Nasci e morei em uma fazenda, na cidade de Rio Claro, interior do estado de São Paulo. Ainda criança nos mudamos para a cidade e estudei só em escola pública… Meus amigos de infância tinham apelidos como Quatro Olhos, o Gordo, o Magrelo, o Orelhudo etc. e tudo era levado na base da brincadeira. Não era bulling. Nem sabíamos o que era isso! Éramos humildes, comíamos o que era colocado na mesa, muitas vezes só arroz e feijão, outras, arroz feijão e banana. Ninguém tinha o bolsa família, cesta básica, não havia Google, Facebook, Instagram e nem Wikipédia, tínhamos as enciclopédias Barsa, com suas dezenas de volumes e as pesquisas de estudo eram feitas nas bibliotecas públicas ou na pequena biblioteca da escola.

Quando nossa mãe saía na janela e dava um grito, a frase “peraí, mãe” era para não sair da rua e não do computador… Apanhei muito de cinto, ficava de castigo e nem por isso me tornei um rebelde sem causa… Nós tínhamos brinquedos, muitos deles feitos com latas velhas, pneus… e não celulares. Colecionávamos figurinhas e não namorados ou namoradas. Batíamos “bafo” com as figurinhas e não nos colegas e nos professores (aliás professor era muito respeitado e admirado). Cantávamos o Hino Nacional com a mão no peito e todas as semanas ao hastearmos a bandeira em frente da escola.
Brincávamos de polícia e ladrão, de amarelinha, esconde-esconde, jogávamos taco, queimada, passa anel, vôlei, pique bandeira, jogávamos bolinhas de gude, usávamos roupas infantis quase sempre de segunda mão, vindas de primos ou irmãos e não nos vestíamos como adultos. Soltávamos bombinhas tipo traque nas festas juninas e empinávamos pipas e pulávamos elástico. Assistíamos o Sítio do Pica Pau Amarelo, Vigilante Rodoviário, Rim Tim Tim, Zorro, Pica Pau etc., na casa do vizinho, porque não tínhamos televisão ou geladeira.
O único pó que quase todos nós éramos viciados era Nescau ou Toddy. Tocávamos a campainha da casa do vizinho e corríamos. E levávamos palmadas por isso! Soltávamos pipas na rua. Tínhamos sempre dever de casa para fazer e fazíamos mesmo e as aulas de educação física eram de verdade. Não nos importávamos se o nosso amiguinho era negro, branco, pardo, pobre ou rico. Meninos ou meninas, todos brincavam juntos e como era bom…
Ah, que saudades da época em que a chuva tinha cheiro de terra molhada… Do cheiro de mato cortado no terreno baldio ao lado da casa. Do cheiro doce das flores da enorme jabuticabeira do quintal do vizinho. E na minha infância, a felicidade tinha gosto de geladinho de Ki-suco sabor groselha e nossa única dor era quando usávamos merthiolate nos raspões dos joelhos…
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