A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

fevereiro 1, 2015

Por uma melhor valorização dos (bons) Professores

Em alguns países do mundo, entrar em um curso de licenciatura, que oferecerá ao final a oportunidade para se ser professor é quase tão difícil quanto entrar nas melhores universidades do mundo. Na Finlândia, por exemplo, é assim. O candidato tem que se submeter a um exame de acesso e, se aprovado, ser avaliado numa exigente entrevista. E apenas um em cada dez candidatos consegue e, no caso dos cursos de ensino básico, a média é ainda inferior: na universidade de Helsínquia (2011-2012), candidataram-se 1789 para somente 120 vagas. Quem não conseguir entrar numa das poucas universidades que oferece o curso, fica de fora – não existe outra alternativa para ser professor. Os finlandeses só confiam nos melhores entre os melhores para preparar as gerações futuras nas suas escolas. Por isso, ser professor na Finlândia tem tão ou mais prestigio do que ser médico e, internacionalmente, o país é reconhecido pelos bons desempenhos dos seus alunos.

valorizacao

Sabemos que por aqui não é assim. Os melhores alunos do segundo grau não querem ser professores, o acesso aos cursos de licenciatura não é competitivo e, geralmente, quem frequenta esses cursos são os alunos que apenas obtiveram resultados médios ou fracos no seu desempenho escolar, com raras exceções. Ou seja, confiamos a missão de preparar os jovens do futuro àqueles que, hoje, estão entre os piores alunos da sua geração. E os resultados disso estão à vista: nas comparações internacionais o Brasil tem baixos níveis de desempenho escolar, e entre nós, tornar-se professor está longe de ser uma opção de carreira de prestígio. Mas, de novo eu digo: há exceções – em nossas escolas também temos ótimos e dedicados professores que fazem de tudo por amor a profissão. 

Volto a afirmar – é claro que nem todos os professores são ruins, porque evidentemente não é assim e nem foi isso de forma alguma que disse acima. E é óbvio que o perfil socioeconômico dos estudantes do ensino médio só é relevante na medida em que é o indicador mais fiável para prever o seu desempenho escolar, e não por qualquer tipo de discriminação social.

Eu sou professor. E tenho a certeza que qualquer professor sabe isto: em média, os seus alunos socialmente desfavorecidos têm mais dificuldades para levar os estudos adiante e, consequentemente, piores resultados. Não devia ser assim, mas é: o perfil socioeconômico tem um grande impacto nos desempenhos escolares.

Resolvi escrever sobre isso por conta do Programa de Valorização pelo Mérito, implantado pela Secretaria da Educação. É uma política inédita implantada pela Secretaria que permite que os educadores paulistas evoluam na carreira a partir de oito níveis de progressão salarial com intervalos de três anos e aumentos de 10,5% sobre o salário, o que também amplia os valores das vantagens financeiras adquiridas durante a vida funcional.

Para isso, os profissionais participam de uma prova, realizada anualmente, na qual todos os que atingirem determinadas metas de avaliação, a serem estabelecidas, conquistam a evolução na carreira. As avaliações são destinadas a professores, diretores de escola, assistentes de diretor, supervisores de ensino e coordenadores pedagógicos efetivos ou estáveis.

Além da avaliação aplicada em todas as 91 Diretorias de Ensino, são exigidos outros critérios para participar do processo, como tempo de atuação contínuo de pelo menos quatro anos no mesmo cargo e assiduidade.

Desde 2010, o Programa de Valorização pelo Mérito já promoveu 100 mil docentes de todo o Estado. Os docentes promovidos devem esperar um intervalo mínimo de três anos para concorrer em novo processo.

Os resultados do Programa tem sido sofríveis. Muitos poderão dizer que estes são professores com poucos anos de experiência e que por isso não são representativos da maioria dos professores. É verdade. Mas também é verdade que são representativos dos professores que se formaram há menos anos e que estão agora, aos poucos, entrando nos quadros da Secretaria da Educação. Isto é, são o resultado do nosso atual modelo de formação de professores que estarão nas nossas escolas durante os próximos 30 anos, educando os nossos futuros cidadãos.

É bom dizer que a qualidade de um professor deve ser definida por muito mais do que a sua capacidade de realizar uma prova, do mesmo modo que o ENEM, por exemplo, não mede todas as dimensões da aprendizagem de um aluno. Mas alguma coisa mede e alguma coisa nos diz sobre a qualidade dos professores e alunos – e nossos governantes não podem alegar ignorância para isso.

O ponto determinante para termos um bom futuro está na educação. E, no Japão, na Finlândia e muitos outros países todo mundo já percebeu isso.

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