A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

abril 22, 2015

Quero aproveitar a vida…

Ontem completei 56 anos e essa idade me deixou mais elétrico ainda, e o fato de não ter medo dela, me faz mais feliz também. Só fico preocupado em fazer coisas ridículas e também não quero me parecer como tal. É que quando fiz quarenta e oito anos estava triste, me olhei no espelho e me vi acabado.  Mas agora que fiz 56 estou muito feliz, me olhei no espelho e levei um susto! Não sei de quem é esse rosto com algumas rugas que teima em olhar para mim. Não conheço esse senhor que começa a se apresentar! Estou envelhecendo e o espelho não me desmente, mesmo porque não tenho mais tempo para perder com ele. Quero aproveitar a vida até o último minuto e em qualquer situação. Pretendo fazer tudo que eu nunca fiz, sou jovem na alma, no gestual, no vocabulário e no comportamento. Só no corpo é que não, mas isso é só um detalhe. Quero celebrar a vida com tudo que tenho direito, e que quando a morte chegar – e ainda vai demorar muito tempo! quero que ela me encontre enebriado de felicidade, para que eu possa cumprimentá-la. Ah, e antes dela chegar quero dar a minha última grande festa, onde estarão presentes todos os meus amigos.

56 anos

56 anos!

Um dia a morte vai chegar e vocês já fiquem sabendo o que quero: me vistam com uma roupa bem colorida e podem me colocar um par de óculos escuros! E um bom tanto do meu perfume preferido Fahrenheit Masculino, da Dior. E por favor – não me coloquem algodões no nariz e nem flores – junta mosquitos e eu não quero ninguém me abanando, espantando as moscas. Se quiserem, podem pintar o caixão de laranja e escrevam nele frases dos poemas de Fernando Pessoa e seus heterônimos. Quero música de fundo no velório, daquelas bem alegres. E como dizia minha avó Virgínia, quero muitos risos e que eles contagiem a todos. Depois podem me cremar e os chegados já sabem onde quero que espalhem as cinzas. Já está registrado em cartório! 

Depois saiam para comemorar! Mas, não se assustem. Vou viver muito ainda! Nada disso aqui foi escrito com tristeza. A Vida é bela! Tenho ainda muito a viver e comemorar. E, como dizia minha avó, a vida é pequena e curta. Então, tenho que ser rápido – vamos aproveitá-la!


Aniversário

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

[473]

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…

15/10/1929

13 Comentários »

  1. Amei suas palavras.Como é bom gostar do tempo que se passa em torno de nós e nos faz lembrar que é bom viver e que quando achamos ruim um dia conseguimos analizar o que de bom nos trouxe aquele momento.Parabéns !!!!!!!Tentarei se perto estiver fazer seu desejo viu? Não sei se vão me deixar fazer….

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    Comentário por Irany Soares de Araujo — abril 22, 2015 @ 18:42 | Responder

  2. Felicidades e longa vida!
    Abraço.

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    Comentário por José Horta Manzano — abril 22, 2015 @ 19:21 | Responder

  3. 🙏

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    Comentário por Vera Grellet — abril 22, 2015 @ 19:26 | Responder

  4. Hoje é um dia especial para você, hoje você comemora mais um ano de vida, mais um ano de existência e de experiências. Hoje, as luzes do céu e as bênçãos do Senhor recaem sobre você. É dia de reafirmar a sua missão, a sua fé e o seu compromisso com a vida e com o bem. FELIZ ANIVERSARIO !!!

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    Comentário por lacibrum — abril 22, 2015 @ 19:28 | Responder

  5. Olá, eu sou dono do blog http://www.feelingsofaguy.wordpress.com e sempre procuro conhecer novos conteúdos, gostei do seu blog 🙂 gostaria de te convidar a conhecer o que eu tenho a dizer também, dá uma passadinha por lá se possível, Obrigado!!

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    Comentário por feelingsofaguy — abril 22, 2015 @ 21:37 | Responder

  6. Incrível. .. bjs

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    Comentário por Ivana — abril 22, 2015 @ 23:57 | Responder

  7. Parabéns Augusto! Que voce continue a nos brindar com suas reflexões!

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    Comentário por Rosangela — abril 25, 2015 @ 22:39 | Responder

  8. Parabens Augusto, continue sempre assim, o corpo é só corpo, o que interessa é a alma generosa que voce tem! Beijos de felicidade!

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    Comentário por Filomena Signorelli — abril 29, 2015 @ 18:03 | Responder

    • Oi Filomena! Muito obrigado por suas belas palavras. Beijos. Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — abril 29, 2015 @ 18:07 | Responder

      • Não tenho habito de escrever, mas estou sempre aqui, pois adoro seus posts! beijão Augusto.

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        Comentário por Filomena Signorelli — maio 2, 2015 @ 21:48

      • Oi Filomena. Sei que você é fiel ao Simplicidade das Coisas e agradeço. Boa semana. Augusto

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        Comentário por Augusto Martini — maio 4, 2015 @ 9:29


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