Ontem completei 56 anos e essa idade me deixou mais elétrico ainda, e o fato de não ter medo dela, me faz mais feliz também. Só fico preocupado em fazer coisas ridículas e também não quero me parecer como tal. É que quando fiz quarenta e oito anos estava triste, me olhei no espelho e me vi acabado. Mas agora que fiz 56 estou muito feliz, me olhei no espelho e levei um susto! Não sei de quem é esse rosto com algumas rugas que teima em olhar para mim. Não conheço esse senhor que começa a se apresentar! Estou envelhecendo e o espelho não me desmente, mesmo porque não tenho mais tempo para perder com ele. Quero aproveitar a vida até o último minuto e em qualquer situação. Pretendo fazer tudo que eu nunca fiz, sou jovem na alma, no gestual, no vocabulário e no comportamento. Só no corpo é que não, mas isso é só um detalhe. Quero celebrar a vida com tudo que tenho direito, e que quando a morte chegar – e ainda vai demorar muito tempo! quero que ela me encontre enebriado de felicidade, para que eu possa cumprimentá-la. Ah, e antes dela chegar quero dar a minha última grande festa, onde estarão presentes todos os meus amigos.

56 anos!
Um dia a morte vai chegar e vocês já fiquem sabendo o que quero: me vistam com uma roupa bem colorida e podem me colocar um par de óculos escuros! E um bom tanto do meu perfume preferido Fahrenheit Masculino, da Dior. E por favor – não me coloquem algodões no nariz e nem flores – junta mosquitos e eu não quero ninguém me abanando, espantando as moscas. Se quiserem, podem pintar o caixão de laranja e escrevam nele frases dos poemas de Fernando Pessoa e seus heterônimos. Quero música de fundo no velório, daquelas bem alegres. E como dizia minha avó Virgínia, quero muitos risos e que eles contagiem a todos. Depois podem me cremar e os chegados já sabem onde quero que espalhem as cinzas. Já está registrado em cartório! (more…)