A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

setembro 25, 2016

A casa de minha avó

Ah, o sítio Boa Vista, que pertenceu ao meu avô, Primo Martini. Era razoavelmente próximo da cidade (ficava há uns 12 km de Rio Claro/SP e há uns 3 km do distrito de Ajapí – antigo Morro Grande), onde tudo era lindo e cheirava gostoso, apesar da simplicidade e da “terra ruim”, como dizia meu avô. Há bem mais de quarenta anos atrás a energia elétrica não tinha chegado por lá. Tinha apenas em um sítio vizinho, pelo que me lembro. Nas noites de lua cheia é quando o sítio e as estradas das cercanias ficavam iluminados. Essa era a única luz que tinha nas noites escuras. Na casa do sítio era apenas a luz de velas, do fogão a lenha e de lamparinas – que para quem não conheceu vou descrever – a lamparina podia ser feita de latão, vidro ou lata mesmo, com um pavio de corda que conduzia o querosene de dentro da lamparina para fora e podia ficar acesa a noite toda. O problema é que quando estava acesa soltava uma fumaça preta que deixava marcas pelas paredes e teto, e o nariz que ficava preto por dentro.

A estação de Morro Grande, provavelmente anos 1940. Foto cedida por Julio Cesar Piesigilli, Jaú, SP

A estação de Morro Grande (Ajapí), provavelmente anos 1940. Foto  do site http://www.estacoesferroviarias.com.br, e cedida por Julio Cesar Piesigilli, Jaú, SP.

 

Na frente da casa e nas laterais tinha um jardim muito bem cuidado pela minha avó. Também perto de onde ficava o poço caipira tinha uma horta e mais flores. Para chegar até a casa tinha dois caminhos nos quais podiam passar carroças e carros (não tão comuns naquela época!). Um dos caminhos é o que passava antes pelo poço, que ficava à esquerda e a casa ficava numa baixada. O outro caminho começava na escolinha rural – que era composta de uma sala de aula em terreno cedido pelo meu avô e onde as crianças da região aprendiam as primeiras letras. A professora vinha todos os dias e no período da manhã. Para chegar ao sítio de meu avô haviam duas possibilidades: de jardineira, a qual nos deixava em um entroncamento da estrada de terra que liga Ajapí a Ferraz e onde se inicia a estrada para o Haras e Fazenda São José do Morro Grande e de lá íamos a pé ou meu e tios iam nos buscar de carroça ou charrete. O outro meio era chegar de maria fumaça até a estão de trem de Morro Grande, o que complicava um pouco, pois ficava mais longe para irem nos buscar. Apesar de que, nos anos 60 essa linha foi desativada*.

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julho 25, 2016

Lembranças de infância

Quem passa aqui pelo A Simplicidade das Coisas sabe que gosto de escrever sobre minha infância. Perto da infância que meus sobrinhos tiveram, a minha aconteceu sem grandes diversões, mas hoje vejo que tudo teve muito valor.

Nasci em uma casa de colônia na Haras e Fazenda São José do Morro Grande, no Distrito de Ajapí, que pertence à Rio Claro/SP, onde meu avô era o administrador, meu pai o tratorista, minha mãe cozinheira e meus tios colonos. Tínhamos apenas um rádio. Nada de TV ou das modernidades que temos hoje. As casas não tinham muros – nem na colônia e nem na casa que fomos morar na Vila Alemã, depois que meus pais vieram morar na cidade. Podíamos conversar com os vizinhos, plantávamos as coisas no quintal, criávamos porcos e frangos e tínhamos uma horta. Nossa comida era natural, sem agrotóxicos, tirada ali, do nosso próprio quintal…O único problema era saber que a linguiça era tirada daquele porco do quintal o qual ajudei a criar. E que tantas vezes vi meu pai sacrificar bem ali, na minha frente. Idem para as galinhas e frangos…E isso me ensinou a dar valor da vida! E também foi isso que me fez ter optado por ser ovolactovegetariano por muitos anos!

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Lembro que em muitas tardes tinha a missão de molhar a horta, e que no meio dos canteiros de verduras e árvores frutíferas tinha os canteiros de flores de minha mãe e avó. Eu ficava lá com a mangueira, borrifando a água e pensando nas coisas que iria fazer…Nos gibis que lia. Sim, eu lia muito. Era minha distração. Li também todos os livros do Monteiro Lobato e do Júlio Verne. Hoje existem outras distrações, lê-se pouco e escreve-se mal. (more…)

novembro 27, 2014

A infância dos anos 60 e seus sabores

No tempo de minha infância não havia nada, mas vivi com muito pouco e aproveitei tudo.

O auge de minha infância e adolescência foi nas décadas de 60 e 70. Era um tempo maravilhoso e quem visita o A Simplicidade das Coisas com frequência já sabe que eu sempre escrevo sobre ela.

Quando bem pequeno morei na Haras e Fazenda São José do Morro Grande – até meus 4 ou 5 anos – onde minha mãe era cozinheira, meu pai tratorista, meu avô paterno administrador e meus tios agricultores. Tais terras pertenciam ao Sr. Renato Mário Pires de Oliveira Dias, e que, além de plantações agrícolas tinha também um Haras. Segundo minha mãe, o Renatinho, como era chamado o filho do proprietário, gostava de fotografar (ou seja, “tirar retrato” como se dizia naquela época). E são de autoria dele as quatro únicas fotografias que tenho da época em que morei na Fazenda. Seguem abaixo, junto com uma “3×4”, a minha primeira nesse formato e com 7 anos.

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Olhando estas fotos antigas pude lembrar de alguns episódios e fiquei com saudades de minha infância. Então, tive a ideia de escrever alguns “fragmentos gustativos” daquela época. Neste texto trago à memória as coisas que eu mais gostava de comer e beber. Se você nasceu na década de 70 pode ser que se identifique com algumas delas. Seguem: (more…)

setembro 28, 2014

A casa da minha infância

Houve um tempo em que meu pai saiu do Haras e Fazenda São José do Morro Grande, onde ele era tratorista, minha mãe cozinheira, meu avô, Primo Martini, administrador e meus tios, camponeses. Eu tinha mais ou menos 4 anos. Moramos primeiro na Rua 3-A, na Vila Alemã, em casa geminada. Na outro lado moravam minha tia Joana, irmã de minha mãe, e meu tio Cezar, irmão de meu pai, com seus filhos, meus primos-irmãos. Tempos depois eles voltaram a morar em uma fazenda.

Minha primeira casa - na Fazenda São José do Morro Grande

Minha primeira casa – no Haras e Fazenda São José do Morro Grande

Depois nos mudamos para a Rua M-1-A,  e mais algum tempo depois na mesma rua, na esquina da Avenida M-1-A, na Vila Martins. Tínhamos na frente da casa a linha férrea da Maria Fumaça, que ligava Rio Claro a Ajapí, Ferraz e Corumbataí, que logo depois foi desativada. E, quase nos fundos, a linha férrea da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.  (more…)

outubro 23, 2013

A deliciosa simplicidade da infância narrada por uma de minhas irmãs – Tereza – Parte 8

COMO DIZIA MINHA AVÓ: PIANO, PIANO, SE VÁ LONTANO… Parte 8

…. continuação

Lembro também dos aniversários do meu avô: ele nasceu no dia primeiro do ano, por isso o nome “Primo Martini” – meus bisavós eram Italianos e “Primo” na língua da terra deles quer dizer “primeiro”. E por ser o ano novo tinha sempre festa lá no sítio. Festa que já começava uns dois dias antes, para a preparação: matavam leitoas e vários frangos. Deixavam toda a carne temperada e pronta para assar.

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Meu avô, João Graciolli (Graziolli), com a única foto que temos de nossa bisavó por parte de mãe.

A Tia Leonor fazia pães e roscas doces. Meu avô comprava vários garrafões de vinho e refrigerantes para a criançada, que eram muitas. No 01 de janeiro, pela manhã e no primeiro ônibus que vinha da cidade chegavam meus pais, a tia Isa com o tio Zé e as meninas (Maria Bernadete e Maria Inês). A tia Eva e o tio Humberto, que também tinham as crianças pequenas e moravam no sitio do pai do meu tio também chegavam cedo. Da casa da minha avó dava para ver a casa deles, que ficava um pouco longe porque tinha que dar a volta pela estrada. (more…)

agosto 13, 2013

Mais algumas lembranças de minha infância e de minha vida… parte 3

Da casa que morávamos na Rua 3-A, na Vila Alemã, e dos vizinhos, tenho poucas lembranças. Lembro-me da Luiza, da Sandra, da D. Mariquinha que tinha alguns filhos com os quais brincávamos. Na casa da esquina da Avenida 38-A morava uma família de negros, amigos excelentes, mas que, em princípio me causou medo e explico por que. Vizinho da fazenda onde morávamos havia um senhor que sempre passava por ali e que se tornou figura popular em Rio Claro, o “Gibi”.  Era um negro simpático que sempre carregava um saco nas costas. E, para causar medo, as mães diziam que naquele saco estavam crianças desobedientes. Como era amigo da família, sempre que passava pela Vila Alemã parava em casa para conversar com meus pais. Como era pequeno, associei a etnia com o medo. Mas, depois tudo ficou bem. Brincávamos todos juntos. Dividíamos as alegrias e tristezas.

Pais na fazenda

Meus pais, em visita ao Haras Fazenda São José do Morro Grande, muitos anos depois de nossa saída. Ao fundo, a casa da colônia em que moramos

 A rua era de terra. Não havia calçada em frente da casa que fosse até o meio fio – apenas umas fileiras de tijolos rentes à parede, para proteção em caso de chuva. A casa era pintada com cal amarela e pela falta de calçada, a água da chuva, ao bater no barro, tingia a parede com um barrado de vermelho. A iluminação pública era precária. Apenas dois postes no quarteirão iluminavam a rua. E as luzes eram fracas. E sempre faltava energia. Volte e meia tínhamos que usar lamparinas a querosene.  (more…)

agosto 12, 2013

Mais algumas lembranças de minha infância e de minha vida… parte 2

Nasci no Haras e Fazenda São José do Morro Grande, distrito de Ajapí (que em Tupi Guarani significa  ferir, dar em, acertar), Município de Rio Claro/SP. Não lembro de nada, ou quase nada da época em que vivi na fazenda, onde meu pai era tratorista e meu avô administrador. Mais pessoas de minha família moravam lá. Viemos morar na cidade quando eu tinha mais ou menos 5 anos. Estranho isso – não conseguir lembrar nada dessa época. Tenho uma cicatriz no indicador esquerdo (sou canhoto). Nessa fazenda havia um globo telado, uma enorme gaiola que prendia um casal de araras. Um dia, segundo dizem, estava no colo de meu avô, Primo Martini. Ele se aproximou da gaiola e num descuido, meti o dedo num dos buracos. A cicatriz ainda está em meu dedo como recordação.

O proprietário da fazenda era o Sr. Renato Mário Pires de Oliveira Dias, casado com D. Luiza e tinham três filhos: Renato, Maria Luiza e Renata.  Salvo engano, eram donos de farmácia e laboratório, em São Paulo, capital. Essa fazenda abrigava também um Haras, além de produzir café.

Minha família era querida por eles. Lembro-me que um dia, já adolescente, fomos visitar a Maria Luiza em sua casa, em Rio Claro. E ela me disse: “Augustinho! Quantos banhos eu te dei!” Eu era uma espécie de “cobaia” para ela e a irmã, que com isso, queriam ficar prendadas no cuidado com crianças. Estavam preparando-as para tornarem-se mães!

Eu no trator

Uma das poucas fotos de minha infância – eu, no trator que meu pai trabalhava!

Nossa primeira mudança, depois da fazenda, foi para uma usina de cana de açúcar que ficava em Santa Gertrudes/SP, e lá moramos por pouco tempo. De lá também não tenho lembranças. Minhas irmãs dizem que era um lugar inóspito. Morávamos numa choupana que tinha muitos ratos e perto dela, um lago. E nesse lago boiava um enorme tronco, o qual meus pais diziam ser um Jacaré. Botavam-nos medo para que não nos aproximássemos! (more…)

outubro 29, 2008

A Vida Passando na Janela

Soneto  –  Chico Buarque

 

 

Por que me descobriste no abandono

Com que tortura me arrancaste um beijo

Por que me incendiaste de desejo

Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo

De que romance antigo me roubaste

Com que raio de luz me iluminaste

Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida

E me indicaste o mar, com que navio

E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio

Com que direito me ensinaste a vida

Quando eu estava bem, morta de frio

Passei um tempo sem escrever por aqui e ontem fiquei pensando de que trataria esse artigo. Tenho muitas novidades, mas o tempo está curto. O prazo para a conclusão do doutorado se esgotando, falta ânimo…

Tenho pensado muito sobre minha vida. Gostaria de saber como foi o meu primeiro choro. Será que logo após o meu nascimento eu mamei o suficiente para dormir tranqüilo após ser expulso da paz do líquido amniótico? Quantos braços me carregaram e quantos narizes cheiraram meu suave e encantador odor de recém-nascido? E quem foi que escolheu o meu nome? Uns dizem que o primeiro nome foi uma das freiras da Irmandade da Maternidade da Santa Casa de Rio Claro quem sugeriu. Ela era devota de Santo Agostinho. Meu pai queria que fosse Zacarias! Desse eu me safei. O Jerônimo, eu não sei de onde veio. O personagem “Jerônimo – o herói do sertão” foi criado em 1953 por Moysés Weltman, para um programa de rádio do gênero novelas. Acho que é uma pista, já que nasci em 1959. (more…)

janeiro 3, 2008

Minha Mãe

Por que isso tudo está acontecendo agora? Estou sentindo medo de novo… Será que estou exagerando? Agredindo-me? O que é aquilo que chamam de certo? Eu não sei onde é a porta de saída e nem tenho asas de anjo que me façam voar para casa…

Estava ainda há pouco na cozinha. Sentando num banquinho, comendo doce de abóbora, quando veio a lembrança de minha mãe. Saudades… E hoje, agora, estou precisando tanto dela… Mãe – saudades! Se achegue! Faça ninho para eu deitar a cabeça em seu colo. Faça cafuné. Por favor, ocupe o lugar do medo…

Lembro dela com carinho. Sempre foi uma lutadora. Recordo-me da casa velha que vivíamos na Rua 4-A, Vila Alemã, quando mudamos para a cidade (Rio Claro), logo depois que saímos do Haras e Fazenda São José do Morro Grande, onde meu pai foi tratorista. Eu devia ter uns cinco anos. Era uma casa geminada. Ao lado, moravam minha tia Joana e meu tio César. Ela, irmã de minha mãe e ele irmão do meu pai. Pergunto-me qual é a lembrança mais forte dessa época. E vem a sensação de medo. Medo de perder minha mãe. Todos os meses ela sofria de uma enxaqueca grave. Ficava dois ou três dias na cama. Chegou a ser internada. Tinha medo que não voltasse. Desde então, nunca soube lidar muito bem com a perda. Cresci assim, com esse fantasma sempre assombrando meus pensamentos. (more…)

maio 10, 2007

Sítio Bela Vista… Lembranças de Infância

Houve uma época em que os colonos das fazendas migraram para as cidades, em busca de outro tipo trabalho.

Os cafezais ficavam no mato, porque não havia quem os capinasse. Minha história de vida começa a partir daí. Meu pai, que era tratorista no Haras e Fazenda São José do Morro Grande, que ficava nos arredores de Rio Claro, veio para a cidade. Eu tinha 4 ou 5 anos, não sei bem ao certo… Minha primeira residência na cidade foi numa casa simples, localizada na Rua 3-A, entre as avenidas 38-A e 40-A, na Vila Alemã. (more…)

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