Eu gosto de conversar com desconhecidos e pessoas de aparência simples. Aqui perto do meu trabalho, na Sé, em São Paulo, está a Praça da Sé e mais perto ainda a Praça Clóvis Ribeiro, que fica na entrada do Poupatempo. Como podem ver, eu contrario aquilo que minha mãe e a mãe de vocês ensinou: “não fale com estranhos!”
Hoje, depois que almocei, sentei em uma mureta da Praça Clóvis e “puxei conversa” com dois garis. Disseram-me que são contratados de uma das empresas que presta serviços para a prefeitura. Não perguntei os nomes, mas descobri que eles trabalham em dupla. Um varre e o outro recolhe! E sempre trabalham perto um do outro – é norma da firma. Trabalham seis horas por dia e seis dias por semana. Há também os plantões em domingos e feriados.
A empresa fornece os uniformes (capas de chuva também). Perguntei quanto é o salário deles. Em torno de R$ 1000 mensais. Disseram que tem empresa que paga muito menos.
Fiquei sabendo que há fiscais da empresa, que passam de vez em quando e que são rígidos e conferem desde a eficiência da varrição, a conformidade do uniforme e até a mencionada distância entre as duplas.
Eles me dizem que se preocupam com os acidentes que possam sofrer – “existe canteiro no meio da avenida, como essa aí (a Rangel Pestana) e é pior porque vem carro dos dois lados”. Segundo eles, atropelamentos não são raros. Quando um acidente acontece com um deles – e esse é um dos motivos de trabalharem em duplas – o outro tem de avisar imediatamente à empresa.
Perguntei qual é o tipo de lixo que recolhem: “folhas, papéis, bitucas de cigarros e garrafas plásticas, basicamente. E o ruim é fazer essa varrição quando chove”. Disseram que ficam zangados quando colocam “coisas que não são deles” dentro dos carrinhos. Como sacos com cocô de cachorro, por exemplo! E um deles me disse: “o carrinho não é privada! Também não é nosso serviço recolher lixo de prédios e bares”.
Perguntei para um deles: “o que acontece quando há mais lixo a ser recolhido do que a capacidade do carrinho?” E ele respondeu: “eu retiro o saco e deixo em lugares como aquele ali, ó” – apontando para alguns sacos de lixo que pareciam estampados com pés de alface e encostados em um poste.
E minha curiosidade foi além. Perguntei se em bairros mais ricos há mais ou menos sujeira ou se o lixo é “melhor” do que em bairros mais pobres. E um deles respondeu na lata: “é tudo igual moço!” Um deles me disse que “nos bairros dos ricos” é pior de trabalhar- “tem mais árvores, mais folhas”.
Está chegando minha hora de voltar ao trabalho. E hoje, depois de dias de muita secura parece que vai chover. Faço uma última pergunta: “vocês têm de trabalhar mesmo sob chuva?” Pergunto. Um deles me diz: “se chove muito forte, paramos. Mas se é uma chuvinha fina, dessas que molha pouco, temos que trabalhar. Se o fiscal passa e nos vê parados dá rolo”.
Me despeço, agradeço pelo papo e um deles me diz: “obrigado ao senhor. As pessoas passam pela gente e fazem de conta que somos invisíveis. É difícil a gente ganhar um “Bom dia!”. E então foram-se os dois varrer mais adiante.
Como deveria ser diferente a vida, se pudéssemos ser mais humanos com os menos favorecidos na situação financeira.Nunca falta na minha boca o som de um bom dia ou um sorriso para eles,mesmo que eles não me retornem com o mesmo gesto.Mais isso me faz muito bem em fazer.Parabéns Augusto.
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Comentário por Irany Soares de Araujo — novembro 13, 2014 @ 17:13 |
Oi Laly, minha querida!
Estava sentindo a sua falta no blog!
Beijos e saudades!
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — novembro 14, 2014 @ 8:32 |
Gostei muito. Quase todas as manhãs antes de trabalhar caminho com minha cachorra do lado de fora da Unesp. Encontro muitas pessoas caminhando e faço muitas amizades interessantes. Existem pessoas muito simples e muito interessantes. Os idosos são muito carentes. Vale a pena parar e conversar um pouco com eles. E o meu dia começa bem melhor!
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Comentário por Lilia Dietrich Bertini — novembro 13, 2014 @ 17:31 |
Oi Lilia!
Foi muito bom te reencontrar pelo facebook! E estou muito feliz com a criação do grupo do Batista Leme!
Abrs.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — novembro 14, 2014 @ 8:32 |
Olá Augusto. Obrigada por compartilhar conosco a sua iniciativa. Humanizar o nosso cotidiano com certeza nos torna comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Saudações!
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Comentário por Cristiane Vaz — novembro 13, 2014 @ 17:48 |
Bom dia Cristiane!
Espero que esteja bem!
Agradeço seu comentário.
Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — novembro 14, 2014 @ 8:31 |
Olá, eu tb gosto muito de sorri para aqueles que parecem ser esquecido de todos. É muito bom quando alguém sorri para mim então eu faço o mesmo, sorrio e se possível faço um elogio, falo do tempo, de filhos, marido do trabalho, qualquer assunto com frases ou um questionamento e junto, um sorriso.
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Comentário por Beth — novembro 14, 2014 @ 0:24 |
Bom dia Beth.
Fiquei muito feliz com sua visita ao blog.
Obrigado. Bom final de semana.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — novembro 14, 2014 @ 8:30 |
OI GU FALAR COM PESSOAS ESTRANHAS,OU DESCONHECIDOS É SEMPRE BOM ,PORQUE SEMPRE APRENDEMOS ALGO DE NOVO COM ELES TIRAMO SEMPRE UMA LIÇÃO NESSAS CONVERSAS TBM GOSTO QUANDO VOU AO POSTO DE SAÚDE DE ME SENTAR PERTO DE ALGUMA IDOSA ,SEMPRE PUXO CONVERSA, E APRE DO MUITA COISA BOA. BJSS
I
I
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Comentário por TEREZA — novembro 17, 2014 @ 13:19 |
Oi Te!
Saudades de vocês.
Bjs.
Gu
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Comentário por Augusto Martini — novembro 17, 2014 @ 17:32 |