A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

agosto 14, 2013

Mais algumas lembranças de minha infância e de minha vida… parte 4

Acho que foi por volta de 1966 ou 1967 (eu tinha uns 7 anos) que nos mudamos de casa pela terceira vez. Ficava na mesma Rua M-1, com a esquina da Avenida M-1. Somente a um quarteirão e meio de distância da outra. Também alugada. Era uma casa um pouco maior, com dois quartos que davam para a sala, uma cozinha e um rancho. O quintal era grande. Bem maior que o da casa anterior. Quartos e sala tinham forros de madeira. A cozinha era desprovida de forro. O piso era de tijolos e lembro-me do cheiro gostoso que emanava quando minha mãe o lavava. Dessa época consigo lembrar muita coisa. Assim, nesse post falarei de nossos vizinhos apenas.

Augusto 7

Parece estranho dizer isso – mas, esta é a única imagem que tenho de quando tinha sete anos. Possuo registros de quatro fotos anteriores de quando era criança. Depois dessa, somente quando tinha uns 16 anos.

Nossa vizinha de fundos se chamava Josefa. O marido era o Sr. Bepe (Giusepe). Tinham um filho que se chamava José. Dona Josefa era baixinha, falava muito e gostava de dançar. Pintava as unhas, usava batom, “um escândalo”, muito avançado para a época em uma periferia interiorana! Tinha um cachorro que se chamava Bidú. E dele, herdei a minha primeira cicatriz de mordidas de cachorro. Tenho umas três pelo corpo!

Ao lado da casa da Josefa morava a D. Cida, sua sobrinha Marivone e um irmão, que era o oitavo filho e nascido depois de sete mulheres. Por isso o povo dizia que se transformava em lobisomem nas luas cheias. Morríamos de medo! D. Cida era benzedeira, daquelas antigas e descendente de ciganos. Tinha um dente de ouro e olhos penetrantes. Um enorme terço era passado pelo corpo durante os benzimentos, acompanhado de alguns açoites de galhos de arruda e guiné. O ato de benzer era feito na cozinha, ao lado do fogão a lenha. Três pequenas brasas eram colocadas em um copo com água. E dali, se o carvão ficasse ou não boiando, vinha o diagnóstico. Banhos e unguentos eram “receitados”.

Mais abaixo morava uma das irmãs de Josefa. Na frente da casa de D. Cida outra irmã, que tinha um filho que se chamava Clayton, o qual se tornou amigo de infância.

Pela Rua M-1, do lado esquerdo, ficava a casa da tia Nica. Uma velhinha simpática, cujo filho morava em Jundiaí e que nos adotou como netos. Foi na casa dela que tomei refrigerante pela primeira vez. Ela guardava as garrafas sob a pia da cozinha para que a bebida ficasse fresca. Nós não tínhamos geladeira ou televisão. Tais eletrodomésticos começaram a fazer parte de nossa família somente quando eu tinha 16 anos e comecei a trabalhar. Assim e a contragosto de meu pai, era na cada da tia Nica que assistíamos Rim Tim Tim, Vigilante Rodoviário, Sílvio Santos… Sentados no chão da sala.

A próxima casa era do Sr. Alcides Barbi e D. Diva. Eles tinham dois filhos: o Kleber e o Nenê.  Depois, era a casa do Sr. João Barbi e D. Cida. Que também tinham dois filhos: João e Cristina. Em seguida, uma casa recuada e bem antiga, que pertencia a Cia. Paulista de Estradas de Ferro. Nela morava uma família enorme: “Seu” Domingos, D. Dionísia e uma penca de filhos. Um deles era o Didi, grande amigo de brincadeiras de rua. Essa família era a mais simples da rua. D. Dionísia dizia ser descendente de escravos, fumava um cachimbo de barro e muitas vezes, a contragosto de minha mãe, eu almoçava por lá. Não que minha mãe não gostasse que eu me relacionasse com eles. Pelo contrário. Conservamos essa amizade por longos anos, até mudarem de Rio Claro para Campinas. Mesmo assim, “Seu” Domingos, quando vinha a Rio Claro, passava em casa para nos visitar. A braveza de minha mãe é porque eles eram muitos e tinham tão pouco e eu fazia uma “boquinha” por lá…

Depois, vinha a casa da família do Sr. José Campinas – os mais abastados da rua. Tinham um comércio ao lado da casa, mas, não vendiam fiado, por “caderneta”, como era comum na época.

Mais duas famílias com as quais não tivemos muito contato encerrava o quarteirão e chegava-se a porteira da linha férrea na Avenida 32.

Lembro que a Maria Fumaça fazia duas viagens diárias em cada sentido e ia de Rio Claro para Cachoeirinha, passando por Ajapí, Ferraz, Corumbataí, até Analândia. O trem apitava quando passava por ali… Logo depois que nos mudamos para essa casa a linha da Maria Fumaça foi desativada. Retiraram os trilhos. Fizeram um aterramento e diziam que ali seria construída uma grande escola.  Nós, os moleques da redondeza, combinávamos campeonatos de quem fazia xixi mais longe – mijando de cima dos montes de terra, que haviam sido colocados ali para o nivelamento do solo antes do início das obras da escola (Escola Estadual Prof. João Batista Leme).

Ah, eu e meus amigos.  Íamos para a escola a pé, voltávamos devagarinho para casa, caçávamos passarinhos, corríamos atrás de carroças, atirávamos  algumas pedrinhas nas árvores… Colocávamos pedrinhas nos trilhos do trem, mas não tínhamos coragem de esperar e ver o que aconteceria. Saudades…

Continua…

2 Comentários »

  1. Augusto, sua ideia de escrever um memorial descritivo é fantástica.
    Não deixe de registrar todos os capítulos.
    Gostei muito.

    Curtir

    Comentário por Eva Rocha Torreias — agosto 14, 2013 @ 22:48 | Responder


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