A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

setembro 16, 2014

Um filme que mostra alternativas para a Educação: “Quando sinto que já sei”

Autonomia, liberdade. Simplesmente saber e não precisar provar isso a ninguém – sem testes, provas, avaliações formais. A frase Quando sinto que já sei trazem essa reflexão, e não é por acaso que foi escolhida para dar nome ao documentário realizado pela Despertar Filmes. O filme mostra 10 iniciativas alternativas ao sistema convencional de ensino e tem um objetivo claro: mostrar que é possível fazer diferente na educação.

A equipe visitou projetos em sete cidades brasileiras, escolhidos especialmente pelo critério de serem distintos entre eles – o que, nesse caso, é um ponto em comum. Todos têm por princípio o respeito pela individualidade de cada aluno e pelo contexto social em que se inserem, por isso, acabam funcionando de forma única. Para Raul Perez, um dos diretores de Quando sinto que já sei, autonomia e afetividade são as principais semelhanças entre as escolas visitadas, e isso significa entender o aluno como indivíduo e não “como um produto na linha de produção em série, como ocorre nas instituições convencionais”.

A opressão do ambiente escolar tradicional foi o que mais incomodou o jornalista de 23 anos, e o que fez com que a vontade de mostrar que a aprendizagem é possível de outra forma se transformasse em documentário. “O ensino que temos hoje forma especialistas. Você fecha portas e cria cursos para a criatividade acontecer. Isso, de certa forma, é cruel. Se a pessoa tem muitas potencialidades, deve poder desenvolvê-las com liberdade”, argumenta.

Cada um dos projetos funciona de maneira única, respeitando a autonomia do aluno. Durante o ensino fundamental, Perez frequentou pelo menos cinco escolas públicas de São Paulo – filho de pais separados estudava ora perto da casa de um, ora da de outro. No ensino médio, foi para uma escola técnica em São Bernardo do Campo. Depois, ingressou no curso de jornalismo da PUC-SP. Essas experiências deram ao jovem uma noção sobre como funcionava o ensino brasileiro, e já durante a faculdade, inspirado pela leitura do livro Vigiar e Punir, do filósofo francês Michel Foucault, decidiu tentar compreender esse sistema que busca a “manutenção da ordem” e passou a se dedicar ao estudo da relação entre professor e aluno, questionando por que essa relação não mudara ao longo dos séculos.

Projeto Arariba

Projeto Araribá – Ubatuba/SP

Achou que talvez na Universidade de Coimbra, uma das mais antigas do mundo, pudesse obter algumas respostas, e foi a Portugal para um intercâmbio de seis meses. Na Europa, seu caminho se cruzou com o do amigo Antonio Lovato, que também estava na região fazendo um estudo na área, sobre escolas democráticas. Se encontraram e decidiram unir as duas pesquisas e desenvolver um projeto juntos, o que culminou na produção de Quando sinto que já sei. Quando Perez voltou ao Brasil, no início de 2011, ele e Lovato começaram a procurar modelos alternativos de ensino no País, como os que haviam conhecido durante a viagem. A partir de algumas iniciativas com que já tinham contato e das muitas indicações do educador José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, no distrito português de Porto, selecionaram os projetos que seriam incluídos no filme.

No ano seguinte, começaram a gravar, com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça – tinham apenas os próprios recursos para desenvolver o projeto. Para a fase de finalização do filme, em abril de 2013 cadastraram o documentário em um site de financiamento coletivo. Na última semana do mesmo mês, haviam atingido apenas R$ 15 mil dos R$ 44.803 que necessitavam. Começaram, então, uma campanha intensa em busca de apoio. E conseguiram. No dia 20 de maio, chegaram a R$ 49.758. “O financiamento coletivo é mais do que conseguir dinheiro, é também um mecanismo de engajamento. As pessoas têm de comprar, concordar com a proposta”, diz Perez. Junto com o suporte financeiro, vieram notícias de projetos de todos cantos do Brasil, o que fez com que as sete iniciativas que seriam retratadas inicialmente virassem dez – e, ainda assim, muitas tiveram que ficar de fora.

A cada escola visitada, um aprendizado. Um aluno de 10 anos da Politeia, na capital paulista, queria entender a Teoria da Relatividade. Numa escola tradicional, talvez isso fosse um problema, e o estudante tivesse que aguardar alguns anos e acabasse perdendo o interesse. Lá, os educadores de todas as áreas, da matemática à literatura, se reuniram para discutir como tratar seus conteúdos a partir da teoria de Einstein. No projeto Âncora, de Cotia (SP), coordenado pelo mesmo José Pacheco da Escola da Ponte, um estudante de nove anos era fascinado por mitologia grega, e os professores foram introduzindo novos conhecimentos a partir das histórias e personagens que lhe interessavam.

“Durante as gravações, cada dia era um ‘primeiro dia de aula’. Você vê as crianças livres, bem relacionadas, e se encanta com isso”, conta Perez. Além do Âncora e da Politeia, o documentário também passa pelas instituições e projetos Casa do Zezinho (São Paulo – SP), Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima (São Paulo – SP), Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (Curvelo – MG), Gente (Rio de Janeiro – RJ), Escola Alfredo J. Monteverde – Projeto de Educação Científica da AASDAP (Natal – RN), Escola do Centro de Realização do Ser (Piracanga – BA), Escola Municipal de Ensino Fundamental Presidente Campos Salles (São Paulo – SP) e Projeto Araribá (Ubatuba – SP).

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