A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

dezembro 28, 2020

O QI médio da população mundial diminuiu nos últimos 20 anos: por Christophe Clavé

Nunca vi esta problemática tão bem explanada desde a monumental obra “A era do vazio” do Gilles Lipovetsky (Manuel Tavares).

“O QI médio da população mundial, que sempre aumentou desde o pós-guerra até o final dos anos 90, diminuiu nos últimos vinte anos … É a inversão do efeito Flynn.

Parece que o nível de inteligência medido pelos testes diminui nos países mais desenvolvidos. Pode haver muitas causas para esse fenômeno.

Um deles pode ser o empobrecimento da linguagem. Na verdade, vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem: não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também as sutilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos. O desaparecimento gradual dos tempos (subjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento: incapaz de projeções no tempo.

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dezembro 23, 2020

Infância – traído pela memória

Cada vez mais os recursos tecnológicos, tão presentes em nosso dia a dia, cumprem o papel de unir as pessoas. Participo de alguns grupos no WhatsApp. Um deles, denominado “Amigos para sempre”, é formado por minhas professoras do primário e pelos amigos de classe. Nos comunicamos todos os dias. E hoje o Antônio Carlos Pistaker passou por lá para lembrar que nesse 23/12/2020 comemoramos 50 anos de formatura! Fiquei assustado com a lembrança e com os amigos comentando sobre o dia. O Norberto Demos lembrou que foi o orador da turma. Outros também registraram suas recordações. E eu não lembro de nada! Será que não estive nessa cerimônia? Tento puxar pela memória e nada!

Ultimamente venho pensado muito na minha infância, não com saudade ou saudosismo e nem com desejo que tudo tivesse sido diferente. Apenas tenho pensado. Talvez para resgatar as lembranças da criança que fui, que pude ser, que me deixaram ser. Tenho me esforçado para lembrar pequenos momentos que podem ter definido minha personalidade, os traumas, a visão de mundo e até o jeito que hoje lido com a felicidade ou com os momentos de frustração.

Foto por Rodolfo Clix em Pexels.com

Nossa máquina cerebral é um sistema maluco e seletivo, a ciência explica. Mas não quero saber da ciência e do jeito polarizado de pensar que toda causa tem um efeito. Quero complicar mesmo, dialogar com o meu EU do passado, perguntar para ele o que achou de suas vivências, o que ele gostava de fazer e o que não gostava e se ele gostava de ser criança.

Mas nessa espécie de viagem no tempo, embora eu tenha na lembrança que gostava de ser uma criança solitária, é impossível fugir do diálogo com as pessoas que fizeram parte da minha infância. Com essas pessoas eu não dialogo no sentido de conversar exatamente. Dialogo apenas com lembranças sutis de rotinas que tento reviver na memória e que se eu lembro muito bem, de alguma maneira, faz parte de quem sou hoje.

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dezembro 21, 2020

O Feliz Natal de minha infância

Filed under: Uncategorized — Augusto Jeronimo Martini @ 9:42

Reblogando um post de dezembro de 2012…

A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

Ser criança é o que a gente nunca deveria deixar de ser…

Acredito que todos têm histórias de Natal em suas vidas, dessas marcantes, inesquecíveis ou nem tanto.

O Natal é uma data que não tem como passar em branco, ser mais um feriado qualquer, a gente sempre entra no clima.

O “espírito de natal” está sempre presente. E já pode ser percebido logo no início de novembro, quando as lojas começam a apresentar vitrines coloridas, com luzes.

A árvore de Natal da minha infância

Independentemente das questões comerciais, as pessoas tendem a sentir o espírito de solidariedade mais intensificado, a fraternidade se faz presente, a família se aproxima, as pessoas querem os familiares por perto, sentem saudade em dobro dos que já não estão mais aqui. Sinto muitas saudades de meus pais, avós, familiares que já se foram… 

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dezembro 10, 2020

O presépio – Adélia Prado

Filed under: amor,Atualidades,Brasil,Coisas que eu gosto,Lembranças,Uncategorized — Augusto Jeronimo Martini @ 19:20
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Minha alma debate-se, tentada à tristeza e seus requintes. Meu pai morto não vai repetir este ano: “Nada como um frango com arroz depois da missa.” Minha irmã chora porque seu marido é amarradinho com dinheiro e ela queria muito comprar uns festões, uns presentinhos mais regalados, ô vida, e ele acha tudo bobagem e só quer saber de encher a geladeira com mortadela e cerveja. Talvez, por isto, ou porque me achei velha demais no espelho da loja, sinto dificuldades em ajudar Corália.

O Presépio

Queria muito chorar, deveras estou chorando, às vésperas do nascimento do Senhor, eu que estremeço recém-nascidos. Estou achando o mundo triste, querendo pai e mãe, eu também. Corália disse: você é tão criativa! E sou mesmo, poderia inventar agora um sofrimento tão insuportável que murcharia tudo à minha volta. Mas não quero. E ainda que quisesse, por destino, não posso. Este musgo entre as pedras não consente, é muito verde. E esta areia. São bonitos demais! À meia-noite o Menino vem, à meia-noite em ponto. Forro o cocho de palha. Ele vem, as coisas sabem, pois estão pulsando, os carneiros de gesso, a estrela de purpurina, a lagoa feita de espelhos. vou fazer as guirlandas para Corália enfeitar sua loja. A radiação da “luz que não fere os olhos” abre caminho entre escombros, avança imperceptível e os brutos, até os brutos, banhados. Desfoco um pouco o olhar e lá está o halo, a expectante claridade, em Corália, em Joana com seu marido e em mim, também em mim que escolho beber o vinho da alegria, porque deste lugar, onde “o leão come a palha com o boi”, esta certeza me toma: “um menino pequeno nos conduzirá”.

Do livro Filandras, de Adélia Prado – Editora Record – Rio de Janeiro     •     São Paulo, 2001 – página 111.

dezembro 6, 2020

2020

[…] “A maior parte da nossa memória está fora de nós, numa viração de chuva, num cheiro de quarto fechado ou no cheiro duma primeira labareda, em toda parte onde encontramos de nós mesmos o que a nossa inteligência desdenhara, por não lhe achar utilidade, a última reserva do passado, a melhor, aquela que, quando todas as nossas lágrimas parecem estancadas, ainda sabe fazer-nos chorar. Fora de nós? Em nós, para melhor dizer, mas oculta a nossos próprios olhares, num esquecimento mais ou menos prolongado”.
Marcel Proust
In A sombra das raparigas em flor

Salvo engano, foi Clarice Lispector que disse que o talento da escrita nasce da frequência com que ela é experimentada. E que há quem pense que só os que gostam devem escrever. Não é verdade. Todos que têm algo a dizer, que têm o que compartilhar, que precisam documentar o que vivem, que querem refletir sobre as coisas da vida e sobre o próprio trabalho, que ensinam a ler e escrever… precisam escrever. E minha amiga Rosa Hebling, de Rio Claro/SP, professora aposentada e ótima escritora, tem muito o que compartilhar com suas memórias. Nesse ano atípico resolveu criar em seu perfil do Facebook “O Diário da Rosa”, onde documenta o que já viveu e reflete sobre isso.

O ponto de partida foi em 02 de maio, com “O Diário da Rosa 0”. Nasce com uma carta dedicada à sua neta Jade. No dia 09 do mesmo mês, surge “O Diário da Rosa #1”, onde ela escreve: ” Minha filha Renata me disse assim: – Mãe, você gosta de escrever. Por que você não faz um… tipo assim, um diário da quarentena?

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“Depois de uns dias, me peguei pensando: “diário de quarentena? ”. O que pode haver de interessante para contar sobre a rotina de alguém confinado nos poucos metros quadrados de seu apartamento?”

A partir disso Rosa vem nos presenteando com lindos textos, recheados das mais diversas lembranças. Hoje ela nos brindou com o “Diário da Rosa #29”, que, com sua permissão, reproduzo abaixo. Boa leitura!

Foto por cottonbro em Pexels.com

“Diário da Rosa #29” – Dezembro chegou. Ainda continuo obedecendo ao isolamento social, mas sei que Papai Noel já está preparado para nos assaltar em todo final de corredor de supermercado, querendo nos agarrar em todas as portas de lojas, tentando escalar janelas das poucas casas que ainda se preocupam em vestir-se para o Natal.

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Amarelo – Adélia Prado

Filed under: Uncategorized — Augusto Jeronimo Martini @ 0:17

Há um momento em que todos na sala calam-se, olhando o bico dos sapatos. Nesta hora, qualquer acontecimento é bem-vindo. Uma borboleta gigante que saia detrás da cortina, ou um mosquito que sobrevoe o cadáver são recebidos com íntimo regozijo. Alguém pressuroso sairá a espantá-los, todos acompanhando atentos e por um minuto a dor arrefece, por um minuto descansa-se. Os periquitos no viveiro começam grande algazarra e outro se lembra socorrido -, é preciso dar de comer aos bichos, botar água pró cachorro. E café?, acudirá um terceiro, é preciso fazer mais café, de madrugada esfria e antes que escureça acho bom pegar uns colchões emprestados. Qualquer providência tem um halo de cósmica dimensão porque: um homem morreu. Um homem que um dia viu na sua cozinha um gato de olho e pelo amarelos e tomado de grande susto disse com inocência: sai, criatura de Deus! E por toda a vida viu neste episódio um grande acontecimento, guardando-o como a um tesouro, sem saber mesmo por quê.

Anjo contemplativo

Recontou-o poucas vezes, reconhecendo-lhe a insubstância, pois era só aquilo: um gato de pelo e olho amarelos, um gato que por segundos fitara-o com a mesma admiração e susto. Sai, criatura de Deus! Esta exclamação não pertencia ao morto, um homem de palavra difícil pra navegar nos sustos. No entanto ele as dissera e admirava-se enormemente que houvessem saído de sua boca. Era muito bonito? Muito bonito não dizia nada, era muito o quê, meu deus? Sua mulher tinha saído, os filhos estavam na escola, ele foi pegar água na cozinha e viu o gato. Era preciso segurar aquele acontecimento que lhe devolvia as palavras, exigente. Não contou nada a ninguém naquele dia. Procurou nas tralhas dos meninos papel e lápis de cor e desenhou o gato de olho e pelo em amarelo, um desenho de que se envergonhava porque era muito feio e tosco, muito desajeitado. Contou pra mim o seu segredo, perdoando todos os meus pecados. Sei, porque deixei que se visse nos meus olhos, como vira ele próprio o gato. E só lhe disse isto: que visão magnífica! Ele puxou a cadeira, sentou-se e repetiu com a alegria de quem aprende língua estrangeira: pois é. Magnífica! Ficou grato para sempre, meu cúmplice. Pois este homem morreu. Amarela está sua face, a fraca luz da tarde, o perfil das pessoas sob a chama dos círios. Sua mulher à cabeceira deu um grande uivo, sangrando a pele do mundo: ó meu Deus! Olhei bem o seu rosto e supliquei como a que uivava: “Salva-nos porque perecemos…”

Entre os pés de latão que suportavam os círios a faixa de luz amarela bateu na cruz de alumínio. Alguém cochichou: os colchões já chegaram e já fiz mais café. A morte nos visita e nós abrimos a casa, precisamos de companhia e força pra chorar.

Do livro Filandras, de Adélia Prado – Editora Record – Rio de Janeiro     •     São Paulo, 2001 – página 133.

dezembro 5, 2020

O tempo – Adélia Prado

Havia chegado à terceira idade e continuava desinteressada de esportes, ginástica, clubes de dança, enfim, do que cheirasse a “lazer para velhos que, divertindo, melhora a saúde e prolonga a vida”. Ignorava teimosamente a ginecologia preventiva e seus hormônios sintéticos, com a mesma hostilidade que dedicava aos sucos de fruta artificiais. A linha do maxilar, o pescoço, o ao redor dos olhos e da boca deviam cair e engelhar a seu tempo e em paz. Até que a filha chegou da rua com as fotografias da festa e ela levou um susto enorme. Tirou incontinente o seu retrato da proteção de plástico e rasgou-o com brutalidade. Emudeceram todos que tagarelavam a sua volta. Levantou-se e se fechou no banheiro, ainda sem chorar. O que vou fazer?, pensou. O que é que se faz numa situação assim? Pra quem e de quem reclamo?

Foto por Edu Carvalho em Pexels.com

Não era engraçado nem trágico, pois tinha boa saúde, era só dramático – o que cansa -, porque dramas sucedem-se e perduram como pêndulos em moto-perpétuo, insolúveis na sua natureza dialógica. Olha! Uma palavra dessas nesta hora não é um pouco engraçado? Lembrou-se de seus trinta anos, já então lembrando-se dos quinze e dos quinze dizendo ao diretor do teatro na escola: quando eu era menina …Que brincadeira era aquela? Entendeu a atriz famosa, após as agruras da gravidez e do parto dizendo que Deus brinca com as mulheres. O que é mesmo que a chateava? Onde era exatamente o ponto que doía tanto? A vergonha. Ser velho dá vergonha e dá vergonha porque é impudico, arrazoou fugindo do problema. Invejou as freiras teimosas que ainda usam seus hábitos. Deu-se conta de um sentimento ruim, o de que além de velha pecava pela rejeição de sua velhice e pecava feio, aumentando-se por consequência e castigo em mais velhice e mais feiura. O corredor estreitava-se, havia combinado um passeio, a família esperava dela cara boa e sanduíches. Meu Deus! Foi quando começou a rir, a rir, a rir, o marido batendo preocupado à porta do banheiro, temendo um ataque de nervos, coisa bem sem graça. Mas não era nenhum colapso. A mulher lembrara-se de que pela manhã, antes das fotos chegarem, se encontrara com a Marinalva no mercadinho que a brindou com o seleto cumprimento: tá boa? Ainda bem, na televisão você estava muito mais acabadinha… E estampado no caderno de variedades que embrulhava os tomates em meia página colorida, a Neusa Helena, sua colega de escola que não via há quarenta anos. Lá estava, a mais bonita da sala, redonda e feliz, a cabeça tombada no ombro do namorado arranjado no Clube da Terceira Idade, recomendando às senhoras que fizessem como ela, assim, assim e assim. Era uma overdose, pensou achando-se atualizada em seus termos. Mas – e o drama retornou sinalizando uma trégua – o que abunda não vicia e se não morri posso engordar mais ainda. No fundo do seu coração agradeceu a Deus que lhe conservava a vida e lhe recordava o que foi como tábua em águas tormentosas: “Beleza é energia.” Tratou de lavar a cara e ir cuidar dos sanduíches. Ao marido disse em especial: me desculpa, com a certeza de que ao vivo, qualquer mulher é melhor que seu retrato mais feio.

Do livro Filandras, de Adélia Prado – Editora Record – Rio de Janeiro     •     São Paulo, 2001 – página 125.

dezembro 4, 2020

O terceiro olho – Adélia Prado

Filed under: Coisas que eu gosto,Lembranças,Memórias,Uncategorized — Augusto Jeronimo Martini @ 10:44
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Apesar do sol, do dia esplêndido, depois de tanta chuva, a mulher não quis descer do carro. Espero aqui, ela disse, numa espécie de pequena vingança, uma pirraça possível na sua idade. Vingança contra a vida, afinal, porque ninguém lhe devia nada. Mas a vida não é Deus? Abaixou o espelho em frente da poltrona e resolveu olhar-se.

Foto por Sam Kolder em Pexels.com

A ruga vertical no meio da testa, a cada dia mais funda. Amanhecia já com ela, como se tivesse dormido a noite inteira com aquele ar preocupado. “Ruga vertical é ruga de neurótico”, ouvira da Marialva, mas não dava pra confiar muito na sua psicologia de bolsa. Em todo caso, andava mesmo irritadiça, enjoada, entojada, como diria sua mãe, com a paciência nos limites. Então, ora, continuou a olhar-se e fixamente, no lugar onde dizem termos o “terceiro olho”, bem ali onde o vinco de sua testa acentuava-se. Ficou muito instigante a coisa, seu rosto transmutava-se, por quais razões não sabia. Desviava-se da sua aparência conhecida e virava monstro, os arcos das sobrancelhas parecendo dois braços de uma outra pessoa que lhe carregava os olhos sob as axilas. A figura, um homúnculo, parecia adernar, à direita, esquerda, monstrinho de pesadas pernas, anão de circo exibindo-se, oferecendo-lhe os olhos com que ela via seus olhos. Experimentou ficar estrábica, era bom.

Descansava do esforço, do empenho de não perder o monstrinho. Olhava, olhava, querendo ver o que via, cada vez mais e mais até não ver mais nada e descansar das tarefas que a esperavam. Caiu alguma coisa na pequena oficina, o barulho desconcentrou-a. Meu Deus, ela disse, me ajuda a… não sabia a palavra. Católica ortodoxa, ficou com vergonha de dizer me ajuda a entrar em “alpha”. Disse apenas: me ajuda. O hominho reapareceu. Mas Lisiene ligou a mangueira nas couves e a figurinha sumiu, sensibilíssima aos ruídos da casa. Em seguida o Radar latiu desesperado e o moço do gás bateu na porta junto com a Olinda querendo saber da Lisiene se ela tinha melhorado do machucão no pé e entregou um maço de arnica que era bem uma floresta. Finda a interrupção, dispôs-se a recomeçar. Já concentrada, o marido veio até a garagem: vou na fundição do He Man ver se, com base nesta, ele faz outra peça pra mim; quer ir também? Fundição do He Man!? Justo na hora em que o hominho voltava a caretear.

Do livro Filandras, de Adélia Prado – Editora Record – Rio de Janeiro     •     São Paulo, 2001 – página 115.

dezembro 1, 2020

Os jardins de minha infância

Em suas caminhadas, você já passou por um lugar e de repente deu de cara com uma planta que pela beleza ou cheiro te fez lembrar do jardim de sua avó? Eu já passei por isso diversas vezes.

A isso chamamos de memória afetiva, que é essa sensação de uma lembrança gostosa e que desperta sentimentos que ficaram gravados em nossa mente. Isso acontece toda vez que revivemos essa situação, seja pelo olhar, pelo cheiro, por uma música, um sabor ou qualquer sensação que nos leva de volta a um passado. Talvez de todos eles o paladar seja o que nos remeta mais para as nossas lembranças de infância.

Minha avó paterna, Virgínia Rosin Calore Martini

E quem não teve uma avó, uma tia, uma mãe, uma vizinha de “dedo verde” que possuía um jardim ou uma horta onde cada planta tinha uma história para estar ali?

O primeiro jardim que eu lembro era o da D. Leonil Klain, uma vizinha que tivemos em Rio Claro. Eu devia ter por volta de 6 a 7 anos e o Ronaldo Klein, meu primeiro amigo, era um dos filhos dela. Seus irmãos era a Sandra e o Carlos. Lembro até hoje de um arbusto que ela tinha no quintal, com nome popular de “buquê de noiva” (Spirea cantoniensis). Dava flores brancas minúsculas, que floresciam em pequenos cachos que lembravam um pequeno buquê. Também tinha ervas medicinais, jabuticabeira, canteiros com verduras. Era um quintal repleto de plantas. Algumas grandes e majestosas, outras médias e algumas bem pequenininhas. Na falta de vasos ou canteiros, qualquer recipiente virava local de plantas: de latas de óleo até latas de tintas vazias. O importante era que cada planta tivesse espaço para crescer e ficar linda.

D. Leonil Klain

Tinha também roseiras, que junto de outras flores formavam uma festa de cores, formas e texturas. Com tantas plantas, o quintal era um lugar arejado e fresco. E dele emanava uma profusão de cheiros que adentravam pelos corredores e perfumavam toda a casa. Podia-se respirar a vida naquele quintal!

Também me lembro do jardim e da horta nas casas de meus pais e dos meus avós paternos. Meus avós mudaram-se do sítio para uma casa, que ficava vizinha a nossa. E as duas casas tinham um jardim na frente, com rosas, margaridas, dálias entre outras flores e arbustos e uma grande horta nos fundos.

No quintal, além das verduras e legumes (mandioca, couve, alface, almeirão, mostarda, rabanetes, cenouras, rúcula etc.), haviam os temperos, as ervas medicinais, as árvores frutíferas (laranjeira, limoeiro, bananeira), e mais canteiros com flores: rainhas-margaridas (as preferidas de minha avó), kalanchoes, rosas…

Meu pai e minha avó eram do tipo que sempre tinham dezenas de espécies de plantas medicinais no jardim ou na horta. Dor de estomago: suco de couve para curar o mal estar. Se a dor persistisse, entrava o chá de Boldo. Argh! Era horrível. Ou a Losna macerada com um pouco de água. Pior ainda. Ou Marcelinha que também era amarga. Tinha também a Melissa e a Erva Cidreira para acalmar e tantos outros. Muitos vizinhos recorriam ao meu pai quando precisavam de alguma planta medicinal que só existia no campo. E lá ia ele de bicicleta, buscar um galho, uma casca ou um fruto para curar algum mal específico.

Todos os dias eu estava envolvido neste ambiente de flores e plantas e talvez minhas melhores lembranças sejam as do meus tios Marino e Henrique Martini, que traziam sacos de mangas, laranjas, bananas, sacolas repletas de verduras, vindas do sítio em Ajapi. Era uma festa quando o tio Marino chegava com um saco de mangas ou laranjas. É muito clara a lembrança de meu pai sentado em uma cadeira, com o saco de mangas ou laranjas apoiado nos joelhos e saboreando dezenas de frutos de uma só vez! Era incrível. O estômago dele devia ser bem dilatado.

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