Esta semana estive envolvido com memórias antigas e prazerosas, que me remeteram a cheiros e sensações. Lembranças da infância e juventude, parte delas desfrutadas no Horto Florestal da Companhia Paulista, em Rio Claro/SP.
E tudo isso porque o Arquivo do Município de Rio Claro irá lançar um livro sobre a Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade e me convidou a escrever um capítulo sobre o Herbário e o Museu do Eucalipto. Muitos aqui já sabem que Navarro de Andrade foi o tema central da minha dissertação de mestrado, pela FFLCH/USP e que depois virou livro.
Em meio aos papéis guardados durante o levantamento da minha pesquisa encontrei a cópia de uma carta de Pietro Maria Bardi, Diretor do MASP e datada de 27 de abril de 1982, enviada para Aniz Buchidid, então Chefe do Departamento Florestal, a qual transcrevo abaixo:
Prezado Senhor,
Como tive oportunidade de lhe dizer, durante a visita que fiz ao seu importante Museu, recentemente, estou preparando um volume dedicado ao tema “Madeira, do pau-brasil até a celulose”, editado pelo Banco Sudameris, na coleção “Arte e Cultura”, por mim dirigida. Para ilustrar este volume gostaria de solicitar sua licença para voltar a Rio Claro para fotografar seções de seu Museu. Com este propósito, em dia de sua conveniência, eu iria com o fotógrafo.
Fiz também a proposta de organizar no Masp, por ocasião do lançamento do referido livro, uma exposição dedicada a Edmundo Navarro de Andrade a quem o volume será dedicado, para lembrar não só o cientista mas também o quanto a Companhia produziu no campo da Botânica. A mostra seria realizada no próximo mês de novembro, na Pinacoteca do Masp, com materiais do Museu da Madeira, constituindo-se numa comunicação a respeito de uma personalidade, orgulho do Estado de São Paulo, e também do trabalho do Horto Florestal de Rio Claro.
Naturalmente, precisaríamos da sua colaboração pois, como verifiquei no último domingo, o senhor conhece perfeitamente o problema do Eucalipto, do qual Navarro de Andrade foi o introdutor no Brasil.
Esperando uma confirmação sua à proposta que ora lhe apresentamos, ao ensejo renovamos nossos sentimentos de estima e consideração.
Cordialmente,
P.M. Bardi
Diretor
O livro “A Madeira Desde o Pau – Brasil Até a Celulose” ao qual Pietro se refere na carta, foi lançado em 1982, pela Editora Raízes (31×24 cm, 130 páginas). A obra, uma publicação do Banco Sudameris, retrata as ricas perspectivas humanas da madeira ao longo da história do homem. Além de textos críticos que dissertam a relação dessa matéria com as concepções culturais humanas, ele apresenta inúmeras reproduções de árvores e de sua utilização, seja por fotos, seja por meio de desenhos; e de esculturas realizadas sobre a madeira, incluindo o processamento, reflorestamento, sua utilização no desenvolvimento de embarcações, a transformação da madeira em celulose, e a utilização da mesma nas manifestações artísticas, objetos, mobiliário, etc..
Um pouco sobre Pietro Maria Bardi
“Sim, sou um aventureiro”, foi a definição que Pietro Maria Bardi deu de si mesmo ao magnata da imprensa Assis Chateaubriand, que lhe propunha a aventura de criar um grande museu de arte em São Paulo.
Segundo de quatro irmãos, Pietro Maria Bardi nasceu numa pequena cidade no golfo de Gênova. De poucos amigos, sua vida escolar foi bastante acidentada, tendo sido reprovado quatro vezes na terceira série do ensino fundamental. Desanimado, abandonou a escola.
Ele atribuía sua inteligência a um acidente doméstico: após uma queda em que feriu a cabeça, tomou gosto pela leitura. Passou a ler tudo o que encontrava pela frente, durante a adolescência, um hábito que o acompanhou por toda a vida.
Ainda jovem, Bardi trabalhou como operário assistente no Arsenal Marítimo de sua terra e, em seguida, tornou-se aprendiz em um escritório de advocacia. Em 1917 foi convocado pelo exército italiano e partiu de sua cidade natal.
Nessa fase iniciou sua carreira jornalística, antes já esboçada em algumas colaborações a jornais como “Gazzetta di Genova” e o “Indipendente” e com a publicação, aos 16 anos, de seu primeiro livro, um ensaio sobre colonialismo.
Clique aqui e veja a entrevista de Pietro Maria Bardi no Roda Viva, da TV Cultura, em 1986.
Quando deu baixa na carreira militar, Bardi se instalou em Bérgamo e encontrou trabalho em publicações como “Giornale di Bergamo”. Mais tarde, integrou a equipe do “Popolo di Bergamo”, “Secolo”, “Corriere della Sera”, “Quadrante”, “Stile” e muitas outras.
Escrever foi uma de suas principais atividades profissionais até a morte, a maneira encontrada para manifestar seu estilo polêmico e a crítica baseada no conhecimento profundo e na vivência cotidiana da arte, da arquitetura e da política.
Em 1924, Bardi transferiu-se para Milão e casou-se com Gemma Tortarolo, com quem teve duas filhas. Lá começou como marchand e crítico de arte, com a aquisição da Galleria dell’Esame. Em 1929, tornou-se diretor da Galleria d’Arte di Roma e mudou-se para a capital italiana.
Ao levar uma exposição a Buenos Aires em 1933, na passagem pelo Brasil, pela primeira vez, conheceu a Avenida Paulista, que se tornaria, mais de uma década depois, o endereço do MASP – Museu de Arte de São Paulo, por ele organizado.
Após a Segunda Guerra Mundial, Bardi conheceu a arquiteta Lina Bo no Studio d’Arte Palma, em Roma, onde ambos trabalhavam e casou-se com ela em 1946. No mesmo ano, eles decidem vir para o Brasil, país com a perspectiva de prosperidade e cenário de uma arquitetura talentosa e promissora, ao contrário da Europa, retraída nos anos pós-guerra.
O casal alugou o porão de um navio cargueiro, o Almirante Jaceguay, e partiu de Gênova trazendo uma significativa coleção de obras de arte e peças de artesanato que deveriam ser organizadas numa série de mostras. Transportaram também a enorme biblioteca de Pietro e chegaram ao Rio de Janeiro em 17 de outubro de 1946.
Com as obras trazidas da Itália, Bardi organizou a “Exposição de pintura italiana moderna”, onde conheceu o empresário Assis Chateaubriand, que o convidou para montarem juntos um museu há muito tempo idealizado. De 1947 a 1996 Bardi criou e comandou o MASP. Paralelamente, manteve sua atividade de ensaísta, crítico, historiador, pesquisador, galerista e marchand.
Em 1992 publicou seu 50º e último livro, “História do MASP”. No mesmo ano perdeu sua esposa Lina. Em 1996, abatido, afastou-se do comando do museu.
Faleceu em 01 de outubro de 1999, de parada cardiorrespiratória minutos antes das 6h da manhã. Ele completaria 100 anos em fevereiro de 2000. Morreu em seu quarto na Casa de Vidro, residência projetada por sua mulher, Lina Bo Bardi (1914-92), e construída em 1950 no Morumbi, em São Paulo.
SERVIÇO – Para quem quiser conhecer a FEENA – Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade e o Museu do Eucalipto:
FLORESTA ESTADUAL EDMUNDO NAVARRO DE ANDRADE – FEENA
Bairro: Vila Horto Florestal
Endereço: Avenida 2 nº 572 – Centro
Telefone: (19) 3525-7036
feenarioclaro@yahoo.com.br
Ou
Fone: (19) 3524-7916
E-mail: feena@fflorestal.sp.gov.br
MUSEU DO EUCALIPTO
Endereço: Av. Navarro de Andrade, s/nº
Caixa Postal 29 – Cep: 13500.970
Agendamentos: (19) 3524-5700
Informações: 19. 3534.7706 / 3524.7916
Funcionamento:
Segunda à Sexta – 13:30 às 16:30h
Feriados e Fins de Semana das 13:30 às 16:30h
O Museu do Eucalipto foi fundado em 1916 e dividido em 16 salas, reúne o resultado de 39 anos de pesquisas de Edmundo Navarro de Andrade, fundador do então chamado Horto Florestal que passou, em 2000, a ser denominado Floresta Estadual.
ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO HORTO FLORESTAL
www.amigosdohorto.org.br
amigoshorto@bol.com.br
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