A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

agosto 25, 2022

Edmundo Navarro de Andrade – vida e obra

Edmundo Navarro de Andrade nasceu em São Paulo em 02/01/1881, na antiga Rua do Chá, hoje Barão de Itapetininga. Ele era filho de João de Campos Navarro de Andrade (jornalista e teatrólogo) e Dona Cristina de Afonseca Navarro de Andrade.

Edmundo Navarro de Andrade

Foi batizado por Dona Veridiana Prado e o filho dela, Eduardo Prado. Edmundo Navarro de Andrade, com o apoio do padrinho, em 1896, foi para Coimbra estudar, matriculando-se na Escola Nacional de Agricultura, onde o curso era de 6 anos.

Durante o período de estudo, por ocasião de estar em férias, veio ao Brasil duas vezes, em 1899 e 1902, e numa delas passou todo o tempo na Fazenda Campo Alto, em Araras/SP, de propriedade de sua madrinha. Nesse local colocou em prática os seus conhecimentos sobre arboricultura, podou as árvores frutíferas da fazenda, o que deixou o administrador da fazenda preocupado, mas depois viu que o rapaz sabia o que estava fazendo.

Em1901 faleceu Eduardo Prado, seu padrinho, e D. Veridiana passou a custear os estudos de Edmundo, que voltou ao Brasil em 1903, diplomado, e em São Paulo, passou a morar na casa da Rua Visconde do Rio Branco, em que residira e falecera Eduardo Prado. Mas ia todos os dias fazer suas refeições na chácara de sua madrinha e em companhia dela. Dona Veridiana era extremamente correta e não aceitava falcatruas. E esta convivência  teve grande influência na formação do caráter de Edmundo.

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novembro 17, 2021

As vantagens de ter 60 anos, ou mais.

Filed under: amor,Atualidades,Brasil,Coisas que eu gosto,Memórias,Saúde,Uncategorized — Augusto Jeronimo Martini @ 11:23
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Tenho um grupo de amigos de minha época de infância e educação primária no WhatsApp. Dias atrás o Pisteker encaminhou o texto abaixo, que encontrou na rede, o qual se refere aos benefícios da velhice. Procurei no Google, o encontrei como sendo de autor desconhecido.

É uma boa reflexão para um país que está envelhecendo em alta velocidade como demonstram as estatísticas mais recentes. Leia e se gostar, compartilhe!

As vantagens de ter 60 anos, ou mais.

Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelo branco ou uma barriga mais lisa.
Enquanto fui envelhecendo tornei-me mais amável para mim e menos crítico de mim mesmo.
Eu me tornei meu próprio amigo…

Eu não me censuro por comer biscoito extra, ou por não fazer a minha cama, ou pela compra de algo bobo que eu não precisava.
Eu tenho o direito de ser desarrumado, de ser extravagante.

Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento.

Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até às quatro horas e dormir até meio-dia?
Quem irá me tirar o prazer de ficar na cama ou na frente da televisão o tempo que eu quiser?
Eu dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 70 e 80 e se eu, ao mesmo tempo, desejar chorar por um amor perdido… Eu vou.

Se eu quiser, vou andar na praia em um short excessivamente esticado sobre um corpo decadente e mergulhar nas ondas com abandono, apesar dos olhares penalizados dos outros no “jet set”.
Eles também vão envelhecer.

Eu sei que sou às vezes esquecido, mas há algumas coisas na vida que devem mesmo ser esquecidas.
Eu me recordo das coisas importantes.
Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado.
Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão.
Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril, e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.

Sou abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto.
Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata.
Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo.
Você se preocupa menos com o que os outros pensam.
Eu não me questiono mais.

Eu ganhei o direito de estar errado.
Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser velho.
Eu gosto da pessoa que me tornei.

Não vou viver para sempre, mas enquanto ainda estou aqui, não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será.
E, se me apetecer, vou comer sobremesa todos os dias.

Que nossa amizade nunca se separe, porque é de coração!

outubro 14, 2021

Direitos LGBTQIA+

Do Movimento Homossexual Brasileiro ao LGBTQIA+: entenda a evolução do movimento nas últimas três décadas e os debates gerados na sociedade.

Nesta Linha do Tempo, percorremos a evolução do movimento LGBTQIA+ desde a redemocratização. Apresentamos as mudanças internas no movimento e suas demandas por direitos. Abordamos as alianças e os embates entre o grupo, a reação do conservadorismo aos seus avanços e os conflitos resultantes no Legislativo e no Judiciário.

Depois de três décadas de organização do movimento LGBTQIA+ no Brasil, sua relação com o Estado e a sociedade mais ampla ainda é permeada de tensões. O grupo luta desde então por seu reconhecimento como sujeitos de direitos. Internamente, está em constante transformação — a própria evolução do seu nome ao longo do tempo é uma demonstração disso: 

  • MHB: Movimento Homossexual Brasileiro: majoritariamente formado por homens gays, que se atraem por pessoas do mesmo gênero;
  • MGL: L de lésbicas, mulheres que se atraem por pessoas do mesmo gênero; 
  • GLT: T de travestis, pessoas que apresentam uma identidade de gênero distinta daquela que lhes foi designada no nascimento em razão de seu genital;
  • GLBT: B de bissexuais, pessoas que se atraem por pessoas de mais de um gênero e T também passa a incluir transexuais;
  • LGBT: na I Conferência Nacional GLBT (2008), decidiu-se trocar o G e o L de lugar para dar maior visibilidade às lésbicas.

A dança de cadeiras das letrinhas não é mera formalidade. A mudança da sigla esteve atrelada a uma característica singular do movimento: abarcar vários grupos com demandas diferentes. O nome do movimento é uma tentativa de traduzir para o resto da sociedade a identidade do grupo e de seus componentes. Atualmente, o termo continua em disputa. Parte do movimento continua utilizando a sigla LGBT, mas novas siglas estão surgindo:

  • LGBTI+: I de intersexos, pessoas que nascem com o sexo não claramente definido, e + de outras identidades sexuais não-heterossexuais e identidades de gênero transgêneras que não se identificam com a sigla hegemônica;
  • LGBTQIA+: Q de queer, termo guarda-chuva usado para descrever o amplo espectro de identidades sexuais e de gênero, e A de assexual, pessoas que não sentem atração sexual em maior ou menor grau;
  • LGBTQIAP+: P de pansexuais, pessoas que se atraem por outras, independente de gêneros, se masculino, feminino ou outro.

Todas as letras do movimento estão unidas por dois conceitos-chave: orientação sexual — atração sexual, afetiva ou emocional — e identidade de gênero — a experiência de gênero vivenciada por uma pessoa durante a vida. Esses conceitos desafiam a organização tradicional da sociedade, em que somente seria aceitável a heterossexualidade e gênero teria o mesmo significado que o sexo atribuído à pessoa no nascimento (masculino ou feminino). A orientação sexual traz visibilidade a pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo ou de mais de um gênero, e a identidade de gênero a pessoas que não se identificam com o sexo atribuído no nascimento (essas são as chamadas cisgênero) e podem expressar sua identidade de diversas maneiras. Cabe destacar que a orientação sexual e a identidade de gênero não devem ser confundidas — uma pessoa pode ser ao mesmo tempo cisgênero e lésbica, transexual e bissexual, etc. 

O início da articulação política do movimento LGBTQIA+ (no contexto da evolução terminológica da sigla acima mencionada) data de 1969, quando um confronto entre polícia e homossexuais no Stonewall Inn — um bar em Nova York frequentado por gays e lésbicas — produziu as centelhas para alimentar o ativismo. No Brasil, o movimento ganha força dez anos depois, com a formação do grupo Somos em São Paulo, para discutir sexualidade e homossexualidade, e depois do Grupo Gay da Bahia e do grupo Triângulo Rosa no Rio de Janeiro, que surgem em um segundo momento mais engajados com a busca por direitos civis e políticas públicas em um Brasil tomado pela epidemia da aids — que trouxe mortes e também forte preconceito contra gays no país. As primeiras demandas do Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) estiveram ligadas à prevenção à aids, assistência aos portadores de HIV e combate à estigmatização dos gays. 

Com o avanço do tratamento, o movimento se distanciou pouco a pouco dessa pauta para incorporar novas demandas ligadas à efetivação da sua cidadania, pleiteando acesso e participação nas diferentes esferas da vida pública — escola, serviços de saúde, trabalho, política — sem sofrer preconceito ou violência. 

As diferenças entre os grupos definem suas pautas específicas. Para aqueles ligados à orientação sexual (gays, lésbicas e bissexuais), aparecem temas como união civil de pessoas do mesmo sexo, adoção por casais homoafetivos e abolição da chamada “cura gay”. Já para os grupos ligados à identidade de gênero (travestis e transexuais), surgem temas como uso do nome social, acesso seguro a hormônios e cirurgias de mudança de órgão genital, respeito a sua identidade de gênero independente de cirurgias, hormonizações e alteração de registro civil. Já a luta das pessoas intersexo é para que não se realizem cirurgias em bebês intersexo quando não sejam necessárias à sua saúde clínica e pelo reconhecimento da naturalidade (caráter não-patológico) de seus corpos, que não atendem as categorias redutoras do dimorfismo. 

Desde a redemocratização até hoje, as demandas do movimento geraram disputas políticas acirradas no Legislativo. Mesmo tendo gerado muita movimentação — a favor e contra — no Congresso, a maioria das suas conquistas ocorreu por meio da ação do Judiciário, em especial do Supremo Tribunal Federal. São exemplos o direito de pessoas transexuais a terem a cirurgia de adequação corporal à identidade de gênero pelo SUS, por decisão do TRF/4 (2007), a união estável homoafetiva (2011), o casamento civil homoafetivo pelo CNJ (2013), a mudança de (pre)nome e sexo no registro civil de pessoas transgênero independente de cirurgia, laudos e ação judicial (2018), o reconhecimento da homofobia e da transfobia como crimes de racismo (2019), a proibição da “cura gay” (2019) e a inconstitucionalidade da proibição do debate de gênero nas escolas (2020). 

Em termos de políticas públicas, os principais avanços foram no Sistema Único de Saúde, desde as políticas relacionadas ao HIV/aids, até a possibilidade de fazer uso de hormônios e cirurgias de mudança de órgão genital gratuitamente e com acompanhamento médico adequado. Além da saúde, uma relação entre movimento e Estado começou timidamente em 1996, com o Programa Nacional de Direitos Humanos, e avançou com sua participação em Conferências LGBT e elaboração de planos específicos. Mas as ações efetivas foram poucas e, ainda assim, geraram muita reação dos conservadores — como a polêmica do Programa Escola Sem Homofobia, que foi difamado por fake news que o chamaram de “kit gay”, deturpando seu conteúdo e a forma como seria conduzido. 

O tema continua efervescente na sociedade. Vivemos um aumento do conservadorismo e o movimento LGBTQIA+ tenta manter as conquistas pelas quais lutou. Nesta Linha do Tempo, contamos a história traçada por ele nos últimos trinta anos — entenda mais sobre esse grupo que está em constante transformação e o que está em jogo em sua trajetória.

Fonte: Fundação Fernando Henrique Cardoso. Clique aqui e acesse a linha do tempo

setembro 27, 2021

Saudades de minha infância

Nasci e morei em uma fazenda, na cidade de Rio Claro, interior do estado de São Paulo. Ainda criança nos mudamos para a cidade e estudei só em escola pública… Meus amigos de infância tinham apelidos como Quatro Olhos, o Gordo, o Magrelo, o Orelhudo etc. e tudo era levado na base da brincadeira. Não era bulling. Nem sabíamos o que era isso! Éramos humildes, comíamos o que era colocado na mesa, muitas vezes só arroz e feijão, outras, arroz feijão e banana. Ninguém tinha o bolsa família, cesta básica, não havia Google, Facebook, Instagram e nem Wikipédia, tínhamos as enciclopédias Barsa, com suas dezenas de volumes e as pesquisas de estudo eram feitas nas bibliotecas públicas ou na pequena biblioteca da escola.

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Quando nossa mãe saía na janela e dava um grito, a frase “peraí, mãe” era para não sair da rua e não do computador… Apanhei muito de cinto, ficava de castigo e nem por isso me tornei um rebelde sem causa… Nós tínhamos brinquedos, muitos deles feitos com latas velhas, pneus… e não celulares. Colecionávamos figurinhas e não namorados ou namoradas. Batíamos “bafo” com as figurinhas e não nos colegas e nos professores (aliás professor era muito respeitado e admirado). Cantávamos o Hino Nacional com a mão no peito e todas as semanas ao hastearmos a bandeira em frente da escola.

Brincávamos de polícia e ladrão, de amarelinha, esconde-esconde, jogávamos taco, queimada, passa anel, vôlei, pique bandeira, jogávamos bolinhas de gude, usávamos roupas infantis quase sempre de segunda mão, vindas de primos ou irmãos e não nos vestíamos como adultos. Soltávamos bombinhas tipo traque nas festas juninas e empinávamos pipas e pulávamos elástico. Assistíamos o Sítio do Pica Pau Amarelo, Vigilante Rodoviário, Rim Tim Tim, Zorro, Pica Pau etc., na casa do vizinho, porque não tínhamos televisão ou geladeira.

O único pó que quase todos nós éramos viciados era Nescau ou Toddy. Tocávamos a campainha da casa do vizinho e corríamos. E levávamos palmadas por isso! Soltávamos pipas na rua. Tínhamos sempre dever de casa para fazer e fazíamos mesmo e as aulas de educação física eram de verdade. Não nos importávamos se o nosso amiguinho era negro, branco, pardo, pobre ou rico. Meninos ou meninas, todos brincavam juntos e como era bom…

Ah, que saudades da época em que a chuva tinha cheiro de terra molhada… Do cheiro de mato cortado no terreno baldio ao lado da casa. Do cheiro doce das flores da enorme jabuticabeira do quintal do vizinho. E na minha infância, a felicidade tinha gosto de geladinho de Ki-suco sabor groselha e nossa única dor era quando usávamos merthiolate nos raspões dos joelhos…

agosto 29, 2021

Minha infância teve cheiro de capim gordura

“Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo”.

Adélia Prado

Nasci, no final década de 1950, no município de Rio Claro/SP, mas meus pais, tios e avós moravam e trabalhavam na Fazenda e Haras Morro Grande, distrito rural daquela cidade. Sou o terceiro filho de uma família de três irmãos, que era para ser de quatro. Minha mãe perdeu um filho quando estava grávida de 6 meses. Meu pai era o terceiro dos oito irmãos de uma família de filhos de italianos. Só conheci a minha avó paterna, Virgínia Rosin Calore Martini. Ela contava as aventuras da longa travessia do oceano que seus pais fizeram, da Itália até o Brasil, que teria durado seis meses, entre outras histórias.

Meu avô, Primo Martini, com minha avô, Virgínia Calore Martini, em sua primeira foto juntos, na saída da missa da igreja de Santo Antônio, em Morro Grande, quando começaram a namorar.

Depois de algum tempo, meu avô, Primo Martini, comprou um sítio bem próximo da fazenda onde trabalhavam. A casa, bem simples, ficava em uma parte baixa do terreno, com muitas árvores frutíferas ao redor, como laranjeiras e mangueiras. Tinha também um pé de jambo enorme, que ficava do lado esquerdo da casa, no qual eu e meus primos costumávamos subir. Tudo permeado pelas flores da minha avó. Roseiras, cravos, dálias, rainhas margaridas, olgas, primaveras…Tinha duas cozinhas na casa e um corredor comprido onde havia os quartos de dormir. E lá no sítio, não havia separação entre a vida dos adultos e das crianças. As tarefas eram feitas em conjunto, quer sejam as domésticas ou as da roça, cada um com responsabilidades compatíveis com a idade e a força.

Cultiva-se basicamente arroz, feijão e milho. Mas lembro que tinha velhos pés de café, talvez plantados pelo antigo proprietário ou outro qualquer, que ainda produziam. Do lado de fora da janela da sala de jantar tinha um pequeno parreiral, que produzia uvas brancas e escuras e que quando produziam tinham seus cachos vigiados por meu avô. Nas festas de ano novo, sempre tinha vinho tinto de garrafão e lembro que minha avó misturava vinho com água e açúcar cristal. Colocava em canecas e dava para nós, ainda crianças, molhar o pão. Não, ainda não bebíamos vinho puro. Ter o direito de tomar vinho correspondia a um ritual de passagem da vida de criança para a de adulto. Todo o trabalho no sítio era feito manualmente. Cada filho que nascia representava mais uma enxada, um machado, uma foice, um facão… A cada ano e com a parcimônia e sabedoria do meu avô e tios, derrubava-se nova porção de mato para ampliar a área de cultivo. Uma junta de bois ou um cavalo puxava o arado. Por ali, raramente usava-se o dinheiro. O que havia era muito escambo.

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julho 14, 2021

Prêmio TCESP-ODS

Estão abertas, até 31 de agosto de 2021, as inscrições para o “Prêmio TCESP-ODS”, criado para promover boas práticas relacionadas à Agenda 2030 da ONU e ao enfrentamento da pandemia de Covid-19.

Acesse o regulamento pelo link https://www.tce.sp.gov.br/premio-ods e inscreva-se!

Podem participar do concurso servidores da administração direta, indireta e de Universidades, responsáveis por iniciativas vinculadas ao combate da crise sanitária no âmbito da gestão pública.

Não perca esta oportunidade de divulgar o seu projeto e difundir boas ideias. Só assim poderemos vencer mais esse desafio e cumprir a missão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: não deixar ninguém para trás!

Tribunal de Contas do Estado de São Paulo

Equipe do Observatório do Futuro

https://www.tce.sp.gov.br/observatorio

maio 20, 2021

Dia da Língua Portuguesa

05/5/21 Dia da Língua Portuguesa

por Eduardo Affonso

Volta e meia alguém olha atravessado quando escrevo “leiaute”, “becape” ou “apigreide” – possivelmente uma pessoa que não se avexa de escrever “futebol”, “nocaute” e “sanduíche”.

Deve se achar um craque no idioma, me esnobando sem saber que “craque” se escrevia “crack” no tempo em que “gol” era “goal”, “beque” era “back” e “pênalti” era “penalty”. E possivelmente ignorando que esnobar venha de “snob”.

Quem é contra a invasão das palavras estrangeiras (ou do seu aportuguesamento) parece desconsiderar que todas as línguas do mundo se tocam, como se falar fosse um enorme beijo planetário. As palavras saltam de uma língua para outra, gotículas de saliva circulando em beijos mais ou menos ardentes, dependendo da afinidade entre os falantes. E o português é uma língua que beija bem.

Quando falamos “azul”, estamos falando árabe. E quando folheamos um almanaque, procuramos um alfaiate, subimos uma alvenaria, colocamos um fio de azeite, espetamos um alfinete na almofada, anotamos um algarismo.

Falamos francês quando vamos ao balé, usamos casaco marrom, fazemos uma maquete com vidro fumê, quando comemos um croquete ou pedimos uma omelete ao garçom; quando acendemos o abajur pra tomar um champanhe reclinados no divã ou quando um sutiã provoca um frisson.

Falamos tupi ao pedir um açaí, um suco de abacaxi ou de pitanga; quando vemos um urubu ou um sabiá, ficamos de tocaia, votamos no Tiririca, botamos o braço na tipoia, armamos um sururu, comemos mandioca (ou aipim), regamos uma samambaia, deixamos a peteca cair. Quando comemos moqueca capixaba, tocamos cuíca, cantamos a Garota de Ipanema.

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março 1, 2021

Em nenhum momento a pandemia assolou o Brasil como agora

Peço às amigas e amigos que leiam e repassem o importante texto que se segue. Os autores estão listados no final.
Em nenhum momento a pandemia assolou o Brasil como agora. Com suas mutações de escape, é possível que o vírus se antecipe à vacinação.


“E assim acaba o mundo. Não com uma explosão, mas com um gemido”, concluía T. S. Eliot em “The Hollow Men”. Uma pandemia não é menos destrutiva que uma guerra. Pode, no entanto, ser desqualificada, total ou parcialmente.
Sejamos claros: em nenhum momento a Covid-19 assolou o Brasil como agora. Crescem as internações e mortes. Disseminam-se variantes virais, provavelmente mais transmissíveis e talvez causando doença mais grave. Pior: é possível que essas variantes escapem à imunidade conferida pelas vacinas.
Que essa não é uma situação sem esperança demonstram os exemplos da Nova Zelândia, Alemanha e Espanha. E o movimento coerente (ainda que tardio) do município de Araraquara (273 km de SP). Porém, vivemos uma epidemia de cegueira que ultrapassa as previsões de Saramago. O pacto coletivo de autoengano consistia em negar o que ocorre na Europa. Agora se estende a ignorar o colapso da cidade vizinha.
Como entender que Araraquara e Jaú estejam em lockdown enquanto Bauru, a 55 km da última, faz passeatas pelo direito à aglomeração?
Sem dúvida esse é um caso para análise em antropologia e ciências do comportamento. Não que se menosprezem os danos econômicos, sociais e psicológicos do distanciamento. Mas, na emergência da saúde pública, o valor intrínseco da vida deve ser reforçado. Não sabemos tudo, mas já acumulamos fortes evidências. As “medidas não farmacêuticas”, incluindo distanciamento social por fechamento de comércio, inibição de aglomerações e uso rigoroso de máscaras são o único (amargo) caminho para interromper a progressão da Covid-19.
Não conseguiremos vacinar a tempo. É possível que o vírus se antecipe à vacina, com suas mutações de escape. A transmissão do coronavírus gera oportunidades para surgimento de variantes. É urgente, pois, interrompê-la. Mas, se continuarmos a pensar que Araraquara e Jaú são longínquas ilhas do Pacífico, marcharemos rapidamente para o colapso da saúde. Não no estado de São Paulo, mas no país.
Passamos pela fase da ilusão de “enterros falsos”. Muitos de nós já tiveram vítimas fatais na família. Também já estão soterradas as pílulas milagrosas —cloroquina, ivermectina e nitazoxanida. Os antivirais com resultados promissores são novos, caros, inacessíveis. O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, já menciona a dificuldade em conseguir oxigênio. O caos está aqui, está em todo lugar.
Pesa sobre nós uma escolha. De um lado temos o darwinismo social, em que aceitaremos a morte de centenas de milhares como uma pequena inconveniência suportada em nome da economia. Do outro, a chance de aprender com as lições positivas e negativas de outros países. Como bom exemplo, temos a Nova Zelândia. No extremo oposto, os Estados Unidos. Ainda há tempo para deixarmos de bater continência a réplicas da Estátua da Liberdade e reconhecermos que Donald Trump levou seu país ao fundo do poço da saúde pública.
Não será o fim do mundo, mas já é uma catástrofe sem precedentes. Silenciosa, exceto pelos ruídos de ambulâncias e ventiladores mecânicos, quando existem. Ou pelos gemidos daqueles a quem falta o ar. Uma agonia tão intensa e destrutiva quanto bombardeios.
Manipular politicamente o boicote às medidas óbvias de contenção da Covid-19 foi a receita para o caos, tanto nos Estados Unidos quanto no Amazonas. Não é muito desejar que aprendamos com nossos erros. “O que a vida quer da gente”, diria Guimarães Rosa, “é coragem”.
Carlos Magno Castelo Branco – Fortaleza – Infectologista e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp)
Luís Fernando Aranha Camargo – Professor de infectologia da Unifesp
Dimas Tadeu Covas – Diretor do Instituto Butantan
Marcos Boulos – Professor titular aposentado da Faculdade de Medicina da USP (FM-USP)
Rodrigo Nogueira Angerami – Infectologista (Unicamp)
Benedito Antônio Lopes da Fonseca – Professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP)
Eduardo Massad – Professor da FGV-RJ e da USP
Francisco Coutinho – Professor do Departamento de Patologia da FM-USP
Gonzalo Vecina – Professor da Faculdade de Saúde Pública da USP

janeiro 29, 2021

O jardineiro anônimo

Era pouco mais de 12h quando ele chegou nos canteiros do bulevar da Vieira de Carvalho, no quarteirão onde moro, no centro de São Paulo e terminou seu primoroso serviço agora pouco. Já passava das 20h. Cabelos brancos, roupa social, sempre agachado, de cócoras, arrancando as touceiras de mato que dominavam os canteiros em meio a forragem de falso amendoim, plantada e não cuidada pelo poder público. Silencioso, compenetrado, ignorando as pessoas que passavam sem dar a mínima atenção ao seu maravilhoso ato.

Uma senhora que aguardava o ônibus na parada em frente ao número 27 da Vieira o observa. Atravessa a rua. Era pouco mais de 14h. Vai até o canteiro e troca algumas palavras com ele. Volta para a calçada. Dez minutos depois lá estava ela novamente, conversando com o jardineiro e entregando-lhe um lanche e uma garrafa de suco. Ele, compenetrado, agradece e continua seu trabalho. O lanche, em uma das mãos, vai até a boca ávida. A outra mão continua arrancando o mato. Ele não para. Não há tempo para isso.

Continuo observando-o pelos vidros da janela e uma onda de emoção me domina. Quem é esse ser de luz? De onde vem? O que faz? Minha vontade é descer, ir até ele, abraçar, agradecer, conversar. A Covid barra meu ímpeto, mas tenho que fazer alguma coisa, contribuir de alguma forma. E o fiz. Fui até ele e levei uma contribuição. Mas isso não bastava. Quero saber quem é!

Ele, sorridente, agradece a modesta contribuição, continua seu trabalho e diz, sorridente: “Que Deus abençoe o senhor”! Minha vontade foi responder: “Minha benção maior, meu maior presente, foi conhece-lo, Senhor”. Senhor com “S” mesmo, pois a energia maior que gira nesse universo estava com ele.

Pergunto de onde é, onde mora. Responde rapidamente: “moro em uma pensão na Bela Vista, na Rua tal, número tal”. Não perguntei a idade, mas aparenta ter cerca de 80 anos e deve ser Nissei. Disse que é solteiro (imagino que não tenha familiares), que adora plantas e fazer jardinagem. Assim, em suas caminhadas diárias, quando vê algum bem público precisando de cuidados, interrompe sua caminhada para limpar. Que exemplo de cidadão!

Voltei para dentro de casa logo em seguida. De vez em quando me aproximava da janela e ele ainda lá, de cócoras, trabalhando. Não o vi parar por nem um minuto. Perto de 19h30 começou a juntar o mato arrancado, com um pedaço de papelão “varreu” as calçadas, colocou tudo em 4 sacos grandes, separou as garrafas de vidro dos papéis e plásticos que os frequentadores e os donos dos bares jogam no meio fio, arrumou tudo direitinho na esquina deixando pronto para os lixeiros retirarem. E se foi. Todo feliz, sem um único agradecimento por parte dos donos de bares e seus clientes, que fazem esses mesmos canteiros de lixeiras e banheiro.

janeiro 22, 2021

O silêncio dos homens

Me reconheci nesse vídeo. Assisti algumas vezes, me emocionei e chorei. Por isso compartilho, para que mais pessoas possam ter acesso. Sinceramente esperando por mais momentos assim, por mais pessoas assim, o mundo precisa de vocês, o mundo precisa de nós…

Esse filme é parte de um projeto que ouviu mais de 40 mil pessoas em questões a respeito das masculinidades e desembocou num documentário e num livro-ferramenta baseado nesse estudo com dados públicos por meio de um convênio com o Consórcio de Informações Sociais (CIS) da USP.

Agradecemos imensamente à Natura Homem e Reserva (assim como todo o time de pessoas especiais dentro de cada uma delas) pela viabilização e profunda crença no projeto!

Aos incríveis parceiros de jornada Zooma Inc, Monstro Filmes e às inúmeras pessoas que vieram, uma a uma, por oferecerem suas inteligências pra nos ajudar a ter o melhor material possível.

Agradecemos também ONU Mulheres e a Campanha Eles por Elas pelo apoio institucional, essenciais para irmos mais longe. Aspiramos que essa seja uma fagulha pra termos diálogos cada vez mais construtivos e saudáveis sobre masculinidades. Vamos nessa?

Saiba mais sobre o projeto aqui: https://papodehomem.com.br/o-silencio…

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