A Covid19 mudou nossas vidas e isso não temos como negar. Não falo simplesmente da alteração da rotina nesses dias de isolamento, em que não podemos mais fazer caminhadas despreocupadas ou ir aos nossos restaurantes preferidos. Quais serão as mudanças mais profundas, aquelas transformações que devem moldar a realidade à nossa volta e, claro, as nossas vidas depois que o vírus for atenuado ou mesmo ser controlado? Sou pessimista. Acho que ele não irá desaparecer. Esse vírus mudou as nossas vidas e continuará nos assombrando.
Entender que mundo novo é esse é importante para nos prepararmos para o que vem por aí. O mundo de antes do coronavírus não existe mais, é fato. Mudanças que a população mundial levaria décadas para se adaptar tiveram que ser efetivadas rapidamente, em meses. E ainda estamos nos tentando nos acostumar com elas.
Li no Estadão de ontem, 12/10/2020, um artigo do Gilberto Amêndola o qual gostaria de compartilhar com vocês. Segue. Boa leitura e boa reflexão.
A geração corona
Filhos do home office, um dia vocês vão sair de casa e romper a casca. O futuro é de vocês.
Filhos gerados durante o isolamento, no lockdown quentinho dos quartos, o futuro é de vocês.
Filhos do medo do beijo, do toque, do álcool em gel ao lado da cama e das máscaras enroladas e perdidas no lençol branco, o futuro é de vocês.
Crianças que quase nunca viram um sorriso sem focinheira. Crianças que sabem ler os olhos de quem fala (e serão ótimos jogadores de pôquer), o futuro é de vocês.
Crianças que não sabem de quantos dentes é feito um sorriso. Crianças que não mostram a língua. Crianças que sabem lidar com o tédio e brincam sozinhas. Crianças auto suficientes, o futuro é de vocês.
Crianças desmaterializadas, presentes no ar, no Zoom. Crianças não presenciais. Crianças que não se aglomeram na fila do escorrega. Crianças que aprendem, desde muito cedo, o valor de manter “uma certa distância”. O futuro é de vocês.
Filhos do home office, um dia vocês vão sair de casa e romper a casca. O futuro é de vocês.
O que será da geração corona? Quantos artistas estão se formando nesse ambiente? Quantos poetas vão escrever odes à vacina? E quantos crescerão negacionistas? Quantas delas serão epidemiologistas? Contadores? Zeladores? Urbanistas?
O que será da geração corona? Quantos políticos estão sendo forjados? Irão acreditar em quê? Em nome de quem?
A geração corona vai preferir sua parte em dinheiro ou amor? Abraçar árvore ou depositar em dinheiro vivo?
E o sexo, como vai ser?
Qual o legado da geração corona? A marca futura? O que estarão prontos para inventar? O que essa geração vai destruir?
Quantos erros irão perpetuar e repetir.
O futuro é de vocês, crianças. Façam bom proveito. Lambuzem-se. Vou ser um velho pré-covid, pré-histórico, daqueles que nunca perdem a oportunidade de lembrar como “no meu tempo era melhor”.
Calem minha boca, por favor.
O futuro é de vocês.
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