A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

janeiro 29, 2021

O jardineiro anônimo

Era pouco mais de 12h quando ele chegou nos canteiros do bulevar da Vieira de Carvalho, no quarteirão onde moro, no centro de São Paulo e terminou seu primoroso serviço agora pouco. Já passava das 20h. Cabelos brancos, roupa social, sempre agachado, de cócoras, arrancando as touceiras de mato que dominavam os canteiros em meio a forragem de falso amendoim, plantada e não cuidada pelo poder público. Silencioso, compenetrado, ignorando as pessoas que passavam sem dar a mínima atenção ao seu maravilhoso ato.

Uma senhora que aguardava o ônibus na parada em frente ao número 27 da Vieira o observa. Atravessa a rua. Era pouco mais de 14h. Vai até o canteiro e troca algumas palavras com ele. Volta para a calçada. Dez minutos depois lá estava ela novamente, conversando com o jardineiro e entregando-lhe um lanche e uma garrafa de suco. Ele, compenetrado, agradece e continua seu trabalho. O lanche, em uma das mãos, vai até a boca ávida. A outra mão continua arrancando o mato. Ele não para. Não há tempo para isso.

Continuo observando-o pelos vidros da janela e uma onda de emoção me domina. Quem é esse ser de luz? De onde vem? O que faz? Minha vontade é descer, ir até ele, abraçar, agradecer, conversar. A Covid barra meu ímpeto, mas tenho que fazer alguma coisa, contribuir de alguma forma. E o fiz. Fui até ele e levei uma contribuição. Mas isso não bastava. Quero saber quem é!

Ele, sorridente, agradece a modesta contribuição, continua seu trabalho e diz, sorridente: “Que Deus abençoe o senhor”! Minha vontade foi responder: “Minha benção maior, meu maior presente, foi conhece-lo, Senhor”. Senhor com “S” mesmo, pois a energia maior que gira nesse universo estava com ele.

Pergunto de onde é, onde mora. Responde rapidamente: “moro em uma pensão na Bela Vista, na Rua tal, número tal”. Não perguntei a idade, mas aparenta ter cerca de 80 anos e deve ser Nissei. Disse que é solteiro (imagino que não tenha familiares), que adora plantas e fazer jardinagem. Assim, em suas caminhadas diárias, quando vê algum bem público precisando de cuidados, interrompe sua caminhada para limpar. Que exemplo de cidadão!

Voltei para dentro de casa logo em seguida. De vez em quando me aproximava da janela e ele ainda lá, de cócoras, trabalhando. Não o vi parar por nem um minuto. Perto de 19h30 começou a juntar o mato arrancado, com um pedaço de papelão “varreu” as calçadas, colocou tudo em 4 sacos grandes, separou as garrafas de vidro dos papéis e plásticos que os frequentadores e os donos dos bares jogam no meio fio, arrumou tudo direitinho na esquina deixando pronto para os lixeiros retirarem. E se foi. Todo feliz, sem um único agradecimento por parte dos donos de bares e seus clientes, que fazem esses mesmos canteiros de lixeiras e banheiro.

outubro 16, 2015

A Praça da República virou ponto de prostituição e tráfico de drogas

Moro no centro de São Paulo há alguns anos por pura opção: estou perto de tudo, consigo ir e voltar a pé do trabalho todos os dias, tenho acesso a teatros e restaurantes, transporte público na porta de casa… Mas, a cada dia que passa o centro apresenta maior degradação.

São moradores de rua por todos os lados vivendo no abandono. Edifícios invadidos. Na Praça da República, que deveria ser um dos cartões postais da cidade, há lixo acumulado no calçamento e nos lagos, crianças nadando na água suja, a iluminação é precária, enfim, há um total descaso da Prefeitura. Mas afirmo – a culpa não é só de nossos administradores. Minha mãe já dizia que cada lugar tem o morador que merece. Grande parte da população também é responsável por esse descaso. Falta segurança, habitação, transportes públicos, mas também falta educação e principalmente cultura por parte de muita gente.

Republica

Pela manhã, bem cedinho, dependendo da visão do fotógrafo (no caso a minha), consegue-se ver beleza na Praça da República.

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Na Praça da República a segurança é no mínimo questionável – é outra preocupação minha e dos moradores do entorno, já que uma unidade móvel da Polícia Militar fica ali sempre, mas só durante o dia. Há algum tempo atrás havia um posto da Guarda Municipal que também foi retirado. No período noturno não há qualquer policiamento e é um risco atravessar a praça. (more…)

setembro 30, 2014

Espaço público x Espaço privado

São Paulo é mesmo uma cidade de contrastes e muitas coisas por aqui me deixam intrigado. De vez em quando fico sabendo de um abaixo-assinado que repercute da mídia de forma estrondosa, contra coisas esdrúxulas, que aparecem até muito mais que algo como da luta contra a poluição dos mares, rodeios, uso de pele animal, etc.  Esses abaixo assinados, geralmente firmados por moradores endinheirados, viajados e com diplomas universitários, não pedem mais segurança nas ruas, nem salários dignos para seus empregados, nem a interrupção do trânsito nos fins de semana para poder passear, nem mesmo o fechamento de enormes shoppings que acabam com a boa vida do bairro. O que querem é acabar com aquilo que moradores de qualquer cidade do mundo gostariam: estações de metrô, ciclovias, ônibus mais rápidos e, agora, um museu (no caso o MIS – Museu da Imagem e do Som).

gente

 

Dizem que essas coisas atraem gente não tão viajada e com menos dinheiro, gente diferente, vendedores ambulantes e ônibus com crianças. Ou quase pior: afastam de suas vias, restaurantes e butiques destinados à esse “cidadão exclusivo”, como advertia anos atrás uma cabeleireira de Moema angustiada ao ver sua rua pintada de vermelho: “Onde vou colocar a minhas clientes milionárias que vêm com seus carros importados?! Acha que vão vir de bicicleta?!”.

Os moradores dos bairros ricos sentem-se inconformados, desprotegidos e protestam estacionando seus carros nas faixas destinadas às bicicletas, desabafam no facebook contra os farofeiros e mobilizam-se em busca de assinaturas. O que acontece com essa gente?

Esse é um sintoma da elite. Moema, Higienópolis, Jardim Europa – sempre foram protegidas pela polícia. O fato de uma nova classe média, agora com algum dinheiro, tomar a cidade, vindo das periferias para as “ilhas dos endinheirados”, para eles significa insegurança, medo, entre outras tantas coisas. (more…)

março 10, 2014

O assédio contra as mulheres na rua!

Todos os dias venho e volta a pé de casa para o trabalho e vice-versa. Caminho uns 25 minutos pelas ruas e calçadões do centro histórico de São Paulo. E, pelo caminho, vejo sempre “os lobos”, que “comem” as mulheres com os olhos e soltam seu gracejos.

Ouço de “Fiu-Fiu”, “Linda”, “moça bonita”, “a beleza é de nascença?!”, até os mais vulgares como “gostosa”, “vai ser boa assim na minha cama”, “te laberia todinha”, “delícia”, “você está no ponto que eu gosto”…  e por aí vai.

assedio

Com isso tudo surge a questão: Será que toda a mulher está interessada em ouvir cantadas de desconhecidos no espaço público? E os homens estariam satisfeitos se essas cantadas fossem para as suas mães, irmãs ou filhas? Define-se o assédio no espaço público quando alguém recebe um “elogio” ou “cantada” de um desconhecido que de certa forma  ofenda, constrange, humilha ou apavora. E nestes casos, as mulheres são as mais afetadas por este ato, que é considerado violento. (more…)

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