A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

maio 6, 2014

Um Brasil para inglês ver!

Luiz Ruffato é um escritor brasileiro, nascido em Cataguases, Minas Gerais, no ano de 1961, filho de um pipoqueiro e de uma lavadeira de roupas. Com um de seus romances ganhou o Troféu APCA oferecido pela Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional.  Em 2011 concluiu o projeto Inferno Provisório, composto por cinco livros sobre o operariado brasileiro, com a publicação do romance Domingos Sem Deus.  Sua formação: é torneiro mecânico pelo Senai e trabalhou como operário da indústria têxtil, pipoqueiro e atendente de armarinho quando jovem. É graduado em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora e trabalhou em diversos jornais mineiros até se mudar para São Paulo. Isso no ano de 1990. Por aqui, trabalhou no Jornal da Tarde. Em 2003 abandonou a carreira no jornalismo para se tornar escritor em tempo integral. No ano passado,  em seu discurso de abertura na Feira do Livro de Frankfurt,  fez uma pesada crítica sobre as desigualdades sociais brasileiras. Entre outras questões, falou do passado escravagista, de violência, da população carcerária e de homofobia. Leia aqui o discurso na íntegra.

Copa 2014.2

Em artigos escritos em 28 de abril e ontem, 05 de maio, na sua coluna do El País , Ruffato apontou  algumas informações úteis com o intuito de apresentar o Brasil aos 600 mil torcedores que desembarcarão por aqui para assistir aos jogos da Copa do Mundo, as quais que podem ser lidas abaixo. 

NOSSO CAMPO – Na última década, 2004 a 2013, foram mortas 338 pessoas por conflitos agrários, segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra. Somente no ano passado, houve 34 assassinatos, sendo que 15 vítimas eram índios. Metade das terras do país pertence a apenas 46 mil pessoas.

NOSSAS ESCOLAS – Um em cada cinco professores do ciclo final do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) não tem curso universitário. E um em cada três não é habilitado, ou seja, não fez licenciatura. No ensino médio, um em cada cinco professores não fez licenciatura – são profissionais como administradores, advogados e jornalistas dando aulas de física, química, matemática, línguas. Os dados são da ONG Todos pela Educação. Cerca de 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais – ou seja, um em cada cinco adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.

NOSSAS CADEIAS – Há hoje encarceradas quase 580 mil pessoas, o quarto maior contingente do mundo. Conforme relatório do Ministério da Justiça, entre 1992 e 2013, enquanto a população cresceu 36%, o número de confinados aumentou 400%. E se a média mundial é de 144 presos para cada 100 mil habitantes, no Brasil é de 300, majoritariamente jovens (entre 18 e 34 anos), pobres, negros ou pardos, e de baixa instrução escolar.

NOSSAS CIDADES – De cada dez assassinatos ocorridos no mundo, um acontece no Brasil. Relatório da ONU mostra que o país tem uma taxa de homicídios quatro vezes maior que a média mundial – 25 assassinatos por 100 mil habitantes, mais de 50 mil pessoas mortas em 2012. Alagoas, o estado mais violento, registra 61 mortes por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional. E das 30 cidades mais perigosas do mundo, 11 são brasileiras, sendo quatro delas sede de jogos da Copa do Mundo: Fortaleza, Natal, Salvador e Cuiabá.

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NOSSAS MULHERES – Estima-se que a cada ano ocorram 527 mil casos de estupro, mas que somente 10% cheguem ao conhecimento das autoridades. Do total das vítimas, 89% são mulheres. No estado mais rico do Brasil, São Paulo, o número de registros vem crescendo assustadoramente. Entre 2005 e 2010, o aumento chegou a 230%: foram computados no período quase 53 mil estupros, 128 pessoas a cada 100 mil habitantes. Em 2012, 13 mil pessoas foram estupradas, o que significa 35 ocorrências por dia.

NOSSAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES – Estima-se que 70% dos casos de estupro sejam contra crianças e adolescentes, praticadas por pai ou padrasto ou por conhecidos, parentes e amigos da família. Em 2012, foram registradas mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. Dados da Unicef mostram que há cerca de 250 mil crianças e adolescentes prostituídas perambulando pelas ruas do Brasil.

NOSSAS MINORIAS SEXUAIS – Pelo menos 312 gays, lésbicas e travestis foram assassinados no ano passado, média de um homicídio a cada 28 horas, conforme pesquisa do Grupo Gay da Bahia (GBB). A entidade estima que 99% dos crimes tiveram como motivação a homofobia. O local onde se realiza a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de três milhões de participantes, a Avenida Paulista, em São Paulo, é o mesmo que concentra o maior número de ataques homofóbicos da cidade.

NOSSO TRÂNSITO – O país vai perder, em 2014, cerca de 48 mil vidas, vítimas de acidentes de trânsito, o que coloca o Brasil como o quarto mais violento do mundo também nesse quesito. São cerca de quatro mil mortes por mês, 132 por dia, seis por hora, uma a cada 10 minutos. E, segundo o Mapa da Violência, editado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e o Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos, entre 2000 e 2010, a taxa de mortalidade no trânsito, entre jovens de 15 a 19 anos, cresceu 376%.

NOSSOS ÍNDIOS – O Brasil tem uma das taxas de suicídio mais baixas da América Latina, cinco ocorrências a cada 100 mil habitantes, mas, quando se isola a população indígena, esse número sobe significativamente. O número de suicídios entre os índios é 34 vezes superior à média nacional, e sobe ainda mais entre os jovens, alcançando inacreditáveis 446 casos por 100 mil habitantes.

NOSSOS AFRODESCENDENTES – Relatório das Desigualdades Raciais no Brasil mostra que, por ter menos acesso à previdência social, a expectativa de vida entre afrodescendentes é de 67 anos, contra a média nacional de 73,4 anos. A taxa de analfabetismo entre negros e pardos é mais que o dobro da apresentada entre os brancos. Nem metade dos pré-adolescentes deste grupo, entre 11 e 14 anos, estuda na série esperada, e 85% das crianças até três anos não freqüentam creches.

NOSSOS HOMENS PÚBLICOS – Segundo a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), o custo da corrupção no Brasil equivale a 1,4% e 2,3% do Produto Interno Bruto, ou seja, algo por volta de R$ 42 bilhões a R$ 69 bilhões. Estudo da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) revela que entre 1988 e 2007 nenhum agente público foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal e que neste mesmo período o Superior Tribunal de Justiça condenou apenas três autoridades.

NOSSA ECONOMIA – O Brasil é a sétima maior economia do mundo, movimentando 2,2 trilhões de dólares em produtos e serviços por ano.

NOSSA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA – O Brasil tem a sexta pior distribuição de renda do mundo. Para cada dólar que os 10% mais pobres recebem, os 10% mais ricos ganham 68.

NOSSO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO – O Brasil ocupa o 85º lugar do mundo – o IDH leva em consideração indicadores de renda, saúde e educação.

NOSSOS UNIVERSITÁRIOS – Pesquisa do Instituto Paulo Montenegro e da Ong Ação Educativa revela que 38% dos estudantes do ensino superior são analfabetos funcionais, ou seja, um em cada três universitários não domina habilidades básicas de leitura e escrita.

Papo Pol[itico

NOSSAS UNIVERSIDADES – Apesar de importantes ações afirmativas, como a criação de cotas raciais e sociais, mantém-se uma estranha distorção no ensino superior: os filhos de famílias ricas usufruem de boas universidades públicas (ou seja, estudam de graça), enquanto os filhos de famílias pobres cursam universidades privadas de qualidade duvidosa (ou seja, pagam para estudar, diretamente ou por meio de financiamento governamental). Segundo dados do Ministério da Educação, oito em cada dez universitários estão matriculados em instituições que cobram matrícula e mensalidade.

NOSSO SISTEMA DE SAÚDE – Embora todos tenham direito ao Sistema Único de Saúde, a má qualidade dos serviços oferecidos empurrou 48 milhões de pessoas para planos de saúde privados. Entre 2005 e 2012, segundo o Conselho Federal de Medicina, o número de leitos hospitalares credenciados pelo SUS diminuiu 10,5%. A presença de médicos na rede privada é quatro vezes maior que na rede pública. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam a existência de 17,6 médicos para cada 10 mil habitantes – metade do encontrado em países da Europa. Em alguns estados, como o Maranhão, esse número cai para sete médicos para cada 10 mil habitantes.

NOSSA MORTALIDADE INFANTIL – O Brasil diminuiu em 73% a taxa de mortalidade infantil (crianças que não chegam a atingir um ano de idade) nos últimos vinte anos. No entanto, o índice permanece alto, 16,7 por mil nascidas vivas, segundo a OMS, longe do ideal, que é de 10 mortes por mil nascimentos. O Brasil ocupa o 97º lugar no ranking mundial.

NOSSO SANEAMENTO BÁSICO – Apenas 46% do total das residências têm coleta de esgoto – e, destes, somente 38% dos dejetos recebem tratamento, conforme dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento do Ministério das Cidades. Estudo do Instituto Trata Brasil e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável revela que 340 mil pessoas tiveram infecções gastrintestinais em 2013, registrando 2.235 mortes.

NOSSOS RIOS – Levantamento da Ong SOS Mata Atlântica, que avaliou 96 rios em sete estados, constatou que a qualidade da água em 49% deles é regular, 35% ruim e 9% péssima. Apenas 11% dos rios e mananciais mostraram boa qualidade. E nenhum dos locais analisados foi avaliado como ótimo.

NOSSAS FLORESTAS – De acordo com o IBGE, restam apenas 12% de mata nativa da Mata Atlântica, 46% da caatinga e do pampa, 51% do cerrado, 80% da Amazônia e 85% do Pantanal. Entre 2000 e 2005, o Brasil se tornou o maior desmatador do mundo, respondendo por 47% das perdas globais. Na Amazônia, entre agosto de 2012 e junho de 2013, as perdas acumuladas chegaram a 1.885 quilômetros quadrados, um aumento de 103% em relação ao período anterior. Existem 650 espécies em risco de extinção no país.

NOSSO SALÁRIO MÍNIMO – Com R$ 724 (cerca de 324 dólares) o trabalhador deve suprir suas necessidades básicas e de sua família: alimentação, moradia, educação, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. É o que consta da nossa Constituição. Em 2012, conforme pesquisa do IBGE, 43% das famílias brasileiras apresentaram renda média mensal equivalente a menos de um salário mínimo.

NOSSA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA – Segundo pesquisa do IBGE, 10% da população ganha, por mês, o equivalente à metade de toda a renda recebida pelos brasileiros. De um total de 190 milhões de habitantes, 760 mil pessoas, ou 0,4% da população, recebem acima de 20 salários mínimos por mês (R$ 14.480 ou 6,5 mil dólares). A lista de bilionários da revista Forbes deste ano inclui 65 brasileiros – eram 46 no ano passado.

NOSSA MOBILIDADE – No ar, a cidade de São Paulo concentra 411 helicópteros em operação, a maior frota do mundo – são 2.200 pousos e decolagens por dia. No chão, conforme dados do Denatram, são seis milhões de veículos, e a cada dia são incorporados novos 365 – com média de um carro para cada dois habitantes. Por conta do trânsito, em 2008, 63% dos paulistanos perdiam entre 30 minutos e três horas por dia para se deslocar entre a casa e o trabalho ou a escola.

NOSSOS IMÓVEIS – O índice FipeZap mostra que, desde janeiro de 2008, quando foi criado, o preço dos imóveis subiu 200% em São Paulo e 250% no Rio de Janeiro.

NOSSA ECONOMIA – O Brasil é a sétima maior economia do mundo, movimentando 2,2 trilhões de dólares em produtos e serviços por ano.

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