A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

fevereiro 17, 2016

Lembranças de minha infância: os meus primeiros refrigerantes – Cerejinha e Tubaína!

Quem viveu a infância nos anos 60 sabe muito bem o que relatarei aqui.

Durante os meus primeiros anos de vida poucas vezes tomei refrigerante. Explico – era artigo de luxo! Tomei algumas poucas Tubaínas (desta vou falar mais adiante) na casa da Tia Nica, uma vizinha, ou nas festas de aniversário de meu avô, Primo Martini, que fazia anos em 01 de janeiro e sempre comemorava com uma comilança daquelas comuns em famílias italianas.

Nasci em 1959 e meus pais foram morar “na cidade” por volta de 1965. Comecei minha vida escolar no Grupo Escolar da Vila Indaía (fiquei uma semana por lá) e logo depois fui transferido para o Grupo Escolar da Vila Alemã, atual E. E. Profa. Djiliah Camargo de Souza. E foi nessa escola em companhia de minha turma de primeiro ano e de minha professora de primeiras letras, Sônia Lopes Lanzoni, que consegui ter o privilegio de tomar uma Cerejinha pela primeira vez – refrigerante de sabor inigualável, o qual nunca mais esqueci e que ainda hoje gostaria de poder saborear novamente. Com certeza, se ainda existisse, os fabricantes da Coca Cola iriam brigar para copiar ou comprar a fórmula.

Tive o privilégio de tomar Cerejinha na própria fábrica, na Cervejaria Mãe Preta. Mas isso faz muito tempo. D. Sônia nos levou para fazer uma visita na fábrica onde no dia seguinte teríamos que fazer uma “descrição”. Explico. A descrição, para quem não sabe, é prima irmã da redação. Saímos a pé pelas ruas, atravessamos os campos onde hoje estão assentados o Jardim América, o Jardim Arco Íris, a Vila Verde e o bairro Mãe Preta, até chegarmos ao local. Sim, a fábrica ficava praticamente no meio do mato! Lembro que lá conhecemos a linha de produção da Cerejinha e da Cerveja Mãe Preta. Pela primeira vez vi uma barra de gelo (também eram fabricadas lá) dessas industriais e ao final da visita fomos premiados cada um com uma garrafa de Cerejinha geladinha.

Fábrica da Cervejaria Mãe Preta, em Rio Claro/SP

Fábrica da Cervejaria Mãe Preta, em Rio Claro/SP – Foto de Rio Claro Retrô, no Facebook

Acredito que como alguns de vocês, meus leitores, fui um sortudo em poder beber a Cerejinha.  Pois não acredito que as gerações depois da minha tenham conhecido um refrigerante que realmente tenha o sabor da fruta.  A Cerejinha era muito refrescante e adoçada na medida certa, diferente das bebidas similaares de hoje que são muito doces.  

Segundo diziam alguns Rio Clarenses, a Cervejaria Mãe Preta foi comprada e fechada pela Antárctica, para evitar a concorrência da Cerejinha com os refrigerantes deles, isso lá na década de 70. Nessa mesma época Rio Claro também tinha a fábrica da Cervejaria Caracú, que depois foi adquirida pela Skol. Funcionou por um bom tempo e depois fechou a unidade na cidade.

No início dos anos 2000 a antiga Schincariol lançou um refrigerante que tentou imitar o sabor da Cerejinha. Mas não conseguiu e ficou pouco tempo no mercado.

A garrafinha da Cerejinha que ficou conhecida como minissaia e foi a precursora da cerveja minissaia. Foto de Rio Claro Retrô, do Facebook

A garrafinha da Cerejinha que ficou conhecida como minissaia e foi a precursora da cerveja minissaia. Foto de Rio Claro Retrô, do Facebook

Outro refrigerante que marcou a minha infância foi a Tubaína. A primeira vez que a provei foi na casa da Tia Nica, uma simpática velhinha que foi nossa vizinha na Vila Martins, quando então moramos na Rua M-1-A, esquina da Avenida M-1-A. Aos domingos brincávamos na rua. E muitas vezes ela nos convidava par ver TV (televisão em minha casa só apareceu quando eu tinha uns 14 anos). Ela tratava minhas irmãs e eu como netos. E de vez em quando nos oferecia uma Tubaína! Era algo extraordinário – ver TV tomando um copo de Tubaína! Sempre brincávamos naquela rua de terra e cheia de casas e pessoas simples. Eram domingos ensolarados e eles ficavam ainda mais bonitos quando recebíamos um convite da Tia Nica para ver a TV.

Nas outras vezes em que tomávamos Tubaína o “evento” acontecia no sítio de meu avô, em seus aniversários. Nesses dias a mesa era farta. Tinha comidas deliciosas, pão quente saído do forno a lenha, café e bolo cheiroso. Várias coisas… Mas o que mais deixava a criançada feliz era uma tina cheia de Tubaína em meio a pedaços de barra de gelo. Eu era pequeno e minhas irmãs e primos também. Meu avô pegava as garrafas, um martelo e um prego. Fazia um furo na tampa e distribuía o refrigerante para a criançada dizendo: “olha só, maçãzinha!”. Tinha, no rótulo, um desenho de uma maçã.

Eu achava a Cerejinha e aquele refrigerante que meu avô e a Tia Nica nos serviam as bebidas mais gostosas do mundo, inigualáveis em sabor e nunca mais as esqueci. Depois que cresci e fiquei adulto, em muitos domingos fui com amigos pedalando até Ajapí. Chegávamos lá cansados, comprávamos  pão bengala, muita mortadela da Ceratti e uma Tubaína para cada um. Sentávamos na calçada em frente da mercearia do Sr. Adolpho, comíamos e bebíamos tranquilamente antes de retornar par Rio Claro. Delícia!

Algumas vezes nas minhas visitas em Rio Claro, procurei pela Tubaína. Até achei e ainda hoje ela é encontrada em algumas mercearias da periferia.  Mas não têm o mesmo gosto, a mesma doçura, aquela coisa de pureza da infância.

E você, lembra de algum sabor inesquecível de sua época de criança? Semana passada escrevi aqui sobre a Gabiroba. Outro sabor inigualável e difícil de esquecer…

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25 Comentários »

  1. que deícia a cerejinha …pena que não se encontra mais .

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    Comentário por IVONE VERONICA . — fevereiro 17, 2016 @ 20:19 | Responder

    • E nós a bebemos tão pouco, não é Ivone? Beijos

      Em quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016, A Simplicidade das Coisas —

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      Comentário por Augusto Martini — fevereiro 17, 2016 @ 21:07 | Responder

  2. Republicou isso em A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini.

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    Comentário por Augusto Martini — novembro 7, 2016 @ 20:58 | Responder

  3. Nossa!!!!! como adoraria poder saborear uma Cerejinha neste exato momento, fez parte da minha infância, anos 50/60, não sei precisar exatamente, sabor inigualável, gostei muito desta matéria e saber sua procedência, saudades daquele tempo.

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    Comentário por Beto Moreira — dezembro 12, 2016 @ 20:07 | Responder

  4. Eu adorava cerejinha…nasci em 1958 e até hoje guardo na lembrança o sabor…achava a garrafinha bojuda e pequena um charme puro!!!! Parabéns pelo blog!!!!

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    Comentário por Rita Gonçalves — janeiro 17, 2017 @ 19:43 | Responder

  5. Tem muita gente enganada por aí, pois o refrigerante cerejinha era fabricado na cidade de Valinhos interior de São Paulo, e eu hoje com 68 anos ia com meu pai passear em Valinhos quando tinha uns 5 anos de idade e tomava esse refrigerante lá. Não sei de onde saiu essa mentira dizendo que ele era fabricado em Rio Claro.

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    Comentário por Sergio Leonardo Jorge — fevereiro 4, 2017 @ 16:57 | Responder

    • Oi Sérgio.
      Eu sou testemunha viva que a havia em Rio Claro uma fábrica da Cerejinha. Pode ser que fosse uma filial de fábrica. Mas eu, juntamente com todo o grupo de alunos de minha classe fomos até a fábrica, vimos todo o processo de fabricação e tomamos a Cerejinha.
      Obrigado pela visita ao blog.
      Abraços.
      Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — fevereiro 6, 2017 @ 10:59 | Responder

  6. Sou do tempo da Cerejinha, patrocinava série de TV nos ano 68-69, quando morei em Jundiaí. Juntando tampinhas, ou rótulos nem lembro mais, ira para o sorteio de um minicarro daqueles de pedal. Um luxo, sonho de consumo. Me lembro da propaganda na TV Excelsior, devem ter até o filme em algum lugar, propaganda ainda era em V8 nem videotape existia, quase tudo era roa vivo. Saudade imensa da tubaína Ferraspari de Jundiaí, ainda fabricam, mas só vendem lá. Se vendense on line compraria até pelo Mercado Livre, pois pegar busão daqui deste fim de mundo que é SC, para ir lá comprar, não dá, né, a idade não permite mais tanta aventura. Blog adorável.

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    Comentário por liaseal — janeiro 7, 2018 @ 15:19 | Responder

    • Bom dia!
      Agradeço sua visita e comentário que fez em texto do Blog. Vou ver se consigo localizar a propaganda da TV Excelsior. Fiquei curioso em vê-la.
      Um abraço.
      Augusto

      Curtido por 1 pessoa

      Comentário por Augusto Martini — janeiro 8, 2018 @ 8:15 | Responder

      • Errata:
        1- “roa vivo” —> ”ao vivo”.
        2- ” ira” —> ia
        Talvez alguma agência de publicidade de SP tenha o filme da propaganda. Era ainda em filmes de rolo. Se não existir no Museu da Imagem e do Som só vai achar mesmo nas memórias de quem viveu aqueles tempos. Ou o fabricante deva ter algum referência, se conseguir achar registros em Juntas Comerciais ou similares da época.
        Vi que ama arquivologia e penso como deve ter ficado diante da tristeza que foi o incêndio do Museu Nacional do RJ.
        Muitos programas ao vivo não deixaram imagens gravadas, como os bons programas da antiga TV Tupi.
        Adorei o blog, seguia muito o blog ”catrevagem” que parou, nem o FB achei mais.
        Vida longa e próspera.

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        Comentário por liaseal — setembro 3, 2018 @ 12:34

      • Olá. Muitíssimo agradecido pelo retorno ao blog e novo comentário, com erratas. Sim, fiquei muito triste com essa perda irreparável e irrecuperável. Descaso e falta de verba é o que apontam. Esses prédios tombados são relegados ao esquecimento. Eles precisam sistematicamente de recursos para serem mantidos. Museus são espaços criados para lembrar passado de um povo e ajudar a pensar o seu futuro. E em nosso país, os museus, os arquivos, as instituições culturais de forma geral são tratados com descaso.

        Em seg, 3 de set de 2018 às 12:34, A Simplicidade das Coisas — Augusto

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        Comentário por Augusto Martini — setembro 3, 2018 @ 13:48

      • Olá. Muitíssimo agradecido pelo retorno ao blog e novo comentário, com erratas. Sim, fiquei muito triste com essa perda irreparável e irrecuperável. Descaso e falta de verba é o o que apontam. Esses prédios tombados são relegados ao esquecimento. Eles precisam sistematicamente de recursos para serem mantidos. Museus são espaços criados para lembrar passado de um povo e ajudar a pensar o seu futuro. E em nosso país, os museus, os arquivos, as instituições culturais de forma geral são tratados com descaso.

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        Comentário por Augusto Martini — setembro 3, 2018 @ 13:52

  7. Adorei. Nasci lá, você também?

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    Comentário por Arili — julho 22, 2018 @ 18:01 | Responder

  8. Boa noite,
    A minha familia trabalhou e morou na antiga cervejaria mae preta. O meu pai era caldereiro e meus tios trabalhavam no engarrafamento e motorista e meus avos eram caseiros na cervejaria. Inclusive a dona da cervejaria é uma pessoa maravilhosa. Minha mãe tambem trabalhou lá. Então a cerejinha além de fazer parte de minha infancia, so me traz ótimas recordaçoes, quando para toma-la era feito um furinho na tampa com prego. Ana Maria

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    Comentário por Ana Maria — abril 10, 2019 @ 22:50 | Responder

    • Bom dia Ana Maria.
      Também bebíamos refrigerantes dessa forma: fazendo um furinho na tampa! Lembranças boas, de um tempo que não volta mais!
      Obrigado pela visita ao blog.
      Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — abril 15, 2019 @ 8:32 | Responder

  9. Oi, Augusto. Me lembro muito bem da Cerejinha. Meu pai trabalhou na Mãe Preta em Rio Claro, que fabricava a Cerejinha, porém eu nasci em Piracicaba. Que sabor de infância maravilhoso relembrei com esta sua postagem. A cerejinha tinha um sabor estupendo. Não sei se porque tomávamos pouco e não enjoávamos, ou se é sabor de infância, mas de uma forma ou de outra, é uma das coisas que me faz recordar das coisas boas pelas quais passei. E me lembro de uma, que você não postou. Lá pelos idos de mil novecentos e sessenta e alguma coisa, a cerejinha dava prêmios, que vinham estampados no interior de sua tampinha. Me lembro que um dia, lá no bar da dona Olga, ao lado da Igreja São Judas Tadeu, perto da Esalq, eu ganhei uma caneta. Para mim foi como tivesse tirado a sorte grande na loteria.

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    Comentário por Peter W. Dario — outubro 11, 2019 @ 0:54 | Responder

    • Bom dia Dário. Tudo bem?Que bom que o post te trouxe boas recordações. Realmente não lembrava dos prêmios estampados nas tampinhas!Grande abraço e excelente final de semana.
      Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — outubro 11, 2019 @ 8:41 | Responder

  10. Eu morei em Rio Claro de 1970 a 1982. Tomei muito a Cerejinha, me lembro que existia a Tubaína D’abronzo.

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    Comentário por Eduardo Pereira — maio 30, 2020 @ 23:13 | Responder

    • Bom dia Eduardo! Agradeço sua visita ao blog. Infelizmente a fábrica da D’Abronzo foi desativada, ficou abandonada por muito tempo e hoje no local foi construído um conjunto habitacional. Abraços.

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      Comentário por Augusto Martini — maio 31, 2020 @ 10:25 | Responder

  11. Conheço um outro lado deste fantástico refrigerante Cerejinha.

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    Comentário por Silvio — novembro 1, 2020 @ 16:55 | Responder

  12. Eu tenho lembranças da cervejinha,uma delícia.e da Tubaína fabricada em Jundiaí que era a melhor.

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    Comentário por Solange g. — novembro 8, 2020 @ 9:19 | Responder


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