Terminei o post de ontem com a frase de um amigo que diz: “Não tenho orgulho de ser brasileiro, apenas me conformo”. Penso como ele. Orgulho é algo que representa muito mais que a sorte de nascer em certa região geográfica. Sentir orgulho é ter a satisfação de sair com os amigos sem ter o medo de ser assaltado ou morto, a satisfação de ser bem atendido nos hospitais públicos, AMAs, UBSs, Prontos Socorros quando necessitado, a satisfação de ter uma educação de qualidade com professores bem pagos, a satisfação de saber que todos têm direitos iguais perante o governo e não só alguns privilegiados de “colarinho branco”, a satisfação de ser ouvido e ser respeitado. E essas satisfações é algo que o Brasil atual não dá a mim e nem à maioria da população.
O Brasileiro de verdade não quer ser o país do futebol, o país do samba, o país das praias maravilhosas, das mulheres bonitas que são apresentadas ao mundo como “mulheres de vida fácil”, ou o país da gente sorridente. Esse deveria ser o país da justiça, o país da igualdade, o país da educação, o país da paz, o país da gente feliz porque tem os seus direitos respeitados, o país da verdadeira Ordem e Progresso! A Copa do Mundo de 2014, assim como as Olimpíadas de 2016, deveriam ter grandes torcidas, mas não de times de futebol, e sim torcidas de justiça e democracia.
Por isso que também afirmo que não tenho orgulho de ser brasileiro. Tenho certeza que vou ser criticado por isso. Sintam-se a vontade. Longe de mim dizer isso porque aprovo só o que vem de fora. Não é isso! O Brasil, com suas dimensões continentais, suas lindas paisagens, é um paraíso. Posso tentar dizer o porquê, mas isso não quer dizer que posso convencer. Vamos lá!
Você liga a televisão e o que ela mostra? Entrevistas com brasileiros que estão cheios de falcatruas e reclamam da corrupção dos políticos que roubam o dinheiro dos medíocres brasileiros passivos. Você deve ter em seu convívio muitos dos seus vizinhos, conhecidos, amigos e/ou colegas de trabalho que vivem reclamando dos crimes do “colarinho branco”, que não perdem tempo em acusar e já ir dando o veredicto: são todos bandidos desonestos, que roubam o povo, que querem se dar bem à custa dos outros, blá, blá, blá, blá. Apontar o dedo todo mundo quer, mas ter o dedo apontado para si, quem se habilita? Já dizia minha mãe: “Enquanto você aponta, acusando com o dedo indicador, três outros dedos apontam para você”!
O brasileiro é malandro, pensa que é esperto, quer sempre se dar bem, e isso chega a ser de uma hipocrisia que irrita. Sempre acusa, aponta, mas não gosta de ser acusado. É um povo do tipo que acha que seus erros são extremamente justificáveis, que quando ele faz não é errado, no entanto, se outra pessoa faz exatamente o que ele fez, aí não pode, e acusa o outro de desonesto. Com essa terrível mania de ser “o espertalhão” é que o brasileiro cunhou um tipo de comportamento exclusivo da nação: o tal do “jeitinho brasileiro”.
Estou cansado de não ver qualidade no transporte público; melhora na educação pública; aumento da impunidade política daqueles que roubam milhões sem o menor esforço, enquanto o povo trabalha até a morte para conseguir alimentar a família, ainda que deficientemente; cansado de ver o salário dos políticos corruptos aumentar e o dos educadores diminuir.
O povo deveria estar fisicamente cansado de se ver enganosamente forçado a abandonar sua moradia para a construção de estádios de futebol que trarão “benefícios” apenas àqueles que podem pagar por um ingresso. Deveria estar cansado de esperar meses ou anos para ser atendido, sem o menor respeito, no chão dos corredores dos hospitais públicos; de ver dezenas de cidadãos morrerem durante assaltos todos os dias; de ver o governo gastar 11 bilhões de dólares na Copa do Mundo, 16 bilhões de dólares nas Olimpíadas (valor que deverá ser aumentado até lá), perder R$ 50 bilhões para a corrupção, pagar aos deputados e alguns cargos públicos salários de quase 30 mil reais por mês, e ainda dizer que a economia do país não permite o aumento do salário mínimo.
O “jeitinho brasileiro” também é sinônimo para métodos ilegais para a obtenção de privilégios – ou seja, a mais famosa corrupção. O brasileiro é um povo corrupto, que sente uma espécie de orgulho por fazer falcatruas e se acha “o bom” por ser tão desprezível. Mas pior do que ser assim é não se admitir assim. Além de corrupto em sua essência, muitos do povo brasileiro são hipócritas.
Esse mesmo brasileiro que chama os políticos de ladrões é o que fura a fila no banco, no teatro, nos hospitais, enfim, sempre quando encontra um conhecido numa fila. O mesmo estudante que protesta de forma violenta e desorganizada contra o aumento da tarifa do transporte público é o mesmo que não devolve o troco que recebeu a mais na padaria da esquina. O seu vizinho, que reclama dos ladrões que roubam em seu bairro, é o mesmo que não avisa a alguém que a carteira dela caiu no chão, a pega e enfia no bolso. Qual é a diferença entre esse tipo de pessoas e os de colarinho branco? Nenhuma! Ambos são corruptos e desonestos.
E o que acontece com aquele cidadão que teima em ser honesto? É logo taxado de bobo, idiota, otário.
Li uma reportagem no ano passado de alguém que achou uma pasta com dinheiro. Nela havia informações que identificava o proprietário. A pessoa que encontrou, procurou o dono e devolveu a pasta intacta. E quem achou não quis a recompensa que o cidadão ofereceu. Quase não existem mais pessoas assim, é ou não é? Pensar nisso de certa forma é angustiante, pois é verdade – existem poucas pessoas assim, que decidem fazer aquilo que elas acham certo. Pior do que existirem poucas pessoas honestas, é a forma com as desonestas as tratam ou as vêm. São vistas como idiotas ou burras.
Notícias como essas, de pessoas que são parabenizadas por atos de honestidade, deveriam gerar revolta. Isso significa que ser honesto é uma exceção numa maioria desonesta! Devolver o que não nos pertence não deveria ser pauta de um jornal impresso ou do telejornal em rede nacional. Não deveria ser assunto das pessoas nas ruas, no trabalho, no metrô, como se fosse um evento especial. Deveria ser normal. Seria normal num país onde as pessoas são honestas, desinteressadas, e que não usam de trapaças para conseguir alcançar seus objetivos. Mas, esse não é o caso do Brasil, não é?
É por isso e tantas outras coisas que não tenho orgulho de ser brasileiro. Não quero ter orgulho de fazer parte desse grande grupo de hipócritas que acusam os outros de erros que eles mesmos cometem.
Sobre as manifestações recentes? Espero que continuem e mostrem ao mundo que o povo brasileiro está cansado de colocar um sorriso falso no rosto e dizer que está feliz. Que os brasileiros tirem a máscara e lutem pela nossa real felicidade, a felicidade de viver em um país justo, saudável e seguro.
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Pingback por Orgulho de ser brasileiro? Não, obrigado! | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini | Inesagula's Blog — março 6, 2014 @ 20:21 |
Muito bom seu texto, também compartilho dessa opinião. Somos um país de quinta categoria com pretensões de 1º mundo, é triste.
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Comentário por Claudio Antonio — maio 20, 2014 @ 11:35 |
Boa tarde Claudio.
Agradeço pela visita e pelo comentário.
Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — maio 20, 2014 @ 12:12 |
A mais pura verdade! Parabens
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Comentário por nuza — junho 12, 2014 @ 19:30 |
Obrigado pela visita, Vanusa.
At.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — junho 13, 2014 @ 8:43 |
E essa gente gritando nos estádios da copa 2014 que tem orgulho de ser brasileiro… que vergonha… é um atestado de mediocridade no mínimo… da miséria moral de um povo… Essa gente tem orgulho do que????
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Comentário por Vladimir — junho 18, 2014 @ 20:50 |
Olá Vladimir.
Agradeço sua visita ao blog.
Abrs.
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Comentário por Augusto Martini — junho 20, 2014 @ 9:05 |
Perfeito seu texto!! parabéns…
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Comentário por claudio menezes — julho 8, 2014 @ 12:23 |
Agradeço sua visita ao blog, Antonio.
Abraços.
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Comentário por Augusto Martini — julho 8, 2014 @ 12:35 |
Você conseguiu escrever tudo o que eu penso. Parabéns pelo texto. Muito bom mesmo.
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Comentário por Hanna — julho 9, 2014 @ 18:03 |
otimo texto,
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Comentário por lion pedro fernandes — julho 11, 2014 @ 21:27 |
Obrigado.
Abrs.
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Comentário por Augusto Martini — julho 11, 2014 @ 23:33 |
Orgulho de ser brasileiro ? já mais!!!!!!!!!!!
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Comentário por ERIVELTON — outubro 5, 2015 @ 22:49 |
Em 2014 bylhoes com copa, agora em 2016 com olympyadas; o sálario dos politicos dobra e o minimo almenta 50reais! será que os corrupytos dormem sem tomar tranquilizane?
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Comentário por marco aurelio vicente — outubro 7, 2015 @ 13:31 |
Oi Marco.
Agradeço sua visita ao blog.
Abraços.
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Comentário por Augusto Martini — outubro 7, 2015 @ 13:43 |
maravilhoso texto pensei que era só eu que pensava assim
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Comentário por jessica — janeiro 20, 2016 @ 14:41 |
Oi Jéssica.
Agradeço sua visita ao blog.
Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — janeiro 20, 2016 @ 14:44 |
É uma pena que alguns brasileiros possam ter vergonha de ser brasileiro.Eu prefiro lutar pelo Brasil e ter orgulho de ser brasileiro,embora com toda essa vergonha que está acontecendo.Não sou de pular do barco quando o mesmo está sem rumo,ou seja,é nessa hora que conhecemos os verdadeiros patriotas e pessoas sérias.Quem quiser deixar de ser brasileiro,por sua vez,deverá renunciar de seus cargos públicos,afastarem-se da fronteira,terão seus bens confiscados ,pois são estrangeiros e ilegais no país,deverão abandonar as nossas universidades,suas terras serão desapropriadas e,por fim,deverão voltar para o seu país.Assim,passaremos a viver com os verdadeiros brasileiros.Devemos lutar para mudar o Brasil para melhor!
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Comentário por Lina Brito — julho 16, 2016 @ 14:42 |
Bom dia Lina.
Agradeço sua visita ao blog.
Nesse momento em que nossos políticos deixam nossas esperanças em frangalhos, temos mesmo é que ter fé.
Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — julho 18, 2016 @ 8:24 |
Difícil entender como os órgãos governamentais tem força para desviar tanto dinheiro e não tem como solucionar os problemas da precariedade na saúde e na educação desse país. Sinceramente, tenho nem um pouco de orgulho de ser brasileira não. Não mesmo!!
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Comentário por Sandra Freitas — março 14, 2017 @ 13:51 |
Boa tarde Sandra.
Muito agradecido pela visita ao blog.
Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — março 14, 2017 @ 13:58
Difícil entender como os órgãos governamentais tem força para desviar tanto dinheiro e não tem como solucionar os problemas da precariedade na saúde e na educação desse país. Sinceramente, tenho nem um pouco de orgulho de ser brasileira não. Não mesmo!!
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Comentário por Sandra Freitas — março 14, 2017 @ 13:48 |
Cara vc tem toda razao,mais nem sei oque dizer pq a maioria dos brasileiros n demostram indignaçao parece gados e estao sempre rindo felizes n sei do que sao ignorantes e burros me desculpe mais é oque percebo e os politicos se aproveitam dessa fragilidade,complicado neh,acho q é por isso q fico tao pra baixo pq é brochante viver nesse lugar
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Comentário por Tiago — agosto 5, 2020 @ 18:57 |
Tiago, bom dia.
Agradeço sua visita.
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Comentário por Augusto Jeronimo Martini — agosto 6, 2020 @ 9:28 |
Não tiraria nenhuma vírgula, acordei pensando nesse tema e me identifico plenamente com este texto…parabéns
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Comentário por Ricardo Costa — maio 14, 2022 @ 9:14 |