Olá! Quem passa de vez em quando por esse blog sabe que trabalho com EAD – Educação à Distância. Nesses anos, formei muitos tutores, muitos alunos, e para centenas dei apenas o suporte na coordenação. Desses tutores, a maioria continua atuando, outros ficaram assustados com a experiência, viram que não é nada fácil ser um professor à distância e preferem nem ouvir mais falar sobre EAD. Desses muito tutores que continuam o desafio, alguns são frequentes nas mensagens de email que recebo. Um desses é o Miguel Mitsuaki Fujikawa, que trabalha na Secretaria da Receita Federal do Brasil e é atuante no PNEF – Programa Nacional de Educação Fiscal e no GEFE – Grupo de Educação Fiscal Estadual. Por meio dele, tivemos no semestre passado a ainda única experiência com um deficiente visual – o Cláudio Roberto da Silva Carmo, que também trabalha na SRFB e que nos deu a honra de tê-lo como aluno – excelente por sinal. Claudio tem deficiência visual congênita. O que acontece é que com o passar do tempo ele foi perdendo ainda mais o pouco de resíduo visual de que dispunha. Embora os médicos não saibam medir com precisão sua capacidade visual, ele que já tive algo em torno de 10% da visão dita normal, hoje tem menos de 2% dessa capacidade. Isso pode ser entendido como deficiência grave e também pode ser chamado de visão subnormal. Ele perdeu grande capacidade da visão quanto tinha 22 anos.
Nosso curso, que utiliza a ferramenta Moodle, não é um site amigável, por exemplo, para ter um aluno com deficiência visual e o ideal seria que o tutor tivesse experiência na área da educação especial. Não tínhamos ninguém com o perfil. Ninguém também que tivesse experiência e conhecimento sobre deficiência, e no caso a deficiência visual. E que também conhecesse as tecnologias assistivas que existem para uso no computador. Nada disso tínhamos.
Em recente evento de EAD que participei, conheci a Profa. Mara Yáskara Nogueira Paiva Cardoso, que em sua apresentação sobre esse assunto, disse que os alunos deficientes representam um desafio a mais para a sala de aula on-line. Embora a aprendizagem on-line permita que os alunos deficientes se sintam completamente integrados na comunidade, os seus tutores/professores precisam prestar atenção às questões de acessibilidade, disponibilidade e de suporte a fim de garantir a participação integral. Em nosso caso, a tutora e eu fomos os intermediários para postar alguns textos para o Claudio.
Durante o curso, o aluno utilizou uma ferramenta assistiva – um leitor de tela s- que é o Virtual Vision. Embora esse leitor seja produzido por uma empresa privada, ela possui acordos comerciais com outras empresas (atualmente o Bradesco e o Santander) para distribuição sem custos para os deficientes visuais. Os leitores de tela são recursos de tecnologia assistiva que transformam textos em áudio, permitindo que pessoas cegas tenham acesso a conteúdos. Os leitores mais conhecidos no Brasil são: Jaws®, Virtual Vision®, DosVox® e F123®. Mas tem também o NVDA e o Orca. Para os usuários com baixa visão também existem recursos de ampliação e contraste de cor. Existe também um leitor de tela bem simples e de uso livre denominado VozMe®.
Bem, não tínhamos nenhum desses recursos. Mas o Claudio utilizou o seu leitor de telas, superou todos os obstáculos e terminou o curso com louvor. E agora, de vez em quando nos surpreende com alguma mensagem arrebatadora, como foi essa abaixo, que enviou ao Miguel no dia de hoje. Aproveitem!
Matando um leão por dia – por Pierre Schurmann
Em vez de matar um leão por dia, aprenda a amar o seu.Outro dia, tive o privilégio de fazer algo que adoro: fui almoçar com um amigo, hoje chegando perto de seus 70 anos. Gosto disso. São raras as chances que temos de escutar suas histórias e absorver um pouco de sabedoria das pessoas que já passaram por grandes experiências nesta vida.
Depois de um almoço longo, no qual falamos bem pouco de negócios mas muito sobre a vida, ele me perguntou sobre meus negócios. Contei um pouco do que estava fazendo e, meio sem querer, disse a ele:
– “Pois é. Empresário, hoje, tem de matar um leão por dia”. Sua resposta, rápida e afiada, foi:
– “Não mate seu leão. Você deveria mesmo era cuidar dele”.
Fiquei surpreso com a resposta e ele provavelmente deve ter notado minha surpresa, pois me disse: –
Segue, mais ou menos, o que consegui lembrar da conversa:
“Existe um ditado popular antigo que diz que temos de “matar um leão por dia”. E por muitos anos, eu acreditei nisso, e acordava todos os dias querendo encontrar o tal leão.
A vida foi passando e muitas vezes me vi repetindo essa frase.
Quando cheguei aos 50 anos, meus negócios já tinham crescido e precisava trabalhar um pouco menos, mas sempre me lembrava do tal leão. Afinal, quem não se preocupa quando tem de matar um deles por dia?
Pois bem. Cheguei aos meus 60 e decidi que era hora de meus filhos começarem a tocar a firma. Mas qual não foi minha surpresa ao ver que nenhum dos três estava preparado! A cada desafio que enfrentavam, parecia que iam desmoronar emocionalmente. Para minha tristeza, tive de voltar à frente dos negócios, até conseguir contratar alguém, que hoje é nosso diretor-geral.
Este “fracasso” me fez pensar muito. O que fiz de errado no meu plano de sucessão? Hoje, do alto dos meus quase 70 anos, eu tenho uma suspeita: a culpa foi do leão”. Novamente, eu fiz cara de surpreso. O que o leão tinha a ver com a história? Ele, olhando para o horizonte, como que tentando buscar um passado distante, me disse:
– “É. Pode ser que a culpa não seja cem por cento do leão, mas fica mais fácil justificar dessa forma. Porque, desde quando meus filhos eram pequenos, dei tudo para eles. Uma educação excelente, oportunidade de morar no exterior, estágio em empresas de amigos. Mas, ao dar tudo a eles, esqueci de dar um leão para cada, que era o mais importante.
Meu jovem, aprendi que somos o resultado de nossos desafios. Com grandes desafios, nos tornamos grandes. Com pequenos desafios, nos tornamos pequenos. Aprendi que, quanto mais bravo o leão, mais gratos temos de ser. Por isso, aprendi a não só respeitar o leão, mas a admirá-lo e a gostar dele. Que a metáfora é importante, mas errônea: não devemos matar um leão por dia, mas sim cuidar do nosso. Porque o dia em que o leão, em nossas vidas morre, começamos a morrer junto com ele.”
Depois daquele dia, decidi aprender a amar o meu leão. E o que eram desafios se tornaram oportunidades para crescer, ser mais forte, e “me virar” nesta selva em que vivemos.
A capacidade de luta que há em você, precisa de adversidades para revelar-se.
“A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação envolve o mundo.”
Albert Einstein
Um pouco mais sobre os leitores de telas
O post me tocou, pq, além de deficiente física, eu possuo problemas visuais graves, que, graças a Deus, não me levaram à deficiência visual, mas, que me levaram a ter cuidado extremo com minha visão.
E esse foco “matar um leão por dia” é meu cotidiano. Os deficientes em geral, são mais exigidos, por que temos que nos superar para fazer o que os normais fazem. Parabéns ao Cláudio, e sua força de vontade! Acho que ele tem muito a nos ensinar! Silvia
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Comentário por Silvia Gouvêa — outubro 18, 2011 @ 9:13 |
Bom dia Silvia.
Agradeço pela visita e pelo comentário.
Um abraço.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 18, 2011 @ 9:35 |
Bom dia Silvia.
Acabei de atualizar o post, inserindo mais algumas informações sobre os leitores de telas. Abraços.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 18, 2011 @ 9:40 |
Nada mais gratificante ao professor ,sentir que seu aluno fez além do esperado.Isso é um troféu não só seu ,mais dele,não é? Parabéns Augusto,pois você continua amando o seu leão.
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Comentário por Irany — outubro 18, 2011 @ 9:49 |
Laly, minha querida!
Saudades de vc! Apareça por aqui.
Bjs.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 18, 2011 @ 10:04 |
Gratificante ver este post…quem trabalha com o Cláudio, mesmo que indiretamente, é beneficiado pelo resultado dos trabalhos que desenvolve e inovações que propicia…ele cuida bem de seu leão…e nos beneficia…
Parabéns Augusto pelo blog.
abraço
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Comentário por Ana Zuccaro — outubro 18, 2011 @ 17:35 |
Oi Ana.
Obrigado!
Bjs.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 18, 2011 @ 17:40 |
Olá Augusto, boa tarde
Parabéns pela matéria enfocada: No meu dia-a-dia, sou responsável pelo atendimento a portadores de deficiencia, e sei o quanto eles ainda sofrem pela falta de acessibilidade, calçadas rebaixadas, sanitários adaptados, etc, além do atendimento digno em repartições públicas.
O texto nos dá uma nova visão de como enfrentar as dificuldades diárias, e realmente, os “leões” que aparecem em nossa vida, são oportunidades de crescimento, e por isso, vamos cuidar do nosso leão.
Abraços
José Antonio/Tutor
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Comentário por José Antonio — outubro 18, 2011 @ 18:23 |
Boa noite José Caetano.
Sim, a questão da acessibilidade é algo que precisar ser pensado e repensado. Aqui em São Paulo, no meu caminho para o trabalho, vejo como é difícil a vida das pessoas portadoras de deficiência. Abraços.
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Comentário por Augusto Martini — outubro 18, 2011 @ 20:22 |
Por tudo que li aqui, penso nestes dias de pura lama no cenário político do Brasil, vendo pessoas atônitas e desiludidas, dizendo “nunca mais votarei”, dizem muitos isso, às voltas com seu desencanto e ainda um amigo disse outro dia, poeticamente, um verso de Taiguara: “Eu desisto. Não existe esta manhã que eu pretendia….” Pergunto então: Que manhã ou que amanhã nós temos pretendido? De há muito o Brasil se vê envolvido nesse submundo moral e nós nos permitimos estagiar nele, mas prefiro fazer um levantamento de minhas ações, do meu modo de ver a vida, ainda que nas pequenas coisas. Direi que tenho a consciência tranquila, mas também penso que assassinos, assaltantes e criminosos em seu adiantamento moral também tem suas consciências tranquilas, por isso devemos alertar para o fato de que ” matar um leão por dia” é acreditar que da lama que envolve os nossos dias, podem surgir flores de maturidade, assim como vejo você Augusto, que nos faz erigir, digamos assim um REINO dentro de nós, despertando em nós a responsabilidade adormecida e acomodada, contra nossos próprios “defeitos”, combatendo a cada dia o bom combate.
Obrigada por ser esse Mestre que a tanto procuramos.
Adorei e com muito entusiasmo digo………..Lindo……..LIndo………..LIndo………..
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Comentário por Ruth Berti Ferro — outubro 19, 2011 @ 8:02 |
Oi Ruth.
Agradeço pelo lindo comentário. Agradeço também por ter vestido nossa camisa da Educação Fiscal e por fazer parte desse processo de transformação da sociedade.
Bjs.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 19, 2011 @ 8:36 |
Bom dia!
Quero dar uma dica para quem quiser preencher uma pesquisa sobre a cidade de São Paulo, coordenada pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano, e ainda, debater assuntos do nosso cotidiano, que incluem a deficiência tb.
http://www.sp2040.net.br (pesquisa) – O SP2040 é um plano de longo prazo que pretende orientar uma ampla transformação da cidade nas próximas décadas, apontando para formas de organização social, econômica, urbana e ambiental que assegurem o uso inteligente dos seus recursos e promovam melhores condições de vida para a população. Se puder, entre e responda a pesquisa.
http://sp2040.net.br/foruns/ (foruns). Ambiente de discussão que engloba 5 eixos estratégicos:
Coesão Social
Desenvolvimento Urbano
Melhoria Ambiental
Mobilidade
Oportunidade de Negócios
Silvia
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Comentário por Silvia Gouvêa — outubro 19, 2011 @ 8:53 |
Oi Silvia.
Agradeço pelas dicas. Vou visitar já!
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Comentário por Augusto Martini — outubro 19, 2011 @ 9:01 |
\profundo!!! parabens!!! Augusto
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Comentário por luciana — outubro 19, 2011 @ 9:20 |
Somos todos deficientes quando nos limitamos, ou então, quando reclamamos sem parar. O aluno dificiente visual mostra o quanto se ama e quanto ama a vida e por isso não se coloca limites. Matar um Leão por dia é uma versão para os desafios que enfrentamos no dia-a-dia e que possuem a força de um Leão, sem dúvida nos reprogramar de modo que passemos a amar o Leão oferece um estímulo para se encarar os problemas/desafios de um outro modo. O desafio é que torna a conquista mais valorosa, conseguir tudo fácil demais, ou quando batalham por nós, deixam-nos fracos e sem iniciativas…acomodados.
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Comentário por Emília — outubro 19, 2011 @ 11:13 |
Augusto;
Obrigada por me citar em seu blog e por eu conhecer melhor o seu trabalho com o Claudio Roberto, o qual você citou em conversa comigo. Ainda irei conhecer o Moodle (lembra?).
Um abraço;
Mara Yáskara N. Paiva Cardoso
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Comentário por Mara Yáskara Paiva Cardoso — outubro 19, 2011 @ 15:48 |
Olá Profa. Mara.
Será um prazer recebê-la.
Abrs.
Augusto
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Comentário por Augusto Martini — outubro 19, 2011 @ 15:54 |
Muito interessante o tema, eu também acreditava que deveria matar um leão por dia, mas essa é a melhor definição vamos amar nosso leão, o que seria de nossas vidas sem esses leões?
Há algum tempo atrás, trabalhei como fiscal em um concurso público e fiquei encarregada de aplicar a prova para um deficiente visual, um jovem de 19 anos, confesso que fiquei apreensiva no inicio, nunca havia trabalhado com deficiente e nem tive nenhum orientação na minha formação.
A prova foi aplicada da seguinte maneira: Foi toda gravada, onde eu lia as questões e as alternativas, ele respondia qual a alternativa correta, ele todo tempo super concentrado e vez ou outra, pedia para ler novamente a alternativa b, c ou qualquer outra para tirar a dúvida, e respondia prontamente e com segurança a alternativa que considerava correta.
Fiquei encantada com o poder de concentração e memória deste jovem, foi incrível e passei admirar mais e mais estas pessoas especiais, temos muito que aprender com eles, e também devemos pensar, se fisicamente temos órgãos perfeitos porque nós limitamos tanto?
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Comentário por Magali / Mirassol — outubro 26, 2011 @ 21:31 |
Olá, Magali.
Realmente. Nós, os “perfeitos”, é que somos limitados.
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Comentário por Augusto Martini — outubro 27, 2011 @ 8:41 |