Existem situações que se tornam marcantes em nossas vidas. Ainda mais se elas foram contantes. Aqui no A Simplicidade das Coisas, já escrevi bastante sobre minhas lembranças de infância. Ontem, assistindo uma reportagem na TV sobre a beatificação do Padre Donizetti, de Tabaú, veio à minha memória lembranças de uma infância distante em que ele esteve muito presente.
Venho de uma família muito católica, onde todos foram batizados e crismados. Eu, minhas irmãs, primos e primas. Minha avó paterna, Virgínia Calore Rosin Martini era devota de Nossa Senhora Aparecida entre outro santos. Lembro-me que quando crianças, íamos ao sítio e antes de dormir rezávamos o terço, depois comíamos uma panelada de pipocas, sempre a luz de lamparinas de querosene. No Sítio Boa Vista ainda não havia chegado a rede de energia elétrica. O rádio era alimentado a pilhas e ligado todas as manhãs para ouvir o programa do Zé Bettio e perto das 18h00 para que todos ouvissem a consagração à Nossa Senhora Aparecida, a benção do Padre Donizetti e a benção do copo de água, que logo em seguida era compartilhado para que todos bebessem um gole.
Essa tradição foi passada para todos os filhos e noras de minha avó que vieram a morar na cidade. Em minha casa não era diferente. Por volta de 17h55 todos tinham que estar na cozinha, onde ficava o rádio, para, ajoelhados, ouvir a benção do Padre Donizetti. E sobre essa benção, tenho uma história interessante para contar.
Na Década de 60, depois que nos mudamos da Fazenda e Haras Morro Grande, fomos em uma fazenda que plantava cana de açúcar, em Santa Gertrudes, onde ficamos pouco tempo. Minha mãe contava que a casa que morávamos era infestada por ratos. Depois nos mudamos para a Vila Martins, em Rio Claro, onde tivemos dois endereços na Rua M-1-A.
Meu pai, em princípio, trabalhou no DAAE – Departamento de Água e Esgoto de Rio Claro, abrindo valetas, a mão, para acomodar os canos do sistema de esgoto. Depois foi trabalhar na PREMA – Tintas e Preservação de Madeiras, onde ficou até sua aposentadoria. Lembro-me que era um trabalho insalubre, onde tinha a rotina de produzir algo de nome parecido a “xilotol”, produto químico que tinha um odor insuportável e que impregnava na roupa que ele usava. Precisava beber dois litros de leite ao dia para não se intoxicar. E, por conta desse trabalho teve sérios problemas de pulmão.
Depois que nos mudamos para o segundo endereço na Rua M-1-A, meu pai percebeu que precisaríamos sair do aluguel. O bairro Vila Nova, pré loteado, chamou sua atenção e acabou comprando um terreno localizado na Rua 10-A, entre as Avenidas 34-A e 36-A em suaves prestações. Naquela época a Caixa Econômica Federal havia lançado um programa de financiamento para a construção de casas populares. Meu pai aderiu a esse programa e deu início à construção de nossa casa. Eram tempos difíceis. Pagávamos aluguel, as prestações do terreno e as prestações do financiamento da casa. Eu e minhas irmãs Ivone e Tereza, devíamos ter respectivamente, 7 anos, 9 anos e 11 anos. Percebíamos nosso pai diferente e nossa mãe dizia que não podíamos contrariá-lo em nada. Hoje sabemos que ele sofreu um distúrbio mental. Chegou a tomar medicamentos psiquiátricos. E aqui é que entra a lembrança do Padre Donizetti contundentemente em minha memória.
Como disse acima, preservamos o costume de todos os dias ouvir a transmissão da benção desse padre. E, salvo engano, a rádio era a Nacional e o Programa era do radialista Pedro Geraldo Costa. Ele fazia orações para Nossa Senhora, comentava acontecimentos diários, graças recebidas e milagres feitos por padre Donizetti Tavares de Lima. E o programa encerrava com sua benção, em latim, cujo trecho era: “Benedicat vos omnipotens Deus: Pater, et Filius, et Spiritus Sanctus.” E Pedro Geraldo Costa e todos nós respondíamos “Amém!” Depois, minha mãe tomava um gole de água abençoada pelo Padre Donizetti, passava o copo para meu pai e ele por sua vez para que cada filho tomasse um gole.
Soubemos muito tempo depois que meu pai “ouvia vozes” a noite, depois que ia para a cama. Morávamos próximo a linha férrea da Cia. Paulista de Estradas de Ferro. E essa “voz” dizia para ele levantar da cama, sair de casa e se jogar na frente de um trem. Mas, quando ia abrir a porta para executar o suicídio, escutava o Padre Donizetti dando a benção e voltava para a cama. Foi uma época difícil em minha casa. Minha mãe escondia todos os objetos cortantes com medo que ele se suicidasse. Mas, graças ao Padre Donizetti e sua benção, superou tudo isso. Ele terminou de pagar o financiamento, mudamos para nossa casa que ainda hoje continua na família. Foi adquirida pela Ivone, onde mora até hoje.
Esse relato é considerado pela família uma graça obtida através da benção do Padre Donizetti Tavares de Lima.
Alguém tem a oração dele escrita em latim!
Se alguém tiver me passa!
Meu ZAP é 17991814947
CurtirCurtir
Comentário por Sara Cordeiro da Silva — julho 14, 2021 @ 14:45 |