A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

junho 16, 2013

Santiago do Chile – Museo de la Memoria e de los Derechos Humanos

Hoje é o meu penúltimo dia em Santiago, no Chile. E deixei esse dia reservado para visitar o Museu da Memória e dos Direitos Humanos (Museo de la Memoria e de los Derechos Humanos), que é um projeto bicentenário, que foi inaugurado em janeiro de 2010 pela ex-presidenta socialista Michelle Bachelet, e que agora é novamente candidata para as eleições no final de ano e que está sendo cotada para ganhar. Em seus espaços estão guardados registros das violações a direitos humanos ocorridas no Chile entre os anos de 1973 e 1990.

Já conhecia Memorial da Resistência, em São Paulo e o Espacio Memoria y Derechos Humanos em Buenos Aires. Mas, nada se compara ao que vi hoje!

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O museu busca facilitar à comunidade o conhecimento do que ocorreu no país, reivindicar a dignidade das vítimas, contribuir para a construção de uma sociedade sustentada nos valores da tolerância, da solidariedade, do respeito à diversidade, e impulsionar iniciativas educativas que convidem ao conhecimento e à reflexão dos que visitam aquele espaço.

Através de objetos, documentos e arquivos em diferentes suportes e formatos (vídeos, fac-símiles, fotos, cartazes, manuscritos, etc.), e uma inovadora proposta visual e sonora, é possível conhecer parte desta  história: o golpe de Estado, a repressão dos anos posteriores, a resistência, o exílio, a solidariedade internacional, as políticas de reparação. É difícil não ficar com um nó na garganta e lágrimas nos olhos.

O patrimônio de seus arquivos contempla testemunhos orais e escritos, documentos jurídicos, cartas, relatos, produção literária, material de imprensa escrita e audiovisual, longas-metragens, material histórico e fotografias documentais. Tudo magnificamente estruturado e mostrado com os mais avançados recursos tecnológicos.

Tem espaços para exposições temporárias, uma praça de 6 mil metros quadrados, e o auditório e as obras de arte que fazem parte de sua arquitetura estão destinadas a converter o museu em uma instituição cultural de primeira importância na cidade de Santiago. Um espaço dinâmico e interativo que resgata a história recente do Chile e se reencontra com a verdade, que cresce e se projeta na promoção de uma cultura de respeito à dignidade das pessoas. Se você é historiador ou gosta de história, reserve pelo menos umas seis horas para essa visita. Se for fanático, todo o dia.

M1 M2 M3

Na construção do museu, os principais materiais escolhidos, o aço, o cobre e o vidro fazem o diferencial. Os dois primeiros remetem à força da indústria mineradora do Chile. E chapas perfuradas dão proteção solar às fachadas e permitem a vista da cidade por quem está do lado de dentro.

O edifício possui 18 metros de largura por 80 de comprimento e é prédio principal, sendo composto por três. As lajes dos pavimentos são sustentadas por grandes vigas de estruturas metálicas, fixadas em pilares de concreto.

Em 11 de setembro de 1973 – que é um marco na história do Chile, foi um momento em que a vida de milhares de chilenos mudou para sempre. Quebrou-se a institucionalidade e se declarou o fim do Estado de Direito. A ocupação militar deu lugar à criação da Junta de Governo que, após o fechamento do Congresso Nacional, passou a exercer a autoridade absoluta no país.

Durante a ditadura de Augusto Pinochet, milhares de chilenos foram perseguidos, privados de liberdade, exilados, exonerados, torturados, executados ou “desparecidos”. Em um post anterior falei da casa da Calle Londres, 38, um dos centros de tortura. Os organismos de segurança semearam o medo e exerceram o controle da cidadania através da vigilância permanente, da elaboração de listas negras e da censura em todos os meios de comunicações. A repressão foi massiva e indiscriminada apesar da condenação e da solidariedade internacional. A violência no País ultrapassou as fronteiras e ocorreram atentados até no exterior.

Primeiro a Igreja e depois os familiares das vítimas criaram organismos e agrupações de defesa dos Direitos Humanos em Santiago e em diversas regiões. Por conta disso, o Museu da memória recolheu casos exemplares e propôs uma reflexão que transcendesse o ocorrido no passado e servisse às novas gerações para construir um futuro melhor de respeito à vida e à dignidade das pessoas.

O Museu nasceu como um ato de reparação moral às vítimas das violações de direitos humanos e por uma solicitação dos organismos de defesa dos direitos humanos para ter um lugar onde pudessem guardar e preservar seus arquivos. Seu propósito é dignificar as vítimas e suas famílias, estimular a reflexão e o debate sobre a importância do respeito e da tolerância, para que esses fatos não se repitam nunca mais. Foi concebido como um lugar que, a partir do que aconteceu no passado, buscasse instalar os valores associados aos direitos humanos no presente e projetá-lo para o futuro.

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O objetivo fundamental desta iniciativa foi o resgate da memória do Chile, desde os primeiros anos da ditadura, quando vencendo o medo e a repressão, as pessoas começaram a esconder e preservar documentos, cartazes, fotografias, objetos e a construir memoriais para não se render frente ao esquecimento. Com o passar dos anos, alguns desses materiais começaram a se extraviar e se deteriorar. Daí surgiu a necessidade de resgatá-los.

Depois de ter visto esse relato tão completo com documentos impressos e manuscritos, fotografias, depoimentos em som e vídeo, objetos, etc., que a Ditadura que aconteceu no Brasil foi bem mais branda daquela que aconteceu no Chile.

9 Comentários »

  1. Ol Augusto.Sem dvida Chile est me impressionando, fico a pensar que est afrente do Brasil em muitas situaes.Vejo um pas limpo, as ruas bem cuidadas, parques, cultura,educao bem cuidada.Penso nessas frias em ir com uma amiga, j decidimos atravs de seus comentrios e fotos aqui em seu blog.Gostarimos apenas que voc nos indicasse a maneira a qual voc est viajando.Como saiu de SP, qual maneira acha mais interessante, a estadia , precisamos de uma direo para essa aventura que pelo jeito nos deixou surpresos por ser um pas prximo a ns. Obrigado.Valdecir. Date: Mon, 17 Jun 2013 01:50:19 +0000 To: valdecir_r.oliveira@hotmail.com

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    Comentário por valdecir roberto de oliveira oliveira — junho 17, 2013 @ 11:53 | Responder

    • Oi Valdecir.
      Sempre que viajo, faço da maneira mais econômica possível. Assim, comprei as passagens de ida e volta em dezembro e por um preço muito em conta. Fui pela TAM, a qual recomendo.
      Nunca fico em hotel. É muito caro. Alugo apartamento (tipo kit) mobiliada e faço meu próprio horário e comida. Se quiser, indico o apartamento que fiquei. Saiu bem mais em conta que qualquer hotel, cerca de 47 dólares por dia.
      Abraços.
      Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — junho 18, 2013 @ 8:53 | Responder

  2. Augusto, bom amigo. Fiquei emocionada ao ler teu registro sobre direitos humanos/museu da memória. Os chilenos sofreram duramente com o Pinochet.
    Aqui em nosso país quem sabe um dia possamos homenagear nossos irmãos, vítimas da ditadura militar de 64…a repressão aqui deixou muitas sequelas.
    Nessa reta final no Chile curta muito. E até a volta!!!
    Adorei conhecer um pouco do Chile via você.
    É um país que tenho vontade de visitar.
    Deus te cuide!!!
    Beijos.

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    Comentário por Hozana Rivello — junho 17, 2013 @ 13:46 | Responder

    • Hozana, minha amiga querida.
      Quantas saudades.
      Já estou de volta ao trabalho. Cheguei ontem a noite. Não deu tempo nem de respirar.
      Quando puder, visite sim o Chile. É um país lindo, cheio de contrastes, mas com uma população muito educada e atenciosa. Adoram os brasileiros.
      Bjs.
      Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — junho 18, 2013 @ 8:47 | Responder

  3. […] as manifestações dos jovens nas ruas, como já foi retratada aqui nesse post. E esse País, cujo povo não é indiferente à política, aparece também no filme sem interferir na história. Mas, é mostrado nas entrelinhas, que ter um […]

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    Pingback por O espetacular cinema chileno – “Carne de Perro” e “Glória” | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini — junho 18, 2013 @ 15:56 | Responder

  4. Quero muito conhecer esse país… lindo.. cheio de histórias, cultura e um passado que marcou de forma definitiva cada morador e a memória que ficará viva para sempre… passado sempre presente e lembrado.. os sacrifícios e ideias.. lindo e emocionante… adorei.. obrigada por tanta informação culta e preciosa… bjs amiguinho.

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    Comentário por Ivana — junho 19, 2013 @ 15:55 | Responder

  5. Olá Augusto, este foi um projeto de um escritório de arquitetos brasileiros, entre eles meu professor mackenzista Mario Figueroa.
    Abraços,
    Oliver

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    Comentário por Oliver — setembro 23, 2013 @ 17:14 | Responder

    • Oi Oliver! Não sei se conhece o museu. É algo fantástico! Abraços. Augusto

      Em 23 de setembro de 2013 17:14, A Simplicidade das Coisas — Augusto

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      Comentário por Augusto Martini — setembro 23, 2013 @ 17:21 | Responder


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