A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

novembro 29, 2011

A culpa é nossa!!!

Vocês conhecem a Revista Sorria – para ser feliz? Ela é uma publicação bimestral da Editora MOL Ltda. e vendida nas lojas da Droga Raia. Na edição de outubro/novembro há uma reportagem interessantíssima escrita por Jéssica Martineli, que vou reproduzir aqui em dois posts. A primeira parte é “A culpa é nossa”.

Se algo é público, é de todos. Mas isso também quer dizer que você – é, você mesmo – precisa assumir responsabilidade por ele.

Os congestionamentos gigantes de São Paulo

São Paulo fazia mal para Sumaya Lima. Em poucas horas, com suas ruas sujas e congestionadas, a cidade enlouquecia a revisora de texto de 32 anos. Sozinha, fechada em seu carro e obrigada a atravessar dezenas de bairros para chegar ao trabalho, Sumaya se sentia como um animal encarcerado, prestes a se soltar e atacar o primeiro que encontrasse pela frente. Não tinha dúvidas: a cidade estava contra ela. “Estar imóvel dentro de um veículo começou a se tornar algo irritante, e violento. Via alguém estacionado em fila dupla e tinha vontade de bater na pessoa, de revolta”, diz.

Com medo de suas reações, ela decidiu, em um dia de 2009, deixar o automóvel na garagem. Usou o ônibus e os próprios pés para fazer o trajeto que, de carro, levaria três insuportáveis horas. No caminho, a cidade pareceu outra. “Eram centenas de veículos disputando espaço, e a maioria deles levava apenas o condutor. Vi aquilo como um grande absurdo, que eu ajudava a alimentar”, conta.

Foi quando Sumaya percebeu que fazia parte de São Paulo e que contribuía, todos os dias, para transformá-la no caos que enxergara. Decidiu vender o carro e comprou uma bicicleta, que virou seu principal meio de transporte. A ex-motorista começou a participar de fóruns e debates sobre educação no trânsito e passou a incentivar o uso da bike. “Não tinha mais vontade de morar em São Paulo. Agora, eu vejo que é possível torná-la mais bonita e simpática para as pessoas que vivem nela. Fico feliz de estar ajudando a reconstruir uma cidade voltada para cidadãos”, afirma.

Essa coisa pública
Reconciliando-se com as ruas com as quais costumava brigar, Sumaya percebeu que o espaço público é de responsabilidade de todos – e dela também. Países, cidades e bairros não estão contra nem a favor de seus moradores, mas são construídos por eles, o tempo todo. Foi durante a República Romana (de 509 a.C. a 27 a.C.) que essa ideia ganhou os contornos que chegaram até os nossos dias. No latim, república vem de res publica, que significa coisa pública – aquilo que é comum e de responsabilidade coletiva.

“O cidadão tem responsabilidades divididas com o Estado, tanto para a manutenção do que já existe, quanto para o desenvolvimento do seu futuro”, diz Roberto de Barros Freire Filho, professor de filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). “Não há coisa pior do que aquele que, acreditando que o que pode fazer é pouco, não faz nada, sem perceber que são as pequenas transformações que geram as grandes mudanças.” Quem se omite deixa de exercer a sua cidadania, que nada mais é que a disposição para discutir as questões públicas.

Foi querendo cumprir plenamente esse papel que um grupo de engenheiros, administradores, técnicos ambientais e professores se reuniu no município de Indaiatuba (SP), no ano passado. No início, eles queriam debater o desenvolvimento sustentável do lugar onde moram. Mas a ideia cresceu, e, no ano passado, o Mobilização Ambiental, Mobi, também começou a fazer “arrastões” de limpeza em parques, praças e ruas e a visitar as casas dos bairros em expansão perguntando aos moradores se eles não queriam plantar árvores por ali. “A cidade está crescendo, e queremos ter qualidade de vida. Vamos tentar manter o que depende da população”, diz Norma do Valle, participante do Mobi.

A professora de 61 anos se reúne toda semana com outros membros do grupo para debater os problemas e pensar alternativas para a cidade. Juntos, eles cobram ações da prefeitura e chamam parentes, amigos e quem mais aparecer para participar das mobilizações. “No ano passado, fizemos uma pesquisa sobre os bueiros da cidade. Encontramos muito lixo e tiramos fotos”, diz Norma. “Queríamos que, antes das chuvas, a prefeitura fizesse a limpeza das bocas de lobo para evitar enchentes.” E, mesmo que a cobrança seja em vão, eles não desistem. Discutir, reclamar e encher a paciência dos políticos também está no pacote do que é ser cidadão.

No próximo post veremos mais duas ações muito legais. Uma sobre direitos e deveres e a outra sobre os fiscais da cidadania e a “multa moral”, iniciativa implantada por uma associação de amigos do bairro Vila Madalena, em São Paulo.

4 Comentários »

  1. Ótimo artigo, e que bom que está na Revista da Droga Raya.Essa coisa do carro em casa passa muito pelo cultural, mas uma campanha governamental de concientização contribuiria, e muito! E pese-se também o fato da oferta esmagadora de carros, com facilidade de financiamento, o que deduz-se que hoje, a classe média paulistana troca de carro, pelo menos, a cada 2 anos. Isso significa o dobro da frota de veículos na rua! Essa mentalidade precisa mudar! Silvia

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    Comentário por Silvia Gouvea — novembro 29, 2011 @ 12:15 | Responder

    • O povo hoje troca de carro como troca de roupas. É símbolo de status. Eu passo longe! Não tenho carro, ando a pé e utilizo transporte pública. Quando preciso ir num lugar onde o ônibus ou metrô não chega ou se tenho que caminhar muito e por pressa, tomo um táxi.

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      Comentário por Augusto Martini — novembro 29, 2011 @ 12:30 | Responder

  2. “Queríamos que, antes das chuvas, a prefeitura fizesse a limpeza das bocas de lobo para evitar enchentes.” E, mesmo que a cobrança seja em vão, eles não desistem. Discutir, reclamar e encher a paciência dos políticos também está no pacote do que é ser cidadão.
    Este trecho do texto em que se espera a participação da prefeitura, me fez lembrar uma reclamação que eu e outros vizinhos fizemos quanto ao semáforo do nosso bairro que está com defeito, entramos em contato com a CET,por telefone, também mandamos e-mail, mandei carta registrada para a Ouvidoria da Prefeitura e nada foi feito. Assim o cidadão sente-se desamparado, sem saber a quem recorrer.

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    Comentário por Emília — novembro 29, 2011 @ 12:34 | Responder

    • Oi Emilia.

      Realmente tudo é muito moroso. Faz dois anos que pedi para plantarem uma árvore no canteiro central da rua em frente ao meu apartamento. Alegaram que não tinham a espécie que está plantada nos canteiros (Pau Ferro). Mas, por todos os lados que ando, vejo que estão plantando essa mesma espécie e em mudas enormes. Mas não desisti. Fiz outro pedido.

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      Comentário por Augusto Martini — novembro 29, 2011 @ 12:47 | Responder


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