Da casa que morávamos na Rua 3-A, na Vila Alemã, e dos vizinhos, tenho poucas lembranças. Lembro-me da Luiza, da Sandra, da D. Mariquinha que tinha alguns filhos com os quais brincávamos. Na casa da esquina da Avenida 38-A morava uma família de negros, amigos excelentes, mas que, em princípio me causou medo e explico por que. Vizinho da fazenda onde morávamos havia um senhor que sempre passava por ali e que se tornou figura popular em Rio Claro, o “Gibi”. Era um negro simpático que sempre carregava um saco nas costas. E, para causar medo, as mães diziam que naquele saco estavam crianças desobedientes. Como era amigo da família, sempre que passava pela Vila Alemã parava em casa para conversar com meus pais. Como era pequeno, associei a etnia com o medo. Mas, depois tudo ficou bem. Brincávamos todos juntos. Dividíamos as alegrias e tristezas.

Meus pais, em visita ao Haras Fazenda São José do Morro Grande, muitos anos depois de nossa saída. Ao fundo, a casa da colônia em que moramos
A rua era de terra. Não havia calçada em frente da casa que fosse até o meio fio – apenas umas fileiras de tijolos rentes à parede, para proteção em caso de chuva. A casa era pintada com cal amarela e pela falta de calçada, a água da chuva, ao bater no barro, tingia a parede com um barrado de vermelho. A iluminação pública era precária. Apenas dois postes no quarteirão iluminavam a rua. E as luzes eram fracas. E sempre faltava energia. Volte e meia tínhamos que usar lamparinas a querosene.
A principal diversão de meu pai e minha mãe era o rádio. Em outro post me aprofundarei um pouco mais sobre o tema. Mas, todos os dias, ao chegar do trabalho – ele era operário do DAAE – Departamento de Água e Esgoto – onde abria valetas no enxadão e picareta para a instalação de tubulação do esgoto, era o rádio que o distraía depois do jantar.
Algum tempo depois nos mudamos. Fomos morar duas ruas abaixo, na Vila Martins. Rua M-1 com as avenidas M-3 e M-5 (atual Avenida Brasil) e também em casa alugada. Era um imóvel ainda menor, e, como a outra, de frente para o meio fio, com corredor lateral e pequeno quintal nos fundos, onde meu pai cultivava uma pequena horta. Na rua detrás já estava a linha férrea da Cia. Paulista de Estradas de Ferro. Na frente da casa e logo após a rua, outra linha férrea, a da Maria Fumaça, que ligava Rio Claro com Ajapí, Ferraz e Corumbataí. Andei de Maria Fumaça apenas duas vezes, quando minha mãe me levou em um médico homeopata que morava em Corumbataí. Atualmente nenhuma das duas linhas existe. Foram desativadas. Tudo ficou muito tempo relegado ao descaso, até que foram retiradas.
Nessa casa tínhamos vizinhos fantásticos. A D. Leonil, casada com o Sr. Roberto, que era ferroviário e tinham três filhos: A Sandra, o Ronaldo e o Carlos. Hummm, ou seriam 4 filhos? Não lembro!
D. Leonil ainda vive! Pessoa carinhosa, caridosa, cuidou muitas vezes de mim e minhas irmãs quando as crises de enxaqueca assolavam minha mãe. A casa dela tinha um lindo quintal, com jabuticabeira, laranjeira, flores (dálias, rosas…). O Ronaldo, que considero ser o meu primeiro e grande amigo, tinha um velocípede com o qual percorríamos o quintal. Minhas irmãs ficaram muito amigas da Sandra e são chegadas até hoje! Dias atrás vi que Sandra se aposentou. Trabalhou anos no posto do INSS que na Rua 3, no centro, em frente ao Jardim Público de Rio Claro.
Dessa época tenho algumas lembranças que ficaram gravadas em minha memória. Tristes e alegres. Na época da Páscoa, como éramos muito pobres, minha mãe cozinhava ovos de galinha, que vinham do sítio de meu avô. Embrulhava-os em papel crepom ou junto com cascas de cebola para ficarem “coloridos”. Esse era o nosso ovo! Pois bem. Num domingo de Páscoa nos sentamos na frente da casa para comer nossos ovos. Juntaram-se a nós a Sandra e o Ronaldo, com seus ovos de chocolate. Qual foi a nossa surpresa ao ver que o ovo deles era marrom por dentro! E veja a inocência da Tereza, minha irmã: foi correndo perguntar para nossa mãe porque o nosso ovo era branco e amarelo e o deles era preto e tinha balas dentro!
Morando nessa casa, tivemos também o caso do cãozinho Pelé que pode ser lido aqui.
Do Ronaldo, meu primeiro e grande amigo, ficaram muitas saudades. Contarei o que aconteceu em maiores detalhes em outro post. Ele teve um final triste – anos depois, quando servia o exército, numa fria manhã, com muita neblina, ao voltar para casa em sua moto, bateu em um cavalo que estava solto na via pública e teve morte instantânea. Saudades…
Até o próximo post!
Lembranças…
Ai que saudades deles…
Gosto de lembrar dela assim… sorrindo…
Bjoss Gú
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Comentário por Rosana Christofoletti — agosto 13, 2013 @ 16:48 |
Oi Ro.
Apesar de ser um sorriso tímido, as vezes triste… Mas, acredito que ela foi feliz! Bjs. Gu
Em 13 de agosto de 2013 16:48, A Simplicidade das Coisas — Augusto
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Comentário por Augusto Martini — agosto 13, 2013 @ 17:00 |
Que saudades
Essa foto eu não tinha, vou aproveitar copiar e guardar com muito carinho.
Eles parecem estar felizes ….
bjuss
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Comentário por Regiane C. Christofoletti Gouveia — agosto 13, 2013 @ 17:17 |
Oi Re.
Nesse dia estavam muito felizes! Gostaram de relembrar tudo o que passaram na Fazenda São José do Morro Grande. Bjs.
Em 13 de agosto de 2013 17:17, A Simplicidade das Coisas — Augusto
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Comentário por Augusto Martini — agosto 13, 2013 @ 17:21 |
EU NÃO TENHO PALAVRAS , SOMENTE AS LAGRIMAS DE SAUDADES DESSE TEMPO MAS ADORO LER QUANDO VOCE ESCREVE !!! TE AMO MEU IRMÃO ….BJOS .
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Comentário por IVONE VERONICA MARTIN CHRISTOFOLETTI . — agosto 13, 2013 @ 20:46 |
Oi minha irmã!
E vou continuar… Hoje terminarei outro…
Bjs.
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Comentário por Augusto Martini — agosto 14, 2013 @ 8:27 |
Gu, que belas recordações! Bjs Cris
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Comentário por Cristina — agosto 14, 2013 @ 23:12 |
Oi Cris, querida.
Ando muito saudoso de tudo isso.
Bjs.
Gu
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Comentário por Augusto Martini — agosto 15, 2013 @ 8:52 |
[…] Fonte: Mais algumas lembranças de minha infância e de minha vida… parte 3 […]
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Pingback por Mais algumas lembranças de minha infância e de minha vida… parte 3 | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini — março 27, 2016 @ 12:02 |
Parabéns Augustinho pela relato sobre sua infância vivida junto à fazenda morro grande.fiquei emocionado. Eu também morei nessa fazenda e de repente a gente até se conhece . Atualmente moto em Araras e trabalho junto ao Itaú bmg consignado sendo lotado em são Paulo. Tenho 61 anos já estou aposentado mas continuo trabalhando. Quando morei na fazenda eu trabalhava tirando leite do gado. Isso foi lá pelos anos 67, 68, tinha 10 anos. Sobre o Renatinho me recordo que ele tinha se formado como veterinário. Me recordo também que É.Luiza tinha um veículo preto da marca DKW. Abracos e quando tiver uma oportunidade vamos nos encontrar.
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Comentário por Antonio Gomes DE lima — julho 29, 2016 @ 16:02 |
Boa tarde Antonio.
Não me lembro muito bem, mas penso que mudamos da fazenda por volta de 1964. Hoje tenho 57 anos. Dias atrás andei pesquisando para tentar encontrar o endereço eletrônico do Renatinho. Vi que ele continua envolvido com a criação de cavalos e que tem uma ligação com São Paulo. Mas não consegui contato. Queria ver com ele se ainda possui os negativos ou fotos da época. Essas que postei no blog são minhas únicas fotos de criança e feitas por ele.
Depois de adulto, tive o prazer de reencontrar rapidamente a Maria Luiza, mas isso já há anos.
E também há uns 6 ou 7 anos voltei até a Fazenda e Haras São José do Morro Grande para fazer umas fotos. Hoje ela pertence a um empresário de Araras. Ele estava lá e me autorizou a fazer as fotos das fachadas das casas e páteo.
Também trabalho em São Paulo atualmente.
Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — julho 29, 2016 @ 16:22 |
[…] primeiro jardim que eu lembro era o da D. Leonil Klain, uma vizinha que tivemos em Rio Claro. Eu devia ter por volta de 6 a 7 anos e o Ronaldo Klein, meu […]
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Pingback por Os jardins de minha infância | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini — dezembro 1, 2020 @ 13:56 |