Todos os domingos eu vou à feira livre que acontece entre a Rua Ana Cintra e a Praça Alfredo Paulino, no bairro de Santa Cecília e próximo de onde moro. É um mercado maravilhoso e a céu aberto, com dezenas barracas de frutas e legumes, peixe, carnes, condimentos, flores, pastéis, garapa de cana… E muito barulho devido à gritaria dos feirantes. Confesso que isso às vezes irrita. Mas vale a pena! Os produtos são fresquinhos e baratos.
No último final de semana, depois que voltei da feira, lembrei de mim quando criança. Comida era a coisa menos importante da minha vida diante de tudo o que eu queria brincar. Tinha um quintal enorme em casa, a rua era tranquila e nela brincávamos de tudo um pouco. E, quando eu ficava doente, então, era um drama. Não que eu não fosse saudável ou vivesse visitando médicos, mas sou da geração que passou por todas as doenças infantis sem as vacinas que existem hoje em dia. Tive, junto com a turma toda da rua, caxumba, catapora, rubéola e outras coisinhas mais. Pisava no chão de terra com os pés descalços. Tomava banho de bacia e mangueira. Corria na chuva e soltava barquinhos na enxurrada.
Preocupada com a minha magreza, minha mãe tentava me alimentar de alguma forma e sempre inventava algo que eu gostava. Mesmo assim, minha disposição para comer era pequena. Por conta disso, tomei vidros e vidros de óleo de fígado de bacalhau, muito Biotônico Fontoura com leite condensado batidos com ovos de patas com a casca e tudo mais.
Eu comia pouco e implicava com algumas coisas do cardápio simples de casa, como bife e outras carnes. Nunca gostei de carne!
O tempo passou e aqui estou eu, com todos os quilos que tenho direito, ainda magro e uma alimentação até que bem equilibrada. Sabe o que aconteceu com minha má vontade com o bife? Nada! Ainda como pouquíssima carne vermelha. O desprezo pelo leite? Descobri que o grande problema era o café que minha mãe misturava. Hoje tomo numa boa, mas sem café.
Isso não é uma apologia às frescuras infantis ou a deixar que as crianças só comam o que têm vontade. A gente sabe que a vida não funciona assim e que crianças precisam de direção, de alguém que faça escolhas para elas porque simplesmente escolhem melhor.
Gostando ou não, eu era obrigado a comer umas colheradas de carne moída – disfarçada com muita batata, é verdade – e só tenho a agradecer minha mãe pela paciência comigo. Tenho certeza de que as colheradas foram nutritivas para o meu corpo, mas, principalmente, para a minha formação de filho e para o meu entendimento simbólico de que aqueles adultos ao meu redor cuidavam de mim e me protegiam de mim mesmo.
Tenho sorte (ou azar, não sei) de não ter tido um filho, mas, assim mesmo, procurei cumprir minha função com os sobrinhos, e agora com os sobrinhos-netos, em também e insistir para que comam de tudo e ao menos experimentem antes de anunciar que não gostam de alguma coisa. Por outro lado, tenho lembranças nítidas do desapego que eu tinha pela comida e da grande vontade de brincar. Pena que isso vai embora depois que nos tornamos adultos e a gente passa a viver para comer e se esquece de brincar.
Mas, comecei a escrever isso tudo por conta da feira livre… No domingo vi muitas melancias, raízes de mandioca, mamão formosa, espigas de milho verde e os preços nem eram tão caros. Mas lembrei de que quando criança meu avô tinha um sítio e nele, isso tudo era a comida dada para os porcos. Não que as pessoas não as comessem também. Comiam. Porém não eram alimentos de grande importância. As melancias, por exemplo, ficavam plantadas lá, no meio das ruas de arroz. Quando a produção era grande, nasciam, cresciam e apodreciam. De vez em quando meu avô fazia um campeonato de melancia com a gente. Íamos colher os frutos, trazíamos para a varanda da casa. Nós, crianças, comíamos até não poder mais. Meu avô comia a dele e depois “arrematava” as nossas também. Acho que ele tinha um estômago de avestruz!
Tudo isso também era plantado no quintal de casa, na horta que meus pais mantinham. E quando fui pela primeira vez no Mercado Municipal de Rio Claro e vi que aquilo tudo era vendido, fiquei com a cabeça embolada, pois achava impossível ter quem pagasse. Na minha cabeça de criança todos tinham esses alimentos plantados em casa, ou no sítio dos avós. E nem imaginava que um dia tivesse que pagar por esses alimentos.
Mas, voltando para o assunto comida e infância, gostaria de saber se você tem um enjoado dentro de casa. Tem que se desdobrar para ele comer? Não sabe mais o que fazer? Compartilhe sua história aqui.
Nada mais gostoso que uma volta ao nosso tempo de criança…Perdemos tanto em saborear o que hoje sabemos que é tão bome que as vezes já não podemos mais comer…
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Comentário por Irany Soares de Araújo — maio 11, 2012 @ 21:28 |
Oi Laly, querida! Agradeço pela visita. Feliz Dia das Mães para vc! Bjs. Augusto
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Comentário por Augusto Martini — maio 13, 2012 @ 13:09 |
Seu post me lembrou do meu tempo de infancia, era exatamente assim, sem vacinas e todas as doenças infantis, comida farta e nutritiva(eu também não gostava) vejo agora como as crianças se alimentam mal, pois os pais não forçam a comer se a criança faz birra.
Um abração a voce, estou sempre aqui.
Filomena.
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Comentário por Filomena — maio 12, 2012 @ 10:08 |
Oi Filomena. Agradeço pela visita e pelo comentário. Um bom domingo para vc. Augusto
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Comentário por Augusto Martini — maio 13, 2012 @ 13:08 |
Augusto, bom amigo. Eu amo teus escritos, registros esses que também diz um pouco de mim mesma. Você registra, e em minha cabeça passa um filme de um pedaçinho de minha infância. Saudades, meu caro…
Saudoso abraço.
Hozana
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Comentário por Hozana Rivello Alves — maio 14, 2012 @ 23:26 |
Oi, Hozana, querida amiga. Sempre bom ver sua visita por aqui. Abraço saudoso do amigo, Augusto
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Comentário por Augusto Martini — maio 14, 2012 @ 23:39 |