Sim, eu já tive carnavais felizes, porém não me lembro de uma Noite de Natal muito feliz em minha infância de Rio Claro.
As noites de Natal perderam a delicadeza. Não temos mais chaminés nem ceias fartas. Temos o que é popular e fora da realidade da data – muitos churrascos! Em vez do saco de presentes do Papai Noel, temos as calamidades dos shoppings centers superlotados e abertos até a madrugada para dar conta da grande correria das compras. Hoje, em Belém, onde o menino Jesus recebeu os Reis Magos, nos lugares sagrados de Jerusalém, há explosões de mísseis, e homens-bomba que matam centenas de inocentes.
Lembro que no Natal da minha infância, enquanto os sinos tocavam eu via as ceias nas casas dos vizinhos e os abraços frios e os votos de felicidades que eram trocados entre os familiares. O destino das famílias ficava evidente no Natal. Nós, os pobres se conformando com o prazer dos presentes baratos e os ricos querendo provar que seriam felizes. Papai Noel tem muitas conotações desde que foi inventado na Noruega, por causa de São Nicolau, que ajudava as pessoas carentes nos finais de ano. Papai Noel sempre foi uma imagem de perdão e carinho.
Mas, não há nada mais parecido que um Natal depois do outro. Hoje, Papai Noel vem em seu trenó desde o Polo Norte que está derretendo pelo efeito estufa que os líderes mundiais se recusam a combater. Tenho saudades da minha vida antiga que era precária, dos meus pais que já se foram, dos meus avós, da ingenuidade dos comportamentos, de um mundo com menos gente louca e ruim. E nessa época do ano as saudades chegam a latejar. Que vontade de fazer voltar àquela vida delicada que sumiu. E quando chega o Natal, tenho nostalgia dos meus natais não tão alegres e sinto ainda o gosto das rabanadas que minha mãe fazia.
E dizem que a saudade é um sentimento universal que acumulamos com o tempo. Podemos sentir de tudo que o passar dos dias fez ficar distante. Quem nunca sentiu falta de algo que já viveu? De alguém, de um momento, de um objeto? Alguns dizem sentir falta até daquilo que não vivenciaram.
Embora o sentimento seja comum a todos os povos, a palavra parece só existir na língua portuguesa. A saudade, como observou Chico Buarque, dói latejada. Ela vem, depois ameniza e, logo em seguida, volta novamente. A saudade é cíclica.
Saudade é o preço que o tempo nos cobra pelos bons momentos vividos. É bom sentir, desde que ela não seja maior do que nossa vontade de conhecer coisas novas.
Nessa época de festas, fico introspectivo. Sinto saudades de meus pais, meus avós, de quem já se foi.
Vivemos constantemente conhecendo pessoas que em algum momento, é certo, sairão de nosso convívio. Algumas saem para nunca mais voltar. É preciso ter consciência e aprender a lidar com isso.
“…a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais…”
Chico Buarque de Holanda
Linda sua reflexão. É fato que a noite de natal perdeu sua delicadeza, sinto uma forte tristeza por isso.
Um abraço boas festas.
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Comentário por Cristiane — dezembro 25, 2013 @ 11:04 |
Agradeço sua visita ao blog.
Excelente 2014 para vc e os seus, Cristiane.
Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — dezembro 25, 2013 @ 22:45 |
“A saudade é a revés do parto, a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu” C. Buarque
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Comentário por Lilia Dietrich Bertini — novembro 27, 2014 @ 22:23 |
Ah, o Chico! Como ele era bom, não é? Ainda é, mas agora desacelerou… Bjs.
Em 27 de novembro de 2014 22:23, A Simplicidade das Coisas — Augusto
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Comentário por Augusto Martini — novembro 28, 2014 @ 12:35 |
Gostei da relação do Natal com a Saudade. Obrigada por isso.
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Comentário por Ana Laura Zózimo — dezembro 1, 2016 @ 19:37 |
Bom dia Ana Laura.
Agradeço sua visita ao blog.
Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — dezembro 2, 2016 @ 9:42 |
Seu texto calou fundo no meu coração… sinto falta de tudo isso: da simplicidade, dos cheiros, mas principalmente das pessoas que já se foram… Obrigada!!
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Comentário por Morgania Gripp — dezembro 31, 2016 @ 18:05 |
Eu é que agradeço sua visita. Um ótimo 2017 para você.
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Comentário por Augusto Martini — dezembro 31, 2016 @ 18:12 |