de Itapetininga. Ele era filho de João de Campos Navarro de Andrade (jornalista e teatrólogo) e Dona Cristina de Afonseca Navarro de Andrade.

Edmundo Navarro de Andrade

Foi batizado por Dona Veridiana Prado e o filho dela, Eduardo Prado. Edmundo Navarro de Andrade, com o apoio do padrinho, em 1896, foi para Coimbra estudar, matriculando-se na Escola Nacional de Agricultura, onde o curso era de 6 anos.

Durante o período de estudo, por ocasião de estar em férias, veio ao Brasil duas vezes, em 1899 e 1902, e numa delas passou todo o tempo na Fazenda Campo Alto, em Araras/SP, de propriedade de sua madrinha. Nesse local colocou em prática os seus conhecimentos sobre arboricultura, podou as árvores frutíferas da fazenda, o que deixou o administrador da fazenda preocupado, mas depois viu que o rapaz sabia o que estava fazendo.

Em1901 faleceu Eduardo Prado, seu padrinho, e D. Veridiana passou a custear os estudos de Edmundo, que voltou ao Brasil em 1903, diplomado, e em São Paulo, passou a morar na casa da Rua Visconde do Rio Branco, em que residira e falecera Eduardo Prado. Mas ia todos os dias fazer suas refeições na chácara de sua madrinha e em companhia dela. Dona Veridiana era extremamente correta e não aceitava falcatruas. E esta convivência  teve grande influência na formação do caráter de Edmundo.

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março 24, 2022

O avental de minha avó

Uma das peças de roupas que minha avó escolhia a dedo, tanto para usar em casa quanto quanto para quando ia sair era o seu inseparável avental. E tinha que ter bolsos – para acondicionar o lenço ou esconder as balas que sempre tinha guardadas para os netos. A primeira utilidade do avental de minha avó foi proteger a roupa de baixo. Depois… serviu como luva para tirar a panela do fogão… Foi maravilhoso para secar as lágrimas dos netos e também para limpar as suas caras sujas. Do galinheiro, o avental foi usado para transportar os ovos e, às vezes, os pintinhos.

Virgínia Rosin Calore Martini – com um de seus inseparáveis aventais e suas rainhas-margaridas

Quando os visitantes chegavam, o avental servia para proteger as crianças tímidas. Quando fazia frio, a nona servia-lhe de agasalho. Este velho avental era um fole agitado para avivar a brasa do fogão.

Era nele que levava as batatas e a madeira seca para a cozinha. Da horta, servia como um cesto para muitos legumes: depois de apanhadas as cenouras, era a vez de arrecadar nabos, alfaces, almeirões e couves.

E, pela chegada do outono, usava-o para apanhar os maracujás. Quando os visitantes apareciam, inesperadamente, era surpreendente ver quão rápido este velho avental podia limpar o pó. Quando era a hora da refeição, da varanda, minha avó sacudia o avental e os homens, a trabalhar no campo, sabiam, imediatamente, que tinham que ir para a mesa. Minha avó também o usou para tirar o pão do forno e colocá-la na janela para esfriar.

Passarão muitos anos até que alguma outra invenção ou objeto possa substituir este velho avental da minha avó.

-Texto adaptado e de autor desconhecido

fevereiro 13, 2022

Mistérios da meia noite

O que é espiritualidade para você? Para mim é poder fazer a conexão com algo maior do que a mim mesmo. E isso envolve também a procura por um sentido na vida, que pode ser uma busca particular, seja com um Deus, com vários Deuses, com alguma experiência transcendental, com alguma força da natureza, com o seu EU interior e tantas outras coisas. 

Fui criado na fé católica. Sou batizado e crismado, mas acredito que somos permeados por várias formas de energia. Se existe o bem, o mal também existe. E por que comecei a escrever esse post? Simplesmente porque hoje acordei lembrando de minha infância e das histórias de terror que meu avô, meus tios e pai contavam.

Meu avô, Primo Martini, com minha avô, Virgínia Rosin Calore Martini, em sua primeira foto juntos, na saída da missa em Morro Grande, quando começaram a namorar.

No final dos anos 60 e início dos anos 70, em casa de minha avó, no sítio que a família Martini tinha nas proximidades de Morro Grande (hoje Ajapi, distrito rural de Rio Claro/SP) não havia energia elétrica. As noites eram iluminadas por velas, pela lua cheia ou lamparinas de querosene. Depois do horário da janta tinha a reza do terço e depois do terço as “contações” de histórias, acompanhadas por uma baciada de pipocas quentinhas, por uma xícara de chá e por muito medo. Mas adorávamos tudo aquilo, apesar desses “causos” assombrarem o nosso sono. E, independente do conceito, de acreditar ou não, é possível perceber, dentre outras coisas, a força que essas histórias exerceram na minha vida e nos meus caminhos e igualmente nos caminhos de minhas irmãs e primos. 

A história a seguir vem sendo passada de geração em geração. Meu bisavô contava ao meu avô, que contou ao meu pai e assim por diante. Então “senta que lá vem história”!

 Antigamente, as famílias tinham muitos filhos. Mas havia uma grande preocupação quando nasciam sete homens. Nesse caso, o primogênito tinha que batizar o caçula, para evitar que o mais velho virasse lobisomem. Assim também era feito com a filha mais velha, para que não virasse bruxa.

Meu avô contava que lá  por aquelas bandas, na Mata Negra, aconteceu o casamento de uma jovem que, depois de casada, teve seu primeiro filho e, juntamente com seu marido, ia sempre visitar seus pais nas noites de sexta-feira. Certa feita, no caminho, o marido disse que precisava ir no mato fazer necessidades e pediu à esposa que o esperasse ali. A moça ficou esperando com o bebê no colo e este estava coberto com uma manta de lã vermelha, que tinha um trançado, tipo crochê, nas extremidades. De repente, apareceu do nada um cachorro grande, peludo, com os olhos vermelhos que pulou na moça para tomar a criança de seu colo e abocanhou a barra da manta. Desesperada, ela subiu na porteira para proteger o bebê e a si mesma. Gritou pela proteção de Nossa Senhora Aparecida e para o Anjo da Guarda guardar o seu bebê, fez o sinal da cruz e, neste momento, o cachorro foi embora. Após alguns instantes, o marido voltou e a esposa contou-lhe o que havia acontecido. Tranquilo, ele disse que era algum cachorro  bravo ali do sítio por onde passavam e que cão de guarda age assim mesmo. E continuaram a caminhada. No outro dia, após o almoço na casa dos pais, enquanto todos conversavam, rindo e se divertindo, o pai da moça percebeu algo estranho: nos dentes de seu genro havia muitos fios vermelhos. Descobriu-se, então, que o pai da criança era um lobisomem e havia atacado seu próprio filho!

Meu avô também contava outra história e essa o envolvia.  Dizia que quando jovem era bonito e elegante – o que minha avó confirmava. Para visitá-la, quando ainda eram namorados, havia uma grande porteira no caminho entre o sítio em que ele morava e o sítio onde morava minha avó. E ele sempre fechava essa porteira com o trinco, após passar por ela. Depois de fazer várias vezes aquele trajeto, percebeu que a porteira estava sempre aberta, apesar de ele a ter fechado. Numa noite, após fechar a porteira por mais de uma vez, e ela voltando a se abrir, disse que ficou irritado e começou a xingar. Foi quando escutou uivos vindo da mata. A lua cheia se escondeu por trás das nuvens e ele sentiu um vulto passar pela sua lateral esquerda. Tremendo de medo, saiu correndo em disparada. Ao chegar em casa, riscou uma cruz na porta, se benzeu, foi para o quarto e se enfiou sob as cobertas. Nada aconteceu com ele, mas no dia seguinte, havia vários arranhões na porta, como se tivessem sido feitos por uma fera raivosa esfregado as unhas. Até hoje por aquelas bandas ouve-se falar do mistério da porteira. E meu avô tinha a certeza de ter sido coisa do lobisomem!

fevereiro 8, 2022

Pizza de sardinha

Hoje lembrei da minha infância e adolescência em casa de meus pais, sentado em volta da mesa com macarronada e frango assado no domingo. Ou o tutu de feijão com couve refogada e farofa… Ah, a farofa de cenoura da minha mãe era incomparável! E o que dizer da pizza de sardinha? Do cuscuz, da sopa de mandioca…

Pizza al taglio


Gosto muito de conversar com as pessoas que têm as lembranças afetivas que elas carregam das comidas de suas mães e avós.
Hoje lembrei muito de minha mãe e do jogo de cintura que ela tinha para me fazer comer um pouco de carne. A carne moída era enfeitada com muita batata e um tempero que mascarava o gosto. O frango assado com a farofa de cenoura do qual eu mal comia um pedaço do peito e com muita farofa. E a pizza de sardinha como só ela sabia fazer… e tudo para me agradar.
Essa da foto acabei de fazer e ficou parecida com a dela. E o cheiro delicioso que tomou conta do apartamento foi como se ela estivesse alí, na cozinha. Quase consegui ouvir a voz dela dizendo: “Dinho, fiz pizza de sardinha para você”!

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