Gosto muito de ler o jornal El País. Seus colunistas são fantásticos e há uma versão on line em português para aqueles que não dominam o Espanhol. Li ontem um texto intrigante – algo mais para a coleção das histórias de discriminação que acontecem em nosso País. Falava de um perfil criado no Twitter e que satiriza a herança escravocrata brasileira sob o codinome @aminhaempregada. A pseudo “brincadeira” toca em um assunto sério, a começar pela inclusão do pronome possessivo “minha” no codinome do perfil virtual, que demonstra um papel de posse de alguém que lhe serve. O autor, que preferiu ficar no anonimato, responde os posts preconceituosos de parte dos brasileiros, que em algum lugar de sua imaginação se acham seres superiores em relação a seus empregados.
“Minha empregada não chega, disse que tá sem ônibus, minha casa tá imunda. Vadia, vem andando!”, diz alguém, nem se importando com a greve de ônibus que deixou São Paulo com 260 km de congetionamento no último dia 20. “Minha empregada é anta, ela tava arrumando meu quarto, tocou quatro vezes o celular e ela nem para me levar e nem avisa!”, diz outra, essa sim, uma anta tuiteira. Chocante, não?
Mais chocante ainda é saber que esse tipo de comentário faz parte do cotidiano do brasileiro, mesmo depois de 126 anos da abolição da escravatura. No caso do perfil @aminhaempregada, alguém apenas decidiu reuni-los, para que pudessem ser “apreciados” em toda sua crueza. Mas, há um lado muito positivo dessa história toda. O perfil no Twitter materializa um preconceito que em sua essência é intangível e que ganha a função de espelho, onde o brasileiro pode se reconhecer como um idiota por adotar atitudes similares aos que estão sendo expostos na rede por seus comentários.
Mas, se você ler todos os comentários, verá que uma pessoa teve a coragem de desabafar. “Tomei um ótimo tapa na cara com este perfil @aminhaempregada. Sim, já falei coisas assim. Mas essa é a beleza do negócio: aprender e melhorar.” Tal comentário mostra o caminho que se pode tomar, ao enxergar o copo meio cheio em vez de meio vazio. Quanto mais detalhado o diagnóstico de uma doença, maior a chance de curá-la, não é assim que funciona? O perfil apenas joga mais uma luz nessa distorção de uma parte da sociedade brasileira, em um país de maioria negra e pobre.
Mas, sempre é bom lembrar que a vingança das empregadas domésticas já está em andamento. Muita coisa tem mudado e para melhor, para elas. Seus serviços se tornam cada dia mais caros – fazem parte de um grupo que a faixa salarial sobe mais que a inflação, em função de a procura ser maior que a oferta – e encontrar uma boa candidata chega a ser um grande esforço.
A categoria ainda não ganhou o direito a ter a indenização legal em caso de demissão, a exemplo dos demais assalariados no país, uma batalha que está parada no Congresso. Mas ela tem sindicatos organizados que fornecem orientações para esses casos.
Em tempo: em 2015 os empregados domésticos tiveram reconhecimento por parte da lei.
Veja aqui quais foram as mudanças.
Só digo uma coisa…. acho iso um verddeiro absurdo!
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Comentário por Ivana. — maio 23, 2014 @ 14:53 |
Só digo uma coisa…. acho isso um verdadeiro absurdo
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Comentário por Ivana. — maio 23, 2014 @ 14:55 |
Obrigado pela visita, Ivana. Bjs.
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Comentário por Augusto Martini — maio 23, 2014 @ 21:46 |
Não terem os mesmos direitos dos outros trabalhadores é a desigualdade brasileira, exposta, nua e crua…
Mas há tantas coisas mais importantes para discutir, como o Estatuto da Família…
Não é mesmo?!
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Comentário por Adriano Picarelli — maio 24, 2016 @ 13:05 |
Temos que caminhar muito ainda para que sejamos no mínimo um País decente! Abraços, meu amigo. Augusto
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Comentário por Augusto Martini — maio 24, 2016 @ 14:16 |