Em minha infância, lá pelos idos dos anos 60 e 70, o Natal, sem sombra de dúvida, tinha um cheiro especial. Os meses de outubro e novembro para mim são inesquecíveis, pois tinha o perfume das flores da jabuticabeira, mangueiras carregadas, com alguns frutos já amadurecendo, as flores em seus mais diversos tons pipocando nos jardins das casas…
E essa profusão de cores e cheiros segue à entrada de dezembro quando os vaga-lumes em seu piscar noturno, nos jardins e terrenos baldios, anunciavam a chegada da data mais esperada do ano. Como no comercial do Bradesco que está sendo exibido essa semana nos canais de TV, os capturávamos e colocávamos em um vidro e depois eram soltos. Era mágico ver aqueles pequenos seres emanando suas luzes.
Dezembro era também a época da grande faxina nas casas: eram lavadas e esfregadas as paredes, janelas e o chão de tijolo. Cada peça da casa era lavada, limpa. Tudo ficava com jeito de novinho. Sim, tudo lavado e esfregado, pois pintar era caro demais. Contavam-se os dias em uma ansiedade angustiante. Todas as semanas a casa passava por uma faxina. Mas, a de Natal era a maior!
O pinheiro de Natal – que era um galho de pinheiro, mas outras tantas um galho seco de qualquer árvore – tinha um ritual especial – seu tamanho era escolhido a dedo, pois tinha que se acomodar no canto da sala. Uma velha lata era preenchida com areia e tijolos velhos para imprimir firmeza e servir de pé, e a grama barba-de-bode que colhíamos nos terrenos baldios fazia o acabamento. Sob a árvore montávamos o presépio que ganhei, salvo engano, da D. Edna de Godoy Nevoeiro, dona da loja de ferragens Casa Nevoeiro, que ficava na Rua 4, esquina da avenida 3, em Rio Claro/SP, meu primeiro emprego formal. Minhas irmãs poderão confirmar essa origem. A gruta de Belém, que acomodava a manjedoura, era feita com uma caixa de papelão, coberta de musgos ou capim seco. Ah, e a cada ano, mesmo em situações de “aperto”, uma nova peça era comprada e incorporada ao “acervo”.
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