A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

julho 19, 2013

Um amigo de Infância – meu Cajueiro

Dedico esse post para parte de minha família que está em São Luis/MA.

O texto abaixo é do Maranhense Humberto de Campos, o qual sabia de cor nos meus tempos de grupo escolar – lia e me emocionava!

Um amigo de InfânciaHumberto de Campos Veras nasceu em Miritiba (atual Humberto de Campos) MA, em 25 de Outubro de 1886.

“Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio.

– Adeus, meu cajueiro! Até à volta!

Ele não diz nada, e eu me vou embora.

Flor de cajueiro

Flor do Cajueiro



Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: “Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças…” 

Recebendo a carta de minha mãe, choro sozinho. Choro, pela delicadeza de sua ideia. E choro, sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes como ele, para não me afastar nunca, jamais,  do quintal em que havíamos crescido juntos, da terra em que eu, ignorando o que era, havia sido feliz?

Meu Deus! Como é foi bom ter reencontrado esse texto e perceber que ele continua sendo importante para mim. Hoje o leio com outros olhos, outros sentimentos.  Crescemos e a pureza que tínhamos vai se escondendo. Passamos a dar mais importância aos fins do que aos princípios. As vezes, a felicidade parece um fio tênue, mas, ela está ali. Crescemos, e muitas vezes temos que lembrar que o coração que bate é o mesmo, não perdeu a maciez, e, lembrando disso, o que pode existir de dor, desaparece.

Quando criança, em Rio Claro, tive muitas amigas árvores que hoje já não existem. Mas, o cajueiro do Humberto de Campos, com mais de 100 anos, continua lá, firme e forte!

 

58 Comentários »

  1. Obrigado por fazer parte desta turminha daqui no Maranhão. Grande beijo

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    Comentário por Irany Soares de Araujo — julho 20, 2013 @ 20:00 | Responder

    • Beijo para vcs tb! Bom final de domingo, minha querida. Augusto

      Em 20 de julho de 2013 20:01, A Simplicidade das Coisas — Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — julho 21, 2013 @ 11:58 | Responder

  2. Esse texto me traz boas recordaćoes, me faz lembrar a criança atenta e sensivel que fui. No meu livro didatico da terceira ou quarta serie nao me lembro mais, tinha esse texto de Humberto Campos, e eu me lembro que eu o lia todos os dias em minha casa e sempre me emocionava, pois eu tambem tinha um csjueiro no meu quintal do qual eu gostava muito e hoje meu filho lendo algumas historinhas me veio a lembrança dests e aí resolvi procurar e ler pra ele ouvir, pois é nao deu outra eu me emocionei de novo, agora de saudades de uma infancia que nao existe mais.

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    Comentário por Ludivania — março 17, 2015 @ 19:07 | Responder

    • Olá, Ludivania.
      Fico feliz que tenha gostado de reencontrar o texto de sua infância.
      Abraços.
      Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — março 17, 2015 @ 23:41 | Responder

      • A mais de 40 anos lia essa estória do meu pé de cajueiro, não imaginava que ainda existia.minha para surpresa encontrei ao começar a lê fiquei emocionada, pois a estória séria a mesma que Vivia até hj na minhas memórias.
        Que saudade que senti mais com felicidades ❤️

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        Comentário por Marina anjos — outubro 30, 2022 @ 22:05

  3. Sempre procurei por esse texto, me fez lembrar com saudade da época de minha pré adolescência. Quando lia esse texto, no meu livro, se não me engano O NORDESTE. Guardei na minha memória a estória de partida de um menino que se despedia do seu querido cajueiro e da maneira poética que descreve a necessidade de sair de casa para o desconhecido e o seu amor por seu cajueiro. Agradeço demais esse oportunidade, por como diz a música: Recordar é viver…. Abraço fraterno!!!! Nora Pires.

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    Comentário por Nora Pires — julho 23, 2015 @ 15:23 | Responder

  4. Lembro deste texto no meu primeiro ano do ginásio,em 1967,eu tinha 13 anos e também tinha um pé de caju, fiquei maravilhada com o texto.
    parecia que o autor escrevia falando comigo,nunca esqueci e olha que hoje estou com 62 anos, já li centenas de textos,os quais poucos eu lembro.
    Mas este nunca saiu da minha memória,
    Obrigada.
    velhos tempos , belos dias.

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    Comentário por Ademildes Maria Cunha Lima — março 25, 2016 @ 19:02 | Responder

  5. Nossa voltei ao tempo agora, lembrei aqui da minha infância. Obrigado. Momento nostalgia. Belíssima recordação. Emocionada.

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    Comentário por Nara — março 30, 2016 @ 21:35 | Responder

  6. Fiquei feliz , voltei no tempo, 1969

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    Comentário por Bernardo Pereira da Silva — junho 11, 2016 @ 14:58 | Responder

  7. Oi meu nome é Cleide sempre que leio essa história do cajueiro me recordo da minha infância as lágrimas sempre rolam mais ao mesmo tempo fico feliz pois aprendi muito com o cajueiro. Uma verdadeira reflexão sobre a vida. Parabéns ao autor.

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    Comentário por Cleide — agosto 14, 2016 @ 21:25 | Responder

  8. Oi bom dia, Faço dos comentários da Ademildes Maria as minhas palavras pois foi no ano de 1967 que fiz a minha primeira interpretação de um texto no meu 1º ano de ginasial, numa aula de português da professora Elizabeth e seu conteúdo ficou para sempre gravado em minha memoria; ao ler novamente o mesmo as lágrimas de saudades daqueles bons tempos me afloraram nos olhos em abundância, quanta saudades.

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    Comentário por ROBERTO MONTREZOR FILHO — novembro 9, 2016 @ 11:02 | Responder

  9. Aprendi esse poema de Humberto de Campos na escola prima e nunca o esqueci!!! Me emociono quando recito os versos para minha neta Maitê. Estou ensinando a ela para que recite no mês de outubro em sua escola.
    Me chamo Ilza D’arc.

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    Comentário por Ilza — setembro 17, 2018 @ 12:31 | Responder

  10. Corrigindo: escola primária

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    Comentário por Ilza — setembro 17, 2018 @ 12:32 | Responder

  11. E muito emocionante quando,trazemos à memória, momentos felizes da nossa infancia, principalmente, na escola.Hoje, me veio este texto que eu gostava muito de ler em classe, sabia até de cor.É muito lindo, Deus te abençoe.

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    Comentário por Edecy Pereira da Rosa Filho — setembro 24, 2018 @ 12:32 | Responder

  12. Este texto me faz chorar. Porque vivo fora da minha terra Paraíba, João pessoa. E foi no ensino fundamental que ele este texto, Eu ainda era uma criança quando vi esse texto me apaixonei, hoje tenho 61 anos e gostaria de saber em qual livro se encontra este texto? Também saí jovem da minha terra ,aos 18 anos e todas as vezes que falava este lindo poema me emocionava, chorava muito por favor deixoo meu e-mail mandem o nome dolivro que tenha este texto que eu preciso comprar. malumaysilva@gmail.com. Grata, Maria de Lourdes Silva de Sousa.

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    Comentário por Maria de Lourdes Silva de Sousa — novembro 13, 2018 @ 16:23 | Responder

  13. Esse conto também fez parte da minha infância. Lia e relia-o inúmeras vezes a ponto de sabê-lo de cor, e a cada releitura era sempre uma emoção nova como se o tivesse lido pela primeira vez; era um momento encantado e mágico para mim.
    Obrigada por trazê-lo de volta, me causou nostálgicas e doces lembranças.

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    Comentário por Rita Maynart — fevereiro 3, 2019 @ 0:39 | Responder

  14. Este texto me faz lembrar da minha mãe “querida” que era fã de Humberto de Campos, sempre que lia esse texo pra nós crianças, na época, todos se emocionavam

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    Comentário por João Bosco da Silva Timóteo — fevereiro 5, 2019 @ 23:23 | Responder

  15. Este texto me faz lembrar da minha mãe “querida” que era fã de Humberto de Campos, sempre que lia esse texo pra nós crianças, na época, todos se emocionavam.

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    Comentário por João Bosco da Silva Timóteo — fevereiro 5, 2019 @ 23:24 | Responder

  16. Prezado Augusto, tomei a liberdade – sem lhe consultar – de colocar esse conto de H. de Campos no Youtube, com os devidos créditos a sua pessoa. Caso não concordar, peço me avisar neste Site (ou no YT) que eu retiro.

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    Comentário por Carlos A. Adib — abril 26, 2019 @ 10:21 | Responder

    • Olá Carlos. Bom dia!
      Fique tranquilo. O texto também não é meu, mas vale a pena compartilhar.
      Abraços e bom final de semana.
      Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — abril 26, 2019 @ 10:43 | Responder

  17. Impressionante como uma criança guarda as coisas e os sentimentos. Lembro-me desse texto de um livro de quando estudei no primário; desde a primeira vez que o li eu chorei. e ainda hoje o faço. Havia um bom tempo que não o via, e confesso que já tinha perdido parte de seu texto da memória. Mais ao relê-lo hoje, as lágrimas caíram sem parar de meus olhos. Amo poesia e hoje as escrevo. Mesmo que não as publique. Parece que desde menina eu sabia que essa despedida seria uma constante em minha vida. Muito obrigada por publicar esse belo poema ( Tenho uma frase onde digo: “Sou como uma árvore se ficar sem minhas raízes eu morro”. Hoje vendo o texto compreendi que essa comparação com a árvore muito provavelmente tem a ver com esse poema que sempre me emocionou.

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    Comentário por Valdenia Luz — maio 12, 2019 @ 12:43 | Responder

    • Bom dia!
      Fico feliz que esse poema tenha lhe reportado para boas lembranças.
      Um abraço
      Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — maio 13, 2019 @ 7:12 | Responder

  18. Foi o primeiro texto do meu primeiro livro de português no meu primeiro ano no ginásio…tempos que lá se vão. Relendo-o vi que apesar de não te-lo decorado ficou guardado em meu coração: Meu Cajueiro,,,”embarco para o Maranhão e ele fica”…”pequenino lenço verde agitado em despedida”…priscas eras, que doce a vida não era.

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    Comentário por Paulo Afonso da Silva — maio 27, 2019 @ 20:32 | Responder

  19. Nos anos 60 quando eu era uma jovem professorinha, esse texto fazia parte do livro de meus alunos. Eu havia perdido meu pai, homem sensível para a literatura, que muito me havia incentivado a ler. Ao me deparar com a passagem em que o garoto parte deixando para trás o seu amigo “o cajueiro” meu coração ficou apertado como se fora eu aquele personagem. E hoje, mais de cinquenta anos depois, revejo o texto e as lágrimas assomam novamente.

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    Comentário por Maria Luiza — junho 8, 2019 @ 1:34 | Responder

  20. Eu continuo emocionado depois de cinquenta anos quando pela primeira vez li Humberto de Campos,1969 ILHA DO IGORONHON TUTOIA MA.

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    Comentário por BERNARDO PEREIRA DA SILVA — julho 1, 2019 @ 18:17 | Responder

  21. LEMBRO DESSE POEMA,DO LIVRO “PROGRAMA DE ADMISSÃO”,MUITO TEMPO…

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    Comentário por JOSE CARLOS MIRANDA — novembro 25, 2019 @ 21:48 | Responder

  22. Nossa….
    Lí essa historia quando eu estva na 3º série , decada de 80 ,muitas lembranças….

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    Comentário por Danilo Colares — maio 14, 2020 @ 11:54 | Responder

  23. Esse texto li no primário, hoje tenho 62, mas nunca esqueci dele. Fiz uma pesquisa no google, e terminei achando, estou feliz, como foi bom recordar.

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    Comentário por Norma cavalcanti — maio 22, 2020 @ 0:38 | Responder

  24. Quando eu estudava a 4 série eu li essa lição, como era chamada na época. Eu lembro até a página do livro de português que continha aquela lição, era a página 58. Eu guardava uma lâmina nesta dita página, era pra fazer a ponta do lápis. Eu mesmo hoje há 28 anos, ainda sinto o cheiro daquele livro, como também o cheiro da emoção de relembrar a época. Que habilidade teve o autor Humberto Campos para retratar com tamanha perfeição tão
    Maravilhosa leitura. Leitura está que marcou tanto minha vida de estudante, como minha entrada na adolescência. Há como tenho saudades!!!! Obrigado pelo texto, fico grato!

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    Comentário por Deusiel Dias — agosto 25, 2020 @ 23:09 | Responder

  25. Pois e ,a quanto tempo procurava por esse conto ,fez parte da minha infância e ,como voltaram em minha mente doces lembranças, obrigado ao responsável ,um grande abraço

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    Comentário por Rogério cardoso — outubro 12, 2020 @ 13:32 | Responder

  26. Gente,me emociono até hoje,e tenho vontade de descobrir o nome do livro didático dessa época, alguém sabe?

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    Comentário por Rosy Ribeiro — outubro 18, 2020 @ 2:46 | Responder

  27. Nunca me esqueci do texto que mais gostava do meu livro de admissão. Dei um google sem esperança de encontrá-lo!! Obrigada. Me emocionei como há tantos anos atrás.

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    Comentário por Stella — dezembro 13, 2020 @ 12:21 | Responder

  28. Hoje com 48 anos, reencontrei este texto que eu lia a quase 40 anos atráz, foi tão significativo para mim, que hoje eu tenho o meu cajueiro.

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    Comentário por ALIRIO MACEDO — janeiro 10, 2021 @ 22:48 | Responder

  29. Lembrei desse maravilhoso texto, procurei pelo seu título e acabei aqui.
    Moro no sul e não conheço um cajueiro, mas a emoção e a delicadeza do texto estão vívidos em mim desde a infância.
    Grata por publicar uma mensagem tão linda!
    Realmente recompensador ter acesso a esse autor, aqui na minha cidade temos uma rua com seu nome (Caxias do Sul-RS) mas não sabia de sua história e nem que havia escrito esse lindo texto que reli várias e várias vezes quando criança! (Hoje estou com 47a)

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    Comentário por Denize — março 17, 2021 @ 22:13 | Responder

  30. AMEI ler novamente,essa história ficou na minha mente por uns 50 anos ,e hoje consegui ler novamente amei qdo eu li caiu alguns ciscos no meu olho.

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    Comentário por Sonia mariza — junho 5, 2022 @ 17:15 | Responder

  31. Quando criança,tinha um livro que tinha esse estória do pé de cajueiro em São Luís, amava lê sempre,
    Hj tive lembranças dessa estória fiquei feliz em encontrar esse texto.
    Obrigado.

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    Comentário por Marina anjos — outubro 30, 2022 @ 21:58 | Responder


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