A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

março 1, 2021

Em nenhum momento a pandemia assolou o Brasil como agora

Peço às amigas e amigos que leiam e repassem o importante texto que se segue. Os autores estão listados no final.
Em nenhum momento a pandemia assolou o Brasil como agora. Com suas mutações de escape, é possível que o vírus se antecipe à vacinação.


“E assim acaba o mundo. Não com uma explosão, mas com um gemido”, concluía T. S. Eliot em “The Hollow Men”. Uma pandemia não é menos destrutiva que uma guerra. Pode, no entanto, ser desqualificada, total ou parcialmente.
Sejamos claros: em nenhum momento a Covid-19 assolou o Brasil como agora. Crescem as internações e mortes. Disseminam-se variantes virais, provavelmente mais transmissíveis e talvez causando doença mais grave. Pior: é possível que essas variantes escapem à imunidade conferida pelas vacinas.
Que essa não é uma situação sem esperança demonstram os exemplos da Nova Zelândia, Alemanha e Espanha. E o movimento coerente (ainda que tardio) do município de Araraquara (273 km de SP). Porém, vivemos uma epidemia de cegueira que ultrapassa as previsões de Saramago. O pacto coletivo de autoengano consistia em negar o que ocorre na Europa. Agora se estende a ignorar o colapso da cidade vizinha.
Como entender que Araraquara e Jaú estejam em lockdown enquanto Bauru, a 55 km da última, faz passeatas pelo direito à aglomeração?
Sem dúvida esse é um caso para análise em antropologia e ciências do comportamento. Não que se menosprezem os danos econômicos, sociais e psicológicos do distanciamento. Mas, na emergência da saúde pública, o valor intrínseco da vida deve ser reforçado. Não sabemos tudo, mas já acumulamos fortes evidências. As “medidas não farmacêuticas”, incluindo distanciamento social por fechamento de comércio, inibição de aglomerações e uso rigoroso de máscaras são o único (amargo) caminho para interromper a progressão da Covid-19.
Não conseguiremos vacinar a tempo. É possível que o vírus se antecipe à vacina, com suas mutações de escape. A transmissão do coronavírus gera oportunidades para surgimento de variantes. É urgente, pois, interrompê-la. Mas, se continuarmos a pensar que Araraquara e Jaú são longínquas ilhas do Pacífico, marcharemos rapidamente para o colapso da saúde. Não no estado de São Paulo, mas no país.
Passamos pela fase da ilusão de “enterros falsos”. Muitos de nós já tiveram vítimas fatais na família. Também já estão soterradas as pílulas milagrosas —cloroquina, ivermectina e nitazoxanida. Os antivirais com resultados promissores são novos, caros, inacessíveis. O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, já menciona a dificuldade em conseguir oxigênio. O caos está aqui, está em todo lugar.
Pesa sobre nós uma escolha. De um lado temos o darwinismo social, em que aceitaremos a morte de centenas de milhares como uma pequena inconveniência suportada em nome da economia. Do outro, a chance de aprender com as lições positivas e negativas de outros países. Como bom exemplo, temos a Nova Zelândia. No extremo oposto, os Estados Unidos. Ainda há tempo para deixarmos de bater continência a réplicas da Estátua da Liberdade e reconhecermos que Donald Trump levou seu país ao fundo do poço da saúde pública.
Não será o fim do mundo, mas já é uma catástrofe sem precedentes. Silenciosa, exceto pelos ruídos de ambulâncias e ventiladores mecânicos, quando existem. Ou pelos gemidos daqueles a quem falta o ar. Uma agonia tão intensa e destrutiva quanto bombardeios.
Manipular politicamente o boicote às medidas óbvias de contenção da Covid-19 foi a receita para o caos, tanto nos Estados Unidos quanto no Amazonas. Não é muito desejar que aprendamos com nossos erros. “O que a vida quer da gente”, diria Guimarães Rosa, “é coragem”.
Carlos Magno Castelo Branco – Fortaleza – Infectologista e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp)
Luís Fernando Aranha Camargo – Professor de infectologia da Unifesp
Dimas Tadeu Covas – Diretor do Instituto Butantan
Marcos Boulos – Professor titular aposentado da Faculdade de Medicina da USP (FM-USP)
Rodrigo Nogueira Angerami – Infectologista (Unicamp)
Benedito Antônio Lopes da Fonseca – Professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP)
Eduardo Massad – Professor da FGV-RJ e da USP
Francisco Coutinho – Professor do Departamento de Patologia da FM-USP
Gonzalo Vecina – Professor da Faculdade de Saúde Pública da USP

janeiro 19, 2017

A geração que encontrou o sucesso no pedido de demissão – por Ruth Manus

“O cenário é mais ou menos esse: amigo formado em comércio exterior que resolveu largar tudo para trabalhar num hostel em Morro de São Paulo, amigo com cargo fantástico em empresa multinacional que resolveu pedir as contas porque descobriu que só quer fazer hamburger, amiga advogada que jogou escritório, carrão e namoro longo pro alto para voltar a ser estudante, solteira e andar de metrô fora do Brasil, amiga executiva de um grande grupo de empresas que ficou radiante por ser mandada embora dizendo “finalmente vou aprender a surfar”.
Você pode me dizer “ah, mas quero ver quanto tempo eles vão aguentar sem ganhar bem, sem pedir dinheiro para os pais.”. Nada disso. A onda é outra. Venderam o carro, dividem apartamento com mais 3 amigos, abriram mão dos luxos, não ligam de viver com dinheiro contadinho. O que eles não podiam mais aguentar era a infelicidade. (more…)

maio 5, 2016

Hoje tudo é tratado como descartável

Quando estou muito agitado no trabalho eu falo sozinho, cantar sozinho é apenas o passo seguinte. Muitas vezes os colegas olham assustados para mim e quando percebo que estão olhando desviam o olhar.
Dia desses contei isso para um amigo que riu, em tom de gozação, mas ao rir saiu de sua boca um guincho parecido com aquele assovio dos amoladores de facas que passavam nas ruas de meu bairro, em Rio Claro, quando eu era criança. Sabem como é? Podia ter-lhe saído qualquer coisa, mas foi aquele som que saiu. Quando eu era pequeno e alguém fazia barulho semelhante ao rir, tinha uma vizinha que dizia que isso era sinal de que viria chuva. Sempre gostei destas crendices e mitos profundamente alicerçados em nada que é realmente concreto.
Resumindo: comecei a escrever isso porque hoje, ao ir a pé para casa, cruzei a praça da Sé e vi um senhor desmontando sua cadeira de engraxar sapatos e apetrechos para pequenos consertos e percebi como inúmeras profissões se tornaram descabidas nos dias de hoje. Já quase não há sapateiros… e nem amoladores de faca. Os padeiros e leiteiros que entregavam de porta em porta desapareceram do mapa. Isso porque estamos numa sociedade em que do velho não se aproveita, compra-se novo. Com a menor qualidade dos produtos e materiais, o preço fica mais baixo e, portanto, não compensa mandar arrumar. E penso: que ensinamentos estamos passando às crianças?! Quando formos velhos, o que nos acontecerá? Eu não tenho filhos, mas quero que os filhos de meus sobrinhos e de meus amigos saibam dessas antigas profissões e que o som dos amoladores de facas traz recordações.

Esculturas do artista Ha Schult, com humanóides feitos com lixo, geralmente latas em, Barcelona.

Esculturas do artista Ha Schult, com humanóides feitos com lixo, geralmente latas, em Barcelona.

É, infelizmente chegamos ao tempo em que tudo é mais fácil porque, quase tudo, se tornou descartável.
Mas não foram só os objetos que se tornaram descartáveis, os sentimentos também estão se tornando. É fácil ter centenas de amigos, mas são amigos virtuais, descartáveis, se perdem com o tempo, não fazem falta. São os amigos das redes sociais e dos interesses, nunca estão conosco quando precisamos. Não há laços de afinidade. As pessoas vivem uma vida descartável. Muitos corações estão cheios de ódio e, para eles, a vida não tem sentido, assim como não tem sentido a dignidade, o respeito, o amor e o perdão.  (more…)

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