Na índia, o vegetarianismo é mais que uma tradição, pois ele tem suas raízes nas escrituras védicas, que são os próprios alicerces do continente indiano. O vegetarianismo, sem dúvida, não tem fronteiras, e os países ocidentais têm também seus vegetarianos, mas, como estes representam uma minoria (que, porém, ganha mais adeptos a cada dia), são geralmente considerados como se vivessem num mundo de sonho e fantasia. Contudo, os mais bem informados começam a descobrir aquilo que os textos antigos apoiam desde milhares de anos: o vegetarianismo é, para o ser humano, a melhor maneira de alimentar-se.
A palavra vegetariano vem da palavra latina vegetus, que significa sadio, fresco, vivo, como em homo vegetus, isto é, “uma pessoa mental e fisicamente sadia”. O “vegetarianismo” implica também numa linha de conduta filosófica e moral; ele não se restringe a seguir apenas um regime alimentar. Sem dúvida, existem muitas teorias sobre a alimentação, mas as escrituras da Índia definem o vegetarianismo como sendo a abstenção de carne, peixe e ovos. Pessoalmente ainda não consegui deixar de comer ovos. Combinando cereais, frutas e legumes, e dando uma importância particular aos produtos lácteos, o regime védico se harmoniza perfeitamente com as leis naturais. Com fundamentos numa filosofia sadia, na ciência e no bom senso, ele está presente na civilização indiana desde tempos mais remotos.
Não é de admirar que, no Ocidente, tão vazio de pureza e verdade, milhões de pessoas de todas as condições sociais estejam se tornando vegetarianas. Vejamos agora algumas das principais razões que o homem possui para se tornar vegetariano.
Nos dias de hoje, à medida que se sucedem descobertas científicas cada qual mais surpreendente que a outra, está sendo provado que o consumo de carne animal gera doença. Eis aqui alguns exemplos:
1) Estudos demonstram que a fisiologia do homem difere da dos animais carnívoros, nos quais o estômago tem mais músculos, as secreções gástricas são dez vezes mais ácidas e os intestinos bem mais curtos. Desse modo, no organismo humano, as carnes não digeridas ficam estagnadas por mais tempo e sua putrefação causa numerosas doenças, como velhice prematura.
2) Um dos aspectos mais graves da questão é que grandes quantidades de hormônios e antibióticos são ministrados aos animais para fazê-los engordar muito rapidamente, provocando formação de câncer e tumores, quando ingeridas pelo ser humano.
3) O professor Pech, da Faculdade de Medicina da Universidade de Montpellier, França, correlaciona a maioria das doenças do coração à presença de antibióticos nas carnes de animais de corte. Além disso, os cânceres do baço e do cólon, seriam devidos à intoxicação química, e à putrefação de alimentos animais no aparelho digestivo.
4) Pesquisadores descobriram que carnes cozidas são altamente cancerígenas. Um quilo de carne cozida, como churrasco, por exemplo, contém tanto benzopireno quanto o fumo de 600 (seiscentos) cigarros.
5) Por outro lado, há perigos de carência de certos nutrientes. O trabalho de dois ingleses, Burkitt e Trowell, põe em evidência que a carne é muito pobre em fibras vegetais (celulose). Essa carência manifesta-se, geralmente, sob a forma de prisão de ventre, enxaqueca e cansaço, além das chamadas “doenças da civilização”, como o câncer, a artrite, as doenças cardíacas, etc.
6) Os franceses, por exemplo, que são os maiores consumidores de carne da Europa (112 kg de carne por ano por habitante), retêm também outro recorde, o de doenças do coração (41% das causas de morte).
7) A carne vermelha, mesmo a mais magra, contém uma enorme quantidade de gordura, de má qualidade, pois é rica em gordura saturada, que causa um excesso de colesterol, o que gera doenças cardiovasculares, aproveitamento deficiente de cálcio, digestão difícil, etc. Além disso, é na gordura que o organismo armazena venenos químicos.
A ciência moderna rejeita a idéia de que as proteínas animais são as únicas completas, o que quer dizer que somente elas deveriam conter os oito aminoácidos que o organismo humano parece não fabricar. As pesquisas do Instituto Max Planck, na Alemanha, por exemplo, demonstram que as batatas, as verduras, as leguminosas, os cereais, as frutas, as nozes, amêndoas e grãos comestíveis, tais como a semente de girassol, são ricos em proteínas completas. Outro resultado da pesquisa é de que a assimilação das proteínas vegetais requer menos esforço por parte do aparelho digestivo.
A maioria dos dietistas, hoje em dia, reconhece que um regime pobre de proteínas animais favorece a saúde e a longevidade. Entre vários outros, o renomado Dr. Ragnar Berg, da Suécia, descobriu que 30 a 45 gramas de proteínas por dia, facilmente fornecidas dentro de um regime lacto-vegetariano, são amplamente suficientes, ao contrário do que se acreditava até o século passado: de que eram necessárias 100 gramas diárias.
A proporção de proteínas que, quando ingeridas, são assimiladas pelo corpo é de 67% na carne, 82% no leite, 70% no arroz e no queijo e 63% no trigo e nos feijões. Apesar de que alguns desses alimentos tenham menos proteínas do que a carne em peso equivalente, eles satisfazem facilmente as necessidades diárias do corpo. Por exemplo, meio litro de leite, que contém 4 a 5% de proteínas, fornecerá 16 gramas de proteínas assimiláveis, isto é, 40% da necessidade diária; e 40 gramas de queijo fresco darão mais 30%.
As proteínas animais cozidas deixam resíduos tóxicos no organismo, o que pode causar sérios problemas à saúde, tais como acúmulo de ácido úrico e uréia nos tecidos, problemas intestinais, artrite e doenças cardíacas e renais.
As pessoas carnívoras têm mais saúde que os vegetarianos? Para termos a melhor resposta, que evidência melhor poderíamos ter de que aquela oferecida por povos que vivem há séculos seguindo dieta vegetariana ou pobre em proteínas animais?
1) Os hunzas, povo habitante do Himalaia, são considerados por higienistas, entre os quais o Dr. R. Mc Carrison, famoso médico inglês, como sendo o povo que possui a melhor saúde do mundo. Eles se mantêm viris, fortes e ativos até a idade de 90 a 100 anos. Pesquisas provam que o fator mais importante de sua saúde e longevidade é a dieta rica em hidratos de carbono e com baixo teor de proteínas animais.
2) Na Índia, entre as pessoas santas, sadhus e yogis, encontram-se milhares de pessoas que ultrapassaram os cem anos, e todas elas se abstêm de carne. Muitas alimentam-se apenas de leite.
3) Os russos e os habitantes dos países bálticos, principalmente os búlgaros, são também famosos por sua saúde e longevidade. Entre um milhão de habitantes, 32 deles completam 100 anos na Rússia e 40 deles na Bulgária, contra apenas 8 nos Estados Unidos e 6 na França. É importante notar que 79% das proteínas ingeridas pelos russos é de origem vegetal, e portanto apenas 21% de origem animal, o inverso do povo francês, por exemplo. Além disso, entre 150 pessoas com mais de cem anos na Bulgária, 140 jamais comeram carne.
No plano econômico, a dieta não vegetariana é responsável por uma verdadeira tragédia. A produção de carne enriquece uma pequena parte da população e causa danos e prejuízos à sua maioria, pois áreas imensas de terra fértil utilizadas para a criação de animais de corte poderiam ser muito melhor e mais eficazmente aproveitadas no plantio de cereais para o consumo humano. Além disso, o animal fornece um quilo de carne para cada dezesseis quilos de cereais que ele come. Ao restabelecer-se o equilíbrio, seria possível acabar totalmente com a carência de alimentos no mundo inteiro. Por outro lado, dois a três quilos de cereais ingeridos por uma vaca fornecem um litro de leite que, com legumes, frutas e cereais, apresenta todas as substâncias nutritivas necessárias ao homem.
O massacre de mais de 15 milhões de animais anualmente não pode justificar-se pela “superioridade do homem”. Por que matar animais para comer quando a natureza nos oferece tantos outros alimentos?
O ato de matar animais, como todos os atos de violência, só desenvolve no homem a insensibilidade, até mesmo o sadismo e falta de respeito à vida. Assim pensava Pitágoras: “Aquele que mata animais e come sua carne terá a tendência de matar seus semelhantes.”
Alguém pode decidir tornar-se vegetariano por uma ou mais destas razões. A minha consciência foi despertada através do Yoga e da meditação, que virou motivação espiritual através do vegetarianismo, e que engloba ainda outras considerações: as que tratam da saúde, da nutrição e da moral e vou ainda mais longe: digo que o vegetarianismo não é a realização final. O verdadeiro objetivo a ser alcançado é viver de acordo com as leis do universo, de um ser Supremo (Deus, para mim!), e de me alimentar com o que pode ser oferecido também a ELE. Confesso que não sou muito religioso, mas acredito nisso. Os pombos e os coelhos também são vegetarianos. Então, em que o homem se distingue deles? No fato de o homem poder oferecer seu alimento a Deus.
A lei divina não ordena que não devemos cometer violência inútil? “Não matarás”. Para cumprir essa ordem, deve-se saber que todos os seres vivos possuem alma. As escrituras védicas nos ensinam que a vida, seja qual for a forma que ela apresente, é a manifestação da alma, cuja presença é percebida através da consciência do ser. Essa consciência se manifesta de modo diferente de acordo com as espécies (humana, animal e vegetal), mas nenhuma delas merece ser menos respeitada que outros seres vivos que possuem alma.
Os animais e plantas não têm escolha no que se refere à sua alimentação. Segundo sua constituição física, eles procuram o alimento que lhes é destinado, e não cometem nenhum erro por fazê-lo. Em compensação, o homem que se utiliza mal de sua inteligência e que cede aos caprichos de seu paladar, acaba por matar animais inocentes. Ele não só ingere substâncias que não são próprias para seu organismo, como também deverá sofrer as conseqüências de seus atos (que é o karma para os indianos e budistas). Essa lei universal do karma determina que cada ação tem uma reação proporcional e que o fato de se abater animais faz pesar sobre o autor a culpa do ato, e ele será punido nesta vida ou na próxima, porque as conseqüências de atos cometidos na forma humana seguem com o ser vivo de um corpo a outro. Devido à nossa compreensão limitada, esse princípio pode não nos parecer evidente, mas nem por isso é menos real.
Quero aqui abrir um parêntese para explicar o significado de “vaca sagrada, utilizado na Índia, pouco compreendido no Ocidente. As escrituras védicas ensinam que todas as formas de vida merecem respeito, sobretudo quando se trata da vaca e do boi, que são essenciais ao desenvolvimento do homem. A vaca, como uma mãe, nos alimenta com seu leite; o boi, como um pai, permite que satisfaçamos nossas necessidades materiais, pois ele nos ajuda no trabalho do campo e em tantas outras tarefas penosas. Apesar de que o mundo moderno tem a tendência de diminuir a importância desses animais, que favorecem naturalmente um modo de vida simples, pacífico e honrado, eles são verdadeiros símbolos, não somente de pureza e espiritualidade, mas também de economia e saúde. Eles não comem nada além de capim, um produto pouco custoso, e o leite da vaca é uma fonte importante de substâncias nutritivas. É verdade que os vegetarianos também destroem a vida ao se alimentarem de plantas, mas uma dieta que não danifica nenhuma forma de vida será impossível de se definir. Alguns, loucos a meu ver, dizem que vivem de luz. Será? Deve-se, portanto, causar o mínimo de sofrimento possível ao satisfazer as necessidade nutritivas do organismo.
Isto nos leva ao objetivo central do regime védico, seguido pelos hindús: o vegetarianismo por si só, se bem que essencial, não é suficiente. Os Vedas recomendam que todo alimento deve ser oferecido a Deus antes de ser consumido. Acham que é o mínimo que podemos fazer para mostrar nosso reconhecimento a Ele, que provê todo nosso alimento. Além disso, Deus é uma pessoa, e Ele gosta de saborear os pratos que Lhe forem preparados por Seus devotos. Mas, o mais importante é o amor com que preparamos e oferecemos o alimento. O próprio Senhor declara no Bhagavad-gita (a Bíblia dos Hindús): “Se alguém Me oferecer com amor e devoção uma folha, uma flor, frutas ou água, Eu as aceitarei.”
Na Índia, em quase todos os lugares, as pessoas oferecem seu alimento a Deus. Dentro de milhares de templos, onde as cerimônias de oferecimento se desenvolvem perante um altar ricamente decorado com flores, ao som de música que acompanha cânticos devocionais, ou na intimidade de um oratório familiar, o princípio é sempre o mesmo: Satisfazer a Deus. Introduzida no Ocidente, essa prática é adotada por um número cada vez maior de pessoas.
Os Hindus aconselham que aqueles que querem realmente descobrir um gosto superior, experimentem os pratos (alimentos) depois de oferecê-los a Deus. Esta é a verdadeira essência da cozinha vegetariana indiana. O vegetarianismo, mais que um princípio moral ou racional, dá acesso, de maneira simples e agradável, à auto-realização.
Namaskár para todos!!! (para quem não conhece essa expressão, ela quer dizer: a divindade que está em mim, saúda a divindade que está em você com toda paz do meu espírito e amor do meu coração).
Feliz Ano Novo!!!
parabens. Aí está uns do pilares da vida espiritual, além é claro, começando a
exercer o modo da bondade;como as pessoas de natureza divina,assim como somos
parte e parcela do Ego Verdadeiro.Como o Senhor JESUS CRISTO, referindo-se a Si
Proprio,segundo as escrituras cristãs,EU E PAI SOMOS UM.
Nasmate.
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Comentário por jeronimo antonio teles de oliveira — fevereiro 16, 2010 @ 21:15 |
[…] vegetariano por 12 anos. Escrevi sobre isso aqui no blog e mais que uma […]
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Pingback por O que é ser um Vegano? | A Simplicidade das Coisas — Augusto Martini — novembro 16, 2014 @ 14:06 |