A Avenida Dr. Vieira de Carvalho, República, centro de São Paulo

O nome da avenida em que moro – Avenida Dr. Vieira de Carvalho deve-se a Joaquim José Vieira de Carvalho, que nasceu em Santos em 1842. Formou-se em Direito pela Faculdade Largo São Francisco em 1862 e também foi juiz municipal em Campinas e depois advogado. Por decreto de 19 de novembro de 1881 foi nomeado catedrático de Economia Política da Faculdade. Após a proclamação da República foi deputado à Constituinte paulista e senador estadual. Em 1886, por decreto de 17 de setembro, foi jubilado. Homenagem merecida, não é?

Mas, antes disso, esse logradouro público foi chamado de Rua do Pocinho e depois de Rua da Santa Cruz. Hoje é uma rua bem conhecida, bonita e já foi muito chique nos tempos de antanho. Ela sai da Praça da República e vai em direção ao Largo do Arouche, tem apenas duas quadras e é considerada um boulevard (uma via de trânsito larga, arborizada  e com qualidade paisagística superior). 

Pocinho foi o nome que a população deu para ela nos primórdios da cidade. Há muito tempo a região era apenas um arrabalde na cidade de São Paulo, entre o vale do Anhangabaú e o vale do Tamanduateí. Onde hoje é o Largo do Arouche existiam quintais com restos das plantações de chá do Marechal Arouche. A Rua ficou conhecida como “do Pocinho” porque ali ocorreu uma tragédia nas primeira décadas do século XIX.

Mais ou menos na metade da rua de quem vai da Praça da República para o Largo do Arouche, do lado esquerdo, aproximadamente onde fica a Doceria Dulca, havia um grande terreno e nele tinha um poço. O dono mandou fazer uma limpeza no poço, pois era dele que retirava a água que utilizava. Ele tinha um ajudante que manejava o sarilho onde a corda se enrolava e cuja ponta estava atada na cintura do poceiro. Durante a limpeza a corda se rompeu antes que ele chegasse ao fundo. Apesar de todos os esforços não foi possível salvá-lo. O poço era estreito e fundo e não conseguiram tirá-lo da água.

O dono mandou fechar o poço e a população fincou sobre ele uma cruz, em memória do poceiro. Mais tarde ali foi erguida uma pequena capela, que ficou conhecida como a Capela da Santa Cruz do Pocinho.

Depois de urbanizado o local passou a se chamar Avenida Dr. Vieira de Carvalho, transformando-se em um dos mais belos boulevards da cidade durante décadas. Como a Avenida São Luis, era uma avenida “chique” que se transformou em uma referência de gastronomia e de bom gosto. Na década de 40 recebeu a Brasserie Paulista, da família Fasano, que hoje não existe mais (atual Café Vermont). A Vieira de Carvalho também já abrigou o Almanara, de culinária árabe.

Segundo a Trud, uma imigrante Romena que até pouco tempo morava em meu prédio e que por lá viveu mais de 50 anos, a Vieira de Carvalho recebia o fino da nata da sociedade. Barões de café, fazendeiros… Seus canteiros centrais eram bem cuidados, formados por Azaléias.

Hoje ainda persistem nela o Bourbon São Paulo Business Hotel, e a Doceria Dulca, entre outros poucos comércios bons, que convivem harmoniosamente com alguns pontos decadentes e outros sendo reformados, como é o caso do Hotel. Esse boulevard deveria ser mais bem frequentado e conservado, pois é um logradouro, como toda a região, dos mais importantes da história da cidade.