No quintal de casa havia plantas milagrosas, para chás, unguentos, banhos… Sempre que alguém ficava gripado, minha mãe imediatamente preparava um xarope de guaco com mel e limão cravo (também conhecido como limão bugre) para aliviar nosso sofrimento. Era alguém ameaçar uma tosse e lá ia minha mãe preparar o xarope. Adorava observa-la cozinhar, nem tanto para aprender e sim para dar umas “beliscadas” em tudo o que ela fazia.
Também tenho saudades das visitas, em férias ou não, ao sítio de meus avós. Era costume todas as noites a família se reunir para rezar o terço após do jantar, a luz de lamparinas e depois cada um contava as coisas do dia de trabalho na roça e assim esperar o sono vir. Todos dormiam muito cedo porque levantavam de madrugada, antes do sol sair e iam para o eito. Enquanto os adultos falavam sobre suas lutas diárias, nós, crianças, brincávamos ou nos deliciávamos com estórias de assombrações que meu avô contava. Sempre tinha um bule de chá em cima do fogão de lenha, fazendo frio ou não. Ou, quando não, tinha a “garapa” que minha avó fazia – nada mais que água e açúcar cristal, que ficava fervendo em uma chaleira!
A cozinha da minha vó era ligada à despensa. Nessa despensa existiam grandes caixas de madeira ou sacos onde eram armazenados os cereais básicos (arroz, feijão, farinha de trigo, fubá), latas de gordura de porco com suas carnes fritas dentro – e essa era a única forma de conservação, pois naquele tempo não existia por lá energia elétrica, muito menos geladeira. Varais pendentes presos no teto com linguiças produzidas para o consumo ficavam à mostra e de vez em quando minha avó ia lá, com uma faca afiada e cortava alguns gomos para fritar. Também pendente do teto estavam as cestas cheias de ovos que eram para o uso diário e o excedente para a venda ou troca. Nas prateleiras, os queijos deliciosos, que eram cortados em quatro (os pequenos) e minha avó dizia – Prendi Gustinho! Mangia che ti fa benne”!
Na cozinha havia um moedor de café preso sobre um tronco de madeira que era fincado no chão, cilindro para massas também preso em madeira e fincado no chão. Na cozinha tinha uma mesa grande onde eram preparadas todas as coisas, inclusive onde eram lavados os pratos, talheres e panelas com a ajuda de duas bacias grandes – uma para lavar outra para enxaguar.
Isso tudo ainda é muito vivo em mente – lembranças dessa parte de minha vida onde a curiosidade misturava-se com a alegria de descobrir algo novo.
O fogão à lenha sempre conservava suas brasas acesas cobertas por uma camada de cinzas. Na chapa uma chaleira de ferro com água quente que sempre estava ali para uma eventual necessidade. E à volta do fogão sempre tinha gente. Se fazia frio, cada um com uma caneca de ágata na mão, com chá ou leite quente, atentos às histórias de meu avô. Muitas vezes a conversa era embalada por pães, bolos, pipocas, ou esperando uma grossa fatia de queijo tostando sobre a chapa.
Na hora de dormir íamos para o quarto, onde uma cama quentinha estava sempre arrumadinha. O colchão era de palhas de milho – no meio dele havia um buraco, onde metíamos a mão para afofar a palha. Que delícia era dormir sobre aquilo. Travesseiro de penas de galinha. E a coberta era um “edredon” confeccionado com o “algodão” das sementes de paineira.
Hoje, o que ficou foi a lembrança dos bons momentos que vivi em família e no aconchego da casa de minha vó! Momentos que me fazem sentir uma baita saudade e a consciência de que as lembranças é o que dá sentido à nossa vida e nos faz pessoas mais felizes.
Recordações como estas e tantas outras dançam deliciosamente em minha mente fazendo um carinho no meu coração.
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Isso nos deixa muito bem.Quanta coisa boa temos e não relatamos como você.Parabéns meu querido!
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Comentário por Irany — setembro 30, 2013 @ 10:51 |
Obrigado, Laly! Bjs.
Em 30 de setembro de 2013 10:51, A Simplicidade das Coisas — Augusto
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Comentário por Augusto Martini — setembro 30, 2013 @ 10:56 |
Que saudades !!!!!
Nem tinha me conhecido na foto, rsrsrsrs
bjuss Rê
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Comentário por Regiane C. Christofoletti Gouveia — setembro 30, 2013 @ 12:39 |
O tempo é célere, Rê. Bjs.
Em 30 de setembro de 2013 12:39, A Simplicidade das Coisas — Augusto
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Comentário por Augusto Martini — setembro 30, 2013 @ 12:57 |
Eramos pobres, mas ninguem passava fome.
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Comentário por Filomena Signorelli Bertoncello — setembro 30, 2013 @ 20:41 |
Oi Filomena. É verdade! E tínhamos muita garra e energia para viver! Bjs.
Em 30 de setembro de 2013 20:41, A Simplicidade das Coisas — Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 1, 2013 @ 8:28 |
Não sabia deste teu talento. Espero ler mais. bjs.
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Comentário por Adelia Araujo — setembro 30, 2013 @ 22:07 |
Oi Adélia, minha querida. Saudades de vc!
Então, divirta-se ai com as leituras. Tem muita coisa pra ver e ler no blog. Apareça!
Bjs.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 1, 2013 @ 8:28 |
No interior de São Paulo ou da Paraíba(onde nasci e vivi até os 23 anos),casa de vó é tudo igual.Minhas maiores lembranças estão sempre ligadas à cozinha,onde a comida simples e saborosa era temperada com histórias e músicas.
Adorei!
Bjos!
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Comentário por Semíramis Barbosa — outubro 1, 2013 @ 12:43 |
Que bom que gostou, Semíramis. Apareça sempre! Abrs.
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Comentário por Augusto Martini — outubro 1, 2013 @ 12:45 |
Augusto, li não só o post mas os links, e mais uma vez, foi como se me me voltassem à memória lembranças da minha própria infância;
E mais do que isso, foi quase como se estivéssemos conversando e trocando idéias e avivando lembranças.
Abraços, tude bom.
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Comentário por Simone Schmidt — outubro 1, 2013 @ 19:35 |