A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini

outubro 31, 2010

OS PALHAÇOS, AS BRUXAS E A DEMOCRACIA

Acabo de ler um artigo bem interessante no jornal El País, da Espanha. O autor começa o artigo mais ou menos assim…

Você já ouviu falar de Francisco Everardo Oliveira Silva? É um fenômeno político. Christine O’Connel também. Oliveira Silva foi o candidato mais votado nas eleições parlamentares no Brasil. Christine O’Connell, até recentemente, uma completa desconhecida, é  candidata ao Senado do Partido Republicano pelo Estado de Delaware, depois de ter derrotado nas primárias o concorrente mais cotado do partido. Ambos são exemplos notáveis de uma tendência mundial: o aumento de desconhecidos esdrúxulos nos meios políticos como um gesto de rejeição aos políticos vigentes.

Palhaços no poder

Até recentemente, Oliveira Silva era apenas conhecido como o palhaço Tiririca. E Christine O’Connel era uma desempregada que praticava bruxaria e, por conseguinte, declarou a sua oposição radical tanto à masturbação como à teoria da evolução. Tiririca foi claro em sua promessa de campanha: “Eu não sei o que faz um deputado federal, mas se for eleito, eu irei ao Congresso e vou te dizer. O que eu quero é ajudar o povo deste país, mas especialmente a minha família.”. Mais de 1,3 milhões de brasileiros votaram nele (é possível que ele não assuma o cargo, pois é acusado de ter adulterado o documento provando que ele sabe ler e escrever). Mas, nesse país, como tudo sempre acaba sendo esquecido, onde um escândalo encobre outro…

Alguns desdenham a escolha Tiririca como uma expressão da imaturidade da democracia brasileira. Cometem um erro. Dentre os muitos progressos de que o Brasil pode se orgulhar está o seu desenvolvimento democrático. Ditaduras militares ficaram numa memória distante. Nas eleições de 03 de outubro passado e que envolveram mais de 100 milhões de pessoas, além de levar Dilma Rousseff e José Serra para o segundo turno da eleição presidencial, escolheu-se 576 senadores e deputados de 6.000 candidatos aspirantes à um cargo (de um total de 364.094 candidatos que de candidataram para cargos estaduais e federais). Claro, como todas as outras, a democracia brasileira é falha. Mas a escolha do Tiririca é mais do que um reflexo das peculiaridades do eleitorado brasileiro. É a expressão local de uma tendência mundial: a rejeição dos políticos profissionais e daqueles que estão no poder. Christine O’Connell é um exemplo desta tendência americana. Outra é Kristin Davis, candidata a governadora do Estado de Nova York e cuja fama se deve a ser a provedora de prostitutas para o ex-governador Elliot Spritzer, um cliente regular. A sua mensagem principal? “Meter os políticos na prisão.” No Canadá, Rob Ford foi eleito prefeito de Toronto. Seu passado levou a oposição a atacá-lo com cartazes dizendo “Vote em um prefeito que bate na mulher e que é racista e alcoólatra.” Cerca de 47% dos eleitores o fizeram. A promessa de Ford – acabar com os gastos excessivos e mudança radical nos impostos, baixando-os. Na Itália, Beppe Grillo, um comediante cuja amarga crítica aos políticos permitem-lhe encher um auditório, tem o blog mais popular do país. Na Espanha, Belén Esteban, a “princesa do povo”, uma personagem estridente de TV que revela seus segredos com incomum autoconfiança, poderá ser, segundo uma pesquisa, a terceira força política caso se candidate para a eleição de 2012.

Os candidatos dos partidos norte-americanos, os dos partidos ultranacionalistas Europeus, e em toda parte do mundo aqueles que ganham nas urnas vagas reservadas para os mesmos políticos de “sempre” encarnam a repulsa dos eleitores perante a continuidade do status quo.

“Deixem-nos todos” é um slogan que se tornou popular na Argentina há alguns anos atrás, mas que agora podemos ouvir da Islândia até na Inglaterra ou nas ruas de Paris e Bangkok. O mesmo aconteceu com o famoso “Mãos Limpas” na itália da década de noventa, que fez cair alguns dos partidos tradicionais. Os candidatos que se proliferam por toda parte chegam ao poder prometendo acabar com a “magia negra” da política convencional. Silvio Berlusconi, Hugo Chávez e Vladimir Putin devem a sua ascensão para o desespero dos eleitores cansados da corrupção. Nós sabemos os resultados. Agora, a crise econômica, as novas tecnologias da informação que submetem os políticos e os governos por um constante, corajoso e nem sempre justo escrutino, as guerras e crônicos problemas sociais produzem em todas as partes um eleitorado impaciente e com fome de mudança. Qualquer mudança.

Em alguns países, essa impaciência irá criar melhores líderes e uma democracia mais forte. Como está sendo o caso do Brasil, com Lula! Em outros, trazem para o poder líderes que irão usar a democracia para miná-la por dentro, buscando perpetuar-se. A esperança é que as mesmas forças tecnológicas, sociais e políticas que facilitam a ascensão de políticos desconhecidos e oportunistas gerem os anticorpos que coloquem para fora os opositores que, ao invés de reforçar a democracia, abusam dela.

2 Comentários »

  1. Não gosto de falar em política, pois gostaria de entender melhor. Como sempre acho muito confuso .Uma verdadeira falta de organização e conhecimento do povo.Detesto esta falta de patriotismo.Até a nossa bandeira não é mais respeitada.
    Gostaria muito de poder ver homens de brio, responsabilidade e honestidade para governar este país. Mais quando sentem o cheiro do dinheiro e do poder esquecem até que são pessoa. Que um dia nasceu de uma mãe, que pretendia que fossem homens do bem, não corruptos.

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    Comentário por Irany — outubro 31, 2010 @ 20:53 | Responder

  2. Tiririca é mais um produto do “País do Jeitinho”, a popularidade do Palhaço permitiu que outros políticos pegassem carona na
    quantidade de votos que ele recebeu…A Política Brasileira, só terá jeito quando deixarem de existir denominações partidárias, quando a cada eleição não saía vitorioso o canditado X do partido Y.
    Quando o País for o verdadeiro Vitorioso a cada eleição,acreditarei na Política e nos Políticos. Agora temos Dilma como presidente o tempo dirá se a escolha foi certa. Como diz o velho ditado: “O Tempo é o Senhor da Razão.”

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    Comentário por Emília — novembro 1, 2010 @ 13:44 | Responder


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