O tempo de minha infância era uma época que ainda se faziam visitas. Lembro-me de quando criança, em Rio Claro/SP, minha mãe mandando eu e minhas irmãs para o banho pedindo para “esfregar tudo direitinho” porque iríamos visitar algum parente. Íamos todos juntos e a pé. E tais visitas geralmente aconteciam à noite ou em finais de semana.
Naquela época ninguém avisava ninguém sobre a visita. O costume era chegar de surpresa mesmo. E os donos da casa recebiam as visitas sempre com alegria.
– “Pede a benção para sua tia, garoto! Cumprimenta sua prima”, dizia minha mãe.

E a gente beijava a mão direita do tio e da tia, dizendo: “benção, tio!”, “benção, tia!”. E todos se sentavam e a conversa rolava solta na sala ou na cozinha. Meu pai conversando com o meu tio e minha mãe de papo com a minha tia. Eu e minhas irmãs ficávamos sentados, entreolhando-nos e olhando a casa… Retratos de familiares e santos emoldurados na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro, uma jarra de limonada sobre a mesa… casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
Estas visitas eram tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Sobre a mesa da cozinha o bule de café, um pão, bolo, manteiga, leite… E todos colocavam as conversas em dia. Pra que televisão? Aliás, poucos a tinham em casa. A grande maioria ouvia rádio de ondas curtas ou médias!
E nós, as crianças, íamos para a rua, na frente da casa, brincar de pega pega, polícia ladrão… A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança… Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade… A simplicidade das coisas…
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Tinha ainda um último aceno. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas sempre com muito carinho. A mesma alegria se repetia.
As crianças de hoje são solitárias. Televisão, computador, jogos eletrônicos… Cada um curtindo a sua individualidade. Não se recebe mais visitas em casa sem antes confirmar se pode ir. E os encontros com os amigos, quando acontecem, são sempre fora de casa. “Vamos marcar uma saída?” – ninguém quer entrar mais.Nossas casas são como túmulos, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Vivemos em um Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores, com medo de assaltos, medo de abrir as portas, medo de perder a vida.
Casas trancadas e hermeticamente fechadas! Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite, do chocolate quente…
Ah, que saudades do tempo das visitas que fazia para meus avós, tios, parentes e amigos…
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Como isso foi bom. Deixou em nossas lembranças o calor da amizade e o carinho.
Momentos de uma infância muito feliz.
Como as mesas eram fartas de quitutes e doces feitos pela dona da casa.
Era com muito orgulho que diziam…tomara que gostem,fiz com amor. São receitas de minha avó.
E aí a conversa era de lembranças gostosas, recordando cada pessoa da família ou amigos.Sorrisos saiam de dentro do coração.
Como isso trouxe parte da minha alegria Augusto
Seus relatos me fazem navegar também pela minha historia.
Grande beijo.
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Comentário por Irany Soares de Araujo — outubro 13, 2014 @ 19:09 |
Oi Laly, querida! Saudades de vocês todos de São Luis! Bjs.
Em 13 de outubro de 2014 19:09, A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini
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Comentário por Augusto Martini — outubro 14, 2014 @ 8:59 |
Nossa, Augusto, voce escreveu tudo o que sinto também! Que pena que toda esta simplicidade está se perdendo no meio de tanta tecnologia!
Podemos viver sem os aparatos da modernidade, mas sem o calor humano perecemos. Um grande abraço!
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Comentário por Vania Bayer — outubro 13, 2014 @ 22:03 |
Oi D. Vânia!
Fique muito feliz com sua visita ao meu blog!
Um grande abraço.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 14, 2014 @ 8:58 |
ONTEM TOMEI UM CAFÉ DA TARDE , BEM PARECIDO COM ESSE QUE TINHAMOS NA NOSSA INFÂNCIA …FOI ÓTIMO !!! FOI NA CASA DA INÊS , LÁ EM AJAPI .. BEIJO MEU IRMÃO .
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Comentário por IVONE VERONICA MARTIN CHRISTOFOLETTI . — outubro 13, 2014 @ 22:51 |
Oi Ivone! Lembra dos pães que a nossa avó fazia no forno de barro? E quando íamos ao sítio ela cortava um queijo em quatro e nos dava um quarto dele para comer? Ah, lembranças são sempre gostosas de se ter… E hoje fazem 21 anos que nossa mãe se foi… Passei o dia de ontem e a noite pensando nela. O dia de hoje passou a ser também o dia em que ela morreu. Nunca imaginei que fosse achar tão difícil aceitar que ela tenha morrido. Era uma grande alegria tê-la viva. Claro que alegra também saber que ela viveu bonito por tanto tempo…. Mas o mundo tem me parecido, desde então, muito pior. Infelizmente não sei rezar como ela chegou a saber. Talvez tenha aprendido (principalmente com ela) que reconhecer a beleza da vida é uma maneira de rezar. Hoje sinto como é difícil reencontrar a beleza. Não temos, no entanto – e muito menos eu que sou filho dela – o direito de maldizer a vida. Temos é que agradecer e bendizer o dia, a vida com festa. A festa de tudo o que há, que é o que significa o jeito como ela habitou este mundo. O mais justo com sua memória é acertar a ser feliz! Beijos, minha querida!
Em 13 de outubro de 2014 22:51, A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini
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Comentário por Augusto Martini — outubro 14, 2014 @ 9:02 |