A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

novembro 15, 2020

Enfrentando o ato de matar

Vamos ao supermercado e compramos um pedaço de carne sem sequer ter a noção de que aquilo veio de um ser vivo. A industrialização nos dá a chance de simplesmente esquecer que, para todo pedaço de carne que entra em nossa boca, algo teve de ser sacrificado.

Aposto que se todos tivessem que matar os animais que comem em suas refeições teríamos um número muito maior de vegetarianos e veganos no mundo. Não estou dizendo isso como uma ofensa, mas entenda que é fácil proclamar a verdade óbvia de que “matar é necessário para que eu possa me alimentar”. Difícil é tirar a vida de um animal que não lhe fez nada e que você criou desde filhote. Tenho um primo, o Pedro Rogério Martini, que reside em Rio Claro/SP, minha cidade natal. O pai dele, Pedro Cirilo Martini, um dos meus tios mais queridos, sempre viveu em sítios e mesmo na casa da cidade costumava criar galinhas. Não conseguia matá-las, pois o Rogério (e acho que também seus irmãos, Ana e Reginaldo), adotavam as galinhas como seus bichos de estimação. Não sei se algum deles tornou-se vegetariano. Até gostaria de saber.

Matar um animal para consumir sua carne é algo que poucos homens sabem fazer de maneira eficiente e ética.

Algumas pessoas dizem que dar “carinho” para os animais pode ser perigoso porque você cria apego emocional com os bichos, então o melhor seria tratá-los com indiferença e apenas como recursos de alimento. Eu concordo com essa dica quando se trata de pessoas mais velhas e que nunca tiveram experiências rurais antes, mas penso de uma forma diferente.

Quando eu era criança tínhamos galinhas e as vezes porcos no quintal  e estes eram cuidados da melhor forma possível e muitos tinham até nomes. Eram quase que como animais de estimação. Contudo, a relação com estes animais não era de apenas amizade, mas sim de gratidão. Gratidão, pois, eles estavam ali simplesmente para sanar as nossas necessidades, e isso é extremamente nobre.

Então, quando tive de matar minha primeira galinha fiquei assustado e não queria fazer aquilo. Não lembro quantos anos eu tinha. Acho que perto de dez anos. Era cruel. Ainda assim, minha avó, Virgínia Rosin Calore Martini insistiu e me explicou como fazer isso da forma mais correta possível. Lembro-me dela dizendo: “Agradeça este animal por dar a vida dele para você e seja rápido”.

Mas minha primeira e única vez não foi rápida. Não tive forças para “destroncar” o pescoço da galinha. Minha avó então deu-me uma vassoura para que eu pisasse em cima do cabo com os dois pés e sob ele colocasse o pescoço da galinha. Acabei arrancando o pescoço do animal, que ficou estrebuchando em minhas mãos, jogando sangue para todos os lados. Essa foi a primeira vez que matei um animal e tive aquela sensação de estranhamento, de algo fora do lugar… Mas você acaba compreendendo que isso é parte da vida e o mínimo que deve fazer é agradecer e evitar/diminuir qualquer sofrimento do bicho.

A lição que aprendi foi a de que: a morte é algo inerente à vida. Para continuar vivo você deve matar, porém deve prezar por fazer isso da forma mais rápida e limpa possível. Mas posso afirmar que isso foi muito traumático e não conseguiria fazer novamente.

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