A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

setembro 4, 2015

São Paulo – vamos celebrar nossa desunião!

Perfeição

Legião Urbana

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
……..
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade.

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.

São Paulo – uma cidade de desordens, de sujeira, de desigualdades gritantes, de corre-corre, com a qual seus moradores têm relação de amor e ódio.

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É uma cidade de shoppings e a cada nova inauguração há uma espécie de celebração coletiva, o que demonstra que algo está errado, pois quando se comemora a abertura de um novo shopping como se fosse um parque público, é sinal de que a cidade está doente e anda mal das pernas, não é mesmo?

Tenho um amigo que diz que Shopping Center é coisa de lugar subdesenvolvido. E isso nada tem a ver com questão ideológica ou coisa do tipo. Ele diz isso porque para um centro de compras desse tipo dar certo, é preciso que a cidade esteja uma droga, que é exatamente o caso de São Paulo.

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O sucesso da concentração das pessoas dentro de um shopping está diretamente relacionado a uma falha de mercado. Ele cobre todos os aspectos que o Poder Público não consegue atender – resumindo: a qualidade dos espaços públicos na cidade – como a falta de segurança, limpeza urbana, harmonia etc.

Tive certeza disso na primeira vez que estive no exterior. Estava caminhando em um bairro de Buenos Aires, nosso país vizinho, olhando para os lados e percebi os motivos de naquela cidade os shoppings serem tão poucos: as ruas eram bonitas, seguras, com calçadas bem cuidadas, sem comércio ilegal, praças bem frequentadas e limpas e com um friozinho delicioso que incentiva o caminhar. Para que Shopping Center se você pode caminhar pelas ruas com segurança, vendo coisas e gente bonita?

Aqui em São Paulo acontece exatamente o contrário. As ruas são fétidas, inseguras e com as calçadas esburacadas. Isso quando elas existem! Para piorar, como o deslocamento da classe média é todo feito de carro, falta estacionamento – privado ou não – perto dos locais de compra. Na verdade o espaço público está totalmente privatizado, seja por camelôs que invadem as calçadas ou comerciantes que se acham os donos das delas e espalham mesas em espaços exíguos, ou ainda os guardadores de carros, que hoje são os verdadeiros representantes da esbórnia que se tornou São Paulo. Vá ao Ibirapuera, ou no Theatro Municipal, ou em qualquer teatro para ver! Eles cobram um absurdo para “cuidar” do carro e o riscam se o proprietário se recusa a pagar. Deus me livre ter um carro em São Paulo!

crack

Foto blogdocappacete

Moro no centro por opção e venho a pé para o trabalho e volto para casa da mesma forma. Entro e saio rezando de casa. Encontro de tudo pelo caminho – lixo espalhado pelas ruas, prédios abandonados e invadidos, pessoas jogadas pelo chão que são tratadas como se fossem lixo, praças e ruas fétidas, sujas, que cheiram a urina e fezes. A Praça da Sé é o retrato mais fiel do purgatório – ou de como ele é descrito em livros e filmes. A Praça da República cada vez mais se torna um antro de prostituição e drogas.

Por tudo isso os shoppings centers se tornam um excepcional empreendimento. É mais seguro, não há perigo de caminhar e cair em um buraco, estaciona-se com facilidade e ainda tem ar condicionado.

Engana-se quem acredita que isso é uma luta do bem contra o mal, ou ainda que isso se deva aos empreendedores milionários que neles investem. E eles podem fazer o que bem entender com o dinheiro. É deles! Investem naquilo que dá retorno, ou seja, um shopping é lucrativo pacas!

Na outra ponta há pessoas que dizem que a cidade não tem dono ou que o dono dela é o Haddad que pode mandar e desmandar. Isso não é verdade! Quem manda na cidade é qualquer um que queira. Seja ele um construtor, um camelô, um empresário, ou mesmo um flanelinha. A cidade é de todos nós. É minha, é sua, de seu vizinho, do morador de rua, enfim, todos somos responsáveis pelo que nela acontece. Nós é que não exercemos o nosso papel de cidadão!

moradores-de-rua

Foto Blog Outra Política

Mas a verdade é que são Paulo vive um clima de anarquia completa, e sim – muitas vezes patrocinada por um Poder Público inerte e por nossa culpa que votamos errado! E o prefeito está à frente de uma cidade que cresceu demasiadamente rápido e sem planejamento algum.

E a questão mais gritante é que aqui impera um grupo de empresários, donos de empreiteiras gigantescas que com visão mais imediatista apostam no estilo de vida de cidade morta a qualquer custo, pois bastaria uma boa reforma urbana em alguns bairros que o cenário mudaria por completo. E esse é o caso do nosso centro velho! Abandonado à própria sorte. O único risco está aí. Sim, há movimentos como o Viva O Centro, entre outros, que lutam há anos por melhorias. Mas são poucos fazendo por muitos!

Por outro lado, São Paulo tem uma população cujo sonho de consumo é refrescar seus traseiros em um ar-condicionado a qualquer custo. O padrão de sucesso de qualquer paulistano de hoje é morar em um prédio com um muro de 7 metros, rodeado por câmeras e seguranças. Também quer poder descer por um elevador com ar condicionado, entrar no carro e ir passear no Shopping Center. Enfim, viver uma vida dentro de uma cápsula, tendo tudo voltado para o próprio umbigo.

Para a maioria das pessoas, ter sucesso na vida nessa megalópole desvairada é comprar um apartamento na praia e vislumbrar o mar de uma esteira ergométrica, pois não se dão nem ao trabalho de caminhar no calçadão. E tenho certeza – esse fulano toma banho quente com o ar-condicionado do banheiro ligado. Duvida?

Se você puxar uma conversar com esse cidadão ele irá elevar o padrão de beleza desses centros de compras. Já outros vão dizer que se você é contra os shoppings está contra a geração de empregos. Putz! Os empregos seriam gerados da mesma forma se as lojas fossem nas ruas. E esse fenômeno vem acontecendo em quase todas as metrópoles do Brasil. Mas não acontece na Europa ou em qualquer outro lugar desenvolvido!

Assim, vivemos em meio a uma guerra – os que adoram os shoppings centers e apoiam esse tipo de empreendimento. Do outro lado os ativistas de plantão, defensores dos fracos e oprimidos camelôs e guardadores de carros, invasores de edifícios, movimentos dos sem tetos, pessoas que vivem marginalizadas nas ruas, que nada fazem por elas, mas que ajudaram na privatização da cidade. E no meio disso tudo aqueles que ainda imploram por uma cidade melhor, e mais humana, com melhor transporte coletivo, com mais bicicletas andando em segurança, com as ruas limpas, cheias de pedestres em calçadas amplas e bem cuidadas. Eu pertenço a esse terceiro grupo! E você?

Está cada vez mais difícil viver em São Paulo. Quem é que tem razão? E quem está fazendo algo para mudar essa realidade? A maioria da população joga a culpa disso tudo nas costas do prefeito, mas nem lembra em quem votou…

4 Comentários »

  1. Há quatro anos passo pela Sé e vejo todos os dias a mesma cena. Saio do metrô e subo as escadarias ao lado da catedral e atravesso a praça, em direção a Rangel Pestana, com os seus espelhos d’água, suas esculturas, o jardim e as folhagens, os prédios antigos em volta. Essa paisagem que poderia ser linda é, na verdade, feia, suja. Fedida e maltratada. Culpa de quem? Da prefeitura? E a gente nessa história? O que fazemos além de falar mal do governo seja qual for a esfera ou partido?

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    Comentário por vera helena — setembro 4, 2015 @ 15:54 | Responder

  2. Augusto,
    Concordo com todas as suas palavras. Eu também já visitei vários países e inúmeras cidades no próprio Brasil e nunca tive a “necessidade” de visitar shoppings, pois o próprio lugar já era um cartão postal por natureza. Quanto a essa divisão social, onde pessoas como os moradores são simplesmente ignorados ou “pulados” quando caídos ao chão, vejo como uma falta de controle da Administração Pública, que ao criar inúmeros pseudos benefícios sociais, que ao invés de tirar o cara da pobreza faz com que se mantenha na mesma situação, pois ao dar-lhe uma bolsa esmola sem a obrigatoriedade governamental de treiná-lo e reinseri-lo no mercado de trabalho, como quer que saia dessa situação?. Não precisa ser muito inteligente, para observar que isso é um ciclo vicioso sem fim. Além de se manter a pessoa sempre na dependência do governo, ainda serve de estímulo para que muitos deixem de praticar a caridade ao próximo, que é uma virtude natural ao povo brasileiro, Mas, uma vez “supostamente assumido” pelo governo, esse lindo gesto “deixou” de ser praticado por uma parcela razoável da população. Claro, existem inúmeros outros fatores, mas em meu ponto de vista, isso faz com que haja essa ruptura social cada vez maior.
    Porém, ontem ao socorrer a mulher que estava sendo mantida refém nas escadaria da Sé, foi exatamente um desses excluídos, que em um gesto heroico sacrificou a própria vida, para salvar de uma pessoa que sequer ele conhecia. O valor das pessoas é o que está em seu interior e não na roupa que vestem ou no carro que tem condições de ter.
    Abraços.
    André

    Curtir

    Comentário por André — setembro 5, 2015 @ 8:42 | Responder


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