Minha cidade de origem, Rio Claro, além de ter o título de “Cidade Azul”, também é conhecida como a “Cidade das Bicicletas”. A identificação de quase a totalidade das vias públicas por número, é uma peculiaridade do município.
Em função de seu relevo plano, Rio Claro é uma cidade com condições ideais para a prática do ciclismo, além do uso do transporte através de bicicletas. A cidade possui ciclovias e ciclofaixas com pouco mais de 20 km conectando bairros ao Distrito Industrial, localizado na Avenida Brasil (e que passa ao lado da casa que tenho por lá). Além dessa faixa, a principal avenida que dá acesso à cidade, Avenida Presidente Kennedy, também tem parte de sua via protegida e reservada aos adeptos desse transporte. Com população de cerca de 200 mil habitantes, possui uma das maiores frotas de bicicletas por habitante do país. É a segunda, depois de Joinville.
Desde a minha mais tenra idade lembro da presença das bicicletas em nossa casa. Sempre foram 3 ou 4. Ainda vou escrever por aqui sobre minhas aventuras pela cidade. Mas, comecei esse post porque há treze anos morando e trabalhando em São Paulo sentia falta de uma bicicleta. Acabei comprando uma Caloi de 21 marchas há três semanas, pois a cidade tem vivido uma transformação do espaço urbano com a implementação de ciclovias e ciclofaixas no município. E a ciclofaixa instalada em frente a minha casa, na Avenida Dr. Vieira de Carvalho, me instigou a sair pedalando.
Aqui cabe destacar a diferença entre as ciclovias e ciclofaixas. Nas ciclovias há um espaço para fluxo de bicicletas com uma separação física que isola os ciclistas dos demais veículos, com grade, blocos, concreto, entre outros. Um exemplo prático é a ciclovia que foi inaugurada no dia 28, na Avenida Paulista.
Já as ciclofaixas são quando não há separação física de qualquer tipo, apenas uma faixa pintada no chão, que serve para dar mais segurança ao ciclista. Em Moema (Zona Sul), há ciclofaixas, por exemplo. E a da frente de minha casa, na Vieira de Carvalho é outro exemplo.
Tanto as ciclovias quanto as ciclofaixas são vermelhas devido a um padrão de cor adotado mundialmente. Há, ainda, as ciclorrotas, que são caminhos sinalizados para ajudar no deslocamento dos ciclistas, e as ciclofaixas de lazer, que são ciclofaixas temporárias, operadas por agentes de trânsito em determinados momentos, como finais de semana e feriados (como as instaladas pelo Bradesco, em São Paulo).
Meu primeiro passeio foi de mais ou menos 30 km e confesso: era um crítico do sistema implantado pelo Hadad! Mas, fique surpreso. Todo o percurso que fiz pelo centro até a Avenida Paulista, Morumbi, Higienópolis, Minhocão e retornando para meu endereço, foi tranquilo e seguro.
Abaixo, segue um texto escrito pelo Gil Alessi e publicado no El País, em que ele dá um roteiro/guia bem parecido com o que fiz no último domingo e que foi fantástico. Pegue sua bike e aproveite a dica!
Com a inauguração da ciclovia da avenida Paulista, São Paulo está perto de fechar um circuito cultural, gastronômico e de lazer sobre duas rodas. De forma simples e segura, já se pode pedalar até os principais museus, livrarias, bibliotecas, restaurantes e pontos turísticos da cidade, da Paulista até o centro da cidade, passando pela Liberdade e Santa Cecília.
Este guia propõe um roteiro de cerca 17 quilômetros, que podem ser percorridos em pouco mais de 40 minutos, dependendo do ritmo do ciclista e da quantidade de paradas. É uma boa pedida para ciclistas iniciantes porque passa por 12 estações de metrô: se você desistir no meio do caminho, já tem rota alternativa. Não espere os últimos lançamentos de filmes nos cinemas da Paulista nem a mais recente exposição do Masp. A ideia aqui é ficar muito tempo ao ar livre, parar para boquinhas e para ver o que há de novo.
1 – Caso você não tenha uma bicicleta, o primeiro passo é conseguir uma
No entorno do começo da avenida Paulista, há várias unidades do BikeSampa, o programa de aluguel de bicicletas. Você pode alugar uma por um preço honesto: a primeira hora é de graça, horas extras saem cinco reais. O mais fácil é baixar o aplicativo (acesse o site do Bike Sampa) para ver onde e como alugar. Nos arredores da Paulista há pontos próximos, como na rua da Consolação, 2796 (sentido Jardins) e na rua Haddock Lobo, 807. As bicicletas costumam ser disputadas — cada estação tem doze delas. Então, programe-se para chegar cedo. Um dica: o ponto da rua Luis Coelho, 114, esquina com a rua Augusta, costuma ter mais oferta. Lembre-se de que elas não vem com cadeado. Se você quiser parar ao longo do passeio para comer ou visitar alguma atração, leve o seu.
2 – Na ciclovia da Paulista
A ciclovia da Paulista é ideal para ciclistas iniciantes. Além de ser plana, o sistema de semáforos é simples. Com exceção dos dois primeiros logo após a avenida da Consolação, que são específicos para a ciclovia, basta acompanhar a sinalização válida para os carros. As ilhas de concreto cinza no canteiro central são para pedestres —evite pedalar sobre elas. Se você acabou de alugar uma bicicleta e bateu aquela preguiça, uma boa opção é começar o passeio prendendo a magrela em um dos postes em frente ao Conjunto Nacional. Caminhe até a livraria Cultura, dentro do prédio, um marco moderno de São Paulo. Além de vender livros, o local é funciona como uma espécie de biblioteca informal. Escolha o título que quiser, sente em uma das confortáveis almofadas e leia sem ser incomodado.
3 – A Paulista popular
Um grande atrativo da Paulista — além dos seus cinemas, museus, centros culturais e shoppings — é o inesperado. Em frente ao Top Center, você pode se deparar com covers de Elvis Presley e Michael Jackson, dançando e cantando lado a lado. Mais à frente, uma sapateira feita com sacola de feira foi adaptada para receber mudas de planta e pendurada em um poste no meio da ciclovia. Se você der sorte, encontra uma banda de instrumentos de sopro tocando clássicos de Tim Maia em frente à Fiesp.
4 – Caminho para a Liberdade
Pedale rumo à Vila Mariana. Quando a avenida Paulista acabar, prepare-se para um pequeno trecho de quatro quarteirões sem ciclovia — a não ser que seja domingo, neste caso a ciclofaixa de lazer estará funcionando. Atravesse para a pista da direita e pedale em direção à rua Vergueiro. Caso não se sinta seguro, vá empurrando a bicicleta pela calçada. Entre à esquerda na rua Vergueiro e pronto: uma nova ciclofaixa. Passe pela praça e, quando acabar este trecho, atravesse e vá para a pista da direita, onde a ciclofaixa continua. Pouco depois ela muda para o canteiro central. É uma descida suave. Logo logo você irá passar ao lado do Centro Cultural São Paulo.
5 – Esqueça o macarrão instantâneo do acampamento
Alguns minutinhos de pedal e a Vergueiro muda de nome para avenida Liberdade, e logo você estará no bairro da comunidade nipônica. Caso já esteja com fome, uma boa dica é o Aska Lamen, na rua Galvão Bueno, 466. O carro chefe, como diz o nome, é o lamen (macarrão japonês). Você escolhe o tipo de caldo. A maioria dos pratos acompanha meio ovo cozido, um pedaço de lombo e outrascositas. Não se engane: a massa servida aqui em nada lembra aquele Miojo que você preparava quando acampava. É sensacional. E você ainda pode pedir um refil, porções extra de lamen grátis —a benesse só não vale às sextas e sábados. Os pratos custam em média 20 reais. Uma informação importante: o conceito aqui é chegue, peça, coma e vá embora. Como o local é muito popular entre os moradores do bairro, costuma estar cheio nos horários de pico. Espera-se que você não fique horas comendo e bebendo. Você só será conduzido para a mesa (ou balcão) depois que todos seus acompanhantes tiverem chegado. E uma vez que tiver feito o pedido, mais nenhum convidado poderá sentar e pedir. Por isso, cobre pontualidade dos amigos com quem combinar de comer lá. O local aceita cartão, e funciona de terça a domingo, das 11h às 14h e das 18h às 21h.
6 – E que tal comida tailandesa?
Ainda estamos na Liberdade, e as opções vão muito além da comida japonesa. Para os mais aventureiros, existe a comida tailandesa. Da praça do metrô Liberdade, entre à direita na rua dos Estudantes. No final do segundo quarteirão, à direita, existe um local com uma placa singela onde se lê apenas Sopa. A comunicação é difícil, os funcionários do restaurante não falam muito português e tendem a responder a todas as perguntas com “sopa”. O único prato é um saboroso caldo, servido sobre um rechaud, onde você pode cozinhar os ingredientes que pedir. A refeição custa cerca de 30 reais e é suficiente para duas pessoas com alguma fome. Por último, lembre-se: o caldo apimentado faz jus ao nome. Não aceita cartão.
7 – Cruzando o centro
Seguindo o passeio, basta seguir na ciclofaixa da avenida Liberdade e você irá sair atrás da Catedral da Sé. Este trecho exige alguma atenção, especialmente durante semana. Como é muita gente para pouco espaço, é comum os pedestres caminharem na ciclofaixa. Tenha paciência e buzine (se puder) com moderação. As atrações do centro são muitas e diversas, toda a um raio de poucos quarteirões das ciclofaixas. Centro Cultural Banco do Brasil, biblioteca Mario de Andrade, Anhangabaú, Teatro Municipal, praça Dom José Gaspar, Grandes Galerias… Basta checar no mapa das ciclovias e ver qual o melhor traçado para seu passeio. Uma galeria peculiar escondida na rua Sete de Abril é a Itapeteninga, no número 356. Lá você encontra brinquedos usados e antigos, moedas velhas, figurinhas dos tempos do Pelé entre outras relíquias. Aquele boneco do He-Man que marcou sua infância, está lá. O brinde do primeiro McLanche Feliz também.
8 – Rumo a Santa Cecília
Vá pela ciclofaixa da avenida São Luiz, vire à direita na praça da República, e vá seguindo a pista vermelha até cruzar a rua Imaculada Conceição. Aqui você pode parar para mais uma boquinha no Conceição Discos. A proposta da casa é misturar culinária com música. O restaurante tem um acervo de vinis que estão à venda – de Dave Brubeck a Pink Floyd -, e você pode escolher um para tocar enquanto come. Os pratos são simples mas saborosos: o arroz com tutano, abóbora e ovo custa 28 reais. O queijo quente com alho, banana e cebola sai por 15. E se você já estiver cansado, existe um posto da Bike Sampa em frente ao local.
9 – Queria Ter Ficado Mais
Para fazer a digestão, pedale ou caminhe com a bicicleta por um quarteirão até a banca na esquina da rua Barão de Tatuí, 275. Aqui você não vai encontrar o jornal do dia nem poderá comprar cigarro avulso. A Banca Tatuí é voltada para publicações literárias e artísticas independentes. A obra Queria Ter Ficado Mais é um conjunto de envelopes ilustrados com cartas escritas por mulheres que estão viajando pelo mundo. Custa 49 reais. O livro do ilustrador Gervásio Troche, Desenhos Invisíveis, sai por 29 reais. Daqui você pode ir de bicicleta para a Barra Funda, para a avenida Sumaré ou para o parque da Água Branca. Ainda não existe uma ciclovia que sobe da Santa Cecília para a Paulista, mas a essa altura, 17 km depois, subir de volta para o espigão da avenida estará fora de cogitação.
Manual para o ciclista iniciante
– Não ande no acostamento. Mantenha uma distância de ao menos 40 centímetros do meio fio. Assim, caso apareça um buraco na via ou se você for fechado por um motorista, terá uma área de escape. Além do mais, quanto mais próximo da calçada você ficar, mais os motoristas tentarão ultrapassá-lo, tirando finas. Ocupe um terço da faixa.
– Sinalize com a mão sempre que for ultrapassar um carro ou desviar de algum obstáculo.
– Agradeça quando algum motorista lhe der passagem. Gentileza gera gentileza.
– Evite andar colado em carros estacionados na direita. Mantenha uma distância segura para o caso de alguém abrir a porta do veículo.
– Capacete. Sempre.
Referências: Vá de Bike
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