A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

janeiro 13, 2021

Outras lembranças de infância – campeonato de melancias!

O post anterior foi com lembranças de minha irmã mais velha, a Tereza. E este traz lembranças da Ivone, minha irmã do meio, que mandou um áudio pelo WhatsApp, lembrando de quando a gente ia passar alguns dias das férias escolares no sítio de nossos avós paternos.

Além de plantarem nas terras do sítio dos Martini, meu avô e tios arrendavam parte de sítios próximos para plantar arroz, feijão e milho etc. Quem já morou em sítio sabe que o trabalho é pesado e as refeições são reforçadas. Por volta das 10 horas da manhã é levado o “café” para os trabalhadores, que nada difere de uma refeição como o almoço. A comida era acondicionada em caldeirões individuais de alumínio, onde tinha arroz, feijão e a “mistura”. Em garrafinhas de vidro era levado o café. Por volta de 13h tinha repeteco: era levado o almoço.

A Ivone lembrou que ela, a Tereza, a Cida e a Antônia (nossas primas que moravam no sítio) iam levar a comida para os trabalhadores na roça (onde os homens estavam cuidando da plantação). Nossa avó tinha também que preparar um caldeirãozinho para cada uma delas, pois queriam comer junto com os trabalhadores, lá, na plantação. E o nosso avô Primo Martini e os filhos,  cultivavam melancias no meio da plantação de arroz.

Em um dos dias, quando as meninas chegaram com o almoço, ela lembrou que nosso avô a pegou por uma das mãos e a levou até o meio do arrozal. Ele já havia escolhido duas melancias e as tinha colocado embaixo das palhas do capim seco que havia sido recentemente carpido, para que ficassem frescas. Depois do almoço as partiu e todos comeram. 

Mas, nesse dia em especial, nosso avô disse para elas: “vamos apostar quem come mais melancia?” E a Ivone começou a comer tanta melancia, tanta, que acabou passando mal. Nosso avô teve que colocá-la na carroça e levá-la urgentemente para a casa de nossa avó. A plantação que estavam cuidando era num sítio próximo, o sítio dos Koelle. 

Quando chegaram na casa de minha avó, ela ficou muito brava com ele e disse: “Primo, onde já se viu fazer uma coisa dessas? Você é adulto, mas ela é uma menininha, ela é uma criança, ela está passando mal!”

Ivone lembra que a nossa avó fez um chá de alguma erva amarga e a fez engolir goela abaixo. Em seguida vomitou muito, botou tudo para fora e melhorou.

Uma curiosidade: lembro que a maioria das melancias plantadas no sítio não eram consumidas ou vendidas. Serviam para alimentar os porcos.

novembro 10, 2020

Lembranças de infância – o sítio de meus avós!

O sítio Boa Vista pertencia aos meus avós paternos Primo Martini e Virgínia Rosin Calore Martini. Ficava próximo da cidade de Rio Claro/SP, no Distrito de Morro Grande (hoje Ajapi), onde tudo era lindo e cheirava gostoso. Não possuía energia elétrica. A luz da lua cheia era a única luz que tinha nas noites escuras. Na casa, somente lampiões e lamparinas, que deixavam a gente com a parte interna do nariz toda preta por conta da queima do querosene. 
Na frente da casa tinha um barranco e nele um jardim muito bem cuidado pela minha avó, cheinho de rosas, dálias, margaridas. Tinha uns caminhos, que nós chamávamos de trilhos, os quais levavam aos locais mais usuais, como o galinheiro, o paiol, o poço.  

Pedro Cirilo Martini – meu tio

Em frente à porta da cozinha, alguns metros abaixo, ficavam o terreiro, onde secava-se os grãos de café e o paiol, que era um galpão coberto, fechado com madeira, o qual servia para guardar a colheita, sempre cheinho de milho, já seco, usado para alimentar as galinhas.  Tinha também os jacás com batatas, as abóboras e ferramentas.

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abril 26, 2017

Meu amuleto indígena 

A figura abaixo é de uma ponta de flecha esculpida em rocha. Meu avô, Primo Martini, tinha um sítio em Ajapi, distrito de Rio Claro. Era o sítio Boa Vista. E nele havia (e acho que ainda existe) um sítio arqueológico cuja ocupação do espaço deve ter sido feita pelas populações indígenas da região de Rio Claro. Era uma área que ficava em um declive, que abrigava um resquício de mata virgem. Em um paredão rochoso havia uma espécie de fenda a qual denominamos “caverna do índio”. Eu e meus primos gostávamos de ir até lá para brincar. Como era criança, não lembro com muitos detalhes tudo o que tinha no local. Mas, lembro que nos dependurávamos em cipós, subíamos até essa fenda, entrávamos e pegávamos lascas rochosas. Salvo engano haviam alguns desenhos rupestres. A região é formada por rochas sedimentares e em alguns lugares afloravam “piçarras coloridas”.

Quando eu tinha uns 15 anos (faz tempo! Rs), ganhei essa ponta de flecha de um tio meu, Marino Martini e irmão de meu pai e coletada no local. Sempre gostei de guardar coisas. Tenho uma lata cheia de moedas antigas em minha casa de Rio Claro. E essa lata  foi “a casa” da ponta de flecha até  uns 15 dias atrás, quando ela reapareceu em minha lembrança e fui em busca dela.

gruta

Estava lá, guardadinha! Peguei-a com carinho, como se fosse uma joia. Lembrei do gesto de meu tio quando a recebi de presente e pensei: “se ela reapareceu nesse momento deve ter um sentido”. Trouxe-a para São Paulo. A carregava no bolso das calças. E ontem, indo para o trabalho, passando pela Barão de Itapetininga, vi um artesão, com fisionomia de indígena (ele é boliviano), fazendo cordões com pingentes de rochas. Mostrei a ponta de flecha para ele e perguntei se poderia fazer um cordão sem alterar a originalidade da peça. Ele respondeu positivamente. A deixei com ele e passei pega-lá no final da tarde. E agora a trago dependurada no pescoço.


As populações nativas criaram pontas de flechas e outros projéteis de pedra de sílex e outras rochas, e ainda é comum encontrar esses artefatos nas áreas onde os indígenas viviam e caçavam. (more…)

março 11, 2017

Lembranças, saudades e cheiros de infância…

“… As pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar do aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração. Com esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas.”   

Trecho do livro “O Perfume”, do escritor alemão Patrick Süskind

Minha mãe, aos dezesseis anos

Minha mãe, aos dezesseis anos

Os anos vão passando e a gente vai lembrando as coisas boas que aconteceram há muitos anos atrás. São memórias que fazem parte de nossas vidas… E se tais recordações trouxerem coisas boas, a isto chamamos de saudades. Tenho saudades de brincar na enxurrada da rua quando chovia. Tenho saudade de apanhar frutas direto do pé, de brincar nos bancos de areia que tinha em frente a minha casa. Tenho saudades dos meus amigos de infância; tenho saudades do cheiro dos lençóis limpos pendurados no varal e de quando passava correndo por eles… De olhos fechados, o pano deslizando sobre meu rosto enquanto eu corria… Tenho saudades de minhas idas ao barbeiro o qual recebia os clientes com aquela sua capa branca característica. Tenho saudades do cheiro da água velva que ele passava no “pé do cabelo” e que dava um friozinho por toda a cabeça.  (more…)

fevereiro 2, 2017

Lembranças de infância – sítio Boa Vista

Ah, o sítio Boa Vista, que pertenceu ao meu avô, Primo Martini. Era razoavelmente próximo da cidade (Rio Claro/SP), onde tudo era lindo e cheirava gostoso, apesar da simplicidade e da “terra ruim”, como ele mesmo dizia. Há bem mais de quarenta anos atrás a energia elétrica não tinha chegado por lá. Tinha apenas em um sítio vizinho, pelo que me lembro. Durante a noite o sítio e as estradas das cercanias eram iluminados só pela luz da lua. Era a única luz que tinham nas noites escuras. Na casa apenas a luz de velas, do fogão a lenha e de lamparinas – que para quem não conheceu vou descrever – podia ser feita de latão, vidro ou lata mesmo, com um pavio de cordinha de algodão que conduzia o querosene de dentro da lamparina para fora e podia ficar acesa a noite toda. O problema é que quando estava acesa soltava uma fumaça preta que deixava marcas pelas paredes e teto, e o nariz que ficava preto por dentro.

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Primo Martini

 

Na frente da casa e nas laterais tinha um jardim muito bem cuidado pela minha avó. Também perto de onde ficava o poço caipira tinha uma horta e mais flores. Para chegar até a casa tinha dois caminhos nos quais podiam passar carroças e carros (não tão comuns naquela época!). Um dos caminhos é o que passava antes pelo poço, que ficava à esquerda e a casa era lá embaixo. O outro caminho começava na escolinha rural – que era composta de apenas uma sala de aula em terreno cedido pelo meu avô e onde as crianças da região aprendiam as primeiras letras. (more…)

fevereiro 11, 2016

Gabiroba, um dos sabores de minha infância

Penas do Tié

Vocês já viram lá na mata a cantoria

Da passarada quando vai anoitecer

E já ouviram o canto triste da araponga

Anunciando que na terra vai chover

Já experimentaram guabiroba bem madura

Já viram as tardes quando vai anoitecer

E já sentiram das planícies orvalhadas

O cheiro doce da frutinha muçambê

Pois meu amor tem um pouquinho disso tudo

E tem na boca a cor das penas do tié

Quando ele canta os passarinhos ficam mudos

Sabe quem é o meu amor, ele é você…

Quem viveu no interior do sudeste e percorreu as matas do cerrado ou campos sujos conhecerá o sabor da Gabiroba.  Ela é uma frutinha miúda, tão doce e de sabor tão singular que quem experimenta jamais esquece. Eu tive o primeiro contato com ela quando morava em Rio Claro/SP, nos anos 60 e 70, período de minha infância.

Sempre morei em casas simples, com fogão à lenha, minha mãe fazendo pães, comidas simples e deliciosas, bolos de fubá, flor de abóbora frita ou sopa de Cambuquira. O dinheiro era curto e ela tinha que improvisar. Em muitos finais de semana eu e minhas irmãs, juntamente com meus pais, íamos para o sítio de meus avós. Isso quando tínhamos dinheiro para a passagem. Muitas vezes íamos somente eu e meu pai, de bicicleta. A distância era de aproximadamente uns 20 km em estrada de terra. Ele pedalava metade do caminho e parávamos para descansar. Depois seguíamos o outro tanto.

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Minha avó morava no sítio Boa Vista que ficava distante 4 km além de Ajapí (ou Morro Grande), distrito rural de Rio Claro. E junto com ela e meu avô moravam o meu tio Pedro Cirilo, na época ele ainda era solteiro, minha tia Leonor, casada com Henrique Martini e os meus primos Cida, Jair e Dulce. No sítio tinha fogão à lenha, forno de barro no “terreiro” (quintal), galinheiro, viveiro de patos e galinhas e uma horta com as verduras e legumes tradicionais (alface, almeirão, chicória, abobrinha, pepino…) mas também tinha a serralha, ora-pro-nobis, taioba, azedinha, peixinho da horta e mais uma infinidade de mato bom pra comer, que era como eles chamavam as plantas que cresciam sozinhas, mas que não seriam desprezadas no preparo do almoço ou jantar. (more…)

setembro 13, 2015

Lembranças de minha infância…

A casa em que vivi grande parte da minha infância era uma propriedade alugada. Ficava na rua M-1-A, na Vila Martins, bem em frente onde hoje está a E.E. Prof. João Batista Leme. Ela não tinha laje, o forro de madeira existia somente na sala, e o chão da cozinha era de tijolos. Na frente estavam sendo retirados os trilhos da Maria Fumaça – a antiga estrada de ferro que ligava Rio Claro a Corumbataí. E nos fundos tinha os trilhos da estrada de ferro da Companhia Paulista.

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Eu, com quase dois anos

A casa era repleta de cheiros. Em épocas como essa, setembro, que antecede a primavera, vinha o cheiro das Jabuticabeiras que habitavam os quintais. E o zunido forte das abelhas e zangões. Dentro da casa tinha o cheiro do pão quentinho saindo do forno, do doce de abóbora com coco, do feijão, do arroz, do molho de macarrão que minha mãe mesmo fazia. Penso que para todos a cozinha sempre é um lugar marcante para a família. Ali, em volta do fogão de lenha, feito de cimento queimado em um vermelho bem escuro e polido – e assim também era o chão da sala e dos quartos –  refletia as cores do fogo da lenha. E do fogo também emanavam cheiros. Dependia do tipo da lenha que se queimava. Volta e meia meu pai subia ao telhado para desentupir a chaminé. Passava uma “tocha” de pano que ficava presa na ponta de uma vara de bambu. Ah, que sabor bom tinha tudo que era feito ali naquela cozinha! Me lembro que ficava ansioso ali do lado esperando terminar o doce de leite com coco. E esse só era feito quando sobrava o leite e quando tinha dinheiro para comprar coco ralado. Em época de milho, a cozinha virava festa com toda a família reunida para preparar o curau e bolo de milho e à noite, o milho assado na brasa da lenha. Milho assado! Esse é um dos cheiros da minha infância. (more…)

outubro 13, 2013

A deliciosa simplicidade da infância narrada por uma de minhas irmãs – Tereza – Introdução

 

Acabo de sentar em frente ao computador e abrir o meu e-mail. Começou a anoitecer, há barulho lá fora na rua, mas, ao abrir uma mensagem encaminhada pela minha sobrinha Tatiana e começar a ler o texto que veio anexo, parece que os grilos cantam lá fora!! Uma de minhas irmãs, a Tereza, ganhou um notebook de presente de aniversário. Nunca tinha acessado tal modernidade. Mas, em apenas pouco mais de 30 dias já está bem adaptada. No texto que recebi ela narra um pouco do que lembra de sua infância. São lembranças gostosas, alegres e tristes. Lembranças gastronômicas que trazem nas memórias o  arroz branquinho e o frango do próprio galinheiro, abatido pelas ágeis e habilidosas mãos da tia Leonor ou de minha avó quando moravam no Sítio Bela Vista em Rio Claro/SP e onde a Tereza passava a maior parte das férias escolares. O arroz e o feijão eram os da lavoura da família, colhidos por eles, deixados secar no quintal e depois debulhado, grão por grão. E, por fim, a grande tigela de salada colhida da horta que ficava ao lado do poço, tudo fresquinho.
 
A claridade meio tímida da lamparina fraca e movida a querosene recebia reforço do fogo da lenha que ainda queimava no fogão à lenha logo ali do lado, na cozinha da tia Leonor, e o seu calor, aconchegante à brisa da noite, quase chegava a ser tão intenso quanto ao das conversas animadas, piadas e gargalhadas e os “causos” sem fim contados pelo meu avô.

setembro 30, 2013

Mais algumas lembranças de minha infância e de minha vida… parte 11

No quintal de casa havia plantas milagrosas, para chás, unguentos, banhos… Sempre que alguém ficava gripado, minha mãe imediatamente preparava um xarope de guaco com mel e limão cravo (também conhecido como limão bugre) para aliviar nosso sofrimento. Era alguém ameaçar uma tosse e lá ia minha mãe preparar o xarope. Adorava observa-la cozinhar, nem tanto para aprender e sim para dar umas “beliscadas” em tudo o que ela fazia.

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Primo Martini – meu avô por parte de pai

Também tenho saudades das visitas, em férias ou não, ao sítio de meus avós. Era costume todas as noites a família se reunir para rezar o terço após do jantar, a luz de lamparinas e depois cada um contava as coisas do dia de trabalho na roça e assim esperar o sono vir. Todos dormiam muito cedo porque levantavam de madrugada, antes do sol sair e iam para o eito. Enquanto os adultos falavam sobre suas lutas diárias, nós, crianças, brincávamos ou nos deliciávamos com estórias de assombrações que meu avô contava. Sempre tinha um bule de chá em cima do fogão de lenha, fazendo frio ou não. Ou, quando não, tinha a “garapa” que minha avó fazia – nada mais que água e açúcar cristal, que ficava fervendo em uma chaleira!  (more…)

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