Quando criança, o dia parecia interminável. Mesmo cheio de tarefas escolares, tinha o tempo para as brincadeiras, como o correr pelas ruas, soltar pipas, jogar bolinhas de gude, rodar pneus… as horas pareciam dar cria.

Icá ou Tanajura
Na maioria das vezes andava com um saquinho dependurado no ombro, cheio de mamonas verdes e roxas e no bolso um estilingue. Moleques são bichos doidos e sem medida, cheios de traquinices. Mas isso faz parte da própria natureza desse ser, pois quando crianças somos envolvidos em um mundo mágico e fantasioso. Criamos coisas e causos e acreditamos em tudo que a mente pode alcançar, inclusive em coisas malucas, que depois, na fase adulta se tornam ações totalmente sem fundamento. Bolinhas de gude translúcidas eram como que mágicas. Quem as tinha quase sempre ganhava o jogo. Com a ponta do dedo indicador apontado para uma abelha conseguia-se domá-la e fazer com que voasse na direção apontada. Era como que um feitiço. Coisas bestas e sem sentido. Catávamos Içás (formigas tanajuras, saúvas), retirávamos a bunda, torrávamos com óleo e sal e comíamos. Aquele que comesse mais se tornava forte e poderoso. Mas hoje sei que essas crendices só serviam para alimentar as lombrigas que moravam na minha barriga de menino. (more…)