A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

novembro 30, 2013

Florença e sua magnífica catedral – Il Doumo!

O Duomo de Florença, como o vemos hoje, é o resultado de um trabalho que se estendeu por seis séculos. E é uma das visões mais bonitas que meus olhos já viram. Foi construído sobre as ruínas da Catedral de Santa Reparata, que funcionou durante nove séculos até ser demolida completamente em 1375 e, inicialmente projetado por Arnolfo di Cambio. Entretanto, sua principal característica – a gigantesca cúpula – foi projetada por Filippo Brunelleschi depois deste ter vencido um concurso de desenho, onde concorreu com outros artistas florentinos e arquitetos, incluindo Lorenzo Ghiberti. A fachada teve de esperar até o século XIX para ser concluída. Ao longo deste tempo, várias intervenções estruturais e decorativas no exterior e interior enriqueceram o monumento.
duomo

Em 1293, durante a República Florentina, a ideia era a substituição de Santa Reparata por uma catedral ainda maior e mais magnificente, de tal forma que “a indústria e o poder do homem não pudessem inventar ou mesmo tentar nada maior ou mais belo”. O projeto foi confiado a Arnolfo em 1294, que cerimoniosamente lançou a pedra fundamental em 8 de setembro de 1296.

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Arnolfo trabalhou na construção até 1302, ano de sua morte, e embora o estilo dominante da época fosse o gótico, seu projeto foi concebido com uma grandiosidade clássica. Arnolfo só pôde trabalhar em duas capelas e na fachada, que ele teve tempo de completar e decorar só em parte. Após sua morte, Giotto di Bondone foi indicado supervisor, em 1334, e mesmo que não tivesse muito tempo de vida (morreu em 1337), decidiu concentrar suas energias na construção do campanário. Giotto foi sucedido por Andrea Pisano até 1348, quando a peste reduziu a população da cidade de 90 mil para 45 mil habitantes.
Sob a supervisão de Francesco Talenti, entre 1349 e 1359, o campanário foi concluído e preparou-se um novo projeto para o Duomo com a colaboração de Giovanni di Lapo Ghini.

imagesPlanta da catedral ao longo de sua construção

Em 1370 a construção já estava bem adiantada e Santa Reparata terminou de ser demolida em 1375. Ao mesmo tempo continuou o trabalho de revestimento externo com mármores e decoração em torno das entradas laterais, a Porta dei Canonici (sul) e a Porta della Mandorla (norte), esta coroada com um relevo da Assunção, última obra de Nanni di Banco. Ambas as portas são decoradas com esculturas de Nanni di Banco, Donatello e Jacopo dela Quercia.
As esculturas da porta Mandorla têm grande importância na história da arte porque foram feitas durante a transição entre a fase final do primeiro gótico incipiente e renascentista, com os primeiros exemplos de gosto estritamente clássica em Florença, que pouco tempo depois se tornou predominante.Contudo, o problema da cúpula ainda não fora resolvido. Brunelleschi fez seu primeiro projeto em 1402, mas o manteve em segredo.
Em 1418, a Opera del Duomo, a centenária empresa administradora dos trabalhos na Catedral, anunciou uma concorrência para erguer a cúpula. Os dois principais concorrentes eram dois ourives mestre, Lorenzo Ghiberti e Filippo Brunelleschi, que ganhou a concorrência e recebeu a missão de construir a cúpula. Entretanto, o trabalho não iniciaria senão dois anos mais tarde, continuando até 1434.
Presente no projeto original, a enorme cúpula de forma octogonal, construção a qual não tinha qualquer tipo de precedente, não tinha solução para sua execução. O suporte em timbres e armaduras de madeira, normalmente utilizado para estes fins, se tornou bastante inseguro frente ao grande peso e vão da cúpula (aproximadamente 39.5 metros) e, principalmente, bastante oneroso.
A solução foi proposta por Fillipo Brunelleschi, na qual a construção da cúpula poderia ser executada sem qualquer tipo de armadura de madeira, mas através da utilização de uma série de concêntricos e autoportantes anéis em pedras (arenito) reforçados em sua parte externa com correntes de ferro. Desta forma esses anéis protegeriam a estrutura contra esforços laterais durante a fase de construção. Considerada por muitos uma solução inviável, foi sustentada por Brunelleschi até que fosse aceita.
Estrutura da cúpula

A compreensão de Brunelleschi sobre alguns dos principais conceitos da física e da geometria ajudou a resolver este problema e a ganhar o concurso.

Seu plano para a cúpula incluía conchas no interior e no exterior, que foram mantidas em conjunto com um anel e um sistema de nervura. O projeto também empregou um padrão em ziguezague para manter os tijolos seguro apoiando-se uns aos outros durante o fechamento das paredes da cúpula, já que não existia qualquer tipo de escoramento. Brunelleschi ainda supervisionou a queima desses tijolos, já que estes eram um dos pontos chave de sua ideia.
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Detalhes do projeto de Brunelleschi – colocação dos tijolos
Detalhes do projeto de Brunelleschi – colocação dos tijolos

Junto à solução para a execução da cúpula, outras ideias, tão brilhantes e revolucionárias quanto esta, foram anunciadas por Brunelleschi. Ente elas a divisão da cúpula em duas partes. A primeira seria uma cúpula interna, espessa e em forma de concha, tendo em sua base 2 metros de espessura e em seu topo 1,5 metros. A segunda, externa, com o intuito de proteção contra o vento, a água e qualquer tipo de intempéries, menos espessa e com uma forma mais majestosa. Entre as duas cúpulas, buscando facilitar a inspeção e acerto de reparos, foi construída uma escadaria curva, hoje muito utilizada para a visitação. Essas cúpulas eram reforçadas por 24 nervuras de arenito, sendo 8 delas definindo os vértices do octógono e, as restantes, menores e inseridas na estrutura, duas a duas nos lados do octógono.

Convergindo ao pico da cúpula, com aproximadamente 90 metros de altura, as principais pilastras se encontravam circundando um seraglio (pedra principal circundada por pequenas janelas), o qual ainda suportava a oca lanterna de mármore e ainda um telhado cônico.
O grande peso da cúpula, através da rede de nervuras, era levado até a base do octógono, sendo que as 24 nervuras e as duas cúpulas recebiam o peso simultaneamente, a grande chave para a inacreditável solução.
Planta baixa e corte da Catedral

Desta forma a Catedral teve sua grandiosidade assegurada através do projeto de Brunelleschi, sem a utilização de arcobotantes, abóbadas ogivais e contrafortes, antes utilizados no período gótico, mas que deixaram de fazer parte da arquitetura renascentista.

Estas técnicas de construção são uma prática comum hoje, mas eram revolucionárias no século 15.Foi a primeira cúpula “octogonal” na história a ser construída sem uma moldura de madeira de apoio temporário: o Pantheon romano, um domo circular, foi construído em 117-128 a.C com estruturas de apoio.
A Catedral foi consagrada pelo Papa Eugênio IV em 25 de março (o Ano Novo florentino) de 1436, 140 anos depois do início da construção. Os arremates que ainda esperavam conclusão eram a lanterna da cúpula (colocada em 1461) e o revestimento externo com mármores brancos de Carrara, verdes de Prato, e vermelhos de Siena, de acordo com o projeto original de Arnolfo.
A fachada original, desenhada por Arnolfo di Cambio, só foi iniciada em meados do século XV, realizada de fato por vários artistas em uma obra coletiva, mas de toda forma só foi terminada até o terço inferior. Esta parte foi desmantelada por ordem de Francisco I de Medici entre 1587 e 1588, pois era considerada totalmente fora de moda naquela altura. O concurso que foi aberto para a criação da nova fachada acabou em um escândalo e os desenhos subsequentes que foram apresentados não foram aceitos. A fachada ficou, então, despida até o século XIX, mas as estátuas e ornamentos originais podem ser vistos no Museu Opera del Duomo e nos museus do Louvre e de Berlim.
Em 1864, Emilio de Fabris venceu um concurso para uma nova fachada, que é a que vemos hoje, um enorme e magistral trabalho de mosaico em mármores coloridos em estilo neogótico, com uma volumetria dinâmica e harmoniosa. Pronta em 1887 foi dedicada à Virgem Maria, e é ricamente adornada com estatuária de elegante e austero desenho. Em 1903 terminaram-se as monumentais portas de bronze, com várias cenas em relevos.
As seis janelas laterais, notáveis ​​por seu rendilhado delicado e ornamentos, são separadas por pilastras. Apenas as quatro janelas mais próximas do transepto admitem a luz e as outras duas são meramente ornamentais. Os clerestory – nível superior da nave das basílicas românicas e góticas, cujas paredes são vazadas com janelas – são com janelas redondas, uma característica comum em gótico italiano.
A fachada neo-gótica em mármore policromado com alternadas faixas verticais e horizontais está em perfeita harmonia com a Catedral, o Campanário de Giotto e o Batistério.
A planta do interior é basilical, com três naves, divididas por grandes arcos suportados por colunas monumentais. Tem 153 metros de comprimento por 38 metros de largura, e 90 metros no transepto. Seus arcos se elevam até 23 metros de altura, e o cume da cúpula, a 90 metros.
No interior da Catedral estão várias obras inestimáveis, não deixe de ver os afrescos do lado esquerdo, onde estão monumentos equestre do “Condottiero” de Paolo Uccello (1436) e Andrea del Castagno (1456), as lunetas de Luca della Robbia, as portas de bronze do altar e a famosa Pietà de Michelangelo. Muitas obras estão no Museu Opera del Duomo, como os coros de Luca dela Robbia e Donatello.
Não se esqueça de olhar para os belos vitrais que são os maiores em seu gênero na Itália entre os séculos XIV e XV. Com imagens de santos do Velho e Novo Testamento, foram construídos entre 1434 e 1445 por artistas como Donatello, Andrea del Castagno e Paolo Uccello. O vitral “O crucifixo” é obra de Benedetto da Maiano.
Veja também a talha do coro, de Bartolommeo Bandinelli, as portas da sacristia que são de Luca dela Robbia e as incrustações em madeira dos armários da sacristia projetados por Brunelleschi, Antonio del Pollaiuolo entre outros artistas.
Sobre a porta de entrada há um relógio colossal. Trata-se de um relógio feito por Lorenzo di Benvenuto della Volpaia, com quatro bustos de profetas (ou segundo alguns históricos trata-se dos 4 evangelistas), afrescados por Paolo Uccello no ano de 1443.
O relógio era acertado de acordo com a hora itálica, uma divisão do tempo comumente empregada na Itália até o século XVIII, que dava o por do sol como o início do dia.
Foi alterado para o horário que utilizamos somente com a chegada de Napoleão na Península Itálica. O movimento anti-horário tem haver com a meridiana vertical onde era a sombra que se movia do leste em direção a oeste.
A hora itálica funcionava mais ou menos assim: a primeira hora do dia era equivalente a primeira hora depois do pôr do sol, ou seja, no final da tarde e é por isso que ainda hoje, por volta das 18 horas é comum a se ouvir a Ave Maria, que era um Louvor a Virgem e que assinalava o fim do dia. 

A visita ao Duomo é um dos destaques de uma viagem a Florença, mas enquanto o exterior e a cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore são seus aspectos mais interessantes, o interior é em grande parte sem adornos. Aqui estão algumas características marcantes que os visitantes podem desfrutar.

 
Obras de arte: O interior do Duomo é um grande espaço e contém apenas algumas obras de arte. Entre elas estão os seus 44 vitrais, que foram concebidos por alguns artistas da Renascença, incluindo Lorenzo Ghiberti, Donatello, Uccello e Paolo. Este último também responsável pela pintura das cabeças dos profetas no relógio da catedral que está acima e a esquerda da porta de entrada. Há também um célebreafresco do poeta Dante e sua Divina Comédia, de Domenico di Michelino, na parede esquerda.
 
A Cripta: os visitantes podem visitar a cripta, que contém os restos arqueológicos da antiga catedral de Santa Reparata. Também na cripta estão os túmulos dos bispos que passaram por Florença e do arquiteto criador da cúpula, Felippo Brunelleschi.
 
O Duomo: O artista Giorgio Vasari começou a pintar o afresco no interior da cúpula em 1568, mas, depois de sua morte em 1574, Federico Zuccari assumiu o trabalho, que terminou em 1579. Este afresco do Juízo Final e outros detalhes da cúpula são melhor observados ao subi-la, o que também proporciona aos visitantes caminhar ao redor, no exterior da mesma. Os visitantes são presenteados com espetacular vista panorâmica de Florença e as colinas da Toscana. 
 
Entretanto para desfrutar desse espetáculo panorâmico do alto da cúpula, os visitantes precisam subir 463 degraus, o que requer um bom preparo. 
 
Informações para visita:
Horário
  • Segundas – Sextas: 8:30am – 07.00pm
  • Sábados: 8:30am – 5:40 pm
  • Domingos: Fechado
O Duomo de Firenze não abre:
  • 1º de Janeiro
  • 6 de Janeiro
  • Quintas, sextas e sábados de Páscoa
  • 24 de Junho
  • 15 de Agosto
  • 8 de Setembro
  • 1º de Novembro
  • 25 e 26 de Dezembro
Preço
A admissão para a catedral é gratuita.
Para visitar a cúpula  e a cripta, que inclui as ruínas arqueológicas de Santa Reparata paga-se. 
A entrada é autorizada até 40 minutos antes do horário de fechamento.
 
Localização
Piazza Duomo, no centro histórico de Florença.
 
Tours
As visitas guiadas estão disponíveis para o Duomo, a sua cúpula, , a esplanada da catedral (inclui também o dome), e Santa Reparata. Todas as visitas guiadas duram cerca de 45 minutos a uma hora.
 
Contato Duomo
Endereço: Piazza Duomo, Firenze, 50122
Tel. e Fax: (+39) 055 215380
Consulte o site acima para informações atualizadas de horários e preços antes de viajar.

Texto baseado no post do Blog Bragas Pelo Mundo http://bragaspelomundo.blogspot.com.br/2012/02/florenca-o-duomo-e-cupula-de.html . Visite também o Blog Cruzando Mundo, da mesma autora, Katia Braga.

3 Comentários »

  1. COMO PODE, AS MÃOS DO HOMEM FAZEREM COISAS TÃO LINDAS ,COMO ESSAS,E TÃO FEIAS COMO AS GUERRAS,AO MESMO TEMPO…

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    Comentário por tereza — dezembro 1, 2013 @ 19:27 | Responder

    • Oi Te. Isso é o questionamento que fica sem resposta. Bjs.

      Em 1 de dezembro de 2013 22:27, A Simplicidade das Coisas — Augusto

      Curtir

      Comentário por Augusto Martini — dezembro 1, 2013 @ 19:44 | Responder

    • As guerras e a casa da musica do Porto… A arte tem andado pelas ruas da amargura.

      Curtir

      Comentário por CondeGil — julho 10, 2015 @ 9:07 | Responder


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