A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

agosto 30, 2020

Benzedeiras

As pessoas esqueceram o poder da fé. Em um mundo tão tecnológico, onde todas as respostas podem estar na ponta dos dedos, se esquecem do coração. E a fé é um ato de coração, de amor. 

Antigamente, as benzedeiras eram referência nas comunidades quando o assunto era saúde. Suas orações trazidas do passado, com um teor simples, mas de grande força, além de ervas, chás e remédios caseiros, muitas vezes eram o único recurso acessível para muitas famílias.

Morei parte de minha infância na Vila Martins, em Rio Claro/SP. E bem pertinho de minha casa vivia a D. Cida, benzedeira. Ela tinha uma casa com corredor na lateral e quintal nos fundos. Lembro que tinha plantas medicinais que se espalhavam em todos os canteiros. E de planta ela entendia bem. Com ela, morava um irmão (que as mães diziam que virava lobisomem em noites de lua cheia) e sua sobrinha, Marivone.

Com tanto conhecimento sobre plantas e doenças, D. Cida recebia sempre a visita de gente atrás de cura. Uma hora procuravam por plantas medicinais, outras tantas vezes era um benzimento. Com um raminho de arruda e o terço na mão, ela ia benzendo quem a procurava. E sempre ao lado do fogão a lenha.

Um outro tipo de benzimento era feito com a costura de pedacinhos de pano durante as orações. O comprimento da linha era medido na parte machucada do corpo da pessoa. Os paninhos ficavam dependurados em um prego, fora da casa. E depois do terceiro dia de benzimento ela os queimava no fogão a lenha.

Havia também o benzimento com um copo de água. Durante o benzimento eram jogados no copo três pedaços de carvão em brasa, dos quais ela fazia uma “leitura” e dava o diagnóstico. Depois disso pedia que o benzido bebesse três goles daquela água.

D. Cida “curava” contusões e dores musculares, torcicolos, infestação por vermes, inveja, mau olhado, quebranto… Também benzia a distância. As pessoas levavam uma roupa do doente, ela as rezava e na noite do mesmo dia o doente a usava para dormir. “Deus sabe onde eles estão e o que eles precisam.  Eu mando a mensagem e Deus manda a resposta na hora”, dizia. 

Perto do fogão havia um altar. Tinha as imagens de São Bento, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças, Menino Jesus, um Índio e um Preto Velho.

Além de D. Cida, conheci também a D. Rosa, que morava na Vila Paulista. Famosa na cidade e região, atendia todos que a procuravam, sem fazer distinção.

Não é qualquer um que sabe as plantas certas para cada problema. E, dependendo da quantidade, a mesma erva que pode curar, também pode fazer mal.

Meu pai também era um conhecedor de plantas medicinais, árvores etc. Tanto ele quanto minha avó cultivavam ervas medicinais no quintal. A meu ver, isso também era uma maneira de ficarem próximos do seu passado de sitiantes e trabalhadores rurais que foram. No centro dos canteiros plantavam hortaliças, na beirada, as ervas medicinais.

Hoje, morando em São Paulo, não sei dizer se algum dos descendentes de D. Cida ou D. Rosa deram continuidade a essa fé. Espero que sim. Pois não basta só aprender as orações. Isso é o primeiro passo.  A pessoa tem que ser tocada e tem que ter esse dom divino de benzer.

Se algum leitor tiver notícias de descendentes que deram continuidade ao trabalho dessas benzedeiras, peço que façam a gentileza de registrar um comentário nesse post. Obrigado!

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