A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

agosto 14, 2013

“O risco que os cursos a distância representam para a Educação brasileira”

Olá!

Compartilho um artigo que saiu no Campo Grande News, do estado do Mato Grosso do Sul – “O risco que os cursos a distância representam para a Educação brasileira” e que muito contribui para a nossa reflexão sobre a Educação a Distância. A autora enfatiza a questão de como ainda não estamos preparados para essa modalidade de ensino. Será?

Compartilhei o artigo com amigos tutores. A Vera respondeu o seguinte: “Muito bom esse texto; concordo com tudo que a autora fala. Os problemas da educação básica são de formação dos professores,  não é a tecnologia que vai resolver e pode até atrapalhar. A tecnologia é um meio e dependendo do modo de usá-la pode até ser prejudicial”.

A Carla Gioclerce escreveu: “Caro Augusto, li a matéria.

Às vezes, chego a pensar que a realidade é mais simples do que parece. E, muitos de nós, não queremos enxergar. Nossos alunos não querem aprender. É com muito esforço que conseguimos fazê-los estudar. Falta disciplina, respeito e perspectivas profissionais. A meu ver, devemos manter o aluno no foco. Por quê não aprende noções básicas de matemática e português? Por quê brincam de avião de papel até o terceiro ano do ensino médio? Talvez esteja faltando o espaço social do “brincar”. E, nossos jovens amadurecem mais tarde.  Principalmente, os das classes desfavorecidas. É hora da escola mudar. Manter o antigo… agregar o novo… enfim, ter coragem de se reformular”.

Leiam! Opinem, caso queiram.

O risco que os cursos à distância representam para a educação brasileira

Por Gisela Wajskop (*)

Os resultados divulgados pelo ‘Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013´ revelam que, apesar de ter havido um aumento em 47,5% dos IDHs dos municípios nas duas últimas décadas, estes sofrem impacto dos dados educacionais. A baixa qualidade de ensino em nossas escolas levou os números para baixo.

Outro dado considerável divulgado recentemente aponta que nosso país ficou em penúltimo lugar em um ranking global de educação que comparou 40 países levando em conta notas de testes e qualidade de professores, dentre outros fatores. Em primeiro lugar está a Finlândia, seguida da Coreia do Sul e de Hong Kong.

Ao lado do Brasil, mais seis nações foram incluídas na lista dos piores sistemas de educação do mundo: Turquia, Argentina, Colômbia, Tailândia, México e Indonésia, país do sudeste asiático que figura na última posição.

Varias hipóteses têm sido levantadas sobre a situação, mas há unanimidade nacional em considerar que sem bons professores o país não mudará esse quadro. Mas o que faz o professor ser bom? Qual sua função social? Afinal, o que e como ele ensina na sala de aula? Qual a formação ideal para uma docência de qualidade?

Essas questões parecem óbvias, mas são ainda pouco claras no seio da sociedade civil. Ainda se faz muita confusão entre a figura acadêmica do professor e as ações correlatas que este cumpre associadas à assistência e ao controle social. Com tanta função, não há quem se interesse por ser professor. Agregam-se, ainda,

os baixos salários, currículos de formação inicial distantes da realidade escolar, formação em cursos de curta duração que marcam o imaginário social dessa que é de longe a profissão mais desvalorizada em nosso país.

Em caderno especial, o jornal ‘Folha de São Paulo´ apresentou amplo e detalhado panorama da situação, há muito conhecida dos especialistas e da população escolar. Aumento de matrículas em cursos de Pedagogia à distância, disciplinas altamente ideológicas em detrimento de aprendizagens de habilidades práticas e falta de articulação entre o Ensino Superior e a Escola Básica, para citar apenas os mais importantes. Muitas soluções estão ali aventadas a partir da realidade  internacional.

Vivemos atualmente a glorificação dos cursos à distância, associada às novas tecnologias, mídias e redes sociais. Olhando para os dados, porém, constata-se que se o número de vagas em cursos de Pedagogia vem subindo vertiginosamente em cursos à distância com declínio equivalente das vagas em curso presencial e o número de concluintes nos cursos à distância é significativamente menor daqueles que frequentam os cursos presenciais. Não estaria aí uma pista para a resposta do problema da qualidade de nossos professores? Há mais gente estudando em cursos à distância, mas, no final, os formandos são em número maior nos presenciais. O que estaria escondido por trás desses números?

Arrisco um caminho: nos cursos presenciais, mesmo os mais precários e ideologizantes, há uma característica própria das aprendizagens humanas que ainda não se realiza à distância, qual seja, sua dimensão coletiva, interacional e social. Assim, ainda que de forma incipiente, a função docente é aprendida presencialmente, em contraposição ao senso comum em voga, que a reduz a uma ocupação do exercício de habilidades práticas que se aprendem na solidão do contato com uma tela de computador. Os dados podem nos ajudar a compreender que a docência é, por origem e natureza, uma profissão de caráter intelectual, coletivo e social.

Mais do que aprender uma atividade prática, para ser professor é preciso aprender a exercer uma práxis social, ou uma prática transformadora, baseada na oferta e transmissão de conteúdos historicamente constituídos, mas didaticamente organizados de acordo as capacidades de aprendizagens dos diferentes estudantes. Isso significa que para tornar-se professor, os aprendizes desse ofício precisam conhecer os conteúdos culturais e científicos para apresenta-los aos seus alunos, de forma generosa, em forma de objetos culturais de mediação para suas aprendizagens. Para entender melhor vai aí um exemplo:

Como ensinar um menino de 5 anos a escrever sem tomar-lhe a mão, oferecer-lhe o olhar, a escuta atenta e sua própria escrita?

Para aprender essa competência, o aprendiz de docente, ainda que o faça por meio das mídias mais atualizadas, terá de pensar sobre sua função transformadora na relação com esse menino. E, para tal, terá de conhecer conteúdos de ordem conceituais que dialogam com suas próprias concepções, valores e, ainda mais, resultem na construção de habilidades e estratégias didáticas que permitam ao menino aprender. Com tanto conteúdo pressuposto, os aprendizes não poderão estudar sozinhos, na medida em que apenas o trabalho em equipe e a interação com os pares fornecerá material para as diferentes e possíveis soluções de ensino associadas às aprendizagens do menino.

É possível, assim, a título de provocação, que os dados acima nos revelem que, ainda que precários e teóricos, os cursos presenciais formam mais professores – a evasão é menor nos cursos presenciais – pois ensinam a carreira docente que mais se aproxima das situações humanas de aprendizagem. Isto não quer dizer – e os dados das aprendizagens infantis e das provas nacionais e internacionais revelam o contrário – que os cursos presenciais sejam bons. Penso que os dados sobre os cursos presenciais nos dão pistas de que a função docente tem uma base na interação humana necessária de ser levada em conta nos cursos de formação inicial, sejam eles presenciais ou que se utilizem de recursos tecnológicos altamente desenvolvidos.

Vale a ressalva: formar bons professores em um país em crescimento como o nosso não poderá prescindir das novas tecnologias para ganhar escala. No entanto, a escala com qualidade terá de levar em conta que bons professores são aqueles cujos resultados se devem às boas interações com seus estudantes associadas a um trabalho em equipe, que escuta e olha seres humanos em situações reais de aprendizagens.

Por isso, a aprendizagem da função docente precisa ser compreendida mais como um problema a resolver do que uma equação a solucionar. Um excelente professor necessita conhecer e exercer o relacionamento humano e todos os pressupostos afetivos, cognitivos e sociais que lhe são próprios; deve usar boas estratégias didáticas de maneira que seus alunos aprendam de verdade os conteúdos curriculares; e precisa saber organizar situações de ensino adequadas a cada idade para distribuir o conhecimento universalmente e historicamente produzido pela humanidade. Deve, enfim, saber ensinar.

Nesse momento importante em que o Brasil se encontra, em busca da solução do problema da boa docência, a construção de um currículo nacional para os cursos de pedagogia e das licenciaturas deverá supor a profissão como práxis social que deve ser aprendida em sua plenitude e em relação intrínseca com a sala de aula e os estudantes da escola básica.

(*) Gisela Wajskop é professora doutora pela FEUSP/Université Paris XIII.

http://www.campograndenews.com.br

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