O projeto de lei que previa carros preferenciais para mulheres em trens e metrôs do estado de São Paulo, foi vetado pelo governador Geraldo Alckmin no último dia 11. O projeto denominado vagão rosa, como seria chamado o vagão exclusivo para as mulheres em trens e metrôs de São Paulo, foi questionado por alguns grupos que se mobilizaram para pedir o veto, que consideravam a medida segregacionista. “Desde o início não vi com bons olhos o projeto. Acho que segregar, separar, não parece ser o caminho adequado”, disse o Governador Geraldo Alckmin durante a coletiva de imprensa esta tarde no Palácio dos Bandeirantes, em nota divulgada pelo gabinete. Outras razões sustentam o veto. Segundo Alckmin, para coibir o assédio e motivar a denúncia, mais seguranças mulheres foram contratadas e há câmeras de vídeo instaladas em todas as estações e em “mais da metade dos trens”.
O projeto de lei, que foi protocolado no começo do ano passado, tinha até amanhã, dia 14 de agosto, para ser sancionado pelo Governador Geraldo Alckmin, já que foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado em 4 de julho. Caso entrasse em vigor, as empresas responsáveis pelos trens e metrô no Estado teriam 90 dias para adaptar o serviço, ainda que não estivesse definido no projeto a quantidade exata de vagões exclusivos para mulheres. “No mínimo um vagão por trem”, dizia o texto. Pelo que vejo, essa é questão vai muito mais longe – tem que acontecer uma mudança de cultura, pois as mulheres saem dos ônibus ou do metrô e continuam sofrendo assédio. Não é só nos meios de transportes que ele acontece.
Há mais ou menos quatro meses começou uma polêmica na Argentina que envolvia este assunto. Os “elogios” que muitos rapazes de lá costumam lançar às mulheres nas ruas. Enquanto em lugares como Espanha, França e outros países da Europa as cantadas de rua e “elogios” à beleza feminina de modo geral saíram da moda, nas vias públicas da Argentina são frequentes e às vezes, como aqui no Brasil, podem ser muitos grosseiras. O assunto nunca havia merecido muito debate público, mas neste ano ganhou força porque uma organização não governamental, Acción Respeto, difundiu no último mês de abril uma campanha com cartazes nas ruas e mensagens nas redes sociais. Tal campanha recebeu o nome de Semana Internacional contra o Acoso Callejero (algo como Assédio de rua). Abaixo o vídeo da campanha.
A campanha tinha como alvo as cantadas sórdidas e grosseiras que os homens soltam às argentinas quando caminham pela calçada. Vários cartazes as reproduziam: “Meteria no seu c_ até que sangre”, “Como chuparia suas t_t_s, morena”, “Que rabinho, meu amor!”, “Loira, faço tudo com você”, “Se te agarro, te faço outro filho”, “Gatinha, com essas t_t_s me saem dentes de leite novos”, “Ai, linda, com essa boquinha…”. Após cada frase, a campanha dizia: “Se te incomoda ler isso, imagina escutar”.
O prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, se meteu na discussão. Numa entrevista que deu para uma rádio disse: “No fundo, todas as mulheres gostam de cantadas. Aquelas que dizem que não, que se ofendem, não acredito nada. Porque não há nada mais lindo que te digam: ‘Que linda você é’. O comentário de Macri, terceiro nas pesquisas para as eleições presidenciais de 2015, acordou o repúdio do Instituto Nacional contra a Discriminação do Governo da peronista Cristina Fernández de Kirchner. Em outro momento ele completou sua grosseria com outras frases.
O Governo de Cristina de Kirchner condenou os dizeres do prefeito. “Repudiamos que Macri diga que uma mulher goste quando a assediam na rua. Teria que pensar o que aconteceria se isso ocorresse a sua esposa ou filha”, disse o coordenador do Instituto Nacional contra a Discriminação, Pedro Mouratian. “As mulheres se sentem inseguras, violentadas quando são assediadas na rua. Em nosso país temos leis para prevenir este tipo de violência. Não me surpreende esta nova atitude do chefe de Governo da cidade, porque para o último Dia da Mulher a campanha feita pela prefeitura se baseou em uma imagem da mulher localizada só no âmbito doméstico, estereotipada, longe do lugar real que hoje ela ocupa”, acrescentou Mouratian.
Macri acabou se arrependendo das besteiras que disse. Dias depois enviou uma mensagem pela rede social Twitter: “Uma das minhas filhas chamou minha atenção pelo tema da cantada, peço desculpas”.
O assunto lhe interessou? Saiba mais:
– mapa virtual mostrando os lugares mais perigosos para as mulheres no Brasil quando o quesito é o assédio – É preciso entrar no site e navegar pelas categorias para classificar o tipo de assédio: assédio verbal, assédio físico, ameaça, intimidação, atentado ao pudor (masturbação em público), estupro, violência doméstica e exploração sexual.
Também é possível incluir as categorias de crime como racismo, homofobia e transfobia para compartilhar sua história ou mesmo denunciar algo que tenha presenciado. Por meio do Google maps, é possível apontar exatamente onde o crime ocorreu. Além de fazer uma denúncia, também é possível consultar uma cidade brasileira e saber se ela é segura ou não para as mulheres de acordo com a quantidade de depoimentos. Os números, embora preocupantes, ficam pequenos quando se aproximam dos depoimentos que podem ser lidos no mesmo site.
Também penso que a mudança teria que acontecer na cultura, hoje em dia qualquer lugar que uma mulher vai, ela acaba sofrendo um assédio, nem que seja só uma frase ou uma palavra ofensiva.. isso é um desrespeito e está mais do que na hora de ser melhorado..
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Comentário por Tigro Transportadora — novembro 21, 2014 @ 9:23 |
Concordo com você.
Tenho visto cada vez mais as mulheres tomando atitudes quando recebem cantadas ou ofensas. Acredito que a mudança já está acontecendo.
Abraços e obrigado pela visita ao blog.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — novembro 21, 2014 @ 9:29 |
Ótimo post, Infelizmente, em qualquer lugar isso esta acontecendo e cada vez mais.. Não adianta melhorar só em uma parte e, como você mesmo disse, quando ela sair do ônibus ou do metrô ela vai continua sofrendo assédio… está na hora da cultura mudar bastante e para melhor!!!
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Comentário por Transportes de Cargas — dezembro 18, 2014 @ 13:52 |