Já escrevi aqui dois textos sobre a Aventura da Família Martini onde procuro contar um pouco da saga dos meus antepassados até chegar ao Brasil. Nas minhas buscas, concluí que meu bisavô – Luigi Martini, filho de Giuseppe Martini e Candida Pagnan – deve ter nascido em 1869 ou 1870, em Cornuda, província de Treviso. Ele e a família embarcaram no Porto de Nápoles e chegaram ao Brasil em 10 de abril de 1886. O navio era o “Vapore Perseu”. Aqui, desembarcaram no porto de Santos, e de lá, foram transferidos para a hospedaria dos imigrantes, no bairro do Brás, na cidade de São Paulo. Dias depois seguiram para Araras/SP, onde foram trabalhar na Fazenda Morro Azul. Meu bisavô tinha 16 anos na época. Em Araras, conheceu Theresa Sbrissa, com quem se casou no dia 30 de julho de 1892, (seis anos após sua chegada), tendo como testemunhas Antonio Carlos Costa Nunes e José Santilli.
Existem atualmente poucos pertences do meu bisavô – uma foto em preto e branco e uma edição do IL NUOVO TESTAMENTO DEL NOSTRO SIGNORE E SALVATORE GESÙ CRISTO, traduzido em língua italiana por GIOVANNI DIODATI, editado em Londres pela LA SOCIETÀ BIBLICA BRITANNICA E FORESTIERA, impresso em 1861 – há exatamente 150 anos atrás!
Essa edição veio parar em minhas mãos por presente de minha avó paterna – Virginia Calore Martini – guardada por mim como um pequeno tesouro. E nela tem algo muito interessante – nas páginas de rosto existem anotações feitas supostamente pelo meu bisavô. Uma delas está assim escrita – Carne moída – nervo intorto – são bendito – isto mesmo – cura coiza. Presumo que é uma espécie de benzimento. Em outras páginas as marcações são sobre colheitas de café, anotadas em litros. Quantidades colhidas dos cafeeiros novos e dos cafeeiros velhos. Como poderão ver nas fotos a edição está bem conservada pelo número de anos que tem. Ontem, depois de sonhar com minha mãe e minha avó lembrei-me desse Novo Testamento e resolvi fazer uma pesquisa. E por isso esse texto.
Em 1804, nasceu a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira em Londres, Inglaterra. Em 1808, surgiu a impressão da Bíblia em versões em italiano pelo protestante King James e também pelo Arcebispo Martini (1781). Em 1820 começam a ser impressas em Turim, Nápoles.
Durante a primeira guerra da Independência, em 1848, quando foi proclamada a república (Roma, Veneza, Toscana), A SBBE distribuiu milhares de exemplares de Bíblias e Novos Testamentos nas versões do Arcebispo Martini e King James, publicada em Florença, Roma e Pisa. Pouco tempo depois muitos exemplares foram confiscados.
Ao longo da Segunda Guerra de Independência (1859-1860), a SBBE estendeu seus serviços pela Itália, e em 1861 (data da impressão do Novo Testamento do meu bisavô), com a proclamação da unidade da Itália, a SBBE se instala em Livorno. Novas lojas foram abertas e a Bíblia começa a ser impressa diretamente na Itália, em Florença e Turim.
A cada vez que tenho esse exemplar nas mãos sou invadido por uma avalanche de sentimentos que não sei bem descrever. Orgulho dos meus antepassados, curiosidade do porque Giuseppe ou Luigi faziam anotações num livro sagrado… Mas, acima de tudo, vem todo um turbilhão de lembranças de minha infância – criado na fé católica, povoam a minha mente as orações que aprendi e decorei, os terços rezados no sítio de minha avó e a luz de lamparina de querosene, a fé inabalável que meus antepassados tinham e, lá longe, pareço ouvir uma música de igreja, que minha avó cantava lindamente com seu sotaque italiano e que hoje, quando ouço, choro de emoção…
Dai-nos a bênção, oh mãe querida
Nossa Senhora Aparecida
Dai-nos a bênção, oh mãe querida
Nossa Senhora Aparecida
Sobre esse manto o azul do céu
Guardai-nos sempre no amor de Deus
Dai-nos a bênção, oh mãe querida
Nossa Senhora Aparecida
Dai-nos a bênção, oh mãe querida
Nossa Senhora Aparecida
Eu me consagro ao vosso amor
Oh mãe querida do Salvador
Dai-nos a bênção, oh mãe querida
Nossa Senhora Aparecida
Dai-nos a bênção, oh mãe querida
Nossa Senhora Aparecida
Sois nossa vida sois nossa luz
Oh mãe querida do meu Jesus
Dai-nos a bênção, oh mãe querida
Nossa Senhora Aparecida
Dai-nos a bênção, oh mãe querida
Nossa Senhora Aparecida
Meu querido Augusto, é muita emoção, muita magia, muita coisa que não sabemos o que entender. Mais é muito lindo este sentimento que temos ao ler e pegar naquilo que nossos antepassados deixaram.Queremos ao pegar sentir o que de fato naquela época se passava.Queremos tentar sentir como em sonho a realidade voltando,não é?Creio que ao dormir seu sono parece misturar tudo. Muito lindo,continue.Queria também ter fontes da minha árvore genealógica para fazer também.
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Comentário por Irany — agosto 17, 2011 @ 14:37 |
Muito legal ler tudo o que escreveu e todo esse forte sentimento (principalmente da fé que eles tinham e consequentemente da coragem em lutar em uma terra desconhecida!)…Parabéns pela pesquisa e mais ainda pelo depoimento de orgulho de suas belas raízes…
E essa música “Dai-nos a bênção”…sempre que minha família(dos Flaibam) se reúne para rezar o terço(para pedir pela saúde de alguém da família e também em agradecimento),é cantada no final por todos da família,logo depois da ladainha.
Um abraço
Gisela
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Comentário por Gisela — agosto 23, 2011 @ 19:40 |
Oi Gisela.
Agradeço pelos comentários, sempre tão gentis.
Obrigado.
Augusto
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Comentário por augustomartini — agosto 23, 2011 @ 20:11 |
[…] Meu pequeno tesouro – o Novo Testamento do meu bisavô – edição de 1861, em idioma italiano […]
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Pingback por Árvore Genealógica da família Martini | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini — abril 24, 2013 @ 9:30 |
[…] Mas tenho comigo o relógio de bolso que Luigi Martini, meu bisavô, trouxe da Itália e a sua Bíblia. Esse Roskopf Patente não foi, com certeza, o único bem que herdei deles. Há outros mais […]
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Pingback por Museu da Imigração do Estado de São Paulo | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini — maio 28, 2014 @ 11:01 |
[…] Meu pequeno tesouro – o Novo Testamento do meu bisavô – edição de 1861, em idioma italiano […]
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Pingback por Cidadania Italiana – um longo caminho a percorrer! | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini — julho 16, 2015 @ 11:10 |
[…] https://asimplicidadedascoisas.wordpress.com/2011/08/16/meu-pequeno-tesouro-o-novo-testamento-do-meu… […]
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Pingback por Dia do Imigrante Italiano – 21 de fevereiro | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini — fevereiro 21, 2017 @ 14:11 |
Oi. Eu sou descendente da família Martini também da região de Treviso na comune de Zeminiana de Massanzago. Meu trisavô era Parisio Martini.
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Comentário por Leonardo Martins — fevereiro 7, 2019 @ 6:23 |
Provável que meu trisavô e seu bisavô tenham vindo no mesmo navio para o Brasil.
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Comentário por Leonardo Martins — fevereiro 7, 2019 @ 6:24 |
Bom dia Leonardo. Pode ser que sim, é uma hipótese. Abraços
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Comentário por Augusto Martini — fevereiro 7, 2019 @ 6:57 |