Nasci no Haras e Fazenda São José do Morro Grande, distrito de Ajapí (que em Tupi Guarani significa ferir, dar em, acertar), Município de Rio Claro/SP. Não lembro de nada, ou quase nada da época em que vivi na fazenda, onde meu pai era tratorista e meu avô administrador. Mais pessoas de minha família moravam lá. Viemos morar na cidade quando eu tinha mais ou menos 5 anos. Estranho isso – não conseguir lembrar nada dessa época. Tenho uma cicatriz no indicador esquerdo (sou canhoto). Nessa fazenda havia um globo telado, uma enorme gaiola que prendia um casal de araras. Um dia, segundo dizem, estava no colo de meu avô, Primo Martini. Ele se aproximou da gaiola e num descuido, meti o dedo num dos buracos. A cicatriz ainda está em meu dedo como recordação.
O proprietário da fazenda era o Sr. Renato Mário Pires de Oliveira Dias, casado com D. Luiza e tinham três filhos: Renato, Maria Luiza e Renata. Salvo engano, eram donos de farmácia e laboratório, em São Paulo, capital. Essa fazenda abrigava também um Haras, além de produzir café.
Minha família era querida por eles. Lembro-me que um dia, já adolescente, fomos visitar a Maria Luiza em sua casa, em Rio Claro. E ela me disse: “Augustinho! Quantos banhos eu te dei!” Eu era uma espécie de “cobaia” para ela e a irmã, que com isso, queriam ficar prendadas no cuidado com crianças. Estavam preparando-as para tornarem-se mães!
Nossa primeira mudança, depois da fazenda, foi para uma usina de cana de açúcar que ficava em Santa Gertrudes/SP, e lá moramos por pouco tempo. De lá também não tenho lembranças. Minhas irmãs dizem que era um lugar inóspito. Morávamos numa choupana que tinha muitos ratos e perto dela, um lago. E nesse lago boiava um enorme tronco, o qual meus pais diziam ser um Jacaré. Botavam-nos medo para que não nos aproximássemos!
Somente depois, quando nos mudamos para Rio Claro, é que tenho lembranças da infância. Fomos morar na Rua 3-A, com as avenidas 38-A e 40-A, em uma casa geminada. De um lado nossa família, do outro, a família da tia Joana, casada com o tio Cesar. Ela, irmã de minha mãe. Ele, irmão de meu pai. Também moravam na fazenda e mudaram-se na mesma época que a gente.
Tínhamos um banquinho, que eu, Ivone e Tereza brigávamos para sentar. Um dia meu pai estressou e colocou o banquinho em cima do telhado de um rancho que ficava nos fundos. Não era uma construção muito sólida ou alta. Nós pegamos um dos bambus que sustentava o varal de roupas e começamos a operação “caça ao banco”. A Ivone tem uma cicatriz até hoje! Uma das pontas do bambu espetou-lhe a testa! Imaginem se não apanhamos!
Não recordo muito bem se a família do tio Cesar teve dificuldades em se adaptar à vida da cidade ou o que foi. Fato é que ficaram pouco tempo por ali. Voltaram a morar no campo. Foram para a Fazenda Jussara, nas redondezas de Ajapí. Era uma grande granja! Passei alguns fins de semana por lá. Existia uma colônia – uma rua de chão batido com casas dos dois lados, construídas sobre barrancos.
Minha mãe sofria de enxaquecas. Depois de “grande” é que fui saber que aquilo que todos os meses metia medo em mim e minhas irmãs – medo da perda, medo da morte! – estava ligado ao ciclo menstrual. Enquanto a tia Joana morava ao lado, nos dava suporte…
Mas, tínhamos uma vizinha, uma alma boa, chamada Luiza e sua filha Sílvia. Ela é quem nos socorria e nos fazia o almoço e jantar. Minha mãe não podia sequer levantar a cabeça do travesseiro, sentir cheiro ou ver luz por três dias. E vomitava muito! Cortávamos batatinha em rodelas para ela amarrar na testa, com um lenço. Muitas vezes não tínhamos as batatas, que eram substituídas por álcool. Luiza e Sandra continuam nossas amigas até hoje!
Nessa época, todos os meus brinquedos eram feitos com latas, caixas de fósforos vazias… Um chuchu, com quatro palitos espetados e mais algumas firulas, viravam porcos, vacas, cachorros…
Ah, e quanta capucheta de jornal eu fiz e empinei. Quando não conseguia o bambu, para as varetas das pipas, papagaios e maranhões, ou cola branca, ou trigo para fazer cola, a diversão eram as capuchetas! Jornais também serviam para fazer o “balão galinha”. Lembram-se dele?
Amanhã darei continuidade a esta seção “nostalgias”!
Abraços!
Muito bom relembrar das histórias.
Adoro quando escreve sobre isso.
bjuss
Rê
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Comentário por Regiane C. Christofoletti Gouveia — agosto 12, 2013 @ 18:03 |
Gosto muito dessa simplicidade das coisas que você viveu na sua infância. Cheia de criatividade e felicidade.. Com muitos sonhos de criança, como deve ser.
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Comentário por cocarcafegourmet — agosto 12, 2013 @ 23:10 |
Bom dia meu querido!
Uma infância pobre, sofrida, mas com muito amor. Época em que sabíamos ser crianças, em que tínhamos liberdade, em que não existiam ipads, computadores, vídeo jogos. Época em que mocinhos e bandidos eram só de brincadeira. E que o anjo-da-guarda, nos guardava, sem ter tanto trabalho como hoje.
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Comentário por Augusto Martini — agosto 13, 2013 @ 8:58 |
Como gosto de ler seus relatos de infância. Como foi feliz e nos faz feliz em ler.
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Comentário por Irany Soares de Araujo — agosto 13, 2013 @ 8:41 |
Oi Laly, minha querida! Quantas saudades de vcs todos! Bjs., saúde, amor e paz! Augusto
Em 13 de agosto de 2013 08:41, A Simplicidade das Coisas — Augusto
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Comentário por Augusto Martini — agosto 13, 2013 @ 8:43 |
Olá querido!!!
Adorei ler as lembranças de sua infância….apesar de não ter vivido no campo identifiquei muitas coisas em comum….interessante o quanto as experiencias que ao olhar de outro as vezes parece “difícil” foram importantes para construção do que somos hoje. Vc enxerga assim também? Valorizo muito as dificuldades da infância e alegrias da simplicidade com vivi… fundamentais para meu crescimento interior….
beijosss
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Comentário por Ana Zuccaro — agosto 13, 2013 @ 16:40 |
Oi Ana, minha querida.
Sim!!! Vejo assim também! As dificuldades, alegrias e tristeza me moldaram. Sou o que sou hoje pela educação que recebi, pelas dificuldades pelas quais passei… Bjs. Augusto
Em 13 de agosto de 2013 16:40, A Simplicidade das Coisas — Augusto
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Comentário por Augusto Martini — agosto 13, 2013 @ 16:59 |
Augusto, que bela infância! Fez-me recordar da minha, escreva mais sobre as suas para que nós leitores destas páginas possamos recordar e sonhar, sonhar, sem querer acordar!
bjs
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Comentário por Solange — agosto 13, 2013 @ 17:26 |
Oi querida amiga. Vou escrever sim. Ando muito saudoso de tudo nos últimos tempos! Lembranças das comidas, simples, mas deliciosas. Do arroz com feijão e ovo! Bjs.
Em 13 de agosto de 2013 17:26, A Simplicidade das Coisas — Augusto
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Comentário por Augusto Martini — agosto 13, 2013 @ 17:28 |
Que maximo!
Sao lindas as tuas memorias. Adorei ver a tua foto ainda pirralho, rs.
Bjkinhas, Monica
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Comentário por monica bez — outubro 24, 2013 @ 20:16 |
Oi Mônica, querida amiga.
Agradeço pela visita ao blog. Volte sempre que quiser!
Em dezembro, no dia 20, nos veremos ai no Rio!
Bjs.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 25, 2013 @ 8:49 |
Ah, e precisamos falar mais sobre “constelação familiar”. Bjs
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Comentário por Augusto Martini — outubro 25, 2013 @ 8:50 |
Achei muito bacana o seu texto, que tambem me remeteu a infancia…sr Martini!! Lembro!! Passei algumas férias na tia Luiza, com os primos mais velhos… lembranças q ficaram lá atraz! A capela…o terreiro…as mangueiras…um abraço!!
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Comentário por silvia serpe — novembro 21, 2014 @ 20:52 |
Oi Silvia.
Muito obrigado por sua visita ao meu blog.
Abraços e bom domingo.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — novembro 23, 2014 @ 12:10 |
[…] bem pequeno morei na Haras e Fazenda São José do Morro Grande – até meus 4 ou 5 anos – onde minha mãe era cozinheira, meu pai tratorista, meu […]
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Pingback por A infância dos anos 60 e seus sabores | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini — janeiro 15, 2019 @ 10:23 |