Se você tem menos 50 anos certamento não conheceu esse tempo de escola em que se chamava o atual ensino fundamental, de primário e ginásio. Até porque não existe mais a divisão entre o primário e o ginásio. Já o atual ensino médio era chamado de científico e posteriormente ficou conhecido como 2º grau.
Os meus amigos, ex-alunos do Batista Leme devem ter coisas muito vivas na memória, como as provas impressas em mimeógrafo com letras azuis que eram distribuídas ainda com o forte cheiro de álcool e algumas até borradas.
Se como diz aquela letra de música que “recordar é viver”, vamos recordar enquanto ainda temos tempo – pois nós somos jovens de cabelos grisalhos. E quando começamos a recordar a gente nem imagina quanto cabe de saudade no peito da gente – há sempre uma saudade puxando outra. Parece mesmo que as saudades andam de mãos dadas. Ainda bem!
Somos privilegiados por resgatar as memórias do nosso tempo de Batista.

Profa. Terezinha de Jesus Pimentel Vianna (D. Zuza), ex diretora do Batista Leme. Foto de: Lilia Dietrich Bertini
Ontem estive lembrando de uma das professoras de matemática do Batista, que se chamava D. Cidinha (salvo engano). Todos tínhamos medo de sua rigidez, pois muitos ficavam de recuperação com ela. Mas, nossa grande mestra, com sua competência e rigor nos mostrou em suas aulas o quanto era importante a disciplina para nossas vidas.
E o que dizer da D. Rosalina Lemos Fernandes, professora de Francês? Com sua paixão pela França, foi um professora super tradicional, exemplar e rígida. Se não me engano, gostava de ser chamada de Madame Rosalina. Não entregava as notas após as provas, lembram? Usava a recuperação paralela, recurso inexistente naquela época, que adotava a segunda época após as provas finais para o aluno que não conseguisse média. No final do ano, os reprovados eram convidados a cantar LA MARSEILLAISE, Hino Nacional Francês – “Allons, enfants de la Patrie,/Le jour de gloire est arrivé!/Contre nous de la tyrannie/L’etendart sanglant est levé!”(…) – e jurar que iriam estudar com seriedade no próximo ano para serem aprovados.
Era uma festa quando ela procurava, durante suas aulas, pelos óculos. E eles sempre estavam pendurados no pescoço, em uma correntinha. Achávamos engraçado, mas não podíamos rir. Ela amava o idioma Francês.
Dona Rosalina ensinava com paixão. Jamais esquecerei das canções que ensinava com entusiasmo: “Au clair de la lune,/ mon ami Pierrot,/Prête-moi la plume,/ Por écrire un mot./Ma chandelle est morte,?Je n’ai plus de feu/Ouvre-moi ta porte/Pour l’amour de Dieu”. Ou, a tradicional, “Frère Jacques, Frère Jacques/Dormez-vous, dormez-vous?/Sonnez les matines, sonnez le matines/Ding, ding, dong./Ding, ding, dong”.
Em 1976 concluímos a 4ª série ginasial. Estávamos felizes. Um festa de formatura era um acontecimento importantíssimo em Rio Claro. Missa, sessão solene de formatura no Cine Teatro Variedades.
Eu não tenho dúvidas de que grande parte do que sou hoje é fruto de ter tido o privilégio de fazer parte da grande família que é o Batista Leme, onde seus professores souberam dar muito mais do que boas aulas de matemática ou português, ainda que alguns de nós, os ex-alunos tenhamos sido muito bons nisso. O que o Batista nos deu foi uma incrível lição humanista, tornando-nos cidadãos conscientes. Mostrou-nos o mundo como ele é – com toda a sua crueza e suas belezas.
Nossos mestres da época conseguiram, de forma brilhante, fazer com que nós compreendêssemos que fazemos parte de uma sociedade e que temos direitos e deveres. Nos ensinaram a sermos solidários, responsáveis, corretos. Explicaram-nos que honestidade não é virtude, mas obrigação. Incentivaram-nos a vencer e a perder, a não desistir, continuar sempre. Obrigado por tudo, caros mestres! Hoje sou Geógrafo, mestre em História Social, Especialista em Organização de Arquivos e Documentação, instrutor de Yôga… Formei-me pela Universidade São Paulo e pela UNESP de Rio Claro.
Gostaria muito de agradecer e homenagear cada um dos meus professores, mas lembro de um deles com especial cuidado, pois, com um simples gesto de carinho e poucas palavras conseguiu mudar o rumo da minha vida – o professor Ademar Catelani, de História.
Era uma época que minha família estava passando por um período ruim e quase final de ano. Um dia estava muito triste na sala de aula, pois acreditava que aquele seria o meu último ano de estudos por uma série de motivos, e parece que ele percebeu. Deixou sair todos os alunos me abraçou e disse baixinho: “nunca desista dos seus sonhos! Lembre-se sempre que nós somos do tamanho dos nossos sonhos. Se você quer, você pode, você consegue, e eu estou aqui para te ajudar”. Eu levei tão a sério aquelas palavras que nunca mais me deixei abater por nada.
É sempre bom lembrar de todos vocês, meus amigos professores e amigos de Ginásio. É sempre bom saber que vocês estão por aí.
Abraços. Com meu afeto e carinho!
Augusto
Augusto! Você escreve muito bem. Eu estou adorando ler essas memórias. Eu não me lembro da D. Cidinha, meu professor de Matemática foi o Clodoaldo na 5a e 6a, séries e depois o Gilberto. O Gilberto namorava a Lurdinha professora de Português. Outros professores de português foram a Maria Elisa (?) e o Alcídes. Eu acho que a minha professora de Francês também foi outra. Nós estudamos juntos nas 7a. e 8a. séries. Um grande abraço.
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Comentário por Lília — janeiro 8, 2015 @ 16:47 |
Oi Lilia! Obrigado!
Escreva você também um texto sobre nossa época de Batista! Sua memória é melhor que a minha!
Isso mesmo, estudamos juntos somente nas 7a. e 8a. séries!
Um grande abraço para vc!
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — janeiro 8, 2015 @ 16:51 |
A professora de matemática era a D. Lurdinha e não D. Cidinha! É a mesma citada no texto da Zezé!
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Comentário por Augusto Martini — janeiro 8, 2015 @ 23:26 |
Que delícia recordar esta época! Nossa formatura foi marcante!!! Um evento que uniu ainda mais essa turma maravilhosa!!!
Augusto você tem fotos dessa época?
Se tiver por favor entre em contato no face…cassia aspm.
Grata! Parabénsss pelo belo texto!
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Comentário por Cassia Aspm — maio 28, 2015 @ 8:59 |
Oi Cássia.
Eu devo ter uma foto da época da formatura. Vou escanear e postar no face.
Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — maio 28, 2015 @ 10:09 |
Hoje é dia 29 de abril de 2018. Estudei os 8 anos dos primeiro grau no Batista Leme, morava ali mesmo na rua 3A, Vila Alemã.Não moro mais em Rio Claro há 14 anos e,hoje, eu sonhei com a Dona Zuza e resolvi procurar referências no Google e encontrei esse texto saudoso. Tive aulas com Rosalina, Ademar. Clodoaldo, Gilberto, Alcides (falecido há pouco tempo), Também me tornei professor (Física), porém, as condições do magistério nesse país tornaram o sonho em pesadelo. Triste, mas é a verdade..
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Comentário por Eugênio Duarte de Almeida — abril 29, 2018 @ 15:51 |
Bom dia Eugênio. Muito agradecido por sua visita ao blog e pelo comentário ao texto. Também tive aulas com todos os citados. E também, como você, sou professor. Vamos pensar que esse pesadelo que vivemos melhore um dia. Um abraço. Augusto
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Comentário por Augusto Martini — maio 2, 2018 @ 10:24 |
Eu terminei o Ginásio no Batista Leme em 1968. A Zuza era a Diretora. Alguns professores: José Antonio Carlos David Chagas, Lígia Telles Costa, Rosalina Lemos de Oliveira.
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Comentário por Lourival Cristofoletti — setembro 22, 2019 @ 10:23 |
Olá Lourival.
Agradeço sua visita ao blog e comentário!
Um abraço.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — setembro 22, 2019 @ 12:18 |
A D. Rosalina foi minha professora de Francês! Todos tínhamos muito respeito por ela!
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Comentário por Augusto Martini — setembro 22, 2019 @ 12:19 |
Que lindo Augusto, que agradável lembranças de quando estudávamos no Batista, olhar para cada carinha dessas crianças lindas me fez reviver tempo de respeito e carinho pelos nossos mestres , Dona Zuza , inspetores de alunos Dona Maria, Dona Ivete, Senhor Pedro, reuníamos para lavar, concertar, pintar nossa escola nosso orgulho, o Basquete nossa paixão . Recordo de tudo, e o que todos comentaram , só sentimentos bons. Quando programarem um novo encontro avise, que eu vou . Saudades
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Comentário por Izabel Cristina Rodrigues — março 26, 2020 @ 1:58 |
Boa tarde Izabel! Saudades também de tudo isso, minha querida. Dos amigos, do Batista (sou professor nela hoje, mas já em processo de aposentadoria!).Penso que depois dessa pandemia que está deixando-nos malucos, precisamos nos reunir para celebrar a vida!Um abraço.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — março 26, 2020 @ 14:11 |
Caros, sou professora do ensino medio do ‘Batistão’ e estou adorando os comentarios de vocês!!! O aniversario de nossa querida escola está chegando e gostaria de pegar alguns depoimentos de vocês!!!!! Gostaria de incentivar nossos alunos a conhecer a historia da nossa maravilhosa escola nesse momento tão incomum. Peço que me procurem no whatsaap, poor msgs por favor! 19)99699-4532
Grata desde já
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Comentário por Caroline Lopes — agosto 10, 2021 @ 17:40 |
Olá Caroline, prazer.
Sou ex aluno e ex professor do Batista Leme. Vou tentar fazer contato com alguns ex alunos de minha época e pedirei que entrem em contato com você.
Um abraço,
Augusto
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Comentário por Augusto Jeronimo Martini — agosto 10, 2021 @ 18:16 |
Amei seus comentários! O que aprendi da língua francesa com a professora Rosalina, jamais esqueci e foi meu passaporte no exame de profissionais nesta língua. Suas aulas de literatura, no colegial eram completas e perfeitas. Uma professora rígida que ensinava com amor, uma simbiose perfeita!!!
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Comentário por Lídia — setembro 30, 2021 @ 20:09 |
Amei ler as suas lembranças da nossa querida escola, João Batista Leme! Fiz lá o Curso Clássico , 1967, 68 e 69! Sem dúvida alguma, foram os melhores anos da minha vida. Enquanto o ginásio funcionava no Marcelo Schmidt, o Clássico e o Científico funcionavam na avenida 2, rua 7 ou 8, não sei muito bem. Éramos 9 alunos na sala de aula!
Dona Rosalina era minha musa! Mas tinha também o prof Sidnei, prof Ademar, dona Lícia Pignataro e a divina Cibelle! Até minha mãe, dona Pérola, deu alas de Inglês e Latim no primeiro ano.,Momentos maravilhosos que tenho guardados no meu coração! E os amigos? Grandes amigos!!!! Silvia Regina Palma, Reinaldo Timoni e Eliete Hussni! E havia os amigos do Científico: Dolores Cecato e Toninho Gimenes! E muitos outros que vieram nos anos seguintes. E, pra fechar todo esse círculo maravilhoso da minha vida, estava lá a dona Zuza, diretora da escola, firme, rigida e competente, e a dona Maria Pita, inspetora de alunos, de uma meiguice ímpar, que nos cativava todo dia.!
Usávamos a caderneta escolar, onde dona Maria marcava diariamente a presença de cada um, e , no final do bimestre, ela marcava. nossas notas!
Foram meus colegas no 1o. Ano Clássico o Chagas e o Farid!!!!!! Eles já tinham cursado o Clássico mas vieram estudar conosco naquele ano de 1967. A presença deles foi muito enriquecedora.
Lembranças que me emocionam! Saudades! Pensando em tudo isso, estou chorando aqui!
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Comentário por Luiza Cristina Rodrigues Camargo Maganha — março 26, 2022 @ 13:29 |
Olá Luiza.
Que delicia ler o seu relato sobre o Batista Leme
Obrigado 🙏
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Comentário por Augusto Jeronimo Martini — março 26, 2022 @ 18:50 |